Capítulo 2
Irreconhecível? Eu não esperava que Renato me visse assim.

— Então, quebre o laço entre nós. — Disse eu, em um sussurro, no carro. — Deixe Márcio e a mim irmos.

— Nunca. — Os olhos de Renato brilharam perigosamente no retrovisor. — Você é minha única parceira. Márcio será meu herdeiro depois do... treinamento dele.

Na manhã seguinte, guardas cercaram nossa casa.

Renato forçou uma água misturada com prata pela minha garganta. Acônito. Meu lobo uivou de dor antes de cair em um silêncio profundo.

Ele fez Márcio beber chá de erva-do-sono. Os olhos do meu filho se fecharam pesadamente, seu corpo pequeno desabando em inconsciência.

— É para o bem dele. — Disse Ryan, trancando-nos. — Até o julgamento.

Uma dúzia de guardas assumiu posições do lado de fora da porta.

No dia seguinte, vozes começaram a subir da parte de baixo. Sílvia e Catarina Vieira, a mãe de Renato.

A mão de Catarina estalou contra o meu rosto no momento em que me viu.

— Nós tratamos Márcio como nosso próprio neto por oito anos. — Cuspiu ela. — E você nos retribui deixando seu bastardo matar um filhote inocente?

Ela se virou para Sílvia, acariciando seu braço.

— Coitada, sofrendo em silêncio todos esses anos, criando sozinha o verdadeiro filho de Renato.

Sílvia enxugou os olhos com um lenço.

— Não foi difícil. Agora que Renato finalmente reconhece Jandir, tudo valeu a pena.

Catarina abraçou Jandir.

— O que você gostaria, querido? Vamos fazer um tour pela sua nova casa?

Meu lobo se remexeu fraco contra o acônito enquanto eu os observava desfilando pela minha casa, meu território.

Depois que saíram, Sílvia ficou.

— Aproveite esses últimos momentos com seu filho. — Sorriu ela. — A Prisão de Prata está chamando por você. Embora eu duvide que ele sobreviva cinco anos lá.

Apesar do acônito queimando minhas veias, meu lobo avançou com fúria.

Minhas garras arranharam sua bochecha, fazendo-a sangrar.

Sílvia tropeçou para trás, suas lágrimas falsas esquecidas.

— Sua v*dia selvagem! — Ela rosnou. — RENATO!

Os passos pesados dele se aproximaram.

— O que você fez? — Rugiu, correndo até o lado de Sílvia.

Meu companheiro. Defendendo ela. Novamente.

— Ela me atacou. — Gemeu Sílvia. — Depois de tudo o que estamos fazendo para ajudar Márcio...

Eu ri amargamente. O acônito poderia enfraquecer meu corpo, mas não tocava minha raiva.

— Ajudar? — Cuspi. — Você está mandando uma criança inocente para a prisão para proteger seu filhote assassino.

— Chega! — Catarina irrompeu pela porta, seus olhos fixando no rosto ensanguentado de Sílvia. Seu lobo explodiu para fora; imenso e com fios prateados da idade.

— Você ousa atacar a mãe do meu neto! — Rosnou ela, com os dentes à mostra, indo para minha garganta.

O acônito no meu sistema me deixou indefesa, mas uma mancha preta interceptou; o lobo de Renato, maior do que o da mãe, se colocou entre nós.

— Saia, filho! — Catarina se transformou de volta, tremendo de raiva. — Oito anos! Oito anos mimando o bastardo dela, tratando-o como se fosse a realeza da matilha!

Ela apontou um dedo cuidadosamente pintado na minha direção.

— E agora descobrimos que ela não apenas te traiu, mas deixou o filhote assassino dela matar um filhote inocente!

— Guardas! — A voz de Catarina estalou como um chicote. — Retirem essa imundície da minha casa!

Sílvia e Jandir correram até Renato, se agarrando a ele no momento em que ele se transformou em humano.

Mas ele os afastou de imediato.

— Celeste é minha parceira. — Ele rosnou. — Só ela. Se quiserem, levem Jandir e criem-no vocês mesmos.

Jandir começou a chorar. Renato não olhou nem para ele.

Catarina recuou como se tivesse levado um golpe. Seu rosto se contorceu de fúria.

— Então, fique com sua preciosa parceira. — Cuspiu ela. — Mas não vou deixar o filhote bastardo dela roubar o que é de direito de Jandir.

Ela estalou os dedos para os guardas.

— Levem o garoto para o porão. Jandir terá seu quarto, seu treinamento, tudo o que deveria ser dele por direito.

O acônito transformou meus músculos em água enquanto os guardas pegavam Márcio. Eu não podia nem me transformar para defendê-lo.

— Mãe! — O grito de Márcio dilacerou meu coração. Suas pequenas mãos se estendiam em minha direção enquanto o arrastavam para longe. — Por favor, não deixe que eles me levem!

— Isso é só temporário. — Renato sussurrou, sem olhar nos meus olhos. — Vou tornar o porão confortável – carpete, cama adequada, tudo. E a Prisão de Prata não é tão ruim. Ele terá tutores, treinamento de combate, a melhor educação que o dinheiro pode comprar.

O sorriso de Sílvia brilhou nas sombras. Jandir parou de chorar instantaneamente, sorrindo para Márcio enquanto os guardas o carregavam para longe.

Eu não disse nada. Na verdade, já não me importava com as recomendações e cursos de treinamento.

Eu só queria escapar. Já tinha um plano.

Todos os dias, Renato voltava para casa e jantava com Sílvia e Jandir. Ele pessoalmente dava aulas de combate para Jandir, ensinando-lhe as técnicas secretas de luta passadas pela liderança da matilha.

Enquanto isso, Márcio e eu apodrecíamos no porão – um espaço pior do que o que davam aos Ômegas comuns.

O porão transbordava dos excessos de Sílvia e Jandir; roupas de grife, brinquedos importados, equipamentos de treinamento. Coisas que eles tinham demais para armazenar lá em cima.

Nosso espaço de vida se reduziu a uma cama estreita onde Márcio e eu dormíamos.

No começo, Renato tentou passar as noites conosco. Mas Márcio, meu filho valente e traído, o enfrentava sempre.

— Eu te odeio! — Márcio rosnava, com suas pequenas presas à mostra, chutando e mordendo. — Você não é mais meu pai!

Com o tempo, Renato parou de vir.

Em vez disso, ele passava as noites lá em cima, com Sílvia e Jandir, fazendo o papel da família perfeita enquanto nós apodreciamos lá embaixo.

Uma noite, ele desceu sorrateiramente enquanto Márcio dormia.

— Por que você me ignora? — Sussurrou ele, estendendo a mão para mim na escuridão. — Eu te amo. Nunca te traí. Você é minha única parceira, sua loba sabe que eu nunca toquei em Sílvia.

Ele estava certo sobre uma coisa. Minha loba podia perceber sua fidelidade física.

Mas o que ele havia feito, sacrificar nosso filho, escolher a felicidade de Sílvia em detrimento da nossa família, era uma traição que cortava mais fundo, do que qualquer outra infidelidade física poderia cortar.

Engoli minha raiva e suavizei a voz.

— Sim, eu sei que você me ama. — Menti suavemente. — Agora eu entendo. E percebi que sem você, Márcio e eu não estaríamos melhor.

— Eu deixarei Márcio ir para a Prisão de Prata. Mas... — Continuei. — Se eu for perder meu filho por cinco anos, preciso de algo em troca. Deixe Márcio retomar o treinamento antes da prisão. Pare de me dar acônito. Devolva meu celular, eu preciso falar com minha irmã.

— Claro! — Renato me puxou para perto, alívio evidente em sua voz. — Tudo o que você quiser, meu amor.
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