— Yohan, já és adulto o suficiente para ter consciência da responsabilidade que estará nas tuas mãos e tenho cem porcento de certeza que não confiarias em alguém que não é casado para fazer negócios.
Falar com pessoas costuma ser exaustivo de mais para ter que suportar uma única pessoa a dizer a mesma coisa há mais de duas semanas. Ser adulto não implica, com toda a certeza, ter que abdicar das minhas escolhas e das coisas que tomo com seriedade somente para cumprir caprichos disfarçados de tradições.
— Pelo contrário, se a pessoa demonstra ser alguém de confiança, por que deixaria de fechar negócio somente por não ser casada?
— Sabes muito bem o porquê, é tradição…
— É tradição — dizemos simultaneamente e ele fecha a cara mais uma vez. — Mas que tradição é essa que obriga pessoas a casar? Que tradição é essa que não coloca a conduta da pessoa na primeira linha de observaçãpo para gerir a família? Que tipo de tradição é essa que não pode esperar que eu encontre a mulher com quem desejo partilhar a minha vida de verdade?
— Para de ser teimoso por um segundo, Yohan, sabes muito bem que tradições são incontestáveis — ele levanta e b**e na mesa claramente chateado. — Todos os chefes da família Wreckel estavam casados antes de assumir o posto, por que contigo deveria ser diferente?
— Escolheste casar com a minha mãe ou simplesmente foste obrigado a casar pelo teu pai? — Veremos que resposta programada ele escolhe.
Senhor Victor Wreckler ajeita a gravata antes de voltar a sentar e respirar fundo. Sinal evidente de que as coisas estão a seguir pelo caminho que eu quero.
— O meu casamento com a tua mãe não vem em questão nesse momento.
— E o que vem em questão agora?
— O quão velho estás para assumir o cargo sem estares casado — ajeita a postura na cadeira almofadada do escritório completamente decorado pela minha mãe. — Os vinte e cinco anos que carregas nas costas são o suficiente para seres um homem de família, confiável, capaz de tomar conta de pessoas reais e dos seus problemas.
— Posso fazer tudo isso sem estar casado…
— O respeito nunca será o mesmo — as mãos pesadas batem ao mesmo tempo contra a mesa de madeira e pedacinhos de vidro saídos do relógio que ele sempre carregava no pulso direito. — De um jeito ou de outro as coisas já estão feitas, o acordo foi aceite e vocês casam daqui há duas semanas, espero que estejas pronto até lá.
—Se tinhas ideias tão sólidas por que me chamar aqui para conversar sobre algo em que nem sequer tenho o direito de refutar? Podia pelo menos ter o direito de decidir qual será o próximo passo.
Levanto devagar e justo no momento que estou prestes a sair da sala, ele diz o meu nome em um tom baixo, mas, de certeza, suficiente para parar e ouvir.
— Não pudeste escolher a mulher que vai passar o resto da vida ao teu lado, porém, podes torná-la a mulher da tua vida e te tornares o homem da vida dela.
— As coisas não funcionam assim.
— Somente quando não tentamos de verdade — ele diz e fecha os olhos enquanto indica a porta com o dedo indicador.
Caminho devagar até a aréa da piscina, preciso mesmo de água para pensar claramente mesmo que não esteja dentro dela. A água quase cristalina balança de um lado para o outro seguindo os movimentos do nadador chave dessa família, Michael Wreckel, aquele que é o segundo herdeiro da família e que aproveita a vida no auge dos seus quinze anos.
— Desse jeito ainda te afogas, ninguém aqui vai te salvar.
Mantenho os braços cruzados depois de colocar os óculos escuros. O cabelo ondulado aparece na borda da piscina e é sacudido como se fosse o pelo de um cachorrinho, aparecem os olhos castanhos que brilham com o sol ardente de um dia quase quente.
— Se afogar, me deixa aqui mesmo senão nem saberei com que cara aparecer nas olimpiadas de natação da escola.
— Foste selecionado? — ele apenas assente e dá um sorriso de orelha a orelha, o sorriso que acalma os dias ruins. Aproximo e dou um high-five nele, sei muito bem o quanto treinou para ao menos ser selecionado. — Parabéns, cabeçudo.
— Vamos deixar as parabenizações para depois, pode ser? — Minha mãe aparece com o mais um dos seus vestidos extremamente floridos e o lenço a condizer amarrado no seu pescoço. Um adorno extra. — Yohan, podemos conversar?
— Já estou de saída na verdade, preciso resolver alguns assuntos antes de voltar para cas…
— Alguns minutinhos — sou puxado pelo braço até a cozinha.
As conversas com ela nunca leva somente “alguns minutinhos”, são sempre muitos minutinhos que são convertidos em horas e de repente tenho que passar a noite aqui por ser muito tarde para sair.
— Sobre o casamento?
Pergunto cortando uma fatia do bolo de chocolate que está na mesa. A comida dela é a melhor, os bolos dela são os mais saborosos, tudo que ela faz é maravilhoso.
— Exatamente — reviro os olhos por voltar para esse assunto sendo que pensei ter terminado quando fechei a porta do escritório do meu pai uma vez que está tudo decidido mesmo. — Não quero que leves as intenções do teu pai para um lado negativo, ele simplesmente quer garantir que és igualmente respeitado, como todo e qualquer chefe dos Wreckel…
— Para isso não posso simplesmente escolher a mulher que vai ficar comigo?
— Nós dois sabemos muito bem que nunca escolherias ninguém, preferes passar os dias sozinho e seria um grande problema — ela corta um pedaço do meu pedaço e come com a maior calma possível. — A única coisa que peço é para ao menos tentar e se for uma péssima experiência eu te paoio na separação, faço um motim frente ao escritório do Victor, mas de certeza que ele não pode te obrigar a ficar com alguém que te desvaloriza, no entanto, peço que tentes, faz dela tua mulher.
— É assim tão fácil?
— Não deve ser difícil — ela sorri e ajeita o cabelo de uma maneira muito presunçosa. — Mulheres sáo fáceis de compreender, é só prestar atenção nela e nas coisas que ela faz e diz, ela deve ser o teu ponto foco e mesmo que não sintas nada no início talvez com tempo coisas boas cheguem.
— Assim como coisas más também podem chegar e eu acabar destruído por uma mulher que está sequer disposta a tentar alguma coisa comigo e quer somente cumprir com o acordo feito pelos nossos pais, algo que acho ser uma grande burrice.
— Ops, cuidado com a boca quando falas do meu esposo, menino — ela levanta o indicador e tranca a cara.
— Desculpa.
Com as mãos levantadas vou recuando e saindo devagar da cozinha antes que a conversa se prolongue e perca o tempo de resolver as coisas da minha vida antes de ter que partilhar tudo com uma pessoa completamente desconhecida.
— Para onde vais?
— Vou embora — corro antes mesmo de dar espaço para ela me convencer a ficar. — Beijos, dona Isabela.
— Beijos, meu coração.
— Precisas de uma aula séria de nomes fofos para os teus filhos, esse já perdeu a graça.
Entro no carro o mais rápido possível e vejo a carranaca pelo retrovisor, faço um sinal de adeus para ela e ligo o rádio deixando na música que aparece, uma música da playlist extremamente romântica do Webber, estou seriamente inclinado a mandar esse retardado ir para os lugares a pé.
Agora que penso, talvez se tivesse encontrado uma mulher para mim não teria que passar por isso e muito menos fazer outra pessoa passar pelo mesmo, mas de uma maneira ou outra, casado, não serei obrigado a ter que aturar o ruivo todo o dia a descomandar a minha playlist. Seria um ponto benéfico.
Não prometo para ti, pessoa que definitivamente não conheço, prometo para mim mesmo tentar fazer as coisas funcionarem entre nós dois, tentar ao menos dar certo. Já estamos no mesmo balde de um jeito ou de outro. Procuro pelo telefone e disco o número muito bem conhecido da pessoa mais irritante e que preenche as minhas manhãs com o seu ser:
— Webber, preciso de ajuda, preciso de alguém que remodele o meu apartamento e talvez até esteja disposto a comprar mobílias novas.
— Achas mesmo que ficar a olhar para o teto vai resolver alguma coisa? Levanta daí, sua mandada, vamos fazer algo feliz, sei lá, tomar um sorvete, pegar alguém antes da porcaria toda acontecer. Que seria de mim sem essa menina? O entusiasmo da Lisha me deixa sempre com uma mão atrás, como é que irei tomar sorvete sendo que preciso organizar as minhas coisas hoje para sair desse apartamento amanhã e ir para casa dos meus pais esperar pelo bendito casamento? — Preciso arrumar as minhas coisas — levanto da cama e abro as portas do armário antes de a expulsar da minha cama. — Tu podes ir, manda fotografias. O casamento está marcado para o fim de semana, logo no sábado em que teria a saída com as meninas e tive que cancelar por “motivos de saúde” deixando somente a menina do cabelo vermelho a par de tudo, senão teria a minha vida acabada. — Não deixa a falta de juízo te dominar, anda, vamos, depois venho e te ajudo a arrumar essas malas, uma vez que nem no teu casamento estarei — os ol
Casamentos deveriam trazer felicidade para todo mundo. A união de duas pessoas que escolheram amar-se para a vida toda deveria ser uma coisa perfeita. A cerimônia entre as cerimônias, em que duas famílias se unem na maior alegria e duas pessoas se unem com o propósito de construir a própria família, com a promessa de que cuidarão sempre um do outro, em que os nossos irmãos estão tão felizes quanto nós estamos. Só que não é exatamente assim. — Se alguma coisa acontecer contigo, por favor, liga para mim, estarei sempre disponível para correr e te tirar dos braços de um idiota que não sabe tratar a minha princesa. Ver as lágrimas descerem pelo rosto de Karina pelo reflexo do espelho, fez fisgadas dominarem todo o meu corpo, como se fosse mais difícil ver ela mal que me casar com um completo estranho. Viro para olhar diretamente para elas. — Não te preocupes, estou bem treinada e qualquer coisa é só vocês me encontrarem em uma delegacia que estarei lá disposta a cumprir uma pena — nós
— Olha só, ele não é esse ogro que eu estava pensar que ele seria, mas não vamos aqui colocar esperanças ainda porque pensei a mesma coisa de um certo ser e olha — Karina chega perto com duas taças de champagne e o sorriso acolhedor que ela sabe dar. — Ele não é gostoso? Olha só para ele e é mais alto que tu, cheira bem, parece educado e simpático, um daqueles cavalheiros que desenhas. — Karina… — O quê? Menti? — Toma o champagne em um gole antes de cruzar os braços e substituir o sorriso acolhedor por um olhar atento. — Ele de facto é muito gostoso e cheira muito bem e parece educado e mais essas coisas que tu disseste, contudo, ele não se encaixa no perfil dos cavalheiros que eu desenho — ela faz cara de desentendida e tira outra taça de champagne da bandeja que passa por nós na mão do garçon. — Os cavalheiros que desenho são realmente as perfeições e ele tem defeitos, os meus cavalheiros não têm defeitos e isso os torna ainda mais perfeitos. Eles são tudo o que as mulheres quere
Como é que ele pode querer passar o resto da vida comigo, ter filhos e um monte de baboseiras e ao mesmo tempo não me tocar? Como assim? Parece até que sou um fantasma aqui, existo mas para conversar sobre coisas super repetitivas como o que foi que eu comi, se comi bem, se passei bem o dia e acabou, cada um no seu canto, ele com o focinho naquele computador, aparentemente mais atraente que eu ou no tablet, e claro, eu com a companhia do kindle que a minha irmã mais velha fez questão de lembrar que uso as vezes. Dois dias aqui. Dois longos dias, sem contar o dia que chegamos porque tivemos uma conversa longa sobre o que gostamos e o que detestamos e quem somos de verdade, mas depois desse dia mais nada. Tudo sumiu, as conversas boas sumiram como se nunca tivessem existido. Como é que isso é possível? A lua de mel não deveria ser a melhor parte de um casamento? — Onde raios aquele ser está? Ninguém, para além de mim, permanece neste apartamento enorme por muito tempo, nem mesmo a pe
Yohan Wreckel Como posso fazer as coisas funcionarem entre nós dois? Ela parece distante, difícil de alcançar. Nenhum de nós casar, mas creio que podemos fazer um esforço para funcionar. Como? — Ah, ela é tão impossível, mas tão linda e espontânea. Como raios posso fazer isso funcionar? De repente, a sala fica quente e passar as mãos pelo meu pescoço ó aumenta o calor e saber que estou há três dias sem conversar devidamente com a minha própria esposa piora as coisas. Ainda mais agora que ela está a todo o momento com aquele livro nas mãos, em todo o lado, quarto, cama, banheiro, chão, sofá, até mesmo por cima dos chinelos que deveriam estar nos pés dela. Ele consegue ser estranha e ao mesmo tempo interessante. A porta abre devagar e a cabeça de sempre aparece para dar mais um dos tantos avisos, sejam reuniões ou até mesmo chamadas. — Uma chamada, senhor — permaneço calada enquanto senhorita Martin mantém os braços a frente do corpo e agarra as mãos segurando o nervosismo. — A sen
Alana Onwell Tudo bem que reclamei por não ter atenção suficiente na lua de mel e que ele precisa, no mínimo, ficar em casa e suportar a cara da mulher, que nas palavras dele, vai gerar os filhos dele, mas não há necessidade nenhuma de deixar as minhas pernas bambas sem nem tocar em mim. — O que é que estás a fazer?Não é usual ele estar em casa a uma hora dessas em plena quinta-feira e ainda mais sem camisa com tudo de fora e perfeitamente definido.Quais são os defeitos desse ser para além de ser um grande sem noção? — A cozinhar — ele responde com a maior calma e lança um daqueles sorrisos maravilhosos que não parou de lançar para mim durante toda a festa do casamento. — Dormiste bem? — Tu sabes cozinhar? E que horas são para estares a cozinhar? Permaneço apoiada no balcão observando os movimentos das suas mãos. O sorriso desaparece aos poucos e dá lugar à uma feição de dúvida. Ele consegue ser ainda mais lindo, como? — Claro que sei cozinhar, morei sozinho por muito tempo, um
— Vamos para o ginásio — Yohan levanta do sofá em que passamos mais de uma hora abraçados assistindo Single´s Inferno, deixando um espaço vazio atrás de mim. Estava tão confortável.— Vais para o ginásio? Pensei que não me deixarias sozinha — desligo o computador e fecho antes de levantar e olhar bem nos olhos dele. Ele não seria capaz de quebrar a promessa que ele acabou de fazer. — Não acredito que era uma promessa de algumas horas somente. — Alana, ouve o que eu disse e vou repetir para ouvires bem, ok? Vamos para o ginásio — ele olha para mim com as mãos na cintura e cara evidente de espanto. — O vamos é para eu e tu, não somente eu porque vamos, na nossa língua, implica a existência de duas ou mais pessoas. Por que estou a ser chamada para ir para o ginásio? Por acaso pedi para isso acontecer? O clima de ginásio me afasta de todas as maneiras possíveis, parece que nem é possível respirar de tanto sufoco por estar no meio de pessoas tão suadas enquanto podia estar na minha casa,
Sinto um peso muito grande na minha cabeça quando detesto uma mulher somente de olhar para ela. É como se estivesse a trair a mim mesma, afinal de contas, mulheres deveriam se apoiar mutuamente ao invés de denegrir a imagem da outra, mesmo que seja apenas na nossa cabeça. No meio do caminho, Yohan foi parado por um casal, que ao que parece não são um casal casal, e estou aqui até agora sem entender porque raios a loirinha tenta, a todo custo, tocar em Yohan, mesmo que ele a tenha afastado várias vezes, nem mesmo um abraço ele deu a ela. Seria péssimo se eu a chamasse a razão e deixasse bem claro que esse homem é minha propriedade? Parece até que estou a me referir a um objeto e não a uma pessoa, mas ao menos ela náo insistiria tanto em tocar nele e sairia da minha frente. — Deviamos é reunir todo mundo da universidade e fazer um jantar, seria bom nos reencontrarmos para conversarmos sobre como vai — o homem engravatado, ao lado da mulher linda e irritante, fala sorrindo de orelha a