PERLA
Hoje completa um mês que retornei para a faculdade. Ainda custo a acreditar nas pequenas e preciosas mudanças em minha vida. A primeira foi voltar a cursar direito; nem nos meus melhores sonhos poderia imaginar que Salvatore permitiria que eu voltasse a estudar.
Continuo não demostrando medo em sua presença. Algumas vezes, o pego observando-me. Não sei o que se passa em sua mente tão perversa, mas sou grata por ele nunca mais ter me violentado sexualmente. Depois daquela nossa primeira vez de sexo sem violência, continuo entregando-me a ele todas as vezes que ele me quer. Com isso, ele não age mais como um monstro. Se a situação fosse outra, poderia até dizer que fazemos amor, mesmo que este sentimento não exista da minha parte,
muito menos da parte dele. Salvatore deve desconhecer esse sentimento. Todos somos instrumentos em suas mãos, o que nos resta é dançarmos conforme a música.
Meu marido não tem mais me agredido fisicamente, porém, verbalmente continua o mesmo de sempre. Ainda mantenho a distância, só me aproximo quando solicitada. Considero essas mudanças uma vitória, tenho que agir com cautela para não colocar tudo a perder. Um homem como meu marido é imprevisível.
Nina e eu estamos cada vez mais amigas. Ela tem dois irmãos, que são casados. Um tem vinte e quatro anos; o outro, vinte sete. Seu pai é um grande empresário e, segundo ela, ele é aquele tipo de homem família, que faz de tudo para cuidar e proteger os seus. Nina tem um terceiro irmão, que está no Brasil. Ele tem trinta anos e é advogado; foi para lá a serviço da empresa do seu pai, que tem negócios em solo brasileiro.
Sou apaixonada pelo Brasil, é um país solar, as pessoas são gentis e felizes. A sua maioria, humilde, porém, felizes. A alegria é algo que já nasce com o brasileiro. Passei um período de dois anos lá com meus pais quando eu tinha dez anos, depois retornamos quando fiz quinze anos, ficamos mais um ano por lá. Aprendi um pouco de português, é uma língua bem difícil, porém, muito bonita.
Pego minha mochila e saio da sala de aula, conversando com a Nina. De repente, sinto uma mão pegando meu braço com força. Olho assustada, é Giovanni, meu segurança; ele praticamente me arrasta pelo corredor. Alguns alunos ficam me olhando e o sigo sem questionar, pois, sei que tem dedo do meu captor nisso. Sinto vergonha, todos me observam. Nina fica assustada. Como eu, ela não entende o que está acontecendo.
Chego no estacionamento e Giovanni praticamente me joga dentro do carro, onde há dois homens, o motorista e o carona. Giovanni fica atrás comigo. Quando chego em casa, há vários soldados espalhados por toda parte, fortemente armados. Vejo Salvatore, que nem me olha nos olhos. Friamente, ele diz:
⸻ Levaram Donna.
Neste momento, meu mundo desaba. Esta frase vem como um concreto sobre mim. Sou retirada do chão pelo Giovanni e outro homem.
⸻ Portala in camera da letto e assicurati che non se ne vada.
Salvatore manda Giovanni me levar para o quarto e certificar-se de que eu não saia de lá. Ele fala em italiano, como se eu não pudesse entender. Não tenho forças para perguntar nada, no momento só quero ter minha filha de volta em meus braços. O frio Salvatore não faz a mínima questão de me dizer se tem um plano para trazer minha Donna, nossa filha, de volta.
Meu corpo está pesado e Giovanni me coloca em seus braços. No quarto, ele me coloca sobre a cama. As palavras do Salvatore martelam em minha cabeça. Levaram a Donna. Derramo-me em lágrimas, o medo de perder minha filha me atingindo. Homens como Salvatore são capazes de tudo, sinto-me impotente trancada neste quarto.
Se eu não tivesse desabado na frente dele, talvez ele deixasse que eu ficasse com ele. Poderia saber mais do que
realmente está acontecendo, mas como encenar com a minha filha em perigo? Como manter a calma vendo o meu maior medo sendo realizado? Sempre soube que um dia isso poderia acontecer, um homem como meu marido tem inimigos por todos os lugares, e, nesses casos, sempre quem paga a conta é a família. Infelizmente, eles levaram a minha filha e não a mim.
Não tenho como continuar meu teatro, Donna é a única razão pela qual me mantive viva durante todos esses anos. Todas as vezes que fui trancada naquele quarto escuro, hesitei em acabar com a minha vida por causa dela.
⸻ Quero minha filha ⸻ grito a plenos pulmões.
A porta é aberta, Giovanni surge e me diz que precisamos ir.
⸻ É a Donna, vocês a encontraram? Vocês acharam minha filha?
Ele não diz nada, com as mãos indica que eu preciso o seguir. Na sala, dois homens nos acompanham até o carro; não são os mesmos de antes. A casa já não está tão tumultuada,
apenas os seguranças de sempre transitam por ela. Paramos na porta de um hospital e meu coração acelera. Giovanni anda em passos longos e eu praticamente corro pelo corredor do terceiro andar deste hospital. Na porta do quarto, há quatro homens. Minhas pernas congelam, não consigo sair do lugar.
⸻ Minha filha, minha Donna.
Giovanni pega em meu braço com delicadeza, me encarando com tristeza em seus olhos. Faço uma oração interna e me forço a prosseguir. No quarto, minha filha está ligada a alguns aparelhos. Salvatore está sentado em uma cadeira com o rosto escondido no leito dela. Giovanni pega uma cadeira e coloca do lado contrário em que Salvatore está. Ele me ajuda a sentar. Não consigo dizer uma só palavra, meu corpo e minha alma doem.
Minha menina.
Minha alegria.
Minha vida.
Olho para seu corpo pálido sobre a cama, praticamente sem vida. Um médico entra no quarto e pergunta ao Salvatore se ele já está pronto, ele levanta a cabeça e diz que sim. Olho para ele, que age como se eu não estivesse ali, depois para o médico, que percebe que não sei do que se trata.
⸻ Tua figlia? ⸻ Confirmo, receosa. ⸻ Ela teve morte cerebral, demos um tempo para seu marido se despedir para que possamos desligar os aparelhos, já temos a sua autorização.
Olho para Salvatore com todo ódio possível que extraio da minha alma. Como ele pôde vir sem mim para o hospital, autorizar que desligassem o aparelho da minha filha sem antes me dizer que a perdemos, que por causa dele mataram nossa filha?
Ele se levanta, ainda sem me olhar, beija Donna na testa e olha para o médico.
⸻ Spegnere.
Dá a ordem para que desliguem e sai do quarto.
Lanço meu corpo sobre minha filha e chamo por ela aos berros. Meu pranto é tão alto que algumas pessoas aparecem na porta. Giovanni me tira de cima dela e eu caio de joelhos no chão. Antes, eu pensava que tudo o que passei era insuportável, mas nada se compara a essa dor. Meu coração está em pedaços. Minha alegria, minha vida se foi. Minha menina era meu sol na escuridão que é minha vida. Ela era a luz que me iluminava naquele quarto escuro, o quarto da minha punição.
Os médicos retiram tudo que está conectado a ela, Giovanni me ajuda a levantar. Aproximo-me do pequeno corpo da Donna e me deito ao seu lado. O doutor diz que em questão de minutos ela dará seu último suspiro, já que ele retirou o respirador. Canto para minha menina uma canção antiga que eu ouvia quando criança. Donna adorava essa canção. Abraçada ao seu corpo frágil, em meio ao choro entoo a canção. No fundo ainda tenho esperança que ela vá acordar e me dar aquele seu belo sorriso.
Seu coração vai parando aos poucos, até que ouço seu último suspiro, que sai quase inaudível. Minha esperança de um milagre morre junto com minha pequena Donna.
Estou completamente quebrada, e desta vez não sei se tenho forças para juntar os cacos. Minha única razão de prosseguir se foi. Uma vez, Donna me fez a prometer que um dia eu seria feliz. Minha filha, apesar de pequena, sentia toda a dor que irradiava de mim. Infelizmente, não sei se posso cumprir essa promessa. Felicidade para mim seria eu e ela vivendo longe do Salvatore. Sem ela, tudo perde o sentido.
ACERTO DE CONTASPERLAO que fazer para vingar a morte da minha filha e a vida que ele roubou de mim?Este tem sido meu questionamento de todos os dias.Desde que Donna se foi, me recolhi em seu quarto. Depois de tudo que aconteceu, não consegui ficar no mesmo ambiente que Salvatore. Ele consegue ser ainda pior do que eu tinha visto e sentido na minha própria pele.Salvatore não me informou o que havia acontecido com a minha filha, muito menos que ela estava hospitalizada entre a vida e a morte. Em nenhum momento ele se colocou no meu lugar, lugar de uma mãe que teve sua filha levada por homens a quem ele fez mal e que a usaram para se vingarem. Se não fosseGiovanni me levar ao hospital por vontade própria, eu só veria Donna no caixão. Não teria me despedido da minha filha antes do seu último suspiro. Minha menina foi tratada como qualquer uma pelo pr&oacu
REENCONTROPERLARetorno à biblioteca, procurando por algo relacionado ao Salvatore. Não tenho muito sucesso, apenas pequenas matérias de assassinatos em que eles suspeitam do envolvimento da máfia. Penso no que Nina me disse a respeito do Giovanni. Do jeito dele, sempre foi gentil comigo. Talvez eu possa conseguir algumas informações, mas tenho medo de pôr tudo a perder.Ando pelos corredores da biblioteca, procurando algum livro de direito para que Giovanni não desconfie da minha real intenção neste lugar. Estou distraída e não percebo que há um homem de terno na estante atrás de mim. Dou dois passos para trás acabo esbarrando nele.⸻ Perdão ⸻ digo, um pouco sem graça, de cabeça baixa enquanto ajeito minha bolsa que escorregou no meu ombro, por pouco não caiu no chão.Inebriada com seu cheiro,
DESEJOLORENZOAndando por minha cidade, entro na biblioteca. Quando jovem, passava horas pesquisando neste lugar. Meu pai, mesmo sendo Don e tendo a maior parte da Itália aos seus pés, sempre fez questão que seus filhos estudassem. Os corredores imensos da biblioteca sempre me atraíram, os livros expostos nela me fascinavam. Quando minha mãe perdeu a vida por causa dos maledetto Bazzoti, foi nela que me refugiei. Entre os livros.Alguém esbarra nas minhas costas. Coloco minha mão na arma que está na minha cintura. Com os homens do Bazzoti espalhados por toda cidade, todo cuidado é pouco. Ao me virar, vejo-me deparo com a mulher mais linda que já vi na minha vida. Sua aparência triste não esconde toda sua beleza. Assim que seu corpo delicado vai de encontro ao meu, ela pede desculpa em inglês; provavelmente é americana, a mais linda americana
MULHER DO INIMIGOPERLAO desconhecido me fez ver que ainda posso ter uma vida. O que senti quando nos beijamos foi real. Seu toque, seu beijo e seu cheiro despertaram em mim o desejo de amar e ser amada.Pode parecer loucura, ou um desejo profundo da minha alma. Acredito que minha história com o desconhecido está apenas começando, apesar de todas as condições desfavoráveis. Pode até ser meu coração querendo me pregar uma peça, ainda mais porque sou casada com o chefe da máfia, um homem frio e sanguinário. Porém, dentro de mim algo me diz que, em um futuro não muito distante, Salvatore será passado.Esse estranho, sem saber, me deu o ânimo que estava precisando para cumprir a promessa que fiz à minha filha em seu leito de morte. Pensei por diversos dias e concluí que sem a ajudado Giovanni vai ser impossí
COVARDEGIOVANNISaí da casa do Salvatore pensando na conversa que tive com meu amigo Leonel. A raiva me toma toda vez que penso o quanto sou fraco por servir ao homem que levou dor e tristeza para minha família. Tive medo que Salvatore acabasse com minha família do mesmo jeito que acabou com a do meu irmão. Meus pais não aguentaram tanto sofrimento e se foram meses depois de enterrar seu filho, nora e neto.Fui covarde, recuei por amor à minha família. Salvatore é um sanguinário. Já eliminei diversos homens que se opuseram a nós, mas nunca toquei em suas famílias. Na máfia, as famílias sempre foram respeitadas, os únicos que não seguem a essa lei são os Bazzoti. A briga para ser Don de toda a Itália dura há anos.Para a maioria dos empresários, políticos e uma boa parte da popula&
BELOPERLAO desconhecido caminha comigo por entre as flores. O cheiro das rosas é maravilhoso, mas não tanto quanto o seu cheiro. Andamos por alguns minutos até chegarmos no final do campo de rosas. Lá, há uma cabana. Ele abre a porta com a chave que retira do seu bolso. Sei que essa cabana simples não o pertence. Pelas roupas caras que ele veste, é mais provável que ele seja dono deste lugar, e esta cabana seja de algum funcionário. Tudo relacionado a ele é um mistério, não sei nada a seu respeito e não pretendo saber.O belo homem que me deixa de pernas bambas fecha a porta e fica parado encostado nela, com seus olhos sobre mim. Eles me examinam de cima a baixo, com desejo. Sinto como se emitissem fogo, um fogo que me queima por dentro e pelasminhas partes íntimas. Neste momento, meus pensamentos são de pura luxúria. N&at
ATUANDOPERLAPara minha sorte, Salvatore viajou. Deito-me sobre minha cama, com meu corpo ainda em chamas. Os poucos minutos que passei com o Belo foram os melhores da minha vida. Não tive coragem de tomar banho, para não perder seu cheiro em meu corpo. Ao fechar os olhos, vivencio todos os momentos que passamos juntos. Cada sorriso, cada olhar, cada beijo. A forma com que ele me amou. Sua língua e sua boca exploraram cada parte do meu corpo, proporcionando-me um prazer tão grande, tão intenso, que me perdi em mim mesma.Agora, mais do que nunca, estou determinada a acabar com Salvatore. Quero poder ser amada livremente, quero ser completamente do Belo. Sem medo, sem empecilho. O que sentimos quando estamos juntos é uma força da natureza. Nossoscorpos se pertencem; eles se conheceram, se quiseram, se desejaram, bem antes que soubéssemos disso. Bastou estarem no mesmo lugar para que
UM PELO OUTROPERLAA semana passou. Continuei a interpretar meu papel de esposa, e não empregada. Minha mudança não é apenas com o Salvatore, mas também com os funcionários da casa; eles passaram a me respeitar como senhora Bazzoti, dona da casa. Antes, qualquer coisa que eu quisesse, eles perguntavam primeiro ao meu captor; agora, eles apenas obedecem. Devo a isso às vezes que dei ordens na frente do meu marido, que não me desautorizou. Pareceu até satisfeito com isso.Todos os dias, Salvatore tem saído à noite, chegando ao amanhecer. Por enquanto, tenho escapado de me deitar com ele, mas continuo o provocando. Comprei mais alguns vestidos justos para usar em casa e ele não para de me olhar. Com isso, tem aceitado algumas modificações. Ontem, durante o almoço,como quem não quer nada, sugeri trocar as cortinas da casa, que s&atil