Capítulo 7

DESEJO

LORENZO

Andando por minha cidade, entro na biblioteca. Quando jovem, passava horas pesquisando neste lugar. Meu pai, mesmo sendo Don e tendo a maior parte da Itália aos seus pés, sempre fez questão que seus filhos estudassem. Os corredores imensos da biblioteca sempre me atraíram, os livros expostos nela me fascinavam. Quando minha mãe perdeu a vida por causa dos maledetto Bazzoti, foi nela que me refugiei. Entre os livros.

Alguém esbarra nas minhas costas. Coloco minha mão na arma que está na minha cintura. Com os homens do Bazzoti espalhados por toda cidade, todo cuidado é pouco. Ao me virar, vejo-me deparo com a mulher mais linda que já vi na minha vida. Sua aparência triste não esconde toda sua beleza. Assim que seu corpo delicado vai de encontro ao meu, ela pede desculpa em inglês; provavelmente é americana, a mais linda americana que já vi.

Sua voz doce ecoa nos meus ouvidos, percorre por todo meu corpo. Sem me olhar, demostrando estar constrangida, ela abaixa a cabeça e ajeita a bolsa em seu ombro. Levanta a cabeça lentamente e nossos olhos se encontram; eles se perdem um no outro. Um arrepio percorre o meu corpo, uma vontade insana de beijar a sua boca, ao mesmo tempo em que sinto uma necessidade de arrancar a tristeza que vejo em seu rosto.

Confusa por eu não ter dito nada, sou agraciado mais uma vez com sua voz. Ela me pede desculpas em italiano, como se eu não tivesse entendido o que ela havia dito antes. Sorrio e não consigo dizer nada, porque estou perdido na imensidão do seu olhar.

Nossos olhos se comunicam em silêncio. Fomos atraídos, não por nossos corpos, mas sim por nossas almas. Através dos nossos olhos, palavras são ditas em silêncio. Ambos estamos confusos, sem saber ao certo o que aquele momento significa, porque duas pessoas que nunca se viram estão presas uma na outra de corpo e alma.

Neste momento, eu a desejo. Desejo não só o seu corpo, desejo tudo nela. Ao mesmo tempo, sinto-me estranho por ter este sentimento dentro de mim. Um Mancinni como eu, que tem

a maior parte de Roma sob seu domínio, estar vulnerável por causa de uma mulher.

Como se tivesse quebrado o encanto, a bella donna sai apressada, parecendo apavorada. Sigo seus passos, não posso perdê-la. O medo de nunca mais vê-la toma conta de mim. Ela sai da biblioteca e entra em um carro; da janela, seus olhos encontram os meus, e ficamos assim até o carro tomar distância.

⸻ Lorenzo, o que está acontecendo contigo, meu filho? Você tem andado muito distraído, pensativo.

Meu pai, mesmo com seu jeito frio e carinhoso ao mesmo tempo, demostra preocupação comigo.

⸻ Isso está com cara que tem mulher no meio meu irmão ⸻ Enzo diz, zombando de mim.

⸻ Lorenzo apaixonado? Essa eu pago para ver ⸻ diz Pietro.

Meus irmãos são mais novos do que eu, e ambos têm suas famílias. Depois que se formaram, casaram-se com suas namoradas. Sempre pegaram no meu pé por eu nunca ter trazido ninguém para apresentar à família.

Meus irmãos são Capo, cada um tem seu grupo de soldados que o devem obediência. Eles que são responsáveis por trazer dinheiro para a família, administram as áreas que controlamos e ordenam a maior parte dos assassinatos, tudo diante a aprovação do Don, que é nosso pai, ou minha, que sou o subchefe. Temos um número bem extenso de Capo, por termos muitos soldados. O que me deixa mais tranquilo em relação aos meus irmãos é que os Capo raramente participam de conflito armado, por isso fico menos preocupado.

Como filho mais velho, meu pai sempre me treinou para assumir os negócios no seu lugar. Meus dias eram divididos entre os estudos, os negócios e a proteção da minha família. Por esse motivo, nunca tive um relacionamento sério, só casos por curtos períodos, geralmente nas viagens que faço a trabalho.

Temos muitos associados, como traficantes, policiais e outros criminosos. Eles não fazem parte, de fato, da família, porém, auxiliam nossos soldados em algumas operações. Existem, também, outro tipo de associado que não costuma se envolver em conflitos armados, mas pode ser útil para outras ocasiões, como ganho de influência, dentre outros; neste caso, estão os políticos. Meu pai não confia em mais ninguém além de mim para tratar diretamente com eles, pois o anonimato desses homens é fundamental.

Há anos que os Bazzoti tentam dominar o nosso território. O falecido Vicenzo, que está no inferno, declarou guerra à minha família há muitos anos por causa dos negócios e de problemas pessoais. Até então, cada um tinha seu território de atuação. Meu avô Guido comandava o lado Norte e Vicenzo o lado Sul. Com o tempo, muitos homens o abandonaram e passaram a fazer negócios com meu avô. Os Bazzoti eram violentos e agiam assim também com as famílias, fazendo com que muitos se afastassem. Vicenzo achou que meu avô estava roubando-o e declarou guerra. Essa disputa acontece até hoje, porém, ainda pior, porque Salvatore consegue ser mais sanguinário que seu pai; ele eliminou todos os soldados que ficaram do lado dos Mancinni.

A biblioteca voltou a fazer parte dos meus dias. Durante uma semana, a frequentei todos os dias no mesmo horário em que vi aquela desconhecida que não sai mais dos meus pensamentos. Hoje é o último dia que venho à biblioteca; não posso ficar a vida toda esperando por uma mulher que nem sei o nome.

Ando pelos extensos corredores à sua procura. Quando penso em desistir, a vejo e meu corpo reage no mesmo instante. Vou a passos largos em sua direção. Minha vontade é de correr, mas não quero assustá-la. Minha bella donna fica imóvel, com seus expressivos olhos em mim. Seguro sua mão e a levo para o último corredor. Sem pensar, a encosto na estante e beijo sua boca. Neste momento, esqueço do mundo à nossa volta. Desejo-a tanto que, se pudesse, a tomaria como minha neste lugar. Sem fôlego, faço pequenas pausas e a beijo de novo, até que passos interrompem nossa loucura. Uma lágrima solitária desliza em seu rosto. Acaricio-o, gravando cada centímetro dele. Não quero que vá embora. Ela se afasta e some das minhas vistas.

Sinto um vazio, sinto falta do seu cheiro, do seu beijo.

De volta para casa, me sinto feliz. O gosto da sua boca e o cheiro da sua pele permanecem comigo; ao mesmo tempo. estou frustrado por perdê-la novamente. Entro no meu escritório, ponho minha cabeça no lugar e reflito sobre tudo.

⸻ Caralho, que porra que está acontecendo comigo? O que foi aquilo na biblioteca?

⸻ O que houve, senhor?

⸻ Entra e fecha a porta, Leonel. Sente-se.

No meu escritório, a portas fechadas com Leonel, que é um dos meus homens, conto o que aconteceu na biblioteca desde a primeira vez que vi a bella americana. Leonel não é apenas meu soldado, ele é um amigo em que confio.

⸻ Lorenzo, não estou te reconhecendo. Se agarrando com uma mulher casada? Se o Don Guiseppe descobrir…

⸻ Foi mais forte do que eu. Passei a semana toda indo à biblioteca. Fui todos os dias para vê-la. Não tinha certeza se ela retornaria, mas algo em mim dizia que sim, então mantive a esperança. Desde que seu corpo foi de encontro ao meu e coloquei meus olhos sobre ela, não a tirei mais dos meus pensamentos. Não sei seu nome, seu endereço, muito menos se ela é turista ou reside na cidade, por isso que estou te contando. Preciso que você descubra quem é ela, quem é seu marido e onde ela mora. Em seu rosto, vi muita tristeza. Preciso saber o que tanto a aflige. Nosso sentimento, seja qual for, é recíproco, pude sentir através do seu toque e seu beijo. Descubra quem ela é.

⸻ Certo. Me descreva a americana que vou encontrá-la. Só sairei da porta da biblioteca quando ela aparecer; depois vou segui-la. Em breve o senhor terá um relatório com todas as informações em suas mãos.

⸻ Obrigado, Leonel. Nem preciso dizer que esse assunto é confidencial. Não tem nada a ver com a máfia, é um favor que você está fazendo para mim, como amigo.

Ele maneia a cabeça e sai do meu escritório.

A ansiedade me atinge. Se tem alguém que pode descobrir quem é a desconhecida, esse alguém é o Leonel.

Quando meu pai me nomeou subchefe e mandou que escolhesse alguém para me acompanhar, o primeiro que veio a minha cabeça foi ele. Nós somos amigos desde a faculdade. Na época, não tinha conhecimento que seu pai trabalhava para o meu; sempre fomos amigos, farreamos muito juntos e dividimos segredos.

Conhecendo bem meu amigo, em breve vou descobrir quem é essa mulher que mexe tanto comigo e, se ela quiser ser minha, foda-se quem seja seu marido: ela será minha.

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