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Capítulo 2 – Ressaca e Flores

O sol atravessava as cortinas pesadas da sala, insistente como se zombasse da ressaca que tomava conta do ambiente. No sofá, entre almofadas jogadas e garrafas vazias de água, Sofia gemeu alto, apertando as têmporas com as pontas dos dedos.

— Ah, minha cabeça... — murmurou, a voz rouca e pastosa. — Por que a tequila parece tão legal na hora e tão maldita no dia seguinte?

Com os olhos semiabertos, ela virou o rosto devagar, tentando entender onde estava. Quando reconheceu a sala de Isabella, soltou um suspiro cansado. Seus olhos caíram sobre a amiga, ainda dormindo ali do lado, com a boca entreaberta e a maquiagem completamente borrada, deixando marcas escuras ao redor dos olhos.

— Olha só quem virou um panda durante a noite... — disse, soltando um riso fraco.

Ela se jogou novamente no sofá, escondendo o rosto no travesseiro, quando de repente a campainha começou a tocar com insistência. Uma, duas, três vezes. Sofia grunhiu.

— Não... não, por favor...

A campainha tocava como uma marreta em sua cabeça. Isabella ainda dormia, mas ao som irritante, resmungou algo ininteligível e se mexeu.

— Que inferno... — murmurou, com a voz abafada.

— Finge que não é com a gente... — resmungou Sofia. — Eu não vou abrir.

— Você que mandou o mundo parar de girar ontem à noite, aguente agora — retrucou Isabella, com os olhos ainda fechados.

A campainha insistiu.

— Eu juro por Deus, se for vendedor, vou mandar ele tomar naquele lugar... — resmungou Isabella, se arrastando do chão como um zumbi. Estava com a roupa amarrotada da noite anterior, os cabelos bagunçados e o delineador borrado formando verdadeiras manchas nas bochechas.

Com passos pesados, ela caminhou até a porta e a abriu de supetão, pronta para xingar quem estivesse do outro lado.

— O que foi?! — disparou, sem nem olhar direito.

Mas quando finalmente levantou os olhos e encarou quem estava ali, sua expressão congelou.

Isabella ficou desconfortável ao ver a carranca que Donavan fazia diante de sua má educação impulsiva. Sua expressão rude parecia não se abalar, e isso a irritou ainda mais. Mas, tentando manter a compostura — embora com dificuldade — ela respirou fundo e ergueu o queixo, firme.

— O que o senhor faz aqui? — perguntou, com um toque de arrogância. — Não lembro de ter lhe convidado à minha casa... ou de sermos amigos.

Donavan arqueou uma sobrancelha, mantendo-se impassível. Seus olhos pareciam avaliá-la com um desprezo disfarçado de superioridade.

— Seus pais não lhe deram educação? — rebateu com frieza. — Essa não é uma forma adequada de se dirigir a uma visita... ainda mais a uma pessoa importante como eu.

A tensão entre os dois se tornou quase palpável, como uma tempestade prestes a desabar. Sofia, que até então observava tudo do sofá, se ergueu num pulo, a ressaca esquecida por um breve momento. A cena era boa demais para ignorar.

— Gente... isso aqui virou novela mexicana e eu não fui avisada? — disse, rindo alto e caminhando até a porta.

Ela olhou para Donavan, depois para Isabella, e então, sem cerimônias, arrancou as flores das mãos dele com um sorriso travesso no rosto.

— Essas flores são para a Isabella... ou pra mim? — perguntou, brincando com as pétalas. — Porque, se for pra mim, aviso logo que não aceito rosas de qualquer um. Agora, se for pra Isa... olha, acho que seu amigo ficou interessado nessa pequena tempestade aqui.

Ela piscou para Isabella com deboche, depois voltou o olhar para Donavan, analisando-o de cima a baixo com uma expressão fingidamente crítica.

— Além do mais, não sei se você faz o meu tipo — completou, encostando no batente da porta com um sorrisinho atrevido.

Donavan soltou um suspiro pesado, como se tivesse sido forçado a lidar com dois furacões antes mesmo do café da manhã. Seus olhos voltaram para Isabella, ignorando por um instante a provocação de Sofia.

— Dominic pediu que eu entregasse essas flores — disse, tentando manter o tom neutro. — E... ele gostaria de vê-la novamente.

Isabella cruzou os braços, sem esconder o ceticismo no olhar.

— Ele não é muito de pedir por favor, é?

— Ele não costuma ser ignorado — retrucou Donavan, com um sorriso de canto.

Sofia revirou os olhos e empurrou a porta com o quadril, deixando espaço para que Donavan entrasse.

— Tá bom, galã de terno e pose — disse. — Entra logo antes que a vizinhança comece a tirar foto.

Isabella bufou, mas deu de ombros e se afastou, voltando para o sofá. Ainda sentia o gosto da noite anterior na boca e a dor de cabeça começava a dar sinais de que ia durar o dia inteiro.

Donavan entrou, observando o ambiente com uma expressão discreta, mas atenta. Nada escapava de seus olhos — nem as fotos nas paredes, nem as garrafas vazias no chão.

— Então... Dominic quer me ver? — Isabella perguntou, jogando-se no sofá. — Não é mais fácil ele me ligar?

— Ele prefere o mistério — respondeu Donavan. — Além disso, acha que certas conversas devem ser feitas pessoalmente.

Sofia, agora sentada ao lado da amiga, ergueu as flores no ar.

— Pelo menos ele tem bom gosto — disse, inspirando o aroma. — Melhor do que os buquês mixurucas que eu recebo.

— E você vai? — perguntou Donavan, encarando Isabella.

Ela mordeu o lábio inferior, pensativa. Ainda lembrava dos olhos intensos de Dominic na noite anterior, do toque quase imperceptível na cintura, da sensação incômoda — e estranhamente excitante — de estar sendo observada.

— Talvez... — murmurou. — Mas antes disso, vou tomar um banho. E se ele quiser algo, que me procure como um homem de verdade, e não enviando recados como um príncipe mimado.

Donavan deu um leve sorriso, quase imperceptível, e assentiu com a cabeça.

— Direi a ele. Mas... se fosse você, não o deixaria esperando muito.

Com isso, ele se virou e saiu, deixando um rastro de silêncio e curiosidade atrás de si.

Isabella e Sofia se entreolharam. A ressaca parecia ter dado lugar a um novo tipo de dor de cabeça — uma que envolvia flores, olhares intensos e o tipo de homem que você sabe que deveria evitar… mas não consegue parar de pensar.

Olhando a porta que Donavan acabara de fechar, as flores nas mãos de Sofia e a cara atrevida e debochada da amiga, Isabella soltou um suspiro arrastado. Nada como começar o dia com uma visita indesejada e indiretas de um homem misterioso que achava que podia mandar recados em vez de aparecer pessoalmente.

Sem dizer uma palavra, virou-se com expressão entediada e caminhou em passos lentos até o corredor. Sofia continuava analisando o buquê como se fosse um presente de um reality show amoroso, e aquilo só fez Isabella revirar os olhos.

— Vou dormir de novo. Me acorda só quando esse mundo parar de girar — resmungou.

Sofia riu alto, acomodando-se novamente no sofá.

— Se o Dominic te sequestrar hoje, juro que vou fingir que não vi nada — provocou, balançando as flores no ar.

Isabella apenas levantou o dedo do meio antes de desaparecer no quarto. Jogou-se em sua cama macia com um alívio que só o conforto do lar podia proporcionar. Enrolou-se no lençol como se estivesse se escondendo do mundo e fechou os olhos, tentando apagar os últimos minutos da memória.

O quarto estava escuro e silencioso, e em poucos instantes ela sentiu seu corpo relaxar. Os pensamentos ainda zumbiam em sua cabeça: Dominic, a balada, o olhar dele, a forma como nenhum homem ousou se aproximar depois daquele toque. Tudo era estranho… perturbador… e intrigante.

Mas naquele momento, nada importava mais do que o descanso.

Isabella suspirou uma última vez, abraçando o travesseiro.

E então dormiu profundamente, como se pudesse escapar da tensão que estava apenas começando a se instalar em sua vida.

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