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3 - Reencontros e Revelações

• Leonardo •

Sábado...

O salão está cheio de luzes e risadas, mas tudo ao meu redor desaparece no momento em que a vejo entrar pela porta. Manuela.

Meu coração acelera como se o tempo tivesse voltado para os nossos dias juntos. Ela está ainda mais linda, sua beleza madura agora combinando com aquele sorriso de menina que nunca saiu da minha memória. Mas o sorriso dela, tão vibrante ao entrar, se desfaz quando nossos olhares se encontram. É como se o tempo congelasse por um instante, trazendo uma onda de emoções confusas — nostalgia, saudade, arrependimento.

Desvio o olhar, tentando me recompor, mas logo noto algo que faz meu peito apertar ainda mais. Um homem se aproxima dela, a abraçando pela cintura com intimidade. Minha mandíbula trava enquanto observo ele segurar a mão de uma menininha loira, incrivelmente parecida com Manuela. Meu estômago revira. A garota deve ser filha deles. E ele? Talvez namorado. Ou marido. Esse pensamento me enche de ciúme, embora eu não tenha o direito de sentir nada disso.

Mesmo depois de todos esses anos, Manuela ainda tem esse poder sobre mim. Ela mexe comigo como ninguém jamais conseguiu. Mas agora parece tão distante, tão fora do meu alcance.

— Você tá olhando pra ela feito um bobo — a voz de Bianca me desperta do turbilhão de pensamentos.

Minha irmã aparece ao meu lado, segurando uma taça de espumante, com aquele sorriso provocador que sempre teve.

— Eu não a esqueci, Bia — confesso, sem conseguir esconder o peso das palavras. — Mas, pelo visto, ela me esqueceu. — Suspiro, lançando mais um olhar para o trio. — Ela parece feliz... com esse cara e a filha deles.

— Homens são tão burros — Bianca responde, revirando os olhos.

Eu a encaro, confuso.

— O que quer dizer com isso?

Bianca cruza os braços, parecendo se divertir com minha inquietação.

— Nada que você não possa descobrir sozinho. — Ela dá de ombros, mas há um brilho misterioso em seu olhar.

Antes que eu possa pressioná-la, a pequena loira aparece correndo em nossa direção, com passos apressados e um sorriso iluminado.

— Titia! — a menina exclama, com a voz doce, enquanto pula nos braços de Bianca, que a pega no colo com naturalidade.

Meu coração dá um salto. "Titia?"

— Eu não sabia que você era tão próxima da Manuela, muito menos que a filha dela te chamava de titia — comento, tentando manter o tom casual, mas sentindo uma pontada de desconforto.

Me viro para a menina, tentando disfarçar meu nervosismo.

— Oi, garotinha — digo, com um sorriso hesitante, enquanto mexo de leve em seus cachos loiros.

Ela me observa com curiosidade antes de sorrir timidamente.

— Oi, moço bonito. — Sua vozinha é tão encantadora que me arranca uma risada involuntária.

Antes que eu possa perguntar mais alguma coisa, Bianca, visivelmente incomodada, se apressa.

— Vou levar essa princesa para comer algo. — Ela sai quase correndo, sem me dar tempo de dizer mais nada.

Fico parado, observando enquanto as duas se afastam, minha mente um turbilhão de pensamentos. A menina, tão parecida com Manuela, me intriga. Há algo nos olhos dela que não consigo ignorar. Eles me lembram alguém... alguém que conheço bem demais.

E a reação de Bianca? Por que ela ficou tão desconfortável? Desde quando elas ficaram tão próximas? Algo está sendo escondido de mim, e minha irmã sabe mais do que está disposta a dizer.

Dou um gole na minha bebida, sentindo a curiosidade e a inquietação crescerem. Se há um segredo, eu vou descobrir. E, se isso tiver algo a ver com Manuela e a menininha, não vou descansar até entender toda a verdade.

Aproximo-me de Manuela enquanto ela está distraída pegando um docinho da mesa. O perfume familiar dela me invade, e por um momento, é como se estivéssemos de volta ao passado, antes de tudo se perder.

— Você ainda tem o mesmo cheiro — murmuro próximo ao seu ouvido.

Ela se vira de repente, visivelmente assustada, colocando a mão no peito.

— Quer me matar de susto, Leonardo? — diz, tentando recuperar o fôlego.

Eu observo suas mãos instintivamente, procurando por uma aliança. Não há nenhuma, e um suspiro de alívio escapa antes que eu possa conter.

— Só vim dizer oi. — Sorrio de lado, tentando aliviar a tensão.

Antes que ela possa responder, uma menininha loira corre até nós, interrompendo o momento.

— Mamãe, quero um docinho! — pede, com uma voz doce que me faz sorrir involuntariamente.

Manuela, visivelmente nervosa, pega um doce da bandeja e entrega à menina. Algo na criança prende meu olhar. Ela é linda, com olhos brilhantes e um sorriso encantador, mas o que me deixa desconcertado é a semelhança com... comigo. Meu coração acelera, mas afasto o pensamento. Não pode ser.

— Você é muito lindinha. Quantos anos você tem? — pergunto, curioso. Percebo Manuela engolir em seco, como se esperasse o pior.

— Obrigada! Eu tenho cinco! — responde a menina, mostrando os dedinhos em um gesto adorável.

Minha mente trabalha a mil. Cinco anos. A linha do tempo se encaixa com uma precisão assustadora. Encaro Manuela, que agora me olha com os olhos cheios de medo e ansiedade. A verdade começa a se formar em minha mente, mas ainda não posso acreditar.

— E como você se chama? — pergunto, tentando manter a calma enquanto o peso da possibilidade cresce em meu peito.

— Luna. — Sua vozinha é um sopro suave, mas o impacto do nome me atinge como um golpe.

Luna.

— A vovó disse que depois do parabéns vai me dar um montão de docinhos! — diz a menina para Manuela, com a inocência típica de uma criança, enquanto a mãe desvia o olhar, lutando contra as lágrimas que ameaçam cair.

Minha cabeça gira, mas preciso ter certeza.

— Cadê seu pai, pequena? — pergunto, mesmo temendo a resposta.

Luna dá de ombros, indiferente. — Mamãe disse que ele mora longe. Eu nunca vi ele.

O mundo ao meu redor parece parar. Um nó se forma na minha garganta enquanto olho para Manuela. Seus olhos marejados me dizem tudo o que preciso saber. Ela desviou a verdade de mim. Ela me privou de algo tão essencial quanto respirar: saber que tenho uma filha.

— Precisamos conversar, não acha, Manuela? — digo, com a voz firme, lutando contra a raiva e o ressentimento.

Ela respira fundo, enxugando uma lágrima que escorre.

— Amanhã. Aqui não é nem o lugar nem a hora, Leonardo — responde, séria, enquanto pega Luna pela mão e se afasta.

Antes de ir, ajoelho-me na altura de Luna e tento um último gesto.

— Me dá um abraço, Luna? — peço, a voz quase falhando.

Ela olha para Manuela, buscando permissão, e a mãe concorda com um pequeno aceno. A menina se aproxima e me envolve em um abraço curto, mas cheio de ternura. O cheirinho infantil dela me faz fechar os olhos, lutando contra a avalanche de emoções.

Quando elas se afastam para cantar parabéns, fico ali parado, sentindo o peso da revelação me esmagar.

Eu tenho uma filha.

O salão está vazio agora, mas minha cabeça continua cheia. O que Manuela fez foi egoísta, cruel. Eu tenho uma filha e fui privado de conhecê-la por seis anos. A raiva ferve dentro de mim, mas, ao mesmo tempo, há uma pontada de culpa que não consigo ignorar.

De volta à casa dos meus pais, sento-me com eles e Bianca na sala, o silêncio pesado pairando no ar.

— O que foi que tá com essa cara, Leonardo? — pergunta minha irmã, claramente percebendo minha inquietação.

Olho para todos eles, sentindo a raiva crescer novamente.

— Descobri que tenho uma filha. E adivinhem só: a Manuela foi tão egoísta que escondeu isso de mim por seis malditos anos! — disparo, minha voz carregada de indignação.

Meu pai, que raramente perde a calma, me encara com um olhar cortante.

— Eu não admito que fale assim dela, Leonardo. — Sua voz é firme, cheia de reprovação.

A raiva se intensifica.

— Todos vocês sabiam? — pergunto, olhando de um para outro, sentindo o nó no meu peito apertar ainda mais.

Eles confirmam com um leve aceno de cabeça, e um riso irônico escapa dos meus lábios.

— Vocês acham que tinham o direito de me esconder isso? — acuso, tentando processar a traição.

Meu pai se levanta, a expressão severa.

— Ela tentou te contar, Leonardo! Ela ligou para você, mas adivinha só? Uma mulher atendeu seu telefone. E, quando fui atrás de você para falar sobre Luna, vi um homem que não era o filho que criei. Você tinha mudado. E, naquele momento, decidi que Manuela e a menina ficariam muito melhor sem você.

As palavras dele cortam como uma faca. Tento me defender.

— Vocês foram egoístas! Eu nunca soube dessa ligação. Nunca soube que você foi até lá!

Bianca finalmente explode.

— O único egoísta aqui foi você, Leonardo! — ela diz, com desprezo. — A Manuela te amava. Ela sempre te apoiou, mesmo sabendo que o sonho dela era ficar aqui. E o que você fez? Mal chegou em Harvard e já estava com outra. Ela sofreu, Leo. Você se afastou dela, da gente. Enquanto a Manu lutava para criar Luna e se formar, você estava vivendo sua vida como se nada mais importasse.

Meu pai cruza os braços, encarando-me com desapontamento.

— Quantas vezes nesses seis anos você ligou para Manuela, Leonardo? Quantas vezes voltou para vê-la, ou sequer nos visitou? Você foi relapso. E, sinceramente, você não merecia saber.

Tento argumentar, mas minha mãe me interrompe, sua voz suave cortando a tensão.

— Basta, todos vocês. — Ela suspira. — Leonardo, você tem muito o que pensar. Principalmente sobre o que dizer à Manuela. Ela foi a mais afetada nisso tudo. E agora, tudo depende de como você vai agir.

Eles se levantam, deixando-me sozinho na sala. A solidão pesa sobre mim como nunca antes. Subo para o quarto, tiro as roupas e me jogo na cama. Minha mente está a mil.

Eu deveria ter sabido. Eu tinha o direito de saber.

Mas, no fundo, a pergunta que não sai da minha cabeça é: Será que eu teria sido o pai que Luna merece?

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