II

Yohan, já és adulto o suficiente para ter consciência da responsabilidade que estará nas tuas mãos e tenho cem porcento de certeza que não confiarias em alguém que não é casado para fazer negócios. 

Falar com pessoas costuma ser exaustivo de mais para ter que suportar uma única pessoa a dizer a mesma coisa há mais de duas semanas. Ser adulto não implica, com toda a certeza, ter que abdicar das minhas escolhas e das coisas que tomo com seriedade somente para cumprir caprichos disfarçados de tradições. 

— Pelo contrário, se a pessoa demonstra ser alguém de confiança, por que deixaria de fechar negócio somente por não ser casada? 

— Sabes muito bem o porquê, é tradição…

— É tradição — dizemos simultaneamente e ele fecha a cara mais uma vez. — Mas que tradição é essa que obriga pessoas a casar? Que tradição é essa que não coloca a conduta da pessoa na primeira linha de observaçãpo para gerir a família? Que tipo de tradição é essa que não pode esperar que eu encontre a mulher com quem desejo partilhar a minha vida de verdade? 

— Para de ser teimoso por um segundo, Yohan, sabes muito bem que tradições são incontestáveis — ele levanta e b**e na mesa claramente chateado. — Todos os chefes da família Wreckel estavam casados antes de assumir o posto, por que contigo deveria ser diferente?

— Escolheste casar com a minha mãe ou simplesmente foste obrigado a casar pelo teu pai? — Veremos que resposta programada ele escolhe. 

Senhor Victor Wreckler ajeita a gravata antes de voltar a sentar e respirar fundo. Sinal evidente de que as coisas estão a seguir pelo caminho que eu quero. 

—  O meu casamento com a tua mãe não vem em questão nesse momento. 

— E o que vem em questão agora? 

— O quão velho estás para assumir o cargo sem estares casado — ajeita a postura na cadeira almofadada do escritório completamente decorado pela minha mãe. — Os vinte e cinco anos que carregas nas costas são o suficiente para seres um homem de família, confiável, capaz de tomar conta de pessoas reais e dos seus problemas. 

— Posso fazer tudo isso sem estar casado… 

— O respeito nunca será o mesmo — as mãos pesadas batem ao mesmo tempo contra a mesa de madeira e pedacinhos de vidro saídos do relógio que ele sempre carregava no pulso direito. — De um jeito ou de outro as coisas já estão feitas, o acordo foi aceite e vocês casam daqui há duas semanas, espero que estejas pronto até lá. 

—Se tinhas ideias tão sólidas por que me chamar aqui para conversar sobre algo em que nem sequer tenho o direito de refutar? Podia pelo menos ter o direito de decidir qual será o próximo passo. 

Levanto devagar e justo no momento que estou prestes a sair da sala, ele diz o meu nome em um tom baixo, mas, de certeza, suficiente para parar e ouvir.

— Não pudeste escolher a mulher que vai passar o resto da vida ao teu lado, porém, podes torná-la a mulher da tua vida e te tornares o homem da vida dela. 

— As coisas não funcionam assim. 

— Somente quando não tentamos de verdade — ele diz e fecha os olhos enquanto indica a porta com o dedo indicador. 

Caminho devagar até a aréa da piscina, preciso mesmo de água para pensar claramente mesmo que não esteja dentro dela. A água quase cristalina balança de um lado para o outro seguindo os movimentos do nadador chave dessa família, Michael Wreckel, aquele que é o segundo herdeiro da família e que aproveita a vida no auge dos seus quinze anos. 

— Desse jeito ainda te afogas, ninguém aqui vai te salvar.

Mantenho os braços cruzados depois de colocar os óculos escuros. O cabelo ondulado aparece na borda da piscina e é sacudido como se fosse o pelo de um cachorrinho, aparecem os olhos castanhos que brilham com o sol ardente de um dia quase quente.  

— Se afogar, me deixa aqui mesmo senão nem saberei com que cara aparecer nas olimpiadas de natação da escola. 

— Foste selecionado? — ele apenas assente e dá um sorriso de orelha a orelha, o sorriso que acalma os dias ruins. Aproximo e dou um high-five nele, sei muito bem o quanto treinou para ao menos ser selecionado. — Parabéns, cabeçudo. 

 — Vamos deixar as parabenizações para depois, pode ser? — Minha mãe aparece com o mais um dos seus vestidos extremamente floridos e o lenço a condizer amarrado no seu pescoço. Um adorno extra. — Yohan, podemos conversar? 

— Já estou de saída na verdade, preciso resolver alguns assuntos antes de voltar para cas…

— Alguns minutinhos — sou puxado pelo braço até a cozinha. 

As conversas com ela nunca leva somente “alguns minutinhos”, são sempre muitos minutinhos que são convertidos em horas e de repente tenho que passar a noite aqui por ser muito tarde para sair. 

— Sobre o casamento? 

Pergunto cortando uma fatia do bolo de chocolate que está na mesa. A comida dela é a melhor, os bolos dela são os mais saborosos, tudo que ela faz é maravilhoso. 

— Exatamente — reviro os olhos por voltar para esse assunto sendo que pensei ter terminado quando fechei a porta do escritório do meu pai uma vez que está tudo decidido mesmo. — Não quero que leves as intenções do teu pai para um lado negativo, ele simplesmente quer garantir que és igualmente respeitado, como todo e qualquer chefe dos Wreckel…

— Para isso não posso simplesmente escolher a mulher que vai ficar comigo? 

— Nós dois sabemos muito bem que nunca escolherias ninguém, preferes passar os dias sozinho e seria um grande problema — ela corta um pedaço do meu pedaço e come com a maior calma possível. — A única coisa que peço é para ao menos tentar e se for uma péssima experiência eu te paoio na separação, faço um motim frente ao escritório do Victor, mas de certeza que ele não pode te obrigar a ficar com  alguém que te desvaloriza, no entanto, peço que tentes, faz dela tua mulher. 

— É assim tão fácil? 

— Não deve ser difícil — ela sorri e ajeita o cabelo de uma maneira muito presunçosa. — Mulheres sáo fáceis de compreender, é só prestar atenção nela e nas coisas que ela faz e diz, ela deve ser o teu ponto foco e mesmo que não sintas nada no início talvez com tempo coisas boas cheguem.

— Assim como coisas más também podem chegar e eu acabar destruído por uma mulher que está sequer disposta a tentar alguma coisa comigo e quer somente cumprir com  o acordo feito pelos nossos pais, algo que acho ser uma grande burrice. 

— Ops, cuidado com a boca quando falas do meu esposo, menino — ela levanta o indicador e tranca a cara. 

— Desculpa. 

Com as mãos levantadas vou recuando e saindo devagar da cozinha antes que a conversa se prolongue e perca o tempo de resolver as coisas da minha vida antes de ter que partilhar tudo com uma pessoa completamente desconhecida.

— Para onde vais? 

— Vou embora — corro antes mesmo de dar espaço para ela me convencer a ficar. — Beijos, dona Isabela. 

— Beijos, meu coração. 

— Precisas de uma aula séria de nomes fofos para os teus filhos, esse já perdeu a graça.  

Entro no carro o mais rápido possível e vejo a carranaca pelo retrovisor, faço um  sinal de adeus para ela e ligo o rádio deixando na música que aparece, uma música da playlist extremamente romântica do Webber, estou seriamente inclinado a mandar esse retardado ir para os lugares a pé. 

Agora que penso, talvez se tivesse encontrado uma mulher para mim não teria que passar por isso e muito menos fazer outra pessoa passar pelo mesmo, mas de uma maneira ou outra, casado, não serei obrigado a ter que aturar o ruivo todo o dia a descomandar a minha playlist. Seria um ponto benéfico. 

Não prometo para ti, pessoa que definitivamente não conheço, prometo para mim mesmo tentar fazer as coisas funcionarem entre nós dois, tentar ao menos dar certo. Já estamos no mesmo balde de um jeito ou de outro. Procuro pelo telefone  e disco o número muito bem conhecido da pessoa mais irritante e que preenche as minhas manhãs com o seu ser:

— Webber, preciso de ajuda, preciso de alguém que remodele o meu apartamento e talvez até esteja disposto a comprar mobílias novas. 

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