Manuela
O número de telefone que Bianca me passou pisca na tela do celular. Respiro fundo, reunindo coragem para ligar para Leonardo. Meu coração b**e rápido, e uma sensação de apreensão toma conta de mim. Finalmente, pressiono o botão para iniciar a chamada. Início da Chamada — Alô? — a voz de Leonardo soa firme, mas carregada de tensão. — Leonardo, sou eu, Manuela. — Minha voz sai mais suave do que imaginei. — Só liguei para dizer que, se quiser, pode buscar Luna amanhã na escola para passar a tarde com ela. Há um momento de silêncio, seguido de um suspiro. — Certo. Me manda o horário que ela sai e o endereço da escola por mensagem. — Só queria te pedir para passar o tempo com ela na casa dos seus pais. Isso me deixa mais tranquila — acrescento, hesitante. Leon ri pelo nariz, um som meio debochado. — Você não confia em mim, não é? — Não é isso. — Tento me justificar. — Você nunca cuidou de uma criança. Na casa dos seus pais, eles podem te ajudar com o que precisar. Ele traga a paciência antes de responder. — Certo. Mais alguma coisa? — Sim, Luna tem alergia a cravo, nozes e canela. Por favor, cuidado com isso. — Tá ok. Até mais. — Até. Fim da Chamada Solto o ar que nem percebi estar prendendo. Coloco o celular na mesa e chamo Luna, que está brincando na sala. — Filha, conversei com seu pai. Amanhã ele vai te buscar na escola para vocês passarem a tarde juntos na casa da sua vovó Pérola. Luna me olha com seus grandes olhos curiosos. — Será que ele vai gostar de mim, mamãe? — pergunta, sua voz carregada de insegurança. — Claro que vai, meu amor. — Faço carinho em seus cabelos, tentando tranquilizá-la. — E, se você quiser, pode pedir para a titia Bia ou a vovó ligar para mim, e a mamãe vai te buscar. — Tá bom, mamãe. Mas eu tô nervosa. — Ela ri, tentando disfarçar a ansiedade. — É normal, meu amor. Que tal tomarmos sorvete de sobremesa, depois você toma banho e assiste um filminho comigo no quarto até dormir? — sugiro, tentando aliviar o clima. — Pode ser sorvete com caldinha de chocolate? — ela pergunta, com aquele jeitinho irresistível. — Hoje pode, princesa. Enquanto preparamos a sobremesa, mando a localização da escola e o horário para Leonardo. De volta à mesa, entrego o sorvete para Luna e sento-me ao lado dela. — Mamãe, você viu o bilhetinho da festinha de aniversário da Ana? — Luna pergunta entre uma colherada e outra. — Vi, sim. — Sorrio. — Mamãe vai comprar um presentinho e alugar uma fantasia para você levar. — Ebaaa! — Qual fantasia você vai querer usar, princesa? — pergunto, curiosa. — Alice das maravilhas! — responde animada. — Alice no País das Maravilhas, meu amor. A mamãe vai procurar para você. — Dou risada, achando graça em seu jeito espontâneo. Depois do sorvete, dou um banho em minha pequena e coloco o pijama nela. Logo estamos deitadas no meu quarto, assistindo Barbie e as 12 Princesas Bailarinas, seu filme favorito. Enquanto Luna se encanta com a tela, eu fecho os olhos por um instante e rezo baixinho. Que Leonardo não magoe minha filha. Ela não merece. No Dia Seguinte Desço do carro na porta da escola de Luna e vejo Leonardo parado, encostado na parede, com as mãos nos bolsos. Sua expressão é difícil de decifrar — algo entre ansiedade e nervosismo. Respiro fundo e me aproximo. — Boa tarde, Leonardo — digo, simples. Ele me encara por um momento. — Achei que eu ia buscar a menina sozinho. — Só vim trazer a cadeirinha do carro. — Indico o objeto na minha mão. — Não sabia se ia lembrar. E, como a Luna ainda não te conhece, achei melhor fazer as apresentações. Ele ergue uma sobrancelha, mas responde com um leve aceno. — Minha mãe insistiu para eu vir com o carro dela justamente por causa da cadeirinha. Não precisava se preocupar. Antes que eu possa responder, Luna sai correndo pelo portão da escola. Ela vem em minha direção e agarra minhas pernas, com o rostinho iluminado. — Oi, meu amor. — Beijo seus cabelos loiros. Ela olha ao redor, parecendo procurar algo. — Ele não veio? — Veio sim, princesa. — Aponto para Leonardo, que está ao meu lado. — Esse é o Leonardo. Ele é irmão da titia Bia... e seu pai. Luna o encara, curiosa e um pouco tímida. Leonardo se abaixa para ficar na altura dela, o olhar suave, mas cauteloso. — Oi, loirinha. — Sua voz sai mais gentil do que eu esperava. — Posso te dar um abraço? Luna hesita, mas olha para mim, buscando confirmação. Faço um leve aceno, e ela se aproxima, abraçando-o rapidamente. Ele fecha os olhos por um instante, como se estivesse tentando gravar o momento. — Mamãe, você também vai? — ela pergunta, assim que se solta dele. Sinto um aperto no peito, mas nego com a cabeça. — Vai ser só você, seu pai, sua vovó e a titia Bia. — Sua mãe pode ir também, loirinha, se quiser. — Leonardo suspira, visivelmente desconfortável, mas cede. Luna sorri, animada, e me olha com expectativa. — Tudo bem. — Concordo por fim. — Já que sua mãe também vai, que tal almoçarmos fora e depois tomarmos um sorvete? — Leonardo sugere, e Luna b**e palmas de felicidade. Entro no carro com Luna enquanto Leonardo vai no carro da minha madrinha. Antes de seguir, passamos na casa dos pais dele para ele deixar o veículo e avisar sobre a mudança nos planos. Enquanto espero, mando uma mensagem para meu pai, explicando a situação e pedindo à minha secretária que cancele meus compromissos. Não demora muito, e Leonardo retorna, entrando no banco do carona. — Tá tudo bem levar ela no Habib's? — ele pergunta, com um tom mais descontraído. — Tá sim. Ela adora. — Sorrio de leve, surpresa com a tentativa de normalidade. Enquanto seguimos, observo Leonardo pelo canto do olho. Apesar de tudo, há algo naquele momento que parece certo. Não sei se é esperança ou apenas medo de mais um erro, mas, pela primeira vez, me permito acreditar que talvez, só talvez, tudo isso possa dar certo para Luna. Por ela. Sempre por ela.LeonardoConfesso que a presença de Manuela comigo e Luna não me deixou à vontade. Minha mãe tinha me explicado que Luna poderia estranhar passar o dia comigo sozinha, já que somos praticamente desconhecidos. Ainda assim, a sensação de desconforto era inevitável.Enquanto esperávamos nossos pedidos no restaurante, tento criar um momento mais descontraído.— O que vai querer comer, loirinha? — pergunto, tentando soar animado.— Uma esfirra de carne, outra de frango, e suquinho de laranja. — Ela sorri, e não consigo evitar um sorriso de volta. Esses sabores e o suco de laranja também são os meus favoritos.— Vou querer o mesmo: esfirras de carne e frango e suco de laranja — digo ao garçom antes de olhar para Manuela. — E você?— Quero aquele combo de sanduíche de frango, batatas fritas e suco de laranja — ela responde, e um pensamento rápido me invade: sempre comilona.A conversa inicial é dominada por Manuela, o que me alivia, pois ainda estou tentando me acostumar com a situação.— Co
Leonardo Confesso que é estranho estar aqui, depois de anos, sentado à mesa de jantar com meus pais. Desde que voltei, tenho evitado situações como essa, mas hoje não houve como escapar. Minha mãe insistiu demais, e cedi.Ela olha para mim com aquele olhar que só mães têm, misto de curiosidade e preocupação.— Sobre o que é o caso que você está cuidando aqui na cidade, filho? — pergunta, tentando quebrar o silêncio.— Estou defendendo um homem acusado de assassinato. Ele alega ser inocente e, até agora, os fatos apontam que ele realmente pode ser. — Respondo, tentando parecer neutro, mas sei que meu tom carrega o cansaço de dias complicados.— Esses casos são complicados, mas desafiadores. Bons para testar suas habilidades. — Meu pai comenta, com um tom firme, mas sem grande entusiasmo.Mudando o foco, minha mãe olha para minha irmã:— E você, filha, como estão as aulas na faculdade?Minha irmã sorri, os olhos brilhando de empolgação:— Estão incríveis, mãe! Eu amo o curso, é tudo o
Leonardo Passei a semana inteira perdido em pensamentos. A conversa que tive com meu pai me atingiu como um soco, e as palavras dele não paravam de ecoar na minha mente. Preciso ser melhor. Hoje é domingo, e decidi aproveitar o dia para ver a Luna. Quero levar minha filha à praia, talvez criar uma memória boa entre nós.Chego na casa da Manuela e bato na porta. Ela atende com uma expressão surpresa, vestida em um vestido simples, mas bonito, que combina perfeitamente com o modelo infantil que a Luna também usa. É quase impossível não reparar como ela se esforça para fazer a filha feliz, mesmo que isso a deixe de lado.— Bom dia, Leonardo. — Ela diz, um pouco hesitante, mas cordial.— Bom dia. Eu ia perguntar se podia levar a loirinha na praia, mas parece que vocês já têm planos. — Respondo, percebendo a cesta de piquenique em suas mãos.— Aos domingos, sempre fazemos piquenique. — Ela explica, com um leve sorriso, mas há algo contido no olhar dela, talvez mágoa.Antes que eu pudesse
ManuelaA manhã começou cedo. Depois de arrumar minha menina e eu mesma, tomamos um café rápido antes de sair. Coloquei Luna na cadeirinha, ajustando o cinto com cuidado, e entrei no carro.— Mamãe, o Léo não vai com a gente? — ela pergunta com os olhos brilhando de expectativa.— Vai sim, filha. Estamos indo buscá-lo agora. — respondo, tentando sorrir para acalmar a animação dela.— Achei que ele tinha esquecido nosso combinado! — diz, cheia de entusiasmo.Chegamos à casa dos padrinhos, e lá estava Leonardo, já arrumado, esperando do lado de fora. Ele parecia quase ansioso.— Bom dia, loirinha. Bom dia, Manuela. — cumprimenta, entrando no carro.— Bom dia, Léo! — Luna responde sorridente, a alegria transbordando.No caminho, ela começa a falar sobre como iria “esfregar na cara” da coleguinha que o pai dela estava presente. Leonardo e eu rimos da inocência dela, mas um aperto no peito me lembrou que essa felicidade dela era algo recente.Ao chegarmos à escola, descemos juntos para lev
ManuelaUma Noite no ParqueEra sexta-feira, e tudo o que eu queria era passar o fim do dia deitada na cama com a Luna, comendo porcarias e vendo desenhos. Mas a campainha insistente me obrigou a levantar.Abri a porta e dei de cara com Leonardo. Ele estava bem vestido e parecia animado.— Leonardo, o que você está fazendo aqui? — perguntei, surpresa.— Tem um parque de diversões na cidade. Achei que seria divertido irmos lá. — Ele fez uma pausa, talvez percebendo minha expressão confusa. — Quero levar a Luna.— Ah, claro. Você espera a gente se arrumar? — perguntei, ainda tentando processar o convite. Ele assentiu com um sorriso.— Leeeeeo! — Luna gritou, aparecendo atrás de mim e pulando nos braços dele.— Que tal eu, você e sua mãe irmos ao parque hoje? — perguntou para ela, que respondeu com um grito animado de "Vamos!"Subi para ajudar Luna a se arrumar, e aproveitei para trocar de roupa também. Não pude evitar a surpresa pelo convite. Achei que ele quisesse ir apenas com ela, ma
BiancaHoje é sábado, meu aniversário. No entanto, minha ansiedade não é por causa da data, mas sim pela noite que planejei passar ao lado de Pedro, apenas nós dois. Mal posso esperar.Ao ouvir a campainha, corro até a porta. Sei que é ele, já que todos os outros convidados estão no fundo do quintal.— Pepe! — exclamo animada, envolvendo seu pescoço em um abraço caloroso assim que abro a porta.— Parabéns, princesa. — Ele sorri e beija minha testa. Em seguida, me estende um buquê de flores. — Isso é pra você.— Obrigada! — sorrio encantada. — Vem, não precisa ficar nervoso.Entrelaço nossos dedos e o conduzo até a cozinha, onde coloco o buquê em um jarro com água. Antes que possamos voltar para a sala, minha irmãzinha surge correndo.— Dindoooo! — Ela pula nos braços de Pedro, que a pega no colo com carinho.— Oi, pequena do dindo. — Ele beija sua bochecha e, em seguida, olha ao redor. — Oi, pessoal. — diz timidamente para os demais.Minha mãe vem até nós com um sorriso caloroso.— Qu
LeonardoEra domingo, e, como de costume, estava à porta da casa da Manuela para nosso piquenique semanal. Bati algumas vezes e logo ouvi os passos leves da Luna. Quando a porta se abriu, fui recebido pelo sorriso mais radiante do mundo.— Bom dia, Léo! — exclamou ela, pulando de alegria.— Bom dia, princesa. Trouxe algo pra você. — disse, tirando de trás das costas um pequeno buquê de flores coloridas.Ela arregalou os olhos, pegando as flores com cuidado. — São lindas! Cheirosas! Eu adoro florzinhas!Meu peito aqueceu com o entusiasmo dela. — Que tal uma foto? Quero guardar esse momento.Luna segurou as flores com um sorriso enorme, e eu capturei a cena com o celular. Enquanto eu admirava a foto, Manuela apareceu na porta, carregando a cesta do piquenique e uma mochila. Seus olhos encontraram os meus, e percebi imediatamente que ela ainda estava magoada. Talvez por aquele dia no café. Suspirei. Eu precisava resolver isso.— Vamos? — perguntei, tentando quebrar o gelo.— Vamos. — r
LeonardoEra segunda-feira, início de mais uma semana, e eu estava na cozinha com a Luna, aproveitando o momento tranquilo antes da correria do dia. Quando me virei, a cena era adorável: minha loirinha estava segurando um pedaço enorme de melancia, quase maior que o rostinho dela.— Minha filha do céu, esse pedaço de melancia está maior que você! — comentei, rindo da visão.Ela me olhou com seus olhos brilhantes e respondeu inocentemente: — Tava com fominha! Quer um pedacinho, papai?A cada vez que ela me chamava de "papai", meu coração dava um salto. Ainda não me acostumei totalmente, mas é a melhor sensação do mundo.— Quero sim. — disse, aproximando-me dela, beijando seus cabelos antes de morder a melancia. — Tá muito boa!Ela riu, satisfeita com o elogio. Depois de alguns minutos, perguntei, em tom de quem estava inspecionando o dia dela: — A senhorita já fez os deveres?— Já sim, titia Bia me ajudou. — respondeu, com uma risadinha travessa. — Vi ela dando beijinho no dindo!Fin