PERLA
⸻ Parabéns, amore. Estou muito orgulhoso de você ⸻ Lorenzo diz, logo depois que termino meu discurso em minha formatura.
Toda minha família está aqui, os Mancinni. Sim, sou uma Mancinni. Uma semana depois que Salvatore morreu, Lorenzo organizou nosso casamento para quinze dias mais tarde. Foi lindo. Perfeito. À beira mar. Selamos nossa união na presença de toda nossa família e de amigos que construí durante esses anos.
Enquanto discursava, fazia em minha mente um rápido retrospecto em minha mente. Lembrei-me como foram os meus dias desde que fui obrigada a vir para esse país ao qual aprendi a amar. Dor, medo, angústia, tristeza, ódio, eram os meus sentimentos. Não tinha perspectiva de futuro, de amor, de felicidade.
Um dia, tudo mudou. Um moreno de olhos negros como a noite cruzou
LUNAPERLAParo na porta do quarto e fico admirando Lorenzo, observando Luna, nossa filha.⸻ Amor, Pietro está te esperando ⸻ digo e me aproximo dele.Depois da minha formatura, descobri que estava grávida. Parei de me prevenir quando faltavam três meses para me formar. Apesar de estar ansioso para ser pai, Lorenzo não quis que eu engravidasse antes de receber meu diploma.Luna é o xodó da família. Seus tios, tia, e principalmente seu avô, a mimam muito, e dão muito amor. Diferente de Donna, que só tinha meu amor, Luna é amada por todos. A famigliaMancinni como um todo festejou com alegria sua chegada. Lorenzo não cabe em si de tanta felicidade. Quando descobri que daria à luz a uma menina, fiquei com medo. Por um instante, pensei que Lorenzo não gostaria.
NOVA IORQUE - CINCO ANOS ATRÁSPERLAEstou tão cansada. Desde que comecei meu curso de direito, não faço outra coisa que não seja estudar. Estou no final do segundo período, em fase de prova, as quais tenho praticamente todos os dias. Nesse período, minhas disciplinas são direito civil, penal, constitucional, do trabalho, administrativo e econômico. Esse último, em especial, é o que preciso melhorar as notas.Sou nascida e criada em Nova Iorque, porém, meus pais são italianos, nasceram em Roma. Eles vieram viver o sonho nova-iorquino a pouco mais de dezoito anos atrás. Minha mãe estava no seu segundo mês de gestação quando eles vieram morar na grande maçã.Meus pais mantêm suas origens. Em nosso cardápio diário, fazem questão da comida da sua terra natal, e tamb&e
ROMA – QUARTO ESCUROPerlaSegredo, mistério, sofrimento. Essa é a minha vida, uma vida que não escolhi para mim. Sou obrigada a viver uma mentira, uma mentira que me faz prisioneira dentro da minha própria casa.Não me reconheço mais, não sei quem sou.Sorrisos, casamento. A vida que levo a vista dos outros é perfeita, mas mal sabem que é pura falsidade. Que sou falsa, que tudo em mim é falso. Fiquei muito boa nisso, são muitos anos fingindo ser quem não sou, se é que ainda tenha algo em mim daquela garota de dezoito anos que foi retirada de sua casa, da sua família, que acordou casada com um desconhecido em outro país. Que, com esse homem, formou uma “família”. Depoisdesses cinco anos, ainda não sei o verdadeiro motivo e o que há por trás disso tudo.Não
FACULDADEPERLA⸻ Salvatore, permite-me falar?⸻ Dimmi. ⸻ “Diga-me”, ele fala com seu jeito duro de ser.⸻ Eu quero sua permissão para voltar a estudar.Falo pausadamente e me preparo para uma retaliação por minha ousadia em pedir algo. Desde que fui obrigada a viver com ele, nunca pedi nada com medo da sua reação, mas estou farta de ser apenas expectadora da minha própria vida. Preciso respirar, viver. Sei que não será nada fácil, o cenário ao meu redor é completamente desfavorável a mim.Salvatore termina de amarrar o cadarço do seu sapato. De pé, próxima à cama, aguardo sua reação. Tento não demostrar medo nas minhas feições, mesmo que por dentro meu corpo esteja tremendo. Não me permito mais desabar na sua frente, muito menos agir como
QUEBRADAPERLAHoje completa um mês que retornei para a faculdade. Ainda custo a acreditar nas pequenas e preciosas mudanças em minha vida. A primeira foi voltar a cursar direito; nem nos meus melhores sonhos poderia imaginar que Salvatore permitiria que eu voltasse a estudar.Continuo não demostrando medo em sua presença. Algumas vezes, o pego observando-me. Não sei o que se passa em sua mente tão perversa, mas sou grata por ele nunca mais ter me violentado sexualmente. Depois daquela nossa primeira vez de sexo sem violência, continuo entregando-me a ele todas as vezes que ele me quer. Com isso, ele não age mais como um monstro. Se a situação fosse outra, poderia até dizer que fazemos amor, mesmo que este sentimento não exista da minha parte,muito menos da parte dele. Salvatore deve desconhecer esse sentimento. Todos somos instrumentos em suas mãos,
ACERTO DE CONTASPERLAO que fazer para vingar a morte da minha filha e a vida que ele roubou de mim?Este tem sido meu questionamento de todos os dias.Desde que Donna se foi, me recolhi em seu quarto. Depois de tudo que aconteceu, não consegui ficar no mesmo ambiente que Salvatore. Ele consegue ser ainda pior do que eu tinha visto e sentido na minha própria pele.Salvatore não me informou o que havia acontecido com a minha filha, muito menos que ela estava hospitalizada entre a vida e a morte. Em nenhum momento ele se colocou no meu lugar, lugar de uma mãe que teve sua filha levada por homens a quem ele fez mal e que a usaram para se vingarem. Se não fosseGiovanni me levar ao hospital por vontade própria, eu só veria Donna no caixão. Não teria me despedido da minha filha antes do seu último suspiro. Minha menina foi tratada como qualquer uma pelo pr&oacu
REENCONTROPERLARetorno à biblioteca, procurando por algo relacionado ao Salvatore. Não tenho muito sucesso, apenas pequenas matérias de assassinatos em que eles suspeitam do envolvimento da máfia. Penso no que Nina me disse a respeito do Giovanni. Do jeito dele, sempre foi gentil comigo. Talvez eu possa conseguir algumas informações, mas tenho medo de pôr tudo a perder.Ando pelos corredores da biblioteca, procurando algum livro de direito para que Giovanni não desconfie da minha real intenção neste lugar. Estou distraída e não percebo que há um homem de terno na estante atrás de mim. Dou dois passos para trás acabo esbarrando nele.⸻ Perdão ⸻ digo, um pouco sem graça, de cabeça baixa enquanto ajeito minha bolsa que escorregou no meu ombro, por pouco não caiu no chão.Inebriada com seu cheiro,
DESEJOLORENZOAndando por minha cidade, entro na biblioteca. Quando jovem, passava horas pesquisando neste lugar. Meu pai, mesmo sendo Don e tendo a maior parte da Itália aos seus pés, sempre fez questão que seus filhos estudassem. Os corredores imensos da biblioteca sempre me atraíram, os livros expostos nela me fascinavam. Quando minha mãe perdeu a vida por causa dos maledetto Bazzoti, foi nela que me refugiei. Entre os livros.Alguém esbarra nas minhas costas. Coloco minha mão na arma que está na minha cintura. Com os homens do Bazzoti espalhados por toda cidade, todo cuidado é pouco. Ao me virar, vejo-me deparo com a mulher mais linda que já vi na minha vida. Sua aparência triste não esconde toda sua beleza. Assim que seu corpo delicado vai de encontro ao meu, ela pede desculpa em inglês; provavelmente é americana, a mais linda americana