Olhos ImpertinentesUma quinta-feira muito apressada, ele espreita como o amanhecer pronuncia a chegada da manhã com sol fulgurante através das paredes envidraçadas. Esqueci-me de fechar as cortinas, agora a claridade estremece a minha visão delicada, até que consigo acostumar-me à tortura, em pouco tempo já está longe de sê-lo.Eu me aproximo, sem perder tempo, devo estar pontual na mansão. De lá, partirei com meu chefe tirano para o "sótão". Devo admitir que estou nervosa com a ideia, a mudança se manifestou por decisão dele, não sei se há intenções por trás, buenas boas? Não, acho que não. Pelo menos na mansão havia mais trabalhadores. Não sei nada sobre esse famoso lugar onde estarei todos os próximos dias pregada. Uma camada fibrosa de nervos se instala no meu peito, impede a respiração, não quero sair da sala e traçar o caminho de sempre. Sem opções, saio do apartamento. Costumo ir com Mila, quando seu horário é flexível, mas se sua entrada for antes das oito, então pego um táx
Já estou na marcha. E pela primeira vez estou em um lugar mais íntimo, de Silvain. Não há muita clareza, mas dou um passo e as luzes acendem. O ambiente é ostentoso, as cores da decoração, resulta em cinza e um tom azul frio, que não pretende dar luz, mas acompanhar o neutro acinzentado. É como contemplar num quadro, A tempestade sobre um mar revolto que se ondula com ímpeto. Alguns elementos vermelho-bordô são testemunhados, e isso não torna a estadia agradável. Depois, há a cama king-size no centro com travesseiros espalhados, atrás está a cabeceira acolchoada. Aos pés da mesma, visualizo o divã, sobre o qual se distribuem várias almofadas invertidas com as cores dos lençóis e cobertura, preto e branco.Avanço no chão de madeira, um elemento quente que não é suficiente para contrastar a frieza de cada coisa dentro. Quando meus olhos se cravam na pintura que fica ao lado da porta, acho que leva ao banheiro, entre abro os lábios, o olhar fixo sobre ela. É um homem, pelo menos é uma pi
Chefe NarcisistaSaltimbucca Alla Romana...Cheira delicioso, percebo a mistura de cheiros, meu sentido cai de joelhos diante do Pires que faz. Vou até a cozinha, ainda sem me deixar ver, avisto meu chefe... cocinando cozinhando? É uma cena que eu não esperava ver nem hoje, nem nunca. Ainda não consigo afinar bem o pé, por isso ando mancando, tomo assento em um dos bancos, ele se vira e não sei como olhar para ele. - Já terminaste?- Sim, não era muito. Não... eu sabia... que cozinha... - duvidosa emito o comentário, ele não dá um giro na expressão, continua sem desenhar sequer uma careta. - Bem, já sabes. Acho que sabes o que estou a fazer. - Você supõe bem, na verdade é um dos meus pratos favoritos da Itália, Saltimbucca alla Romana. - confesso, é estranho que entre os dois flua uma conversa mais distendida, ainda que ele não tenha intenções de segui-la. Já se virou, dando continuidade ao seu, e deixando-me, resolvida. Não sei se devo oferecer minha ajuda, hesito na indecisão.
- Dizes-me que estavas só com ele e que ele fez o almoço? - Sim, foi o que eu disse. - O teu prato favorito? - Sim, Mila. Não siga mais, não tem importância. - Ele não age como o teu chefe. Por que tão depressa acabaste? —Não sei, e não me olhe assim-exijo diante de seu olhar malicioso, aparece um sorriso travesso e eu ardo de vergonha. - É que não entendo, toma-se atenções que estão longe de apenas um chefe, contigo. Pasa algo está acontecendo entre vocês? - questiona devagar, fazendo-me uma introspecção aguda, afasto-me um pouco. "Um beijo, além de me propor mais com ele e eu o rejeitei de imediato...»- Não, nada... Olhos arregalados, gesto duvidoso. Bebida dura. - Ok, é um pouco clichê o romance de chefe e funcionária. - Sim, super banal e absurdo na vida real. Com esse francês nem na esquina, você não sabe o quão mandão ele é-falo mais da conta, exasperada. - Expressas-te dele como se fosse o próprio diabo em pessoa, es é tão rigoroso como dizes? —É isso mesmo-admito.
Longe Do Pôr Do Sol - Obrigado-fecho a portezuela do táxi e me encaminho para dentro do clube. Tive de mostrar a identificação ao vigilante. Ao entrar, já ouço a cacofonia, sim, aqueles sons desagradáveis, pouco harmoniosos, roncam em meus tímpanos com ferocidade. A música entra na minha torrente, mas não corcoveia a emoção. Sem aspavimentos, percorro o lugar cheio de luzes piscando junto à vibração, nadando entre a onda de pessoas que se atravessam em meu caminho. Álcool e cigarro se juntam em uma nuvem, eu estrago o nariz, detesto o cheiro. A cada momento brota dos meus lábios a palavra "permissão", poucas vezes dou cotoveladas, se não há outro modo. Esta gente tão absorta na libertinagem, distanciada da realidade, voa e se ensimisma demais no momento. É por isso que não quero me juntar à pilha.- Onde está o Silvain? - pergunto Em um sopro, é difícil conseguir o narciso do meu chefe entre tantas pessoas. Suponho, por alguma razão, que ele tão prestigioso, deve estar numa zona VI
Vou-me embora e fico mais um minuto. É o suficiente para descobrir que meu chefe é apenas um peça delicada, que busca atenção, a glória que não existe, mas não é culpa dele, é um deserto, um espaço árido que precisa de Ajuda. Mas não se preocupa em tomar a iniciativa, é um transtornado, uma pessoa que carece de sentimentos, de emoções... O aviso é urgente, o alarme na minha cabeça acendeu-se. Eu sei que devo ir, suspiro fundo, sou uma masoquista, fico. Quando Silvain se levanta, meu órgão vital fica furioso, é adrenalina, nervos, não posso permitir que ele me pegue bisbilhotando. Imediatamente me dirijo para a cozinha de seu sótão e espero por ele, exatamente onde estive depois de sair de seu quarto.Aparece, vejo outra imagem à minha frente, é outra pessoa. Cabeça alta e queixo para a frente, destila poder, agressividade. Acho que devia ter saído há muito tempo, antes de voltar o tipo que sempre quer subjugar: um Narciso. Sua voz espessa, grave e profunda chega, é estranha à cena
Fico no meu prédio, apressada caminho veloz, só ao me jogar na cama solto o desesperado choro, sacudidas convulsas que devem parar; ainda não tomo banho, ainda não tiro da minha pele seu toque, preciso apagá-lo. E, eu torço tanto o corpo que dói, queima ao toque, não é uma marca, são várias, mas incomparável com a enorme que reside dentro do meu coração. Eu bato no mosaico, inclino a cabeça apoiando-a Ali. Da confusão perturbadora, não me despeço, não é fútil. Tudo se alinha, um emaranhado na minha cabeça que esbanja a minha mente, é maleável, por isso não consigo ordenar as minhas ideias. Em todo o caos mental, eu me preocupo com alguma coisa, é uma avalanche gigantesca me esmagando. Não posso ser. Não me lembro de que houvesse cautela , não, ele não fez e eu me apavoro. Sei que posso engravidar, a ideia provoca-me uma contorção. Eu quero acreditar que ele não esqueceu... É ridículo, não o fez. Acho que vou morrer.Eu carrego as palmas das mãos na minha testa, sobrecarregada. Não
Mexido fica-me o estômago a avistar o sofá, princípio de uma loucura. A cena se enraíza na minha cabeça, ele intenso, controlador. Eu Bato minha cabeça, freneticamente a sacudo, a todo custo procuro remover imagens indecorosas, e elas não vão embora. Bate o meu órgão vital, salta impiedosamente. O pior de tudo, é que eu tenho que limpar essa bagunça que se espalha na sala, que Silvain deixou. Não me lembro de ver nada disso ontem, sem dúvida, alguém teve um acesso de raiva. Há vidro por toda parte. Noto várias manchas no carpete, acho que é qualquer coisa derramada, e não Sangue... Assusto-me, porque ao avançar avisto um caminho de gotas secas daquele escarlate escuro até o chão de madeira nobre, no momento em que acabo seguindo o rastro, o telefone toca, é apenas uma mensagem, depois vou vê-lo. Sem perceber, estou na entrada do banheiro principal. Petrificada, eu estrago a testa enquanto, cheia de confusão excessiva, vejo um esboço deitado no chão, noto que está um pouco quebrado.