- Eu nunca mais volto naquela loja! – Lilly dizia revoltada. – Elas foram tão preconceituosas! – Ela baixa a voz para quase um sussurro. – Nunca passei por isso.
Nós estávamos sentados em uma cafeteria no shopping. Por mais que Amanda e eu não tivéssemos almoçado há muito tempo – e tivéssemos pedido sobremesa, minha amiga fez questão de pedir três tipos de doces diferentes. Eu pedi apenas um chocolate quente. Estava nervosa e chocolate quente era uma bebida de conforto. Mas preciso admitir que me arrependi um pouco. Se aquele era o melhor chocolate quente que já provei na vida, imagina o resto do menu!
- Eu estava com o cartão de crédito de outra pessoa, então...
- Não a defenda! – Matt me cortou. – Não tem defesa.
- Não tem mesmo! – Amanda concorda. – Ela foi uma idiota.
- Não se preocupe, Ella, vou te levar em uma outra loja aqui perto que é maravilhosa! Eu gosto ainda mais dela, na verdade.
- Ótimo, vocês já têm planos para até a hora do jantar, então... – Ele se levanta. – Vou voltar para o escritório.
- Senta aí! – Lilly o segura pelo braço e o puxa para baixo. – Você nem me contou como vocês se conheceram! Mamãe me disse que você levou uma namorada no clube, mas confesso que achei que você só queria calar a boca dos nossos pais. Como se conheceram?
Matt e eu trocamos um breve olhar. Não tínhamos combinado esses detalhes sobre nosso relacionamento falso. No mundo real, não havia qualquer lugar que eu e Matt pudéssemos frequentar em comum. De restaurantes a academia, tudo sobre ele era infinitamente mais chique e mais caro do que eu poderia sequer sonhar. E por mais que eu achasse que Matt e Lilly tinham algum tipo de conexão de irmãos, eu não queria que ele falasse a verdade. Ao menos não sobre mim.
- Amanda é amiga de Thomas – Matt diz. – Nos conhecemos... – ele para por um segundo.
- Na minha festa de aniversário – Amanda completa. – Em fevereiro.
- Três meses? – Lilly parece surpresa. – Já é o seu recorde, Matt – ela cutuca o irmão com o cotovelo, dando uma risadinha. – Ella deve ser mesmo um amor de pessoa para conseguir te aturar por tanto tempo! Acho que já posso começar a planejar o casamento...
- Lilly! – Matt soa ligeiramente assustado – Você quer assustá-la?
- Por que assustá-la? Se você não conseguiu fazer isso sozinho até agora, não serei eu quem farei...
- Tudo bem... – Matt volta a se levantar. – Por mais que eu fosse adorar ficar aqui sendo ofendido o resto do dia, eu realmente tenho muito trabalho me esperando e preciso voltar para o escritório. Ella... – ele aponta com a cabeça para o lado de fora da cafeteria. – Uma palavrinha?
- Claro! – Me levanto e o sigo em direção a saída.
Quando estamos longe o suficiente para estarmos fora do alcance dos ouvidos das garotas – mas não dos olhos, uma vez que a fachada da cafeteria era toda de vidro, Matt volta a falar...
- Você realmente está bem?
- Eu tô sim, não se preocupe.
Ser julgada pelas minhas roupas, por onde ou morava, ou pelo meu emprego, não era uma novidade para mim. Com certeza ainda aconteceria muitas outras vezes na minha vida. Muitas pessoas eram assim mesmo, associavam o seu valor pessoal ao valor financeiro do que você possuía. Claro que não era nada legal. Eu fiquei abalada e acho que sempre ficaria. Mas eu só precisava de um tempo para vestir novamente a minha casca e estar pronta para outra.
- Isso não vai mais acontecer – ele diz, mas não é algo que possa garantir. – Escuta, sobre a minha irmã... Ela é uma garota adorável, mas um pouco exagerada. Então... não se assuste se ela realmente começar a planejar o nosso casamento, tá?
Eu rio. Eu entendia Lilly. Também era uma pessoa sonhadora. Em outras ocasiões só o fato de Matt ter chegado como se fosse um príncipe em um cavalo branco para me resgatar naquela loja, já seria o suficiente para que eu estivesse fantasiando mil e uma coisas a respeito de nós dois. Mas, para a segurança do meu coração sonhador, ainda bem que tínhamos um contrato bem claro sobre a nossa relação. Não que eu tivesse lido ou estivesse pensando em ler, mas nós tínhamos.
- Fica tranquilo – respondo.
- Eu realmente preciso ir. Meu motorista vai te levar ao restaurante hoje à noite.
Antes de se afastar, Matt me segura pela cintura e puxa em sua direção, colando seus lábios nos meus. Me reteso e nem ao menos fecho os olhos, tornando aquele carinho extremamente mecânico.
- Você vai ter que fingir melhor, Ella – ele sussurra no meu ouvido. – E leia o contrato.
Fico largada no mesmo lugar em que Matt me deixou enquanto o assisto se afastando aos poucos. Seus ombros largos e sua postura imponente se destacando no meio das outras pessoas que caminhavam pelo corredor do shopping. Só recupero meus sentidos quando ele desaparece na escada rolante, e decido voltar para a cafeteria e me juntar as garotas.
O atendimento na loja em que Lilly me leva é impecável. Somos recebidas com sorrisos nos rostos e champanhe nas taças, e levadas para a parte superior da loja, onde havia um espaço com provador, sofás de espera e grandes espelhos. Além de um tapete tão felpudo cobrindo o chão que dava vontade de me deitar nele. Mesmo sem ter um horário marcado, a personal stylist não reluta em me atender.
Nunca saberei se teria sido atendida assim, se não tivesse vindo em companhia de Lilly, é claro, mas, naquele momento, escolho não pensar nisso e me deixar ser um pouco paparicada.
- Então, Ella, me explica um pouco o que você vai querer hoje... Roupas de dia a dia, trabalho, eventos... ? – A personal me pergunta.
- Tudo! – É Lilly quem responde. – Ela precisa renovar o guarda-roupas. Queremos um pouco do clássico e um pouco das tendências dessa estação também. Para todas as ocasiões.
- Certo... – O sorriso dela triplica de tamanho ao ouvir aquela resposta. Ela me entrega um iPad. – Eu tenho aqui uma série de perguntas que vai me ajudar a entender um pouco melhor sobre você para nos ajudar a definir o seu estilo. Responda, por favor, enquanto eu peço mais champanhe e canapés para vocês.
- Ótimo! – Lilly diz, com um sorriso no rosto.
Eu duvidava que tivesse qualquer combinação de resultados ali que definisse meu estilo como “a garota da calça jeans e camiseta”, apesar disso, me concentrei em responder a lista extensa de perguntas enquanto Amanda e Lilly conversavam animadamente.
Depois de um tempo, a personal stylist volta com várias araras repletas de peças e vai me explicando como combiná-las ao mesmo tempo em que pede para que eu as experimente.
Era difícil não gostar de absolutamente tudo! Mas, ainda assim, eu tentava selecionar apenas as peças que fossem as preferidas das preferias. Por outro lado, Lilly não me deixava recusar nada, pedindo para a atendente separasse uns oitenta por cento das roupas que eu tinha experimentado.
- Tá faltando complemento... – Lilly avalia. – Bolsas, sapatos, cintos... Ela vai precisar disso também.
- Lilly! – Tento alertá-la quando voltamos a ficar sozinhas. – Eu não posso levar tudo isso! É muita coisa!
- É claro que pode! – Ela sorri, como se aquilo não fosse nada. – Ella, você sabe o que esse cartão de crédito – ela dá um tapinha na sua bolsa, se referindo ao cartão de Matt – e o amor do meu irmão por você tem em comum? – Confusa, balanço a cabeça negativamente. – Ambos não têm limites.
Amanda ri abertamente da piada.
- Sabe do que ela vai precisar também? – Amanda diz, entre um canapé e uma golada de champanhe. – Lingerie.
- Bem pensado!
Lanço um olhar de “vou te matar quando estivermos sozinhas” para a minha melhor amiga, mas sou prontamente ignorada. Assim como sou ignorada por Lilly com relação a manter os gastos sob controle.
Enquanto nos éramos seguidas por três funcionários da loja carregando as compras para mim até o estacionamento, eu pensava que nunca tinha saído de uma loja com tanta sacola junto, nunca! Talvez nem se eu somasse todas as sacolas dos últimos dez anos da minha vida em compras, daria aquela quantidade.Isso em uma loja de departamentos já seria um absurdo, mas em um a multimarcas de grife... Por mais que Lilly não tivesse deixado eu ver a conta, eu tinha certeza de que valia uma fortuna.- Isso é um exagero... – sussurro para Amanda em um momento em que Lilly se distrai com o celular. – Lilly deve ter feito Matt gastar mais do que ele tá me pagando!- Deve? – Amanda dá uma risadinha. – Meu amor, é claro que ela fez!- Eu não consigo me sentir confortável com isso.- Relaxa! – Ela diz. – Isso é troco de bala para gente como os Lennox. Lilly deve fazer uma compra dessas todo mês.- Ainda assim... Não paro de pensar que esse dinheiro poderia ser muito mais bem gasto com outras coisas. Como
Depois do jantar, o motorista de Matt me leva até em casa. Ou melhor, ele me leva até a casa de Amanda. Além de eu saber que não conseguiria entrar em casa com todas aquelas sacolas sem chamar atenção, também seria difícil explicar o fato de estar descendo de um carro chique. Então peço que ele estacione em frente a casa da minha melhor amiga, que fica há apenas cinco minutos de caminhada da minha casa, e aproveito para descarregar todas as compras lá. Fico apenas com a roupa que usarei na manhã seguinte, já que Matt queria me ver novamente, a qual camuflo dentro de sacolas de mercado. O restante das coisas, Amanda iria me levando aos pouquinhos, toda vez que fosse me visitar.Tento entrar em casa o mais sorrateiramente possível, por mais que pelo horário já fosse para todos estarem dormindo. O problema é que não estavam. Quando entro no meu qua
Fico feliz quando levanto na manhã seguinte e Bianca não está mais no quarto. Eu a tinha ignorado completamente quando ela jogou a cartada do Matt, mas se bem conhecia a minha irmã, sabia que mais cedo ou mais tarde ela voltaria naquele assunto. Ficava feliz que fosse mais tarde.Bianca trabalhava como secretária em uma empresa de advocacia, ela odiava o que fazia. Ainda assim, ela sabia que não podia largar, já que seu salário era uma renda complementar necessária para a nossa família. Ela entrava todo dia às nove horas da manhã, o que significava que tinha que sair de casa, no máximo, às oito. Isso me deu pelo menos uma hora para me arrumar, com a certeza de que não a veria.Quando desço até a cozinha para beber um copo de suco de laranja antes de sair de casa, encontro minha mãe cuidado de Sophia e Giovanna. Meu padrasto também já deve ter saído para trabalhar e Bruno deve estar na venda. Breno ainda deve estar dormindo.- Bonita! – Sophia aponta para mim, provavelmente se referind
- Preciso que finja que é meu chefe – alcanço Matt com alguma vantagem. Bianca vinha caminhando um pouco afastada de mim, apenas observado. Então, consigo ser direta quando o encontro, me esperando em frente ao spa.- Eu não sou?- Não desse jeito. No spa. Não me beija... – o empurro levemente quando ele tenta se aproximar.- O que está acontecendo, Ella?- Minha irmã tá desconfiada de... você sabe. – Faço um gesto com a cabeça na direção que ela estava. – Tá me seguindo.Ele ri.- A gente pode fingir que está junto para a sua família também – ele dá de ombros. – Seria menos problemático para você.- Matt... – É a minha vez de rir. – Você realmente se imagina sentado em uma mesa de plástico em um bairro de subúrbio para o almoço de domingo?- Talvez – ele mente.- Isso nunca daria certo. Por favor, só finja que é meu chefe no spa.- Se você prefere assim – ele indica a entrada com a cabeça. – Tanto faz.Sigo para dentro do spa enquanto vejo Bianca nos observando através da vitrine. Se
Não vou mentir, não foi difícil me adaptar a minha nova rotina. Era como as pessoas costumavam dizer, a gente se acostuma fácil com aquilo que é bom. Matt tinha deixado o motorista a minha disposição, pronto para me levar para onde eu quisesse no horário que eu quisesse. A única coisa que ele exigia era que jantássemos juntos todas as noites, casa vez em um restaurante chique diferente.Sempre aproveitávamos aqueles momentos para nos conhecer melhor, contar histórias do passado, falar sobre nossos traumas, ou nossos sonhos. Nossas conversas acabavam fluindo tão bem que vez ou outra eu me pegava pensando que em outra realidade realmente poderíamos ser amigos. Isso, é claro, se todo o nosso relacionamento não fosse pautado em cima de um contrato, muito dinheiro e dois mundos completamente diferentes colidindo.A parte ruim de tudo aquilo eram os segredos que eu precisava guardar da minha família. Bianca tinha se tornado bem mais tolerável quando cedi a sua chantagem e a coloquei de rece
- Matt... Eu não acho... Eu não acho que isso seja uma boa... uma boa ideia... – Era difícil falar ou mesmo formular frases enquanto suas mãos e seus lábios percorriam meu corpo de maneira hábil.- É? – Ele provoca, levando dois dedos aos meus lábios para que eu me calasse – Sabe o que me parece uma excelente ideia...? – Ele ia abrindo os botões da minha blusa lentamente enquanto falava. – Cair de boca nesses seus peitos gostosos... chupar sua boceta até você explodir de tesão... e depois te colocar de quatro e meter com força, até suas pernas não aguentarem mais te sustentar...O magnetismo de Matt era tanto que eu acreditava que era capaz de gozar em antecipação apenas de continuar ouvindo o que ele queria fazer comigo. Meu clitóris latejava e eu estava completamente molhada, pronta para recebê-lo.- Então, Ella, se você realmente acha que isso é uma má ideia... – Ele agora brincava com meu mamilo direito, preso entre seus dedos indicador e médio, que faziam movimento de vai e vem,
- Então... vocês transaram? – Amanda tinha um sorriso gigante no rosto, enquanto eu lhe contatava.- Isso foi tudo o que você captou da história? – Reviro os olhos.- Tá, tá, Bianca, blá, blá, blá... Mas vocês transaram?- Não exatamente, mais ou menos.- Tão ruim assim? – Seu sorriso morreu.- Não! – Protesto, me atirando de costas na cama dela. – Ninguém nunca fez comigo o que aquele homem fez... – suspiro, tendo uma breve lembrança da sua língua em mim. – Só que... fomos interrompidos pela Bianca. Esse é o ponto. – Suspiro novamente. - Ele me defendeu de um jeito!- Ella... – Amanda para de tirar coisas do seu guarda-roupas e vem se sentar ao meu lado. – Corta essa!- Essa o quê?- De ficar apaixonadinha. Eu te avisei desde o começo.- Eu não tô apaixonadinha.- Você tá sim! Porque você associa sexo com amor e você acha que o fato dele querer te comer é porque ele gosta de você. Ele não gosta, Ella! Ele tá vendo uma puta de uma mulher gostosa que ele quer foder, e só. - Fico calada
Na segunda-feira, quando chego no spa, estou prestes a passar direto pela minha irmã na recepção e me isolara na minha sala, como vinha fazendo, mas algo me chama atenção. Ou melhor, alguém.Aquela loira de olhos azuis e porte de modelo, parada no balcão como se fosse uma estátua de cera, rouba minha atenção. E isso não acontece apenas pelo fato de ela ser uma mulher linda – muitos dos clientes que aqui frequentava, eram – mas sim por eu achar que a conhecia de algum lugar.- ... mas Lilly me garantiu que você poderia me conseguir um encaixe. Prometo me programar melhor da próxima vez – ela ia falando com Bianca.- Boa tarde! – Me aproximo, ao ouvir o nome de Lilly. – Posso te ajudar?- Ella! – Ela me puxa para perto, dando dois beijinhos em meu rosto. Como se fossemos amigas de longa data. Mas apesar da sensação de conhecê-la, não conseguia me lembrar de onde. – Talvez você não se lembre de mim, mas eu sou a Yasmim. Amiga do Matt e da Lilly.Mas é claro! Era a ex-namorada de Matt que