Todos os anos que tenho dão a experiência suficiente de saber que a senhora e o senhor Onwell fizeram uma porcaria das grandes. Nunca temos reuniões de família, são raríssimas as vezes em que comemos todos juntos e ainda mais raríssimas as vezes em que eles estão realmente interessados no que temos feito da nossa vida. E vendo a cara das minhas irmãs sei bem que não sou a única a pensar que aquilo é uma grande armadilha. Eles fizeram alguma coisa. — Agora falando sério, vocês já cansaram de tentar nos enrolar e irão, finalmente, falar o que se passa? Karina, a mais velhas das três filhas maravilhosas feitas pelos Onwell, pousa o garfo no prato perto da faca e cruza os braços lançando o olhar intimidador que ela sabe fazer muito bem. Uma característica muito forte nela é justamente essa, a capacidade de intimidar. — Karina, que é isso? Nós apenas queremos saber como vocês estão, afinal de contas nunca nos vemos — minha mãe limpa o canto da boca com o guardanapo exalando a elegância
— Yohan, já és adulto o suficiente para ter consciência da responsabilidade que estará nas tuas mãos e tenho cem porcento de certeza que não confiarias em alguém que não é casado para fazer negócios. Falar com pessoas costuma ser exaustivo de mais para ter que suportar uma única pessoa a dizer a mesma coisa há mais de duas semanas. Ser adulto não implica, com toda a certeza, ter que abdicar das minhas escolhas e das coisas que tomo com seriedade somente para cumprir caprichos disfarçados de tradições. — Pelo contrário, se a pessoa demonstra ser alguém de confiança, por que deixaria de fechar negócio somente por não ser casada? — Sabes muito bem o porquê, é tradição…— É tradição — dizemos simultaneamente e ele fecha a cara mais uma vez. — Mas que tradição é essa que obriga pessoas a casar? Que tradição é essa que não coloca a conduta da pessoa na primeira linha de observaçãpo para gerir a família? Que tipo de tradição é essa que não pode esperar que eu encontre a mulher com quem de
— Achas mesmo que ficar a olhar para o teto vai resolver alguma coisa? Levanta daí, sua mandada, vamos fazer algo feliz, sei lá, tomar um sorvete, pegar alguém antes da porcaria toda acontecer. Que seria de mim sem essa menina? O entusiasmo da Lisha me deixa sempre com uma mão atrás, como é que irei tomar sorvete sendo que preciso organizar as minhas coisas hoje para sair desse apartamento amanhã e ir para casa dos meus pais esperar pelo bendito casamento? — Preciso arrumar as minhas coisas — levanto da cama e abro as portas do armário antes de a expulsar da minha cama. — Tu podes ir, manda fotografias. O casamento está marcado para o fim de semana, logo no sábado em que teria a saída com as meninas e tive que cancelar por “motivos de saúde” deixando somente a menina do cabelo vermelho a par de tudo, senão teria a minha vida acabada. — Não deixa a falta de juízo te dominar, anda, vamos, depois venho e te ajudo a arrumar essas malas, uma vez que nem no teu casamento estarei — os ol
Casamentos deveriam trazer felicidade para todo mundo. A união de duas pessoas que escolheram amar-se para a vida toda deveria ser uma coisa perfeita. A cerimônia entre as cerimônias, em que duas famílias se unem na maior alegria e duas pessoas se unem com o propósito de construir a própria família, com a promessa de que cuidarão sempre um do outro, em que os nossos irmãos estão tão felizes quanto nós estamos. Só que não é exatamente assim. — Se alguma coisa acontecer contigo, por favor, liga para mim, estarei sempre disponível para correr e te tirar dos braços de um idiota que não sabe tratar a minha princesa. Ver as lágrimas descerem pelo rosto de Karina pelo reflexo do espelho, fez fisgadas dominarem todo o meu corpo, como se fosse mais difícil ver ela mal que me casar com um completo estranho. Viro para olhar diretamente para elas. — Não te preocupes, estou bem treinada e qualquer coisa é só vocês me encontrarem em uma delegacia que estarei lá disposta a cumprir uma pena — nós
— Olha só, ele não é esse ogro que eu estava pensar que ele seria, mas não vamos aqui colocar esperanças ainda porque pensei a mesma coisa de um certo ser e olha — Karina chega perto com duas taças de champagne e o sorriso acolhedor que ela sabe dar. — Ele não é gostoso? Olha só para ele e é mais alto que tu, cheira bem, parece educado e simpático, um daqueles cavalheiros que desenhas. — Karina… — O quê? Menti? — Toma o champagne em um gole antes de cruzar os braços e substituir o sorriso acolhedor por um olhar atento. — Ele de facto é muito gostoso e cheira muito bem e parece educado e mais essas coisas que tu disseste, contudo, ele não se encaixa no perfil dos cavalheiros que eu desenho — ela faz cara de desentendida e tira outra taça de champagne da bandeja que passa por nós na mão do garçon. — Os cavalheiros que desenho são realmente as perfeições e ele tem defeitos, os meus cavalheiros não têm defeitos e isso os torna ainda mais perfeitos. Eles são tudo o que as mulheres quere
Como é que ele pode querer passar o resto da vida comigo, ter filhos e um monte de baboseiras e ao mesmo tempo não me tocar? Como assim? Parece até que sou um fantasma aqui, existo mas para conversar sobre coisas super repetitivas como o que foi que eu comi, se comi bem, se passei bem o dia e acabou, cada um no seu canto, ele com o focinho naquele computador, aparentemente mais atraente que eu ou no tablet, e claro, eu com a companhia do kindle que a minha irmã mais velha fez questão de lembrar que uso as vezes. Dois dias aqui. Dois longos dias, sem contar o dia que chegamos porque tivemos uma conversa longa sobre o que gostamos e o que detestamos e quem somos de verdade, mas depois desse dia mais nada. Tudo sumiu, as conversas boas sumiram como se nunca tivessem existido. Como é que isso é possível? A lua de mel não deveria ser a melhor parte de um casamento? — Onde raios aquele ser está? Ninguém, para além de mim, permanece neste apartamento enorme por muito tempo, nem mesmo a pe
Yohan Wreckel Como posso fazer as coisas funcionarem entre nós dois? Ela parece distante, difícil de alcançar. Nenhum de nós casar, mas creio que podemos fazer um esforço para funcionar. Como? — Ah, ela é tão impossível, mas tão linda e espontânea. Como raios posso fazer isso funcionar? De repente, a sala fica quente e passar as mãos pelo meu pescoço ó aumenta o calor e saber que estou há três dias sem conversar devidamente com a minha própria esposa piora as coisas. Ainda mais agora que ela está a todo o momento com aquele livro nas mãos, em todo o lado, quarto, cama, banheiro, chão, sofá, até mesmo por cima dos chinelos que deveriam estar nos pés dela. Ele consegue ser estranha e ao mesmo tempo interessante. A porta abre devagar e a cabeça de sempre aparece para dar mais um dos tantos avisos, sejam reuniões ou até mesmo chamadas. — Uma chamada, senhor — permaneço calada enquanto senhorita Martin mantém os braços a frente do corpo e agarra as mãos segurando o nervosismo. — A sen
Alana Onwell Tudo bem que reclamei por não ter atenção suficiente na lua de mel e que ele precisa, no mínimo, ficar em casa e suportar a cara da mulher, que nas palavras dele, vai gerar os filhos dele, mas não há necessidade nenhuma de deixar as minhas pernas bambas sem nem tocar em mim. — O que é que estás a fazer?Não é usual ele estar em casa a uma hora dessas em plena quinta-feira e ainda mais sem camisa com tudo de fora e perfeitamente definido.Quais são os defeitos desse ser para além de ser um grande sem noção? — A cozinhar — ele responde com a maior calma e lança um daqueles sorrisos maravilhosos que não parou de lançar para mim durante toda a festa do casamento. — Dormiste bem? — Tu sabes cozinhar? E que horas são para estares a cozinhar? Permaneço apoiada no balcão observando os movimentos das suas mãos. O sorriso desaparece aos poucos e dá lugar à uma feição de dúvida. Ele consegue ser ainda mais lindo, como? — Claro que sei cozinhar, morei sozinho por muito tempo, um