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4 - Corações em Conflito: Entre o Passado e o Presente

• Manuela •

 Manhã de Domingo

A noite foi difícil. As palavras de Leonardo ecoaram em minha mente como um martelo, impedindo qualquer descanso. Luna, minha pequena, parece ter sentido minha tensão, já que quase não dormiu também. Agora, as duas estamos na cozinha cedo, tentando começar o dia com nosso café da manhã.

— Bom dia, princesinha do dindo! — a voz alegre de Pedro ecoa enquanto ele entra sem cerimônia, como sempre faz.

— Bom dia, P**e! Veio tomar café, né? — digo com um sorriso, abraçando meu amigo, cuja presença é sempre um alívio.

— Bom dia, dindo! — Luna responde distraída, concentrada no cereal à sua frente.

Pedro senta-se à mesa e me olha preocupado.

— Vim tomar café, mas também ver como você está — diz, aceitando a panqueca que coloco em seu prato. — Cadê seus pais?

— Estou bem, amigo. Obrigada por perguntar. — Tento sorrir, embora saiba que ele não se engana facilmente. — Meus pais viajaram cedo. Meu pai disse que quer aproveitar minha mãe. — Faço uma careta, arrancando uma risada dele.

— Ele tá certíssimo! — Pedro responde, mas logo sua atenção vai para o celular. — Só queria dizer que sua cunhada é maluquinha.

— Bia? — pergunto, já rindo. — Vocês estão trocando mensagens?

Ele confirma com um sorriso e muda de assunto.

— A propósito, ela disse que vem aqui para ver como você está.

Levanto uma sobrancelha, incrédula.

— Sabemos que ela não vem por minha causa, né? — provoco, rindo. — Mas é bom. Enquanto vocês ficam aqui com Luna, eu vou encarar o passado.

Pedro me lança um olhar firme.

— Estou com você, anjinho. Nada de mal vai acontecer com vocês.

Antes que eu possa responder, Bianca entra pela porta com uma energia radiante.

— Bonjour! — diz, estranhamente arrumada para um domingo de manhã.

— Bom dia, titia Bia! — Luna a recebe com um sorriso, recebendo um beijo carinhoso em sua cabeça.

Bianca se senta ao lado de Pedro, claramente tentando chamar sua atenção, e a cena me faz rir. No entanto, minha mente já está no encontro que preciso ter.

— Bianca, seu irmão está em casa? — pergunto, tentando parecer tranquila.

— Sim — ela suspira. — Mas ele tá puto porque todo mundo escondeu a pequena dele.

Respiro fundo, já esperando o confronto.

— Eu vou lá. Está na hora de colocar tudo em pratos limpos.

Ao chegar à casa dos meus padrinhos, vejo Leonardo encostado em uma mureta do jardim, fumando um cigarro. Não consigo evitar o olhar que desliza por ele. O tempo trouxe mudanças: seus braços estão cobertos de tatuagens, e o semblante é muito mais frio do que eu me lembrava.

— Não sabia que fumava — digo, tentando manter a calma. — Nem que tinha feito tantas tatuagens.

Ele me encara, soltando a fumaça lentamente.

— Só fumo quando estou nervoso. — Sua voz é cortante. — E esconder algumas tatuagens não é nada perto de esconder uma criança por seis malditos anos.

As palavras me atingem como um tapa. Respiro fundo, lutando para me defender.

— Eu tentei te contar, Leon. Quando liguei, uma mulher atendeu o seu telefone. Não quis parecer uma estraga-prazeres.

Ele ri, mas é um riso amargo, cheio de desprezo.

— Isso não era uma escolha sua, Manuela. Que inferno! O seu dever era me contar, não importa o que estivesse acontecendo.

— Eu tentei! — insisto, com a voz embargada. — Até o seu pai tentou, mas você o decepcionou tanto que ele desistiu de te contar. E sabe de uma coisa? Ele tinha razão. Você não é o mesmo.

Leonardo traga o cigarro com força, sua expressão carregada de raiva.

— Vocês todos foram uma cambada de egoístas comigo, isso sim. — Ele ri de forma sarcástica. — Mas agora, fique sabendo: eu quero conhecer minha filha. Quero me aproximar dela.

— Leonardo, por favor. Eu nunca te privaria de conhecê-la, só preciso de um tempo para conversar com ela.

— Tranquilo. — Ele solta mais fumaça, mas seu tom é frio. — Olha, Manuela, eu não quero que a criança sofra. Mas a errada aqui foi você, então é melhor dar um jeito.

As palavras cortam fundo, mas tento me manter firme.

— Só me dá um tempo para falar com ela. Eu vou marcar um encontro entre vocês dois, mas toma cuidado com o que diz perto da minha filha.

Ele me encara, seus olhos como gelo.

— Nossa filha. Coloque isso na sua cabeça, Manuela. Eu tenho tanto direito quanto você.

Sinto as lágrimas escorrerem, mas me recuso a prolongar a discussão. Apenas concordo com um aceno.

— Estou indo embora.

Antes de sair, ele solta a última ameaça, jogando o cigarro no chão e apagando-o com o pé.

— Você tem até terça. Se não resolver, vamos à justiça. E eu sou muito bom nisso.

Me viro e caminho de volta para casa, segurando o choro até não poder mais. Ele mudou. Não há mais nada do Leonardo que eu amei um dia. Isso dói mais do que qualquer coisa que ele tenha dito.

Chego em casa destruída, o peso das palavras de Leonardo ainda ecoando em minha mente. Encontro Pedro, Bianca e Luna brincando no tapete da sala, e a cena traz um breve alívio.

— O que meus amores estão fazendo? — pergunto, tentando sorrir.

— Brincando de casinha, mamãe! — Luna responde, radiante.

— Tá tudo bem, Manu? — Bianca pergunta, levantando-se para me encarar de perto.

— Tá, sim. Apesar de tudo, essa conversa abriu meus olhos — respondo com um suspiro.

— Quer que a gente passe o dia aqui com você? — Pedro sugere.

— Se quiser, ficamos e fazemos algo legal para você se distrair — Bianca complementa.

— Não, obrigada. Preciso conversar com Luna e passar o dia com ela. Quero aproveitar minha bebê.

Eles concordam, e Bianca sorri, lançando um olhar para Pedro.

— Já que não quer nossa companhia, vou levar esse gato aqui para almoçar. — Ela pega a mão de Pedro, que a encara assustado, e eu rio da cena.

— Vão mesmo. Vocês merecem! — Digo, abraçando os dois. — Obrigada por serem amigos incríveis.

— Sempre, Manu. — Pedro me olha sério. — Eu te prometi no dia que Luna nasceu que nunca soltaria sua mão. E não vou.

Bianca olha para ele com um misto de carinho e tristeza, mas logo puxa Pedro pela mão, deixando-me sozinha com minha filha.

Depois de brincar um pouco com Luna, respiro fundo e chamo-a para perto.

— Filha, lembra que a mamãe disse que seu papai mora longe e que um dia ele viria te conhecer? — pergunto, tentando soar calma.

— Lembro, mamãe.

— Você quer conhecê-lo? — pergunto, meu coração disparado.

— Sim, mamãe! — Ela sorri, e sua animação me quebra por dentro. Não posso negar isso a ela.

— Vou conversar com ele e combinar para ele te buscar na escolinha amanhã, tá bom?

— Tá bom! — diz, me abraçando com força. — Te amo, mamãe.

— Eu também te amo, princesa. Você é tudo para mim.

Enquanto a abraço, tento não chorar, mas o medo não me deixa. Não por Luna. Por mim. Por nós.

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