~Pov. Eris~
A manhã seguinte não prometia nada de diferente, depois que me despedi de Victor alegando querer ficar sozinha acabei por ouvir os pensamentos do garoto que tinha esbarrado em mim. Inconscientemente acabei respondendo e arrancando algumas informações sem sua permissão, Gabriel vivia a sombra de um acontecimento fatídico do passado.
O que vi em sua cabeça foi repassado em meus sonhos dessa noite, a linda garota que ele tanto amava estava morta aos seus pés e ele não pode fazer nada. Lágrimas despencavam dos meus olhos com o peso da culpa em meus ombros, eu estava distante da academia mas tinha certeza que era com isso que ele sonhava e que de alguma forma acabei me apegando a essa dor como um vínculo.
O resto da noite eu passei em claro olhando pela janela uma tempestade distante que se formava além das cidades de Oncep, na cratera além mar não existia nenhuma forma de vida. Os cataclismas normalmente aconteciam por ali embora as raras vezes que chegavam ao novo mundo as consequências eram devastadoras.
Escutei a porta da frente abrir e me apressei a ver quem era, Victor se esgueirava para dentro de casa com uma expressão cansada no rosto, algumas marcas de batom sujavam seu pescoço e sua mandíbula. Ao notar minha presença ele se aproxima com um sorriso simpático.
- Ainda acordada, tampinha? - bagunçou meus cabelos castanhos claro com sua mão grande e pesada.
- Não consigo dormir, pesadelos. - embora não sejam os meus pesadelos estavam de fato me assustando, ele virou para olhar a porta do quarto do pai e fez sinal para que en entrasse em meu quarto, ele me seguiu e fechou a porta devagar para não fazer barulho.
- Eu também tinha muitos, venha. Nada melhor para espantar os pesadelos do que companhia não acha? - ele riu retirando o coturno, o cinto, a jaqueta e a blusa. - Vou tomar um banho.
Ele entrou no banheiro e eu ouvi o barulho da água, aproveitei psra espiar um pouco mais a janela. Aqui era frio a noite, não como Oncep, era um frio gostoso de sentir na pele. Depois de um tempo Victor saiu do banheiro vestindo a calça do moleton que eu usava psra dormir, os cabelos castanhos café estavam molhados, o peitoral forte desnudo deixando a vista algumas cicatrizes de batalha. Sorri para ele e me deitei na cama sentindo o lado afundar com seu peso, eu me sentia uma criança dormindo com um gigante, ele tomava conta da cama quase inteira.
- Feche os olhos e durma, caso o pesadelo volte embora eu duvide que ele se atreva a voltar com minha presença, eu estarei aqui com você. - era uma lógica infantil, mesmo que meus pais tenham me dito psra enfrentar os pesadelos sozinha quando eu era criança. Me deixei levar pelo cansaço e me segurei na certeza de suas palavras.
[···]
Os pesadelos não voltaram, acordei provavelmente o mesmo horário de sempre e encarei a janela, eu estava sozinha na cama bagunçada. Olhando de uma forma ampla eu ficava perdida em meio aos lençóis sem o gigante do meu lado.
- Bom amanhecer! Como se sente? - por um momento achei que ele tinha me enganado e sumido durante a noite, mas ele estava ali saindo do banheiro com os cabelos molhados e um sorriso fácil.
- Eles não voltaram. - respondi contendo ums felicidade, ele e Tavarres estavam cumprindo a risca o que me falavam. Diferente das pessoas que diziam se importar comigo.
- Eu falei, os pesadelos morrem de medo de mim. - ele cruzou os braços gargalhando com um orgulho exposto, acabei rindo também e a porta do quarto foi aberta. Tavarres entrou nos encarando e em seguida sorriu.
- Ah, vocês estão aí! Eu fiz o café. Hoje o dia será longo. Espero vocês. - ele pareceu não se importar com o fato de estarmos no mesmo quarto, Victor deu de ombros pegando suas roupas do chão.
- Vou me trocar, te espero para o café. - dito isso ele se retirou me deixando sozinha, me levantei preguiçosamente e tomei um banho demorado, se hoje seria um dia longo eu preciso de um pouco mais de sossego.
As roupas masculinas estavam sobre a cama assim como ontem, eu sentis falta de um sutiã e de uma calcinha mas eu não podia exigir demais. Coloquei a cueca e o conjunto moleton enorme, sai do quarto me jogando sobre a cadeira da mesa.
- Agora eu entendi onde estão indo minhas roupas. - Victor gargalhou, estava vestido como ontem para o trabalho.
- Desculpe. - murmurei, vi ele mexendo nos bolsos e tirando uma carteira, olhava com atenção e em seguida guardou novamente. Terminamos o café rápido, ninguém queria chegsr strasado a não ser eu é claro.
- Eris, vem comigo. - Victor se levantou pegando algumas chaves na estante da sala, Tavarres o olhou de soslaio e ele sorriu. - Eu levo ela na academia depois.
- Certo, vou aproveitar para resolver algumas questões da regência, parece que o senhor Garcia está inconformado com ums tentativa de ataque a uma noite atrás. - deu de ombros como se aquela informação não fosse importante, mas era. Telectos tentaram atacar, porque? - Divirtam-se.
Me levantei murmurando um "Até logo" para Tavarres que acenou em concordância. Victor desceu as escadas ns frente e eu o segui a medida que podia, minhas pernas curtas não possibilitavam que eu o acompanhasse de ums forma sossegada. Quando chegamos no térreo ele se dirigiu a uma máquina estranha e sorriu passando a mão por cima dela,fiquei o encarando sem entender muita coisa.
- Isso é uma moto, acho que não tem muitas dessa lá, não é? - neguei, os meios de locomoção em Oncep era o trem que cortava as cidades, os caminhões de carga e alguns carros pequenos para duas pessoas. - Só monta e segura em mim.
- Aonde vamos? - perguntei montando na moto com dificuldade.
- Eu não vou deixar você sair por ai vestindo as minhas roupas. - ele riu, começamos a nos mover. Meus braços estavam agarrados em sua cintura de pedra enquanto sentia o medo dar lugar a um novo sentimento, adrenalina. Era bom, agora eu entendi o motivo dele gostar tanto desse meio de transporte. Passamos por ruas movimentadas de sem números e chegamos ao que parecia uma loja de roupas, ele parou e me ajudou a descer. Fiquei olhando as pessoas desse lugar, eles se vestiam com roupas coloridas demais, Victor segurou em minha mão e me puxou para dentro da loja. - Bom, vamos as regras. Nada apertado, nada curto e nada colorido.
- Porque? - questionei, eu nunca usaria nada disso que ele falou mss gostava de suas respostas diretas. Ele corou dessa vez e desviou o olhar.
Porque não quero ninguém te olhando.
- Porque eu disse que não. Nada de perguntas, eu estou pagando então, apenas obedeça. - revirei os olhos sentindo minha pele queimar, olhei em direção as roupas e me direcionei as cores mais escuras. Ele sentou em um banco e ficou flertando com umamdas garotas presentes, ela usava um short vermelho e uma blusa branca justa vom o número Dois estampado nela.
Peguei algumas calças na cor preta, blusas de manga cumprida em tons de vinho, preto e cinza, algumas regatas preta e corri psra a sessão de lingerie antes que ele me notasse. Escolhi as peças e larguei no caixa, eu não estava acostumada a isso, em Oncep minha mãe comprava minhas roupas.
- Porque não aproveita e já vai vestida? - a vendedora atenciosa propôs, não seria uma má idéia. Peguei algumas peças e corri ao provador. Sai vestida com uma das calças, uma regata preta e uma blusa cinza de manga comprida fina com capuz. - Tenho duas coisas ideais para você. - ela voltou vom um par de luvas pretas sem dedo e coturnos. Victor estava pagando a conta quando estancou e ficou me encarando.
- O que foi? - perguntei olhando para minhas roupas, tinha slgo de errado? Será?
- Não, nada. - respondeu balançando a cabeça, pegou as sacolas e saiu da loja, eu estava em seu encalço. Em silêncio subimos na moto e fizemos o percurso para a academia, eu desci e ia me afastar sem me despedir. - Te vejo mais tarde, tampinha.
E com um sorriso presunçoso ele foi embora, coloquei as mãos dentro dos bolsos da calça e entrei na academia faxendo meu papel clássico de ser invisível. Passei na sala de Tavarres e ele não estava, provavelmente ainda estivesse na regência. Me virei para procurar alguma coisa interessante psra fazer e bati em alguém, novamente meu corpo foi so chão com o impacto.
- Eca. Além de uma sem número você também é cega?! - a voz da loira irritante psssou rasganto em meus ouvidos, o número Cinco estava estampado na farda cinza. Tentei me levantar sem dar importância para seu ataque de nervos mas ela me empurrou de encontro ao chão antes que eu tivesse êxito. - Fica aí, é o seu lugar mesmo.
Minhas unhas arranharam o chão contendo a raiva que ascendia dentro de mim, odeio pessoas desse tipo. Eu tinha que manter a calma e tudo ficaria bem, tudo ficaria bem.
~Pov. Letícia ~- Antony! Levanta, eu sei que você já está melhor! - depois do treinamento pesado de resistência o Anto desmaiou e eu me vi na obrigação de ajuda-lo. O Ruan nunca desistiria do seu recorde pessoal para tal.Nesse momento eu estou enfadada da primeira aula e com receio de ir a segunda, mesmo assim tento arrancar ele da maca em que está deitado na enfermaria. Antony se enrosca no lençol como se fosse sua alma e isso já está me tirando a paciência.- Eu estou mal, não está vendo Lê? Olhe para meu rosto, meu corpo. Eu estou péssimo. - o drama realmente era algo significativo em sua personalidade, eu sabia que ele estava bem.- Estou vendo... Vendo esse seu cu de preguiça! Levanta dessa porcaria antes que eu te derrube dela! - grito, infelizmente paciência não é meu forte. Ele tapa os ouvidos com o travesseiro e finge que não me ouviu.Respiro fundo para tentar me acalmar, se o diret
~Pov. Ruan~Odeio reuniões, esse era o único pensamento que vinha em minha cabeca. Tavarres estava sentado a minha frente de um jeito desconfortável, meu pai berrava ordens até para o ar e a raiva já estava friamente me consumindo.- Quero que mais pessoas vigiem os muros! Esses bastardos não vão entrar em minha cidade e causar terror! Quem ultrapassar será morto, entenderam?! - não duvido que até os alunos da academia tenham concordado com os gritos dele, mesmo estando a um quilômetro de distância de lá.- Sim, senhor Regente. - os soldados sairam apressados, eu também sairia mas minhas obrigações me prendem aqui.- Tavarres, você o único homem em quem eu confio. Use seus alunos para algo útil. - ele concordou respirando forte. - E você Ruan, o que anda fazendo para ajudar?!- Estudando. - respondi dando de ombros, eu não tinha nada haver com os muros.- Tavarres, coloque ele com o Victor. - ao ouvir o nome do bastar
~Pov. Eris~Parece que finalmente estou me encaixando em algum lugar, aquele almoço foi divertido, nem com meus amigos de Oncep eu tinha me sentido tão a vontade. Gabriel com seus cabelos castanhos e olhos azuis era doce, Luiz tinha cabelos negros e pele caramelada, era um pouco afastado e centrado mas quando os dois começaram a me fazer elogios senti meu rosto todo queimar. Antony era o pequeno palhaço do grupo, Leticia era fofa e alegre, Felipe era convencido. Ruan, cabelos negros em cachos caindo sobre os ombros, olhos castanhos ele era diferente da maioria. Um sorriso brotava em meu rosto ao lembrar deles.Quando terminei o almoço e segui para a sala de Tavarres, Victor não estava mais lá. Estavam tendo problemas nos muros e os Transportadores foram convocados para ajudar, aparentemente aquilo era perigoso e um frio na barriga me tomou ao imaginar Victor machucado.Fui aco
~Pov. Eris~Se ele estava pensando que eu iria ficar aqui nessa sala ele estava muito enganado. Esperei que se afastasse e sai da sala tentando o acompanhar sem ser pisoteada pelos alunos que corriam para se abrigar. Braços impediram que eu caísse e me suspenderam, fiquei assustada mas sair do meio da multidão foi um alívio.- Eris, está afim de morrer? Eles não enxergam! - era Gabriel visivelmente irritado, eu sabia que eles não me enxergariam nem se tentassem.- Desculpe. Mas disseram que houve uma invasão. - omiti quem havia me dito, ele estava preocupado. Estavamos contra a parede do lado de fora da academia longe o bastante dos alunos revoltos e da confusão nos muros.- Deveria estar se protegendo. Você pode se machucar seriamente. - fiz bico, odiava ser vista como fraca pelos outros. Cruzei os braços a frente do corpo.- Se não vai comigo,
~Pov. Victor~Os Telectos estavam avançando todos os dias, nossa fonte de energia vinha da radiação emitida do fundo da cidade. Oncep nunca aceitou ter perdido Rebelion, a cidade foi construida sobre uma antiga usina nuclear intocada. A radiação movimentava lâminas grossas em torno de vacuos gerando uma energia extra, também usavamos a energia do sol mas tinhamos poucas placas de absorção.- Victor? - Ginna estava bem posicionada sobre o muro, ela era uma número Quatro, fazia parte do GEC. Atentei para a nossa frente onde uma tropa se aproximava rapidamente. - Está pronto?- Sempre pronto. - eramos conhecidos por não termos limites, saltamos do muro caindo sobre a terra batida fora da cidade. Os Transportadores não eram um grupo muito grande, ao todo podiamos contar com dez Elementares se revezando para fazer o trabalho dos soldados também.&
~Pov. Eris~Depois de muita insistência do Victor acabei voltando a dormir sonhando com tudo que eu tinha visto na mente do Telecto, aquelas informações eram desconexas e acabou sendo um sonho terrivel. Enquanto dormia escutei alguns gritos e uma discussão, abri um dos olhos devagar confirmando o que pensava, Tavarres e Victor estavam discutindo, decidi fingir que dormia e apenas ouvir.- Porque não trancou ela na sala!? - Victor bufou, os dois estavam alterados.- Eu pensei que ela ficaria no lugar! Eu não vejo o futuro sabia?! - tremi quando sua voz começou a sair do eixo.- Agora eles sabem sobre ela, o regente quer interroga-la e usa-la para extrair os planos dos Telectos. - a voz de Tavarres estava cheia de culpa, o pavor que saia deles estava esmagando meus pulmões.- Só por cima do meu cadáver ele vai encostar na Eris! Eu não vou permitir que ele a use como se fosse u
~Pov. Gabriel~Eris tinha uma teimosia palpável, era impossível não notar. Depois que fomos praticamente enxotados da enfermaria pelo Victor notei o quanto eu me preocupava com ela, o quanto o seu bem estar fazia diferença em minha vida.Aqueles olhos tão expressivos, seu jeito delicado, sua estatura. Tudo nela parecia me atrair de um jeito estranho, bom. No caminho para a sala eu me perdi em pensamentos e quase entrei na sala do segundo ano, se o Ruan não tivesse esbarrado em mim teria pago um enorme mico.- Ora, vejam só quem resolveu aparecer. - Elena não perdia uma piada quando se tratava de atrasos, sorri sem graça e me apressei a ocupar o meu lugar em silêncio. - Já que foi o último a entrar, porque não explica para a turma a importância do bem estar físico e emocional?- Não seria melhor me bater com a régua? - ao menos não seria tão vergonhoso, eu não g
~Pov. Eris~Eu simplesmente não acredito que ele me beijou pensando em sua ex-namorada, me sinto tão usada, tão idiota. Em Oncep não nos apaixonamos por alguém que não é nosso parceiro, e aqui eu me sinto sufocada por não ter regras, por não ter que seguir algo.Meu coração dói com a possibilidade de não ser correspondido, de não ser amado. De fato era estranho o que eu sentia quando estava com Gabriel, Ruan e Victor, sensações diferentes e que me incomodavam. Sinto falta da certeza.Ao passar por Victor enquanto corro apenas o iguinoro, preciso sair daqui, preciso de espaço para pensar. Talvez não seja tão bom assim ser livre, poder fazer suas próprias escolhas. Quando percebo já estou no meio da rua, no frio obscuro da noite, um arrepio estranho passa por mim e escuto passos em minha direção, começo a andar sem olhar diretamente para trás.Eu vejo você. Uma voz em minha cabeça me fez salt