Casamentos deveriam trazer felicidade para todo mundo. A união de duas pessoas que escolheram amar-se para a vida toda deveria ser uma coisa perfeita. A cerimônia entre as cerimônias, em que duas famílias se unem na maior alegria e duas pessoas se unem com o propósito de construir a própria família, com a promessa de que cuidarão sempre um do outro, em que os nossos irmãos estão tão felizes quanto nós estamos. Só que não é exatamente assim.
— Se alguma coisa acontecer contigo, por favor, liga para mim, estarei sempre disponível para correr e te tirar dos braços de um idiota que não sabe tratar a minha princesa.
Ver as lágrimas descerem pelo rosto de Karina pelo reflexo do espelho, fez fisgadas dominarem todo o meu corpo, como se fosse mais difícil ver ela mal que me casar com um completo estranho. Viro para olhar diretamente para elas.
— Não te preocupes, estou bem treinada e qualquer coisa é só vocês me encontrarem em uma delegacia que estarei lá disposta a cumprir uma pena — nós três rimos em meio as lágrimas da minha irmã mais velha.
— Isso nem é brincadeira, Alana — Karina ralha comigo enxugando as lágrimas com o guardanapo e o máximo de cuidado possível.
— Não gosto nada de ver que vais passar pela mesma coisa, que eles obrigarão mais uma filha a casar com um estranho somente pelos negócios — Sarah atira o seu corpo todo arrumadinho no sofá castanho e cobre a cara com as mãos. — Bom, pelo menos sabemos o que é mesmo importante na vida deles e definitivamente não somos nós.
A tristeza volta a dominar a sala e vejo Karina de punhos fechados como se fosse dar um soco em alguém e Sarah continua com a cara coberta pelas mãos, mas sei bem que ela não se atreveria a chorar porque isso significa borrar uma maquiagem que levou tempo para escolher.
— Olha só para ti, com esse vestido lindo e que combina perfeitamente com a tua pele e esses cachos maravilhosos que enchem a tua cabeça — Karina chega perto e me vira para o espelho, toca na minha cintura e pousa a cabeça no meu braço. — Terei imensas saudades de ir para a tua casa te chatear por nada mesmo, te obrigar a cozinhar para mim ou até mesmo deixar a Nica e Nelda para tomares conta.
Ela tinha toda a razão, de facto estou maravilhosa no vestido cor de pêssego e corte princesa que combina perfeitamente comigo. Realça não só as curvas no meu corpo como esconde imperfeições debaixo dele e me deixa brilhante, a minha pele morena brilha em contraste com o vestido e o cabelo cacheado parcialmente preso deixa um charminho maravilhoso. A cabeleireira definitivamente trabalhou arduamente nisso.
— Podes continuar a fazer tudo isso, não precisas parar — seguro o rosto de Karina com as duas máos antes de continuar. —, não precisas desistir de deixar as meninas comigo, vou continuar com o meu trabalho em casa, vai tudo correr bem e vou continuar a ter tempo para cuidar delas e incentivar aquelas duas a seguirem os meus passos na arte e podes sempre ir para a minha casa que cozinharei o que tu quiseres.
Ver o sorriso de ponta a ponta no rosto dela foi o melhor para mim, senti um calor e coragem passar por mim com tudo e apenas sorri como se aquele casamento não fosse um problema.
— Tudo isso são palavras vazias, quando estiveres na tua casa tudo isso mudará e nem mesmo poderás receber visitas. Casamentos, principalmente os arranjados são coisas difíceis de verdade e não será o teu uma excessão, ninguém é tão especial assim.
Sarah ri antes de levantar e dar as costas para e quando estava prestes a sair Karina diz a verdade que nem ela aceita.
— Sarah, ela não vai casar com teu marido e temos uma esperança crepitante de que o esposo dela jamais será tão escroto quanto o teu tão amado Walter.
Vejo a minha irmã respirar muito rápido como se estivesse furiosa sendo que ouviu somente a verdade.
— Vocês não sabem de nada — gritou antes de sair e fechar a porta com muita força.
— Não liga para ela, não mesmo, ela só deu a má sorte de calhar com um escroto como aquele ser e estar presa — minha irmã mais velha ajeita o meu vestido antes de voltar a sorrir para mim. — Dá sempre o teu melhor, não deixa ele comandar a tua vida e sê tu. Agora chegou o momento.
Meu pai para frente a porta aberta com as mãos rentes ao corpo, o terno preto feito sobre medida com o lencinho pêssego no canto esquerdo o deixa muito mais formal. No rosto, nenhum sorriso nem mesmo uma lágrima, ao invés disso, sustenta um olhar pretensioso e estende a mão para mim devagar, mesmo sabendo que estou distante dele.
— Alana, chegou o momento.
Karina sai antes sem nem o despedir ou sequer cumprimentar. Caminho devagar segurando as bordas do vestido para não arrastarem pelo caminho. Está tudo bem que eu não quero esse casamento, mas não preciso arruinar um vestido maravilhoso. Olho para o meu pai e sem agarrar a sua mão peço licença com os olhos e saio mantendo o passo lento. Fui literalmente entregue em um bandeja então ele que nem espere amor e flores.
Os vidros da claraboia brilhavam em contato com os raios de sol que entravam por todos os lugares e faziam com que toda a atenção fosse para um único lugar e talvez um dos mais lindos aí, o altar, mas ainda assim, as pessoas viram todas, uma por uma, quando as portas duplas abrem e começo a caminhar. Vejo algumas tias que com certeza limpam lágrimas falsas e estão aqui somente para aproveitar o bom momento e encontrar um assunto para fofocarem depois quando todo o grupo estiver reunido nas tardes de chá em que a minha mãe vai todos os sábados.
Ouço algumas exclamações de pura satisfação e até mesmo uma voz quase infantil que diz o quão sortudo é o noivo. Claro que estou imensamente feliz por ter esse estatuto, entretanto, não faz com que as coisas sejam menos graves e simplesmente me impeço de mostrar sorrisos falsos.
Meu coração acelera por curtos segundos quando coloco os olhos no homem posicionado frente ao altar com um terno marrom que enquadra perfeitamente no corpo, sem marcar nada e muito menos ser muito largo, simplesmente o encaixe perfeito. O cabelo preto ondulado curto brilha a distância e, honestamente, não sei dizer se são os raios ou se o cabelo dele brilha mesmo desse jeito a todo o momento. Os olhos arregalados destacam os castanhos claros e ele ser alto deixa as coisas difíceis para uma noiva que escolheu não usar saltos.
Meu pai sai do lado no exato momento em que sou deixada ao lado daquele homem que cheira tão bem que parece ter tomado um banho em uma perfumaria. Se ele cheirar desse jeitinho ácido, amadeirado e ao mesmo tempo doce, como se todos os cheiros maravilhosos tivessem sido misturados para somente uma pessoa usar, por mim está tudo bem, aceito passar o resto da vida com ele.
As mãos grandes quase cobrem a minha mão completamente no momento de colocar as alianças e ele não para de olhar mim. O olhar dele é tão penetrante que temo que ele saiba o quão maravilhoso, cheiroso e bem parecido acho que ele é somente pelo olhar.
O salão de festas é ainda maior que a sala em que aconteceu o casamento e com certeza ainda mais linda. Flores decoravam todos os lugares e as mesas estavam distribuídas de um jeito que dava para ter um círculo grande o suficiente para muitas pessoas dançarem juntas. Porém, o momento seria de duas pessoas somente.
Ele me puxa para mais perto usando a mão pousada na minha cintura. As mãos dele com certeza não só grandes, mas também são firmes o suficiente para me manter colada a ele em toda a dança. Giramos pelo salão no meio da dança até ela a música terminar e antes que os nossos pais venham ter conosco, ele sussurra no meu ouvido, causando um arrepio intenso no meu corpo todo, antes de sair de perto:
— Se fores tão maravilhosa todos os dias não sei se o saberei lidar.
— Olha só, ele não é esse ogro que eu estava pensar que ele seria, mas não vamos aqui colocar esperanças ainda porque pensei a mesma coisa de um certo ser e olha — Karina chega perto com duas taças de champagne e o sorriso acolhedor que ela sabe dar. — Ele não é gostoso? Olha só para ele e é mais alto que tu, cheira bem, parece educado e simpático, um daqueles cavalheiros que desenhas. — Karina… — O quê? Menti? — Toma o champagne em um gole antes de cruzar os braços e substituir o sorriso acolhedor por um olhar atento. — Ele de facto é muito gostoso e cheira muito bem e parece educado e mais essas coisas que tu disseste, contudo, ele não se encaixa no perfil dos cavalheiros que eu desenho — ela faz cara de desentendida e tira outra taça de champagne da bandeja que passa por nós na mão do garçon. — Os cavalheiros que desenho são realmente as perfeições e ele tem defeitos, os meus cavalheiros não têm defeitos e isso os torna ainda mais perfeitos. Eles são tudo o que as mulheres quere
Como é que ele pode querer passar o resto da vida comigo, ter filhos e um monte de baboseiras e ao mesmo tempo não me tocar? Como assim? Parece até que sou um fantasma aqui, existo mas para conversar sobre coisas super repetitivas como o que foi que eu comi, se comi bem, se passei bem o dia e acabou, cada um no seu canto, ele com o focinho naquele computador, aparentemente mais atraente que eu ou no tablet, e claro, eu com a companhia do kindle que a minha irmã mais velha fez questão de lembrar que uso as vezes. Dois dias aqui. Dois longos dias, sem contar o dia que chegamos porque tivemos uma conversa longa sobre o que gostamos e o que detestamos e quem somos de verdade, mas depois desse dia mais nada. Tudo sumiu, as conversas boas sumiram como se nunca tivessem existido. Como é que isso é possível? A lua de mel não deveria ser a melhor parte de um casamento? — Onde raios aquele ser está? Ninguém, para além de mim, permanece neste apartamento enorme por muito tempo, nem mesmo a pe
Yohan Wreckel Como posso fazer as coisas funcionarem entre nós dois? Ela parece distante, difícil de alcançar. Nenhum de nós casar, mas creio que podemos fazer um esforço para funcionar. Como? — Ah, ela é tão impossível, mas tão linda e espontânea. Como raios posso fazer isso funcionar? De repente, a sala fica quente e passar as mãos pelo meu pescoço ó aumenta o calor e saber que estou há três dias sem conversar devidamente com a minha própria esposa piora as coisas. Ainda mais agora que ela está a todo o momento com aquele livro nas mãos, em todo o lado, quarto, cama, banheiro, chão, sofá, até mesmo por cima dos chinelos que deveriam estar nos pés dela. Ele consegue ser estranha e ao mesmo tempo interessante. A porta abre devagar e a cabeça de sempre aparece para dar mais um dos tantos avisos, sejam reuniões ou até mesmo chamadas. — Uma chamada, senhor — permaneço calada enquanto senhorita Martin mantém os braços a frente do corpo e agarra as mãos segurando o nervosismo. — A sen
Alana Onwell Tudo bem que reclamei por não ter atenção suficiente na lua de mel e que ele precisa, no mínimo, ficar em casa e suportar a cara da mulher, que nas palavras dele, vai gerar os filhos dele, mas não há necessidade nenhuma de deixar as minhas pernas bambas sem nem tocar em mim. — O que é que estás a fazer?Não é usual ele estar em casa a uma hora dessas em plena quinta-feira e ainda mais sem camisa com tudo de fora e perfeitamente definido.Quais são os defeitos desse ser para além de ser um grande sem noção? — A cozinhar — ele responde com a maior calma e lança um daqueles sorrisos maravilhosos que não parou de lançar para mim durante toda a festa do casamento. — Dormiste bem? — Tu sabes cozinhar? E que horas são para estares a cozinhar? Permaneço apoiada no balcão observando os movimentos das suas mãos. O sorriso desaparece aos poucos e dá lugar à uma feição de dúvida. Ele consegue ser ainda mais lindo, como? — Claro que sei cozinhar, morei sozinho por muito tempo, um
— Vamos para o ginásio — Yohan levanta do sofá em que passamos mais de uma hora abraçados assistindo Single´s Inferno, deixando um espaço vazio atrás de mim. Estava tão confortável.— Vais para o ginásio? Pensei que não me deixarias sozinha — desligo o computador e fecho antes de levantar e olhar bem nos olhos dele. Ele não seria capaz de quebrar a promessa que ele acabou de fazer. — Não acredito que era uma promessa de algumas horas somente. — Alana, ouve o que eu disse e vou repetir para ouvires bem, ok? Vamos para o ginásio — ele olha para mim com as mãos na cintura e cara evidente de espanto. — O vamos é para eu e tu, não somente eu porque vamos, na nossa língua, implica a existência de duas ou mais pessoas. Por que estou a ser chamada para ir para o ginásio? Por acaso pedi para isso acontecer? O clima de ginásio me afasta de todas as maneiras possíveis, parece que nem é possível respirar de tanto sufoco por estar no meio de pessoas tão suadas enquanto podia estar na minha casa,
Sinto um peso muito grande na minha cabeça quando detesto uma mulher somente de olhar para ela. É como se estivesse a trair a mim mesma, afinal de contas, mulheres deveriam se apoiar mutuamente ao invés de denegrir a imagem da outra, mesmo que seja apenas na nossa cabeça. No meio do caminho, Yohan foi parado por um casal, que ao que parece não são um casal casal, e estou aqui até agora sem entender porque raios a loirinha tenta, a todo custo, tocar em Yohan, mesmo que ele a tenha afastado várias vezes, nem mesmo um abraço ele deu a ela. Seria péssimo se eu a chamasse a razão e deixasse bem claro que esse homem é minha propriedade? Parece até que estou a me referir a um objeto e não a uma pessoa, mas ao menos ela náo insistiria tanto em tocar nele e sairia da minha frente. — Deviamos é reunir todo mundo da universidade e fazer um jantar, seria bom nos reencontrarmos para conversarmos sobre como vai — o homem engravatado, ao lado da mulher linda e irritante, fala sorrindo de orelha a
Todos os anos que tenho dão a experiência suficiente de saber que a senhora e o senhor Onwell fizeram uma porcaria das grandes. Nunca temos reuniões de família, são raríssimas as vezes em que comemos todos juntos e ainda mais raríssimas as vezes em que eles estão realmente interessados no que temos feito da nossa vida. E vendo a cara das minhas irmãs sei bem que não sou a única a pensar que aquilo é uma grande armadilha. Eles fizeram alguma coisa. — Agora falando sério, vocês já cansaram de tentar nos enrolar e irão, finalmente, falar o que se passa? Karina, a mais velhas das três filhas maravilhosas feitas pelos Onwell, pousa o garfo no prato perto da faca e cruza os braços lançando o olhar intimidador que ela sabe fazer muito bem. Uma característica muito forte nela é justamente essa, a capacidade de intimidar. — Karina, que é isso? Nós apenas queremos saber como vocês estão, afinal de contas nunca nos vemos — minha mãe limpa o canto da boca com o guardanapo exalando a elegância
— Yohan, já és adulto o suficiente para ter consciência da responsabilidade que estará nas tuas mãos e tenho cem porcento de certeza que não confiarias em alguém que não é casado para fazer negócios. Falar com pessoas costuma ser exaustivo de mais para ter que suportar uma única pessoa a dizer a mesma coisa há mais de duas semanas. Ser adulto não implica, com toda a certeza, ter que abdicar das minhas escolhas e das coisas que tomo com seriedade somente para cumprir caprichos disfarçados de tradições. — Pelo contrário, se a pessoa demonstra ser alguém de confiança, por que deixaria de fechar negócio somente por não ser casada? — Sabes muito bem o porquê, é tradição…— É tradição — dizemos simultaneamente e ele fecha a cara mais uma vez. — Mas que tradição é essa que obriga pessoas a casar? Que tradição é essa que não coloca a conduta da pessoa na primeira linha de observaçãpo para gerir a família? Que tipo de tradição é essa que não pode esperar que eu encontre a mulher com quem de