Diana Markovic
— Moça, se acalme. Deixaram outra moça para trás também. Ela se chama Ramona, está e ficará hospedada aqui até a próxima semana, que é quando terá vôos disponíveis na cidade ao lado.
— Próxima semana? Vôos disponíveis? — agarrei meus cabelos em desespero total — Por quanto tempo eu vou ter que ficar nesse fim de mundo que nem avião tem? — murmurei para mim mesma a última frase.
Não queria magoar ninguém. Embora eu estivesse falando a verdade sobre aquele lugar ser um fim de mundo que não tinha nada de bom.
— Com a pausa das chuvas fortes nos Estados unidos, o avião que estava aqui precisou ir imediatamente para a Califórnia, disseram que contaram certinho o número de passageiros que estavam lá às oito da manhã e não faltava nenhum. Acho que se enganaram. — a mulher explicou com uma paciência desconhecida por mim.
— Ah, você acha? — minha raiva era tão grande que não cabia em mim. — Se tivessem contado mesmo eu não estaria aqui! Nesse inferno! Caramba. Que ódio!
Eu iria processar essa companhia aérea! Eu iria ferrar tanto com eles que nem o melhor advogado do mundo conseguiria livrá-los do que teriam que me pagar. Nem era pelo dinheiro e sim pelos danos morais.
Para piorar minha situação, eu estava morrendo de fome e pelo que tinha visto ontem, naquele restaurante ali do lado não tinha nada que eu poderia comer. Me sentei em uma cadeira colocando as mãos na cabeça, perdida. O que eu iria fazer agora? Comecei a chorar feito uma criança que se perdeu da mãe, porque era assim que me sentia. Era assim que eu estava.
Longe da minha família, sem conseguir falar com eles já que não tinha sinal de telefone, só as vezes, como no dia anterior por exemplo, quando Jeremy ficou ligando de madrugada e Hugh atendeu. Balancei o iPhone em minhas mãos mais uma vez, porém nada de sinal. Porcaria!
— Ei, hoje tem promoção no restaurante, a comida estará pela metade do preço. — a loira chamou minha atenção.
— É o mesmo cardápio de ontem? — indaguei desanimada.
— Não. Hoje tem comidas especiais, toda quarta-feira é assim aqui. — meu estômago fez barulho.
— Eu preciso comer... — falei baixinho com a voz entristecida.
Caminhei em direção aos fundos onde ficava o restaurante, logo vi várias pessoas comendo, parecia que todos eram da mesma família lá, todos eram loiros ou ruivos, pareciam muito com vikings mesmo, só que modernos. Andei em direção as comidas observando por alguns segundos e de novo não havia nada que coubesse em minhas refeições.
Não faziam salada ali?
Me dirigi até um funcionário que anotava algumas coisas em um bloquinho de papel.
— Olá, boa tarde. Vocês não servem salada aqui? — perguntei ao rapaz que abriu um enorme sorriso para mim.
— Não, me desculpe mas não servimos saladas aqui. — eu dei um sorriso fraco e voltei para hospedagem.
Me recusava a comer gorduras mais uma vez, ontem Hugh já havia me obrigado a comer purê de batatas. Mas estava bom, na verdade estava bom demais, o tempero daquele homem é delicioso.
— Oi! — chamei a moça da recepção — Tem supermercado aqui?
— Tá vendo aquela praça ali? — ela me mostrou e eu assenti — Vire a sua direita que chegará a uma tenda.
— Obrigada. — agradeci.
Coloquei minhas malas para dentro e pedi que ela ficasse de olho para mim enquanto eu procurava a tal tenda. No caminho ouvi uma voz conhecida, olhei para o lado e vi um galpão de madeira imenso com vários homens sem camisa e outros com a camisa muito suja cortando lenha. Homens sarados, fortes, com as veias salientes na pele bronzeada.
Mas no meio, conversando com um senhor, havia o mais bonito de todos. Hugh Mikhail. Eu sei que não deveria, mas comecei a andar até ele, rapidamente pude ouvir sussurros dos homens que ali se encontravam, fazendo com que ele me notasse.
Hugh olhou para mim e franziu o cenho quando me viu.
— O que houve, princesa? — se aproximou de mim, meu coração louco começou a bater mais rápido.
— Me deixaram para trás. — meus olhos lacrimejaram feito uma bebê chorona — E não tem saladas aqui. — ele gargalhou.
Sua gargalhada tanto mostrou como ele era lindo, quanto babaca.
— Está zombando de mim? —grunhi irritada.
— Bem-vinda à vida real, madame.
— A vida real é ser deixada para trás na sua viagem de avião quando tudo que você queria era voltar para sua casa, para o seu lar de verdade após ter sofrido o pão que o diabo amassou em outro país, longe de toda sua família? — o perguntei incrédula virando minhas costas para sair dali.
Talvez ele tenha sentido pena de mim, já que senti sua mão segurar meu braço, causando em mim energias diferentes.
— Estou para sair do trabalho agora mesmo. Quer almoçar comigo? — sua pergunta me pegou de surpresa.
— Onde?
— Na minha casa. Eu faço uma salada para comer você.
— O que disse?
— Que eu vou fazer uma salada para você comer. — respirei fundo.
Estava mesmo com fome que até coisas estava ouvindo. Ignorei minha mente impura e sorri em meio às lágrimas por sua gentileza. Seria minha TPM chegando?
Ah, Hugh Mikhail... Como você conseguia ser um ogro, arrogante, bonito, gostoso e cavalheiro no mesmo homem? Até então eu achava que ele era uma das únicas coisas boas que tinha naquele lugar.
Cumprindo sua palavra, nós caminhamos depois de dez minutos de volta a casa dele, em silêncio. Horas depois, recebi meu prato pronto em minhas mãos, nele havia folhas verdes, tomates pequenos, brócolis - que eu amo - e cenoura.
— Uau. Obrigada. Você tem muitas qualidades, as aparências realmente enganam. — agradeci e ele sorriu, um sorriso malicioso como sempre.
— Eu sei. — disse todo convencido e me encarou. Quando senti que estávamos nos olhando demais, eu desviei meu olhar com o rosto rubro.
Sendo assim, comecei a comer minha comida que estava deliciosa por sinal, e pensando se tudo que ele fazia era delicioso como ele, porque pelo menos a comida era. Depois disso eu me ofereci para lavar a louça novamente, acho que nunca lavei tanta louça na vida. Notei que depois do olhar diferente de minutos atrás, ele parou de falar comigo, parecia que algo o incomodou.
— Eu agradeço por tudo, Hugh. De verdade, muita obrigada. Não quero mais incomodar, estou indo para hospedagem, minhas malas estão sozinhas lá na recepção.
— Estou indo de volta para o trabalho, te acompanho no caminho. — ele falou com um tom sério, diferente do de antes.
E isso me incomodou pra caramba, será que fiz ou falei algo que o chateou? Minutos atrás ele estava todo abusado e agora estava de cara fechada. Ainda se atrevem a dizer que as mulheres são difíceis de entender.
— Está tudo bem? — indaguei enquanto caminhavámos após ele fechar a porta.
— Claro. Por que não estaria? — forçou um sorriso.
No caminho de volta, percebi a intenção dele de se manter distante de mim até mesmo fisicamente na rua. Do nada! Tentei algumas vezes puxar assunto mas todos foram cortados por ele.
— Até mais, Hugh. — falei dando um aceno de mão, ele apenas balançou a cabeça e se virou para ir ao seu destino.
Meu peito apertou-se estranhamente. Não seja patética Diana! E mesmo tentando não ser, eu não sabia o que estava acontecendo comigo, só descobriria mais tarde, no dia da maior decepção da minha vida.
Diana MarkovicEntrei na hospedagem mas não vi a moça da recepção, porém minhas malas estavam exatamente como as deixei e isso que importava. As peguei e comecei a tentar uma missão impossível que era eu conseguir subir com elas pelas escadas estreitas do lugar. Após várias tentativas eu soltei um pequeno grito de derrota.— Precisa de ajuda? — ouvi a voz de Hugh atrás de mim. Senti uma vontade instantânea de sorrir mas logo tratei de me recompor.Ele devia ter visto minha luta de longe, já que as portas da hospedagem eram grandes e dava para ver claramente as escadas lá da rua.— Sim, por favor. — limpei a garganta para a voz sair direito.Hugh não me olhou muito, ainda estava sério mas mesmo assim pegou minhas duas malas sem nenhum esforço e sobiu com elas pelas escadas.— Qual n&uacu
Minutos depois ele voltou com minhas malas, tentei não observar muito os músculos marcando a camisa cinza suja de trabalho, o suor, a rusticidade da imagem dele naquele momento. Ele era um selvagem e bruto que me tratou como um nada, pelo amor de Deus, eu não podia ficar excitada toda vez que esse homem respirasse na minha frente!— Aqui estão suas coisas. Estarei de volta em três horas. Não quebre ou mexa em nada. Seu dinheiro não paga por nenhum item dentro dessa casa. — falou friamente e se foi após colocar as malas para dentro.Precisava agora organizar meus pensamentos e minhas coisas para enfrentar uma semana naquele lugar que pelo que já havia notado até então, não seria nada fácil.Nas próximas horas passei organizando todas as minhas coisas de higiene em algum lugar do banheiro de Hugh, nada que ficasse bagunçado, eu odiava bagunça.
No dia seguinte eu acordei sentindo minha coluna um pouco dolorida, era meu segundo dia lá e eu pensei então que talvez em uma semana eu estivesse entrevada de tanto dormir no chão. Dobrei todos os lençóis e coloquei em cima de uma cadeira para a noite eu fazer novamente a cama. A cama de Hugh estava novamente vazia o que me fez deduzir que já havia saído para o trabalho.Caminhei bocejando para o banheiro mas me assustei com a silhueta dele na cozinha mexendo no fogão. Parei no batente da porta e limpei a garganta tendo sua atenção para mim.— Bom dia. Não vai trabalhar hoje? — perguntei cruzando os braços arrepiada com o vento frio que entrou pela janela.— Bom dia. Não deu meu horário ainda. — respondeu — Café?— Sim. — falei — Me esqueci que ontem eu acordei quase ao meio dia e por isso não te
— No mundo da lua? — olhei para trás encontrando Hugh. Evitei sorrir, somente o encarei vendo ele se sentar ao meu lado.Ele estava sujo e suado, mas isso só fez com que eu o achasse mais sexy. Ao mesmo tempo imaginei ele trabalhando com os músculos de fora carregando peso ou quebrando lenha como vi outro dia com aquele monte de homens estilo vikings com barba grande, cara de mau, tatuagens e...— Há algo errado com meu braço? — Hugh chamou minha atenção e eu notei que meu olhar estava paralisado nos bíceps dele.— Uh... Não. É que eu estava pensando em uma coisa. — tentei me explicar sem gaguejar.— Sei... Está com fome? Porque eu estou faminto! — mordeu o lábio inferior obrigando-me a pensar malícia.Tenho certeza que minha calcinha molhou junto com o lábio carnudo que ele acabara de umidecer com
Permaneci de pé olhando para eles com uma expressão confusa no rosto. Em segundos comecei a me recordar do nome que a moça da hospedagem me deu e que fez Hugh me levar para a casa dele nos ombros para que eu não ficasse uma semana na casa do homem. Kaik Mailing. Por que o desespero de Hugh em não tê-lo perto de mim?Ai meu Deus! Ele é gay e Kaik é bissexual?— Vai pro inferno, Mikhail! — o moreno exclamou.— Não me faça quebrar a sua cara aqui na frente de todo mundo, seu merda.— Gente, o que está acontecendo? — perguntei resolvendo tentar apaziguar.Não deveria ser nada bonito dois homens daquele tamanho trocando socos e pontapés. Tenho pânico só de pensar no sangue que sairia deles. Fariam um estrago um no outro, certeza.— Nada. — Hugh grunhiu entredentes.— Por que n&atild
— Diana. — ouvi sua voz ao mesmo tempo que seus braços me seguraram.Não posso sorrir, não posso sorrir.Repeti para mim mesma.— Caralho, princesa! — ele exclamou parecendo preocupado.— O que aconteceu? — fingi uma voz sonolenta ao abrir meus olhos antes que eu desse uma risada e estragasse tudo.— Você apagou por alguns segundos. Está tudo bem? — a expressão sincera dele me fez sentir uma culpa infundada.Desde quando fiquei tão cínica?Mas eu não iria simplesmente dizer que fingi um desmaio para sair de uma situação constrangedora.— Estou sim... — me soltei dos seus braços que ainda me amparavam.Percebi sua expressão mudar para duvidosa.— Você não está... Grávida, está? — engoliu em seco.— N&at
— E quem é você, Hugh Mikhail? — a pergunta escapou dos meus lábios me fazendo quase ficar arrependida se eu não visse seu rosto com uma expressão leve.— Eu sou um descendente viking. Nasci e fui criado aqui, meu pai foi embora para os Estados unidos quando eu tinha cinco anos para lutar box na Califórnia, ele voltava de seis em seis meses e acabou me ensinando muita coisa desse meio.Agora eu entendi o porquê das habilidades na hora da briga com Kaik.— Se me permite perguntar, e sua mãe? — ele engoliu em seco e sua expressão se tornou triste.— Faleceu. Eu e minha irmã Naya fomos criados pela Zarah até que ela fez vinte anos e foi embora com um estrangeiro que conheceu aqui. Eu iria seguir como lutador, meu pai estava me preparando para isso até que aconteceu questões que impediram.— O que houve?&mdash
Minha cabeça estava girando, talvez eu tivesse bebido além da conta. Hugh segurava minha mão para conseguir entrar em casa evitando que eu caísse nos pequenos degraus da frente, embora ele também não estivesse nada bem.— Então quer dizer que você nunca teve um orgasmo? — perguntou-me no momento em que passamos pela porta.— Ainda está com isso na cabeça? Está tão interessado na minha vida sexual ultimamente... — o provoquei.— Essa confissão saiu dos seus próprios lábios. — Hugh sorriu.— De qualquer forma, é verdade.— E nunca se quer tentou se dar prazer?— Não. Jeremy e a família disseram que só podia depois do casamento e antes dele eu só tive o Dick como namorado e éramos imaturos demais para pensar em sexo.— Por que eles ach