Leonardo
Confesso que a presença de Manuela comigo e Luna não me deixou à vontade. Minha mãe tinha me explicado que Luna poderia estranhar passar o dia comigo sozinha, já que somos praticamente desconhecidos. Ainda assim, a sensação de desconforto era inevitável. Enquanto esperávamos nossos pedidos no restaurante, tento criar um momento mais descontraído. — O que vai querer comer, loirinha? — pergunto, tentando soar animado. — Uma esfirra de carne, outra de frango, e suquinho de laranja. — Ela sorri, e não consigo evitar um sorriso de volta. Esses sabores e o suco de laranja também são os meus favoritos. — Vou querer o mesmo: esfirras de carne e frango e suco de laranja — digo ao garçom antes de olhar para Manuela. — E você? — Quero aquele combo de sanduíche de frango, batatas fritas e suco de laranja — ela responde, e um pensamento rápido me invade: sempre comilona. A conversa inicial é dominada por Manuela, o que me alivia, pois ainda estou tentando me acostumar com a situação. — Como foi hoje na escola, filha? — ela pergunta, com o tom carinhoso que sempre teve. — Foi bem legal. — Luna começa a falar, mas logo seu semblante muda. — Mas a Luiza disse que eu não tinha pai e riu de mim. O mundo parece parar por um momento. Uma onda de raiva me atinge, mas me esforço para não demonstrar. — Por que você não disse que era porque seu pai morava longe? — pergunto, tentando manter a calma, mas minha voz ainda sai carregada. — Eu disse, mas ela falou que era mentira — Luna explica, visivelmente triste. Sem saber exatamente o que fazer, passo a mão pelos seus cabelos loiros em um gesto de conforto. Vejo os olhos de Manuela brilharem com lágrimas que ela tenta esconder, o que só intensifica minha irritação. — Da próxima vez que eu for te buscar, você pode chamar essa Luiza e me apresentar. — Tento amenizar a situação, mesmo lançando um olhar frio para Manuela. — Tá bom! Ela vai ficar com a boca aberta! — diz Luna, animada novamente, mostrando o quanto é resiliente. Ela tem o jeito carinhoso de Manuela, mas algo nela também me lembra de mim, o que me surpreende. — Você tem muitas amiguinhas? — pergunto, tentando continuar a conversa. Ela faz que sim com a cabeça, e logo começa a contar animada sobre uma festinha que terá na escola. Quando nossa comida chega, ela devora as esfirras enquanto continua conversando, o que me faz sorrir internamente. No Parquinho Depois do almoço, Luna foi brincar no parquinho enquanto eu e Manuela terminávamos de comer. A energia infantil dela era contagiante, mas minha mente estava longe. Não consigo ignorar os pensamentos sobre o impacto das escolhas de Manuela na vida de Luna. — Você percebeu o que suas atitudes causaram na menina? — pergunto a Manuela, minha voz fria e direta. Ela respira fundo, sua expressão cheia de culpa. — Eu não queria que fosse assim. — Seus olhos marejam, mas ela continua. — Só que também não queria que ela falasse de você como um pai ausente, infeliz e frio. Suas palavras me atingem, mas me recuso a sentir pena. Apenas me levanto e vou até Luna, deixando Manuela para lidar com seus próprios sentimentos. No escorregador, Luna me chama de repente. — Léo! — ela diz, e meu coração acelera ao ouvir meu nome vindo dela. Não era "papai", mas era um começo. — Fala, loirinha. — Ajudando-a a subir em um brinquedo, tento agir naturalmente. — Você vai ficar sempre aqui agora? — pergunta, seus olhos cheios de expectativa. Engulo em seco, sem saber como responder. A verdade é complicada demais para uma criança. — Vou tentar vir te ver sempre que puder, tá? — digo, esperando que isso seja suficiente. Ela concorda, mas logo faz outro pedido, com a simplicidade de quem não entende os desafios de adultos. — Os papais das minhas amigas sempre fazem coisas juntas com elas. Eu queria fazer isso também. Sinto um aperto no peito. Não sei como ou quando, mas prometo. — Nós vamos fazer o que você quiser, tá? — Ela sorri e me abraça, e naquele momento percebo que, apesar dos erros meus e de Manuela, Luna não merece ser afetada por eles. Na Sorveteria O clima estava um pouco mais leve na sorveteria. Luna já parecia mais confortável comigo, o que me dava um alívio inesperado. — Léo, quero sorvetinho de chiclete com caldinha de chocolate e granulado! — ela diz, animada. — Fechado. — Concordo com um sorriso antes de me virar para Manuela. — Vai querer algo? — Não, obrigada — ela responde, com um sorriso discreto. — Por que, mamãe? Você não gosta de sorvetinho de morango? — Luna pergunta, com a curiosidade de sempre. — Gosto, filha, mas a mamãe não quer agora. Deixo as duas na mesa e vou buscar o sorvete de Luna. Acabo pegando um de flocos e morango para mim. Quando volto, entrego o sorvete para ela, e sua educação e doçura se destacam. — Obrigado, Léo! — diz, sorrindo. Enquanto ela saboreia o sorvete, Luna leva uma colherada para Manuela. — Prova, mamãe. Tá gostoso! — Manuela sorri fraco e aceita, mesmo relutante. — Tá gostoso, filha — ela diz. — Posso provar o seu, Léo? — pergunta, e eu deixo. Ela pega uma colherada e logo comenta. — É bom também, seu sorvetinho. Observo Luna, admirado com sua tranquilidade. Ela é uma criança educada, gentil e carinhosa. Apesar de todo o caos ao redor dela, Luna parece ter herdado o melhor de nós dois. De Volta à Casa dos Meus Pais Depois do sorvete, Manuela me deixou na casa dos meus pais. Ao descer do carro, ela parece abatida, mas ainda tenta manter a compostura. — Leonardo, você tem meu número. Quando quiser vê-la, é só me avisar — diz, sua voz carregada de tristeza. — Certo. — Respondo curto. Não vou agradecer por algo que é meu direito. — Tchau, Léo! Foi legal hoje! — Luna sorri, animada. — Tchau, loirinha. Sua mãe tem meu telefone. Quando quiser falar comigo, é só pedir. Ela balança a cabeça, confirmando, e me abraça com a mesma doçura de sempre. Retribuo, sentindo que começamos a criar um vínculo. Por mais difícil que seja, Luna é o centro de tudo agora. Ela merece mais de mim. Muito mais.Leonardo Confesso que é estranho estar aqui, depois de anos, sentado à mesa de jantar com meus pais. Desde que voltei, tenho evitado situações como essa, mas hoje não houve como escapar. Minha mãe insistiu demais, e cedi.Ela olha para mim com aquele olhar que só mães têm, misto de curiosidade e preocupação.— Sobre o que é o caso que você está cuidando aqui na cidade, filho? — pergunta, tentando quebrar o silêncio.— Estou defendendo um homem acusado de assassinato. Ele alega ser inocente e, até agora, os fatos apontam que ele realmente pode ser. — Respondo, tentando parecer neutro, mas sei que meu tom carrega o cansaço de dias complicados.— Esses casos são complicados, mas desafiadores. Bons para testar suas habilidades. — Meu pai comenta, com um tom firme, mas sem grande entusiasmo.Mudando o foco, minha mãe olha para minha irmã:— E você, filha, como estão as aulas na faculdade?Minha irmã sorri, os olhos brilhando de empolgação:— Estão incríveis, mãe! Eu amo o curso, é tudo o
Leonardo Passei a semana inteira perdido em pensamentos. A conversa que tive com meu pai me atingiu como um soco, e as palavras dele não paravam de ecoar na minha mente. Preciso ser melhor. Hoje é domingo, e decidi aproveitar o dia para ver a Luna. Quero levar minha filha à praia, talvez criar uma memória boa entre nós.Chego na casa da Manuela e bato na porta. Ela atende com uma expressão surpresa, vestida em um vestido simples, mas bonito, que combina perfeitamente com o modelo infantil que a Luna também usa. É quase impossível não reparar como ela se esforça para fazer a filha feliz, mesmo que isso a deixe de lado.— Bom dia, Leonardo. — Ela diz, um pouco hesitante, mas cordial.— Bom dia. Eu ia perguntar se podia levar a loirinha na praia, mas parece que vocês já têm planos. — Respondo, percebendo a cesta de piquenique em suas mãos.— Aos domingos, sempre fazemos piquenique. — Ela explica, com um leve sorriso, mas há algo contido no olhar dela, talvez mágoa.Antes que eu pudesse
ManuelaA manhã começou cedo. Depois de arrumar minha menina e eu mesma, tomamos um café rápido antes de sair. Coloquei Luna na cadeirinha, ajustando o cinto com cuidado, e entrei no carro.— Mamãe, o Léo não vai com a gente? — ela pergunta com os olhos brilhando de expectativa.— Vai sim, filha. Estamos indo buscá-lo agora. — respondo, tentando sorrir para acalmar a animação dela.— Achei que ele tinha esquecido nosso combinado! — diz, cheia de entusiasmo.Chegamos à casa dos padrinhos, e lá estava Leonardo, já arrumado, esperando do lado de fora. Ele parecia quase ansioso.— Bom dia, loirinha. Bom dia, Manuela. — cumprimenta, entrando no carro.— Bom dia, Léo! — Luna responde sorridente, a alegria transbordando.No caminho, ela começa a falar sobre como iria “esfregar na cara” da coleguinha que o pai dela estava presente. Leonardo e eu rimos da inocência dela, mas um aperto no peito me lembrou que essa felicidade dela era algo recente.Ao chegarmos à escola, descemos juntos para lev
ManuelaUma Noite no ParqueEra sexta-feira, e tudo o que eu queria era passar o fim do dia deitada na cama com a Luna, comendo porcarias e vendo desenhos. Mas a campainha insistente me obrigou a levantar.Abri a porta e dei de cara com Leonardo. Ele estava bem vestido e parecia animado.— Leonardo, o que você está fazendo aqui? — perguntei, surpresa.— Tem um parque de diversões na cidade. Achei que seria divertido irmos lá. — Ele fez uma pausa, talvez percebendo minha expressão confusa. — Quero levar a Luna.— Ah, claro. Você espera a gente se arrumar? — perguntei, ainda tentando processar o convite. Ele assentiu com um sorriso.— Leeeeeo! — Luna gritou, aparecendo atrás de mim e pulando nos braços dele.— Que tal eu, você e sua mãe irmos ao parque hoje? — perguntou para ela, que respondeu com um grito animado de "Vamos!"Subi para ajudar Luna a se arrumar, e aproveitei para trocar de roupa também. Não pude evitar a surpresa pelo convite. Achei que ele quisesse ir apenas com ela, ma
BiancaHoje é sábado, meu aniversário. No entanto, minha ansiedade não é por causa da data, mas sim pela noite que planejei passar ao lado de Pedro, apenas nós dois. Mal posso esperar.Ao ouvir a campainha, corro até a porta. Sei que é ele, já que todos os outros convidados estão no fundo do quintal.— Pepe! — exclamo animada, envolvendo seu pescoço em um abraço caloroso assim que abro a porta.— Parabéns, princesa. — Ele sorri e beija minha testa. Em seguida, me estende um buquê de flores. — Isso é pra você.— Obrigada! — sorrio encantada. — Vem, não precisa ficar nervoso.Entrelaço nossos dedos e o conduzo até a cozinha, onde coloco o buquê em um jarro com água. Antes que possamos voltar para a sala, minha irmãzinha surge correndo.— Dindoooo! — Ela pula nos braços de Pedro, que a pega no colo com carinho.— Oi, pequena do dindo. — Ele beija sua bochecha e, em seguida, olha ao redor. — Oi, pessoal. — diz timidamente para os demais.Minha mãe vem até nós com um sorriso caloroso.— Qu
LeonardoEra domingo, e, como de costume, estava à porta da casa da Manuela para nosso piquenique semanal. Bati algumas vezes e logo ouvi os passos leves da Luna. Quando a porta se abriu, fui recebido pelo sorriso mais radiante do mundo.— Bom dia, Léo! — exclamou ela, pulando de alegria.— Bom dia, princesa. Trouxe algo pra você. — disse, tirando de trás das costas um pequeno buquê de flores coloridas.Ela arregalou os olhos, pegando as flores com cuidado. — São lindas! Cheirosas! Eu adoro florzinhas!Meu peito aqueceu com o entusiasmo dela. — Que tal uma foto? Quero guardar esse momento.Luna segurou as flores com um sorriso enorme, e eu capturei a cena com o celular. Enquanto eu admirava a foto, Manuela apareceu na porta, carregando a cesta do piquenique e uma mochila. Seus olhos encontraram os meus, e percebi imediatamente que ela ainda estava magoada. Talvez por aquele dia no café. Suspirei. Eu precisava resolver isso.— Vamos? — perguntei, tentando quebrar o gelo.— Vamos. — r
LeonardoEra segunda-feira, início de mais uma semana, e eu estava na cozinha com a Luna, aproveitando o momento tranquilo antes da correria do dia. Quando me virei, a cena era adorável: minha loirinha estava segurando um pedaço enorme de melancia, quase maior que o rostinho dela.— Minha filha do céu, esse pedaço de melancia está maior que você! — comentei, rindo da visão.Ela me olhou com seus olhos brilhantes e respondeu inocentemente: — Tava com fominha! Quer um pedacinho, papai?A cada vez que ela me chamava de "papai", meu coração dava um salto. Ainda não me acostumei totalmente, mas é a melhor sensação do mundo.— Quero sim. — disse, aproximando-me dela, beijando seus cabelos antes de morder a melancia. — Tá muito boa!Ela riu, satisfeita com o elogio. Depois de alguns minutos, perguntei, em tom de quem estava inspecionando o dia dela: — A senhorita já fez os deveres?— Já sim, titia Bia me ajudou. — respondeu, com uma risadinha travessa. — Vi ela dando beijinho no dindo!Fin
Manuela O domingo estava ensolarado, e minha casa transbordava com o som da minha família reunida. Era dia de churrasco e piscina, e o clima de descontração preenchia cada canto. Eu estava no quarto, terminando de me arrumar, quando ouvi a voz familiar do Leon vindo da porta.— Não vai descer? — perguntou, apoiado no batente, com aquele sorriso que sempre mexia comigo.— Estava terminando de me arrumar. — disse, caminhando até ele para envolvê-lo em um abraço. Ele aproveitou o momento para deixar um beijo no meu pescoço.— Abusado! — brinquei, rindo.— Você está muito cheirosa, minha loira. — murmurou antes de beijar meus lábios com a confiança de quem sabia que eu não resistiria.— Você precisa parar com isso, Leon. Não está certo. — resmunguei, tentando soar séria, mas minha voz traía a intensidade do momento.Ele sorriu, daquele jeito charmoso que sempre me desarmava.— Você gosta dos meus beijos, e eu gosto de te beijar. Não vejo problema nisso. — disse, roubando mais um selinho.