Capítulo 9

- Eu nunca mais volto naquela loja! – Lilly dizia revoltada. – Elas foram tão preconceituosas! – Ela baixa a voz para quase um sussurro. – Nunca passei por isso.

Nós estávamos sentados em uma cafeteria no shopping. Por mais que Amanda e eu não tivéssemos almoçado há muito tempo – e tivéssemos pedido sobremesa, minha amiga fez questão de pedir três tipos de doces diferentes. Eu pedi apenas um chocolate quente. Estava nervosa e chocolate quente era uma bebida de conforto. Mas preciso admitir que me arrependi um pouco. Se aquele era o melhor chocolate quente que já provei na vida, imagina o resto do menu!

- Eu estava com o cartão de crédito de outra pessoa, então...

- Não a defenda! – Matt me cortou. – Não tem defesa.

- Não tem mesmo! – Amanda concorda. – Ela foi uma idiota.

- Não se preocupe, Ella, vou te levar em uma outra loja aqui perto que é maravilhosa! Eu gosto ainda mais dela, na verdade.

- Ótimo, vocês já têm planos para até a hora do jantar, então... – Ele se levanta. – Vou voltar para o escritório.

- Senta aí! – Lilly o segura pelo braço e o puxa para baixo. – Você nem me contou como vocês se conheceram! Mamãe me disse que você levou uma namorada no clube, mas confesso que achei que você só queria calar a boca dos nossos pais. Como se conheceram?

Matt e eu trocamos um breve olhar. Não tínhamos combinado esses detalhes sobre nosso relacionamento falso. No mundo real, não havia qualquer lugar que eu e Matt pudéssemos frequentar em comum. De restaurantes a academia, tudo sobre ele era infinitamente mais chique e mais caro do que eu poderia sequer sonhar. E por mais que eu achasse que Matt e Lilly tinham algum tipo de conexão de irmãos, eu não queria que ele falasse a verdade. Ao menos não sobre mim.

- Amanda é amiga de Thomas – Matt diz. – Nos conhecemos... – ele para por um segundo.

- Na minha festa de aniversário – Amanda completa. – Em fevereiro.

- Três meses? – Lilly parece surpresa. – Já é o seu recorde, Matt – ela cutuca o irmão com o cotovelo, dando uma risadinha. – Ella deve ser mesmo um amor de pessoa para conseguir te aturar por tanto tempo!  Acho que já posso começar a planejar o casamento...

- Lilly! – Matt soa ligeiramente assustado – Você quer assustá-la?

- Por que assustá-la? Se você não conseguiu fazer isso sozinho até agora, não serei eu quem farei...

- Tudo bem... – Matt volta a se levantar. – Por mais que eu fosse adorar ficar aqui sendo ofendido o resto do dia, eu realmente tenho muito trabalho me esperando e preciso voltar para o escritório. Ella... – ele aponta com a cabeça para o lado de fora da cafeteria. – Uma palavrinha?

- Claro! – Me levanto e o sigo em direção a saída.

Quando estamos longe o suficiente para estarmos fora do alcance dos ouvidos das garotas – mas não dos olhos, uma vez que a fachada da cafeteria era toda de vidro, Matt volta a falar...

- Você realmente está bem?

- Eu tô sim, não se preocupe.

Ser julgada pelas minhas roupas, por onde ou morava, ou pelo meu emprego, não era uma novidade para mim. Com certeza ainda aconteceria muitas outras vezes na minha vida. Muitas pessoas eram assim mesmo, associavam o seu valor pessoal ao valor financeiro do que você possuía. Claro que não era nada legal. Eu fiquei abalada e acho que sempre ficaria. Mas eu só precisava de um tempo para vestir novamente a minha casca e estar pronta para outra.

- Isso não vai mais acontecer – ele diz, mas não é algo que possa garantir. – Escuta, sobre a minha irmã... Ela é uma garota adorável, mas um pouco exagerada. Então... não se assuste se ela realmente começar a planejar o nosso casamento, tá?

Eu rio. Eu entendia Lilly. Também era uma pessoa sonhadora. Em outras ocasiões só o fato de Matt ter chegado como se fosse um príncipe em um cavalo branco para me resgatar naquela loja, já seria o suficiente para que eu estivesse fantasiando mil e uma coisas a respeito de nós dois. Mas, para a segurança do meu coração sonhador, ainda bem que tínhamos um contrato bem claro sobre a nossa relação. Não que eu tivesse lido ou estivesse pensando em ler, mas nós tínhamos.

- Fica tranquilo – respondo.

- Eu realmente preciso ir. Meu motorista vai te levar ao restaurante hoje à noite.

Antes de se afastar, Matt me segura pela cintura e puxa em sua direção, colando seus lábios nos meus. Me reteso e nem ao menos fecho os olhos, tornando aquele carinho extremamente mecânico.

- Você vai ter que fingir melhor, Ella – ele sussurra no meu ouvido. – E leia o contrato.

Fico largada no mesmo lugar em que Matt me deixou enquanto o assisto se afastando aos poucos. Seus ombros largos e sua postura imponente se destacando no meio das outras pessoas que caminhavam pelo corredor do shopping. Só recupero meus sentidos quando ele desaparece na escada rolante, e decido voltar para a cafeteria e me juntar as garotas.

O atendimento na loja em que Lilly me leva é impecável. Somos recebidas com sorrisos nos rostos e champanhe nas taças, e levadas para a parte superior da loja, onde havia um espaço com provador, sofás de espera e grandes espelhos. Além de um tapete tão felpudo cobrindo o chão que dava vontade de me deitar nele. Mesmo sem ter um horário marcado, a personal stylist não reluta em me atender.

Nunca saberei se teria sido atendida assim, se não tivesse vindo em companhia de Lilly, é claro, mas, naquele momento, escolho não pensar nisso e me deixar ser um pouco paparicada.

- Então, Ella, me explica um pouco o que você vai querer hoje... Roupas de dia a dia, trabalho, eventos... ? – A personal me pergunta.

- Tudo! – É Lilly quem responde. – Ela precisa renovar o guarda-roupas.  Queremos um pouco do clássico e um pouco das tendências dessa estação também. Para todas as ocasiões.

- Certo... – O sorriso dela triplica de tamanho ao ouvir aquela resposta. Ela me entrega um iPad. – Eu tenho aqui uma série de perguntas que vai me ajudar a entender um pouco melhor sobre você para nos ajudar a definir o seu estilo. Responda, por favor, enquanto eu peço mais champanhe e canapés para vocês.

- Ótimo! – Lilly diz, com um sorriso no rosto.

Eu duvidava que tivesse qualquer combinação de resultados ali que definisse meu estilo como “a garota da calça jeans e camiseta”, apesar disso, me concentrei em responder a lista extensa de perguntas enquanto Amanda e Lilly conversavam animadamente.

Depois de um tempo, a personal stylist volta com várias araras repletas de peças e vai me explicando como combiná-las ao mesmo tempo em que pede para que eu as experimente.

Era difícil não gostar de absolutamente tudo! Mas, ainda assim, eu tentava selecionar apenas as peças que fossem as preferidas das preferias. Por outro lado, Lilly não me deixava recusar nada, pedindo para a atendente separasse uns oitenta por cento das roupas que eu tinha experimentado.

- Tá faltando complemento... – Lilly avalia. – Bolsas, sapatos, cintos... Ela vai precisar disso também.

- Lilly! – Tento alertá-la quando voltamos a ficar sozinhas. – Eu não posso levar tudo isso! É muita coisa!

- É claro que pode! – Ela sorri, como se aquilo não fosse nada. – Ella, você sabe o que esse cartão de crédito – ela dá um tapinha na sua bolsa, se referindo ao cartão de Matt – e o amor do meu irmão por você tem em comum? – Confusa, balanço a cabeça negativamente. – Ambos não têm limites.

Amanda ri abertamente da piada.

- Sabe do que ela vai precisar também? – Amanda diz, entre um canapé e uma golada de champanhe. – Lingerie.

- Bem pensado!

Lanço um olhar de “vou te matar quando estivermos sozinhas” para a minha melhor amiga, mas sou prontamente ignorada. Assim como sou ignorada por Lilly com relação a manter os gastos sob controle.

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