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6 - Primeiras Conexões

Leonardo

Confesso que a presença de Manuela comigo e Luna não me deixou à vontade. Minha mãe tinha me explicado que Luna poderia estranhar passar o dia comigo sozinha, já que somos praticamente desconhecidos. Ainda assim, a sensação de desconforto era inevitável.

Enquanto esperávamos nossos pedidos no restaurante, tento criar um momento mais descontraído.

— O que vai querer comer, loirinha? — pergunto, tentando soar animado.

— Uma esfirra de carne, outra de frango, e suquinho de laranja. — Ela sorri, e não consigo evitar um sorriso de volta. Esses sabores e o suco de laranja também são os meus favoritos.

— Vou querer o mesmo: esfirras de carne e frango e suco de laranja — digo ao garçom antes de olhar para Manuela. — E você?

— Quero aquele combo de sanduíche de frango, batatas fritas e suco de laranja — ela responde, e um pensamento rápido me invade: sempre comilona.

A conversa inicial é dominada por Manuela, o que me alivia, pois ainda estou tentando me acostumar com a situação.

— Como foi hoje na escola, filha? — ela pergunta, com o tom carinhoso que sempre teve.

— Foi bem legal. — Luna começa a falar, mas logo seu semblante muda. — Mas a Luiza disse que eu não tinha pai e riu de mim.

O mundo parece parar por um momento. Uma onda de raiva me atinge, mas me esforço para não demonstrar.

— Por que você não disse que era porque seu pai morava longe? — pergunto, tentando manter a calma, mas minha voz ainda sai carregada.

— Eu disse, mas ela falou que era mentira — Luna explica, visivelmente triste.

Sem saber exatamente o que fazer, passo a mão pelos seus cabelos loiros em um gesto de conforto. Vejo os olhos de Manuela brilharem com lágrimas que ela tenta esconder, o que só intensifica minha irritação.

— Da próxima vez que eu for te buscar, você pode chamar essa Luiza e me apresentar. — Tento amenizar a situação, mesmo lançando um olhar frio para Manuela.

— Tá bom! Ela vai ficar com a boca aberta! — diz Luna, animada novamente, mostrando o quanto é resiliente. Ela tem o jeito carinhoso de Manuela, mas algo nela também me lembra de mim, o que me surpreende.

— Você tem muitas amiguinhas? — pergunto, tentando continuar a conversa.

Ela faz que sim com a cabeça, e logo começa a contar animada sobre uma festinha que terá na escola. Quando nossa comida chega, ela devora as esfirras enquanto continua conversando, o que me faz sorrir internamente.

No Parquinho

Depois do almoço, Luna foi brincar no parquinho enquanto eu e Manuela terminávamos de comer. A energia infantil dela era contagiante, mas minha mente estava longe. Não consigo ignorar os pensamentos sobre o impacto das escolhas de Manuela na vida de Luna.

— Você percebeu o que suas atitudes causaram na menina? — pergunto a Manuela, minha voz fria e direta.

Ela respira fundo, sua expressão cheia de culpa.

— Eu não queria que fosse assim. — Seus olhos marejam, mas ela continua. — Só que também não queria que ela falasse de você como um pai ausente, infeliz e frio.

Suas palavras me atingem, mas me recuso a sentir pena. Apenas me levanto e vou até Luna, deixando Manuela para lidar com seus próprios sentimentos.

No escorregador, Luna me chama de repente.

— Léo! — ela diz, e meu coração acelera ao ouvir meu nome vindo dela. Não era "papai", mas era um começo.

— Fala, loirinha. — Ajudando-a a subir em um brinquedo, tento agir naturalmente.

— Você vai ficar sempre aqui agora? — pergunta, seus olhos cheios de expectativa.

Engulo em seco, sem saber como responder. A verdade é complicada demais para uma criança.

— Vou tentar vir te ver sempre que puder, tá? — digo, esperando que isso seja suficiente.

Ela concorda, mas logo faz outro pedido, com a simplicidade de quem não entende os desafios de adultos.

— Os papais das minhas amigas sempre fazem coisas juntas com elas. Eu queria fazer isso também.

Sinto um aperto no peito. Não sei como ou quando, mas prometo.

— Nós vamos fazer o que você quiser, tá? — Ela sorri e me abraça, e naquele momento percebo que, apesar dos erros meus e de Manuela, Luna não merece ser afetada por eles.

Na Sorveteria

O clima estava um pouco mais leve na sorveteria. Luna já parecia mais confortável comigo, o que me dava um alívio inesperado.

— Léo, quero sorvetinho de chiclete com caldinha de chocolate e granulado! — ela diz, animada.

— Fechado. — Concordo com um sorriso antes de me virar para Manuela. — Vai querer algo?

— Não, obrigada — ela responde, com um sorriso discreto.

— Por que, mamãe? Você não gosta de sorvetinho de morango? — Luna pergunta, com a curiosidade de sempre.

— Gosto, filha, mas a mamãe não quer agora.

Deixo as duas na mesa e vou buscar o sorvete de Luna. Acabo pegando um de flocos e morango para mim. Quando volto, entrego o sorvete para ela, e sua educação e doçura se destacam.

— Obrigado, Léo! — diz, sorrindo.

Enquanto ela saboreia o sorvete, Luna leva uma colherada para Manuela.

— Prova, mamãe. Tá gostoso! — Manuela sorri fraco e aceita, mesmo relutante.

— Tá gostoso, filha — ela diz.

— Posso provar o seu, Léo? — pergunta, e eu deixo. Ela pega uma colherada e logo comenta.

— É bom também, seu sorvetinho.

Observo Luna, admirado com sua tranquilidade. Ela é uma criança educada, gentil e carinhosa. Apesar de todo o caos ao redor dela, Luna parece ter herdado o melhor de nós dois.

De Volta à Casa dos Meus Pais

Depois do sorvete, Manuela me deixou na casa dos meus pais. Ao descer do carro, ela parece abatida, mas ainda tenta manter a compostura.

— Leonardo, você tem meu número. Quando quiser vê-la, é só me avisar — diz, sua voz carregada de tristeza.

— Certo. — Respondo curto. Não vou agradecer por algo que é meu direito.

— Tchau, Léo! Foi legal hoje! — Luna sorri, animada.

— Tchau, loirinha. Sua mãe tem meu telefone. Quando quiser falar comigo, é só pedir.

Ela balança a cabeça, confirmando, e me abraça com a mesma doçura de sempre. Retribuo, sentindo que começamos a criar um vínculo. Por mais difícil que seja, Luna é o centro de tudo agora. Ela merece mais de mim. Muito mais.

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