PERLA
Retorno à biblioteca, procurando por algo relacionado ao Salvatore. Não tenho muito sucesso, apenas pequenas matérias de assassinatos em que eles suspeitam do envolvimento da máfia. Penso no que Nina me disse a respeito do Giovanni. Do jeito dele, sempre foi gentil comigo. Talvez eu possa conseguir algumas informações, mas tenho medo de pôr tudo a perder.
Ando pelos corredores da biblioteca, procurando algum livro de direito para que Giovanni não desconfie da minha real intenção neste lugar. Estou distraída e não percebo que há um homem de terno na estante atrás de mim. Dou dois passos para trás acabo esbarrando nele.
⸻ Perdão ⸻ digo, um pouco sem graça, de cabeça baixa enquanto ajeito minha bolsa que escorregou no meu ombro, por pouco não caiu no chão.
Inebriada com seu cheiro, e constrangida, levanto minha cabeça aos poucos. Meus olhos passam por seu corpo elegante até chegar em seu belíssimo rosto. O desconhecido me olha tão profundamente que parece que está vendo meu interior.
Ele tem algo familiar, algo que me faz sentir bem diante dele. Meu interior se transforma em um rebuliço de sensações que me mantém no lugar.
Os italianos, em sua maioria, são homens atraentes, mas nunca um homem me chamou tanta a atenção como este. Ele maneia a cabeça para mim. Provavelmente não entendeu o que eu disse, pois me desculpei em minha língua natal.
⸻ Scusami. ⸻ Desculpo-me em italiano, e ele sorri. Meu mundo, que se tornou apenas nós dois, para.
Seu sorriso me prende, me fascina.
Ficamos alguns minutos perdidos em algum lugar dentro de nós mesmos, presos por nossos olhos e pelas sensações do momento. Sinto frio na barriga, meu coração movimenta rápido e um desejo insano de ser beijada por esse desconhecido invade minhas entranhas.
Uma voz vinda do corredor ao lado me tira do meu mais novo mundo, um mundo de desejo e loucura. A realidade me toma e vem como um balde de água fria.
Lembro-me a quem pertenço.
Saio apressada, praticamente correndo. Ao chegar do lado de fora, Giovanni me pergunta se aconteceu alguma coisa e ameaça retornar à biblioteca. Com medo, peço a ele para irmos embora. Da janela do carro, o vejo na imensa janela da biblioteca, observando-me. Meus olhos permanecem nele até o carro tomar distância. Antes de descer do carro, Giovanni me
pergunta se estou bem. Cada vez mais acredito no seu interesse por mim, pois nenhum segurança jamais me tratou assim.
Na faculdade, não consigo prestar atenção no que o professor diz, muito menos em Nina. Meus pensamentos estão nele, naquele desconhecido de aparência firme, ereto, dominador. Sua postura lembra a do Salvatore, mas sem sua frieza e maldade no olhar.
⸻ Perla, o que houve com você? Parece estar no mundo da lua ⸻ Nina me pergunta, já de pé. A aula acabou, nem percebi. Levanto-me, pego minha mochila e a acompanho até a saída.
⸻ Não aconteceu nada. Sabe de uma coisa, Nina? Para mim a melhor hora do dia é quando venho para faculdade, a pior é quando vou embora para casa.
⸻ Perla, se sua vida de casada é tão ruim como você diz, por que não se separa?
⸻ Se fosse tão simples, não estaria casada há muito tempo. As coisas são bem mais complicadas do que você imagina.
⸻ Sei que você não é italiana, se precisar ficar em algum lugar, pode ficar na minha casa, ou no meu apartamento. Com certeza meu pai e meu irmão irão te ajudar, eles não vão permitir que seu marido encoste um dedo em você.
⸻ Obrigada, Nina, mas antes de pensar em fugir do meu marido, tenho que fazer algo. Mesmo assim, obrigada.
De volta para casa, meus pensamentos estão no desconhecido. O estranho é que, mesmo sem saber seu nome, não sinto como se fosse alguém que nunca tinha visto antes. Ainda consigo sentir seu perfume e toda a confusão de sentimentos do momento.
Chego em casa e tomo um susto quando encontro o quarto da Donna vazio. Salvatore mandou que se desfizesse de tudo, não só dos móveis, mas de todas as coisas que lembram a minha filha. Sento-me no chão do quarto vazio e choro. A cada dia meu ódio aumenta mais, Salvatore sente prazer em me fazer sofrer.
Enxugo minhas lágrimas e visto a capa da minha personagem de dona de casa; meu palco é a cozinha, onde preparo o jantar do meu carrasco. Durante o jantar, levo meus pensamentos para longe, evito ao máximo olhar para Salvatore, que age como estivesse tudo bem, como se ele não tivesse feito nada. Saio do meu devaneio quando ouço sua voz grossa.
⸻ A partir de hoje você volta a dormir no nosso quarto, só sai de lá quando eu receber visita.
Vai ser insuportável deitar todos os dias com o assassino da minha filha ao meu lado. Tenho certeza que Donna morreu por sua culpa.
Passou uma semana desde que esbarrei no desconhecido na biblioteca e não consigo tirá-lo dos meus pensamentos. Pensar nele me faz esquecer, nem que seja por um momento, do homem cruel que tenho ao meu lado. Ontem à noite, Salvatore usou meu
corpo. Em todo momento, me concentrei na imagem do desconhecido, foi mais fácil para suportar seu corpo sobre mim. Quando Salvatore, pegou no sono fui para o banheiro do corredor. A náusea veio como avalanche, coloquei todo o jantar e minha angústia para fora. No chuveiro, arranhei minha pele com a esponja, tentando tirar de mim qualquer resquício que ainda houvesse daquele homem.
Os dias passam e tento focar na minha vingança, que está bem distante de acontecer. Não consegui nada que me leve a descobrir sobre a relação dos meus pais com Salvatore, muito menos algo que possa o destruir. Dias depois, retorno à biblioteca, ligo o computador e reviso todos os jornais para ver se deixei escapar alguma coisa. Verifico e não encontro nada. Frustrada, vou buscar um livro. Sou surpreendida pelo desconhecido, que vem a passos rápidos em minha direção. Meu corpo gela, não consigo sair do lugar. Meu estômago revira quando ele se aproxima de mim.
Uma de suas mãos toca a minha e a segura. Apenas sigo seu comando, minhas pernas o acompanham enquanto ele me conduz pelos extensos corredores da biblioteca, que neste horário fica vazio. No último corredor, o desconhecido me
encosta na imensa estante. Segura meu rosto e, com seus olhos negros fixos em mim, encosta seus lábios nos meus. Sua língua exige passagem, que permito sem hesitar.
Nesse momento não existe Salvatore, máfia, medo. Apenas nós dois.
Pela primeira vez, beijo alguém de verdade. Não aquele beijo que meu marido me dá sempre que usa meu corpo, mas um beijo com sentimentos, um beijo que tira meu fôlego. Um beijo que faz meu corpo tremer e ter a necessidade de mais.
Posso sentir sua necessidade na forma que ele me beija, com seu pau ereto pressionando meu ventre. Isso tudo é insano, meu corpo e minha alma querem se entregar a ele neste lugar. Minha mente diz que o que está acontecendo é errado, mas meu corpo e meus sentimentos dizem foda-se. Eles querem mais, querem que eu abra as pernas e me entregue a ele.
Ouço passos firmes próximos a nós e me afasto de sua boca. Uma lágrima escorre pelo meu rosto, já sinto saudades dos seus beijos e do seu cheiro amadeirado, seu cheiro de homem. Ele passa os dedos em meu rosto. Sem nenhuma palavra, ajeito
minha roupa e meus cabelos, que estão uma confusão. Caminho a passos rápidos para longe. Para longe de uma vida que não posso ter.
Ao virar no corredor seguinte, vejo Giovanni. Aproveito que ele ainda não me viu e pego um livro, fingido estar lendo. Durante esses cinco anos convivendo com Salvatore, me tornei uma ótima atriz. Controlo minha excitação para que ele não perceba e Giovanni se aproxima de mim.
⸻ Que susto, Giovanni. Algum problema?
⸻ É que a signora demorou, queria saber se estava tudo bem.
⸻ Estou bem, são tantos livros que me perco no meio deles.
⸻ Nunca tinha entrado nesse lugar, é muito grande, levei um bom tempo para encontrá-la.
Sorrio, grata por isso. Se ele me pega com o desconhecido, não sei o que poderia acontecer.
Deitada ao lado do meu pior pesadelo, sonho com o homem que nunca poderá ser meu. Um homem que despertou em mim sentimentos desconhecidos e confusos. Desejo-o como nunca desejei ninguém. Desejo sua boca outra vez na minha. Desejo seu corpo sobre o meu. Minha mente me leva a esse lugar proibido para mim, um lugar secreto, um lugar onde só existe eu e ele. Infelizmente, o desconhecido só pode permanecer em meus pensamentos. Se Salvatore suspeitar, temo por sua vida; quanto a mim, vivo diariamente minha sentença de morte.
DESEJOLORENZOAndando por minha cidade, entro na biblioteca. Quando jovem, passava horas pesquisando neste lugar. Meu pai, mesmo sendo Don e tendo a maior parte da Itália aos seus pés, sempre fez questão que seus filhos estudassem. Os corredores imensos da biblioteca sempre me atraíram, os livros expostos nela me fascinavam. Quando minha mãe perdeu a vida por causa dos maledetto Bazzoti, foi nela que me refugiei. Entre os livros.Alguém esbarra nas minhas costas. Coloco minha mão na arma que está na minha cintura. Com os homens do Bazzoti espalhados por toda cidade, todo cuidado é pouco. Ao me virar, vejo-me deparo com a mulher mais linda que já vi na minha vida. Sua aparência triste não esconde toda sua beleza. Assim que seu corpo delicado vai de encontro ao meu, ela pede desculpa em inglês; provavelmente é americana, a mais linda americana
MULHER DO INIMIGOPERLAO desconhecido me fez ver que ainda posso ter uma vida. O que senti quando nos beijamos foi real. Seu toque, seu beijo e seu cheiro despertaram em mim o desejo de amar e ser amada.Pode parecer loucura, ou um desejo profundo da minha alma. Acredito que minha história com o desconhecido está apenas começando, apesar de todas as condições desfavoráveis. Pode até ser meu coração querendo me pregar uma peça, ainda mais porque sou casada com o chefe da máfia, um homem frio e sanguinário. Porém, dentro de mim algo me diz que, em um futuro não muito distante, Salvatore será passado.Esse estranho, sem saber, me deu o ânimo que estava precisando para cumprir a promessa que fiz à minha filha em seu leito de morte. Pensei por diversos dias e concluí que sem a ajudado Giovanni vai ser impossí
COVARDEGIOVANNISaí da casa do Salvatore pensando na conversa que tive com meu amigo Leonel. A raiva me toma toda vez que penso o quanto sou fraco por servir ao homem que levou dor e tristeza para minha família. Tive medo que Salvatore acabasse com minha família do mesmo jeito que acabou com a do meu irmão. Meus pais não aguentaram tanto sofrimento e se foram meses depois de enterrar seu filho, nora e neto.Fui covarde, recuei por amor à minha família. Salvatore é um sanguinário. Já eliminei diversos homens que se opuseram a nós, mas nunca toquei em suas famílias. Na máfia, as famílias sempre foram respeitadas, os únicos que não seguem a essa lei são os Bazzoti. A briga para ser Don de toda a Itália dura há anos.Para a maioria dos empresários, políticos e uma boa parte da popula&
BELOPERLAO desconhecido caminha comigo por entre as flores. O cheiro das rosas é maravilhoso, mas não tanto quanto o seu cheiro. Andamos por alguns minutos até chegarmos no final do campo de rosas. Lá, há uma cabana. Ele abre a porta com a chave que retira do seu bolso. Sei que essa cabana simples não o pertence. Pelas roupas caras que ele veste, é mais provável que ele seja dono deste lugar, e esta cabana seja de algum funcionário. Tudo relacionado a ele é um mistério, não sei nada a seu respeito e não pretendo saber.O belo homem que me deixa de pernas bambas fecha a porta e fica parado encostado nela, com seus olhos sobre mim. Eles me examinam de cima a baixo, com desejo. Sinto como se emitissem fogo, um fogo que me queima por dentro e pelasminhas partes íntimas. Neste momento, meus pensamentos são de pura luxúria. N&at
ATUANDOPERLAPara minha sorte, Salvatore viajou. Deito-me sobre minha cama, com meu corpo ainda em chamas. Os poucos minutos que passei com o Belo foram os melhores da minha vida. Não tive coragem de tomar banho, para não perder seu cheiro em meu corpo. Ao fechar os olhos, vivencio todos os momentos que passamos juntos. Cada sorriso, cada olhar, cada beijo. A forma com que ele me amou. Sua língua e sua boca exploraram cada parte do meu corpo, proporcionando-me um prazer tão grande, tão intenso, que me perdi em mim mesma.Agora, mais do que nunca, estou determinada a acabar com Salvatore. Quero poder ser amada livremente, quero ser completamente do Belo. Sem medo, sem empecilho. O que sentimos quando estamos juntos é uma força da natureza. Nossoscorpos se pertencem; eles se conheceram, se quiseram, se desejaram, bem antes que soubéssemos disso. Bastou estarem no mesmo lugar para que
UM PELO OUTROPERLAA semana passou. Continuei a interpretar meu papel de esposa, e não empregada. Minha mudança não é apenas com o Salvatore, mas também com os funcionários da casa; eles passaram a me respeitar como senhora Bazzoti, dona da casa. Antes, qualquer coisa que eu quisesse, eles perguntavam primeiro ao meu captor; agora, eles apenas obedecem. Devo a isso às vezes que dei ordens na frente do meu marido, que não me desautorizou. Pareceu até satisfeito com isso.Todos os dias, Salvatore tem saído à noite, chegando ao amanhecer. Por enquanto, tenho escapado de me deitar com ele, mas continuo o provocando. Comprei mais alguns vestidos justos para usar em casa e ele não para de me olhar. Com isso, tem aceitado algumas modificações. Ontem, durante o almoço,como quem não quer nada, sugeri trocar as cortinas da casa, que s&atil
EVENTO DA MÁFIAPERLATudo está caminhando perfeitamente bem. Não vou dizer que Salvatore se tornou o melhor homem do mundo porque irei mentir. Ele está mais maleável comigo, não me agride mais, não me pune e aceita as poucas coisas que peço. Na maioria das vezes, o comunico uma decisão de uma forma que pareça que quero sua permissão.Ele não implica quando tenho que passar mais horas na faculdade, mas, como sempre, continua atento nas coisas que faço. No Brasil, as meninas usam um termo que cabe muito bem no meu casamento: depois que dei um chá de boceta no Salvatore, do jeito dele, tenta fazer de tudo para me agradar. Nãose enganem pensando que estou gostando dele, ou que esqueci tudo que ele fez; apenas faz parte do plano.Estou com muitas saudades do Belo. Recebi uma mensagem dele dizendo que precisou viajar a trabalho. Tem um
ÚLTIMO DESEJOPERLANão sei o que fazer com as informações que consegui ontem na festa com aquela tagarela que não serve para ser mulher de mafioso. Estava no banheiro, dando com a língua nos dentes. Poderia ter a mulher de algum inimigo do marido dela ouvindo. Não que me importe, por mim Salvatore que se dane, mas ela agiu errado.Saí da festa, contente com a informação, mesmo sem saber o que fazer, mas, em vez de ficar focada nisso, na saída tive a impressão de ter visto o Belo ao lado do amigo do Giovanni. Isso me custou a noite de sono e uma péssima transa com Salvatore. Não consegui me concentrar no momento de prazer que tive com o Belo, senti nojo em cada toque do Salvatore sobre meu corpo.Desejo, do fundo do meu coração, que eu esteja enganada, que aquele homem não seja o Belo. Não posso estar tão env