5

Diana Markovic

— Moça, se acalme. Deixaram outra moça para trás também. Ela se chama Ramona, está e ficará hospedada aqui até a próxima semana, que é quando terá vôos disponíveis na cidade ao lado.

— Próxima semana? Vôos disponíveis? — agarrei meus cabelos em desespero total — Por quanto tempo eu vou ter que ficar nesse fim de mundo que nem avião tem? — murmurei para mim mesma a última frase.

Não queria magoar ninguém. Embora eu estivesse falando a verdade sobre aquele lugar ser um fim de mundo que não tinha nada de bom.

— Com a pausa das chuvas fortes nos Estados unidos, o avião que estava aqui precisou ir imediatamente para a Califórnia, disseram que contaram certinho o número de passageiros que estavam lá às oito da manhã e não faltava nenhum. Acho que se enganaram. — a mulher explicou com uma paciência desconhecida por mim.

— Ah, você acha? — minha raiva era tão grande que não cabia em mim. — Se tivessem contado mesmo eu não estaria aqui! Nesse inferno! Caramba. Que ódio!

Eu iria processar essa companhia aérea! Eu iria ferrar tanto com eles que nem o melhor advogado do mundo conseguiria livrá-los do que teriam que me pagar. Nem era pelo dinheiro e sim pelos danos morais.

Para piorar minha situação, eu estava morrendo de fome e pelo que tinha visto ontem, naquele restaurante ali do lado não tinha nada que eu poderia comer. Me sentei em uma cadeira colocando as mãos na cabeça, perdida. O que eu iria fazer agora? Comecei a chorar feito uma criança que se perdeu da mãe, porque era assim que me sentia. Era assim que eu estava.

Longe da minha família, sem conseguir falar com eles já que não tinha sinal de telefone, só as vezes, como no dia anterior por exemplo, quando Jeremy ficou ligando de madrugada e Hugh atendeu. Balancei o iPhone em minhas mãos mais uma vez, porém nada de sinal. Porcaria!

— Ei, hoje tem promoção no restaurante, a comida estará pela metade do preço. — a loira chamou minha atenção.

— É o mesmo cardápio de ontem? — indaguei desanimada.

— Não. Hoje tem comidas especiais, toda quarta-feira é assim aqui. — meu estômago fez barulho.

— Eu preciso comer... — falei baixinho com a voz entristecida.

Caminhei em direção aos fundos onde ficava o restaurante, logo vi várias pessoas comendo, parecia que todos eram da mesma família lá, todos eram loiros ou ruivos, pareciam muito com vikings mesmo, só que modernos. Andei em direção as comidas observando por alguns segundos e de novo não havia nada que coubesse em minhas refeições.

Não faziam salada ali?

Me dirigi até um funcionário que anotava algumas coisas em um bloquinho de papel.

— Olá, boa tarde. Vocês não servem salada aqui? — perguntei ao rapaz que abriu um enorme sorriso para mim.

— Não, me desculpe mas não servimos saladas aqui. — eu dei um sorriso fraco e voltei para hospedagem.

Me recusava a comer gorduras mais uma vez, ontem Hugh já havia me obrigado a comer purê de batatas. Mas estava bom, na verdade estava bom demais, o tempero daquele homem é delicioso.

— Oi! — chamei a moça da recepção — Tem supermercado aqui?

— Tá vendo aquela praça ali? — ela me mostrou e eu assenti — Vire a sua direita que chegará a uma tenda.

— Obrigada. — agradeci.

Coloquei minhas malas para dentro e pedi que ela ficasse de olho para mim enquanto eu procurava a tal tenda. No caminho ouvi uma voz conhecida, olhei para o lado e vi um galpão de madeira imenso com vários homens sem camisa e outros com a camisa muito suja cortando lenha. Homens sarados, fortes, com as veias salientes na pele bronzeada.

Mas no meio, conversando com um senhor, havia o mais bonito de todos. Hugh Mikhail. Eu sei que não deveria, mas comecei a andar até ele, rapidamente pude ouvir sussurros dos homens que ali se encontravam, fazendo com que ele me notasse.

Hugh olhou para mim e franziu o cenho quando me viu.

— O que houve, princesa? — se aproximou de mim, meu coração louco começou a bater mais rápido.

— Me deixaram para trás. — meus olhos lacrimejaram feito uma bebê chorona — E não tem saladas aqui. — ele gargalhou.

Sua gargalhada tanto mostrou como ele era lindo, quanto babaca.

— Está zombando de mim? —grunhi irritada.

— Bem-vinda à vida real, madame.

— A vida real é ser deixada para trás na sua viagem de avião quando tudo que você queria era voltar para sua casa, para o seu lar de verdade após ter sofrido o pão que o diabo amassou em outro país, longe de toda sua família? — o perguntei incrédula virando minhas costas para sair dali.

Talvez ele tenha sentido pena de mim, já que senti sua mão segurar meu braço, causando em mim energias diferentes.

— Estou para sair do trabalho agora mesmo. Quer almoçar comigo? — sua pergunta me pegou de surpresa.

— Onde?

— Na minha casa. Eu faço uma salada para comer você.

— O que disse?

— Que eu vou fazer uma salada para você comer. — respirei fundo.

Estava mesmo com fome que até coisas estava ouvindo. Ignorei minha mente impura e sorri em meio às lágrimas por sua gentileza. Seria minha TPM chegando?

Ah, Hugh Mikhail... Como você conseguia ser um ogro, arrogante, bonito, gostoso e cavalheiro no mesmo homem? Até então eu achava que ele era uma das únicas coisas boas que tinha naquele lugar.

Cumprindo sua palavra, nós caminhamos depois de dez minutos de volta a casa dele, em silêncio. Horas depois, recebi meu prato pronto em minhas mãos, nele havia folhas verdes, tomates pequenos, brócolis - que eu amo - e cenoura.

— Uau. Obrigada. Você tem muitas qualidades, as aparências realmente enganam. — agradeci e ele sorriu, um sorriso malicioso como sempre.

— Eu sei. — disse todo convencido e me encarou. Quando senti que estávamos nos olhando demais, eu desviei meu olhar com o rosto rubro.

Sendo assim, comecei a comer minha comida que estava deliciosa por sinal, e pensando se tudo que ele fazia era delicioso como ele, porque pelo menos a comida era. Depois disso eu me ofereci para lavar a louça novamente, acho que nunca lavei tanta louça na vida. Notei que depois do olhar diferente de minutos atrás, ele parou de falar comigo, parecia que algo o incomodou.

— Eu agradeço por tudo, Hugh. De verdade, muita obrigada. Não quero mais incomodar, estou indo para hospedagem, minhas malas estão sozinhas lá na recepção.

— Estou indo de volta para o trabalho, te acompanho no caminho. — ele falou com um tom sério, diferente do de antes.

E isso me incomodou pra caramba, será que fiz ou falei algo que o chateou? Minutos atrás ele estava todo abusado e agora estava de cara fechada. Ainda se atrevem a dizer que as mulheres são difíceis de entender.

— Está tudo bem? — indaguei enquanto caminhavámos após ele fechar a porta.

— Claro. Por que não estaria? — forçou um sorriso.

No caminho de volta, percebi a intenção dele de se manter distante de mim até mesmo fisicamente na rua. Do nada! Tentei algumas vezes puxar assunto mas todos foram cortados por ele.

— Até mais, Hugh. — falei dando um aceno de mão, ele apenas balançou a cabeça e se virou para ir ao seu destino.

Meu peito apertou-se estranhamente. Não seja patética Diana! E mesmo tentando não ser, eu não sabia o que estava acontecendo comigo, só descobriria mais tarde, no dia da maior decepção da minha vida.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo