LORENZO
Andando por minha cidade, entro na biblioteca. Quando jovem, passava horas pesquisando neste lugar. Meu pai, mesmo sendo Don e tendo a maior parte da Itália aos seus pés, sempre fez questão que seus filhos estudassem. Os corredores imensos da biblioteca sempre me atraíram, os livros expostos nela me fascinavam. Quando minha mãe perdeu a vida por causa dos maledetto Bazzoti, foi nela que me refugiei. Entre os livros.
Alguém esbarra nas minhas costas. Coloco minha mão na arma que está na minha cintura. Com os homens do Bazzoti espalhados por toda cidade, todo cuidado é pouco. Ao me virar, vejo-me deparo com a mulher mais linda que já vi na minha vida. Sua aparência triste não esconde toda sua beleza. Assim que seu corpo delicado vai de encontro ao meu, ela pede desculpa em inglês; provavelmente é americana, a mais linda americana que já vi.
Sua voz doce ecoa nos meus ouvidos, percorre por todo meu corpo. Sem me olhar, demostrando estar constrangida, ela abaixa a cabeça e ajeita a bolsa em seu ombro. Levanta a cabeça lentamente e nossos olhos se encontram; eles se perdem um no outro. Um arrepio percorre o meu corpo, uma vontade insana de beijar a sua boca, ao mesmo tempo em que sinto uma necessidade de arrancar a tristeza que vejo em seu rosto.
Confusa por eu não ter dito nada, sou agraciado mais uma vez com sua voz. Ela me pede desculpas em italiano, como se eu não tivesse entendido o que ela havia dito antes. Sorrio e não consigo dizer nada, porque estou perdido na imensidão do seu olhar.
Nossos olhos se comunicam em silêncio. Fomos atraídos, não por nossos corpos, mas sim por nossas almas. Através dos nossos olhos, palavras são ditas em silêncio. Ambos estamos confusos, sem saber ao certo o que aquele momento significa, porque duas pessoas que nunca se viram estão presas uma na outra de corpo e alma.
Neste momento, eu a desejo. Desejo não só o seu corpo, desejo tudo nela. Ao mesmo tempo, sinto-me estranho por ter este sentimento dentro de mim. Um Mancinni como eu, que tem
a maior parte de Roma sob seu domínio, estar vulnerável por causa de uma mulher.
Como se tivesse quebrado o encanto, a bella donna sai apressada, parecendo apavorada. Sigo seus passos, não posso perdê-la. O medo de nunca mais vê-la toma conta de mim. Ela sai da biblioteca e entra em um carro; da janela, seus olhos encontram os meus, e ficamos assim até o carro tomar distância.
⸻ Lorenzo, o que está acontecendo contigo, meu filho? Você tem andado muito distraído, pensativo.
Meu pai, mesmo com seu jeito frio e carinhoso ao mesmo tempo, demostra preocupação comigo.
⸻ Isso está com cara que tem mulher no meio meu irmão ⸻ Enzo diz, zombando de mim.
⸻ Lorenzo apaixonado? Essa eu pago para ver ⸻ diz Pietro.
Meus irmãos são mais novos do que eu, e ambos têm suas famílias. Depois que se formaram, casaram-se com suas namoradas. Sempre pegaram no meu pé por eu nunca ter trazido ninguém para apresentar à família.
Meus irmãos são Capo, cada um tem seu grupo de soldados que o devem obediência. Eles que são responsáveis por trazer dinheiro para a família, administram as áreas que controlamos e ordenam a maior parte dos assassinatos, tudo diante a aprovação do Don, que é nosso pai, ou minha, que sou o subchefe. Temos um número bem extenso de Capo, por termos muitos soldados. O que me deixa mais tranquilo em relação aos meus irmãos é que os Capo raramente participam de conflito armado, por isso fico menos preocupado.
Como filho mais velho, meu pai sempre me treinou para assumir os negócios no seu lugar. Meus dias eram divididos entre os estudos, os negócios e a proteção da minha família. Por esse motivo, nunca tive um relacionamento sério, só casos por curtos períodos, geralmente nas viagens que faço a trabalho.
Temos muitos associados, como traficantes, policiais e outros criminosos. Eles não fazem parte, de fato, da família, porém, auxiliam nossos soldados em algumas operações. Existem, também, outro tipo de associado que não costuma se envolver em conflitos armados, mas pode ser útil para outras ocasiões, como ganho de influência, dentre outros; neste caso, estão os políticos. Meu pai não confia em mais ninguém além de mim para tratar diretamente com eles, pois o anonimato desses homens é fundamental.
Há anos que os Bazzoti tentam dominar o nosso território. O falecido Vicenzo, que está no inferno, declarou guerra à minha família há muitos anos por causa dos negócios e de problemas pessoais. Até então, cada um tinha seu território de atuação. Meu avô Guido comandava o lado Norte e Vicenzo o lado Sul. Com o tempo, muitos homens o abandonaram e passaram a fazer negócios com meu avô. Os Bazzoti eram violentos e agiam assim também com as famílias, fazendo com que muitos se afastassem. Vicenzo achou que meu avô estava roubando-o e declarou guerra. Essa disputa acontece até hoje, porém, ainda pior, porque Salvatore consegue ser mais sanguinário que seu pai; ele eliminou todos os soldados que ficaram do lado dos Mancinni.
A biblioteca voltou a fazer parte dos meus dias. Durante uma semana, a frequentei todos os dias no mesmo horário em que vi aquela desconhecida que não sai mais dos meus pensamentos. Hoje é o último dia que venho à biblioteca; não posso ficar a vida toda esperando por uma mulher que nem sei o nome.
Ando pelos extensos corredores à sua procura. Quando penso em desistir, a vejo e meu corpo reage no mesmo instante. Vou a passos largos em sua direção. Minha vontade é de correr, mas não quero assustá-la. Minha bella donna fica imóvel, com seus expressivos olhos em mim. Seguro sua mão e a levo para o último corredor. Sem pensar, a encosto na estante e beijo sua boca. Neste momento, esqueço do mundo à nossa volta. Desejo-a tanto que, se pudesse, a tomaria como minha neste lugar. Sem fôlego, faço pequenas pausas e a beijo de novo, até que passos interrompem nossa loucura. Uma lágrima solitária desliza em seu rosto. Acaricio-o, gravando cada centímetro dele. Não quero que vá embora. Ela se afasta e some das minhas vistas.
Sinto um vazio, sinto falta do seu cheiro, do seu beijo.
De volta para casa, me sinto feliz. O gosto da sua boca e o cheiro da sua pele permanecem comigo; ao mesmo tempo. estou frustrado por perdê-la novamente. Entro no meu escritório, ponho minha cabeça no lugar e reflito sobre tudo.
⸻ Caralho, que porra que está acontecendo comigo? O que foi aquilo na biblioteca?
⸻ O que houve, senhor?
⸻ Entra e fecha a porta, Leonel. Sente-se.
No meu escritório, a portas fechadas com Leonel, que é um dos meus homens, conto o que aconteceu na biblioteca desde a primeira vez que vi a bella americana. Leonel não é apenas meu soldado, ele é um amigo em que confio.
⸻ Lorenzo, não estou te reconhecendo. Se agarrando com uma mulher casada? Se o Don Guiseppe descobrir…
⸻ Foi mais forte do que eu. Passei a semana toda indo à biblioteca. Fui todos os dias para vê-la. Não tinha certeza se ela retornaria, mas algo em mim dizia que sim, então mantive a esperança. Desde que seu corpo foi de encontro ao meu e coloquei meus olhos sobre ela, não a tirei mais dos meus pensamentos. Não sei seu nome, seu endereço, muito menos se ela é turista ou reside na cidade, por isso que estou te contando. Preciso que você descubra quem é ela, quem é seu marido e onde ela mora. Em seu rosto, vi muita tristeza. Preciso saber o que tanto a aflige. Nosso sentimento, seja qual for, é recíproco, pude sentir através do seu toque e seu beijo. Descubra quem ela é.
⸻ Certo. Me descreva a americana que vou encontrá-la. Só sairei da porta da biblioteca quando ela aparecer; depois vou segui-la. Em breve o senhor terá um relatório com todas as informações em suas mãos.
⸻ Obrigado, Leonel. Nem preciso dizer que esse assunto é confidencial. Não tem nada a ver com a máfia, é um favor que você está fazendo para mim, como amigo.
Ele maneia a cabeça e sai do meu escritório.
A ansiedade me atinge. Se tem alguém que pode descobrir quem é a desconhecida, esse alguém é o Leonel.
Quando meu pai me nomeou subchefe e mandou que escolhesse alguém para me acompanhar, o primeiro que veio a minha cabeça foi ele. Nós somos amigos desde a faculdade. Na época, não tinha conhecimento que seu pai trabalhava para o meu; sempre fomos amigos, farreamos muito juntos e dividimos segredos.
Conhecendo bem meu amigo, em breve vou descobrir quem é essa mulher que mexe tanto comigo e, se ela quiser ser minha, foda-se quem seja seu marido: ela será minha.
MULHER DO INIMIGOPERLAO desconhecido me fez ver que ainda posso ter uma vida. O que senti quando nos beijamos foi real. Seu toque, seu beijo e seu cheiro despertaram em mim o desejo de amar e ser amada.Pode parecer loucura, ou um desejo profundo da minha alma. Acredito que minha história com o desconhecido está apenas começando, apesar de todas as condições desfavoráveis. Pode até ser meu coração querendo me pregar uma peça, ainda mais porque sou casada com o chefe da máfia, um homem frio e sanguinário. Porém, dentro de mim algo me diz que, em um futuro não muito distante, Salvatore será passado.Esse estranho, sem saber, me deu o ânimo que estava precisando para cumprir a promessa que fiz à minha filha em seu leito de morte. Pensei por diversos dias e concluí que sem a ajudado Giovanni vai ser impossí
COVARDEGIOVANNISaí da casa do Salvatore pensando na conversa que tive com meu amigo Leonel. A raiva me toma toda vez que penso o quanto sou fraco por servir ao homem que levou dor e tristeza para minha família. Tive medo que Salvatore acabasse com minha família do mesmo jeito que acabou com a do meu irmão. Meus pais não aguentaram tanto sofrimento e se foram meses depois de enterrar seu filho, nora e neto.Fui covarde, recuei por amor à minha família. Salvatore é um sanguinário. Já eliminei diversos homens que se opuseram a nós, mas nunca toquei em suas famílias. Na máfia, as famílias sempre foram respeitadas, os únicos que não seguem a essa lei são os Bazzoti. A briga para ser Don de toda a Itália dura há anos.Para a maioria dos empresários, políticos e uma boa parte da popula&
BELOPERLAO desconhecido caminha comigo por entre as flores. O cheiro das rosas é maravilhoso, mas não tanto quanto o seu cheiro. Andamos por alguns minutos até chegarmos no final do campo de rosas. Lá, há uma cabana. Ele abre a porta com a chave que retira do seu bolso. Sei que essa cabana simples não o pertence. Pelas roupas caras que ele veste, é mais provável que ele seja dono deste lugar, e esta cabana seja de algum funcionário. Tudo relacionado a ele é um mistério, não sei nada a seu respeito e não pretendo saber.O belo homem que me deixa de pernas bambas fecha a porta e fica parado encostado nela, com seus olhos sobre mim. Eles me examinam de cima a baixo, com desejo. Sinto como se emitissem fogo, um fogo que me queima por dentro e pelasminhas partes íntimas. Neste momento, meus pensamentos são de pura luxúria. N&at
ATUANDOPERLAPara minha sorte, Salvatore viajou. Deito-me sobre minha cama, com meu corpo ainda em chamas. Os poucos minutos que passei com o Belo foram os melhores da minha vida. Não tive coragem de tomar banho, para não perder seu cheiro em meu corpo. Ao fechar os olhos, vivencio todos os momentos que passamos juntos. Cada sorriso, cada olhar, cada beijo. A forma com que ele me amou. Sua língua e sua boca exploraram cada parte do meu corpo, proporcionando-me um prazer tão grande, tão intenso, que me perdi em mim mesma.Agora, mais do que nunca, estou determinada a acabar com Salvatore. Quero poder ser amada livremente, quero ser completamente do Belo. Sem medo, sem empecilho. O que sentimos quando estamos juntos é uma força da natureza. Nossoscorpos se pertencem; eles se conheceram, se quiseram, se desejaram, bem antes que soubéssemos disso. Bastou estarem no mesmo lugar para que
UM PELO OUTROPERLAA semana passou. Continuei a interpretar meu papel de esposa, e não empregada. Minha mudança não é apenas com o Salvatore, mas também com os funcionários da casa; eles passaram a me respeitar como senhora Bazzoti, dona da casa. Antes, qualquer coisa que eu quisesse, eles perguntavam primeiro ao meu captor; agora, eles apenas obedecem. Devo a isso às vezes que dei ordens na frente do meu marido, que não me desautorizou. Pareceu até satisfeito com isso.Todos os dias, Salvatore tem saído à noite, chegando ao amanhecer. Por enquanto, tenho escapado de me deitar com ele, mas continuo o provocando. Comprei mais alguns vestidos justos para usar em casa e ele não para de me olhar. Com isso, tem aceitado algumas modificações. Ontem, durante o almoço,como quem não quer nada, sugeri trocar as cortinas da casa, que s&atil
EVENTO DA MÁFIAPERLATudo está caminhando perfeitamente bem. Não vou dizer que Salvatore se tornou o melhor homem do mundo porque irei mentir. Ele está mais maleável comigo, não me agride mais, não me pune e aceita as poucas coisas que peço. Na maioria das vezes, o comunico uma decisão de uma forma que pareça que quero sua permissão.Ele não implica quando tenho que passar mais horas na faculdade, mas, como sempre, continua atento nas coisas que faço. No Brasil, as meninas usam um termo que cabe muito bem no meu casamento: depois que dei um chá de boceta no Salvatore, do jeito dele, tenta fazer de tudo para me agradar. Nãose enganem pensando que estou gostando dele, ou que esqueci tudo que ele fez; apenas faz parte do plano.Estou com muitas saudades do Belo. Recebi uma mensagem dele dizendo que precisou viajar a trabalho. Tem um
ÚLTIMO DESEJOPERLANão sei o que fazer com as informações que consegui ontem na festa com aquela tagarela que não serve para ser mulher de mafioso. Estava no banheiro, dando com a língua nos dentes. Poderia ter a mulher de algum inimigo do marido dela ouvindo. Não que me importe, por mim Salvatore que se dane, mas ela agiu errado.Saí da festa, contente com a informação, mesmo sem saber o que fazer, mas, em vez de ficar focada nisso, na saída tive a impressão de ter visto o Belo ao lado do amigo do Giovanni. Isso me custou a noite de sono e uma péssima transa com Salvatore. Não consegui me concentrar no momento de prazer que tive com o Belo, senti nojo em cada toque do Salvatore sobre meu corpo.Desejo, do fundo do meu coração, que eu esteja enganada, que aquele homem não seja o Belo. Não posso estar tão env
DORMINDO COM O INIMIGOPERLAChego da faculdade e Salvatore está em casa, soltando fumaça. Sua raiva é tão grande que ouço seus gritos do portão. Olho cúmplice para o Giovanni, porque nós dois sabemos o porquê de tanta ira. Entro em casa, fingindo não entender o que está acontecendo. Ele está reunido com seus Capo, Subchefe e alguns soldados. Em vez de ir para o quarto, me posiciono ao seu lado. Ele me olha sério, mas não diz nada.⸻ Temos um traidor em nosso meio e eu quero a cabeça desse figlio di una cagna.⸻ Salvatore, por acaso o motivo de tanta fúria é sobre um carregamento de drogas?Todos me olham surpresos e curiosos. Essa é a hora de ganhar pontos com meu maridinho. Dane-se que eu tenha que ferrar aquela tagarela.⸻ O que você sabe sobre isso, Perla? ⸻ fala, praticament