— Achas mesmo que ficar a olhar para o teto vai resolver alguma coisa? Levanta daí, sua mandada, vamos fazer algo feliz, sei lá, tomar um sorvete, pegar alguém antes da porcaria toda acontecer.
Que seria de mim sem essa menina? O entusiasmo da Lisha me deixa sempre com uma mão atrás, como é que irei tomar sorvete sendo que preciso organizar as minhas coisas hoje para sair desse apartamento amanhã e ir para casa dos meus pais esperar pelo bendito casamento?
— Preciso arrumar as minhas coisas — levanto da cama e abro as portas do armário antes de a expulsar da minha cama. — Tu podes ir, manda fotografias.
O casamento está marcado para o fim de semana, logo no sábado em que teria a saída com as meninas e tive que cancelar por “motivos de saúde” deixando somente a menina do cabelo vermelho a par de tudo, senão teria a minha vida acabada.
— Não deixa a falta de juízo te dominar, anda, vamos, depois venho e te ajudo a arrumar essas malas, uma vez que nem no teu casamento estarei — os olhos, antes brilhantes, agora estão cheios de lágrimas como se ela fosse chorar a qualquer momento. — Será que posso aproveitar os últimos momentos com a minha amiga sendo solteira? Posso?
Dizer não para crianças é ainda mais fácil que dizer não para essa cara de cachorro sem dono que Lisha consegue encenar perfeitamente. Parece até uma hipnose.
— Ok, podemos sair, entretanto, temos voltar antes das cinco da manhã.
— Sim, chefe.
Ela diz antes de me puxar para a cama e me abraçar como um urso gigante faria quando estivesse prestes a devorar alguém. O cabelo liso extremamente preto e longo tapa a minha visão enquanto passa repetidas vezes pelos meus braços.
Lisha revira os olhos antes de me jogar na cama perto dela. Muito perto, como sempre. — Por que não posso te ver vestida de noiva? Caminhando devagar até chegar no azarado que vai estar do outro em quem estarei disposta a partir o nariz se tocar em um fio de cabelo teu.
Caio na gargalhada no mesmo momento, mas ela parece muito séria então reprimo o riso.
— Ouve, estar casada não significa que deixarei de te ver ou de ajudar em alguns trabalhinhos ou até, sei lá, viajar contigo para outra cidade — agarro os dois lados da cara dela e digo bem próximo para ela perceber claramente. — Apenas estarei com um compromissinho a mais na minha vida.
— Chama isso de compromissinho — ela levanta e coloca as mãos na cintura. — Casamento é sempre algo sério, nunca apenas um compromissinho.
— Tens razão nisso, tens toda a razão, mas talvez naõ seja capaz de me apaixonar por ele.
— E se ele for um grande gostoso, muito bem educado e que te dá a liberdade de seres tu, o teu príncipe?
— Provavelmente me apaixonaria muito rápido, mas creio que pessoas assim existem somente nos meus sonhos mais fantasiosos — volto a olhar para o teto, a principal companhia desses dias.
— Mas, não significa que não seja possível — anda devagar até ao monte de roupas colocado desorganizadamente no chão e pega um calção preto e um cropped da mesma cor. — Veste isso com as botas pretas, vais arrsar, vamos aqui fingir que é a tua despedida de solteira exclusiva.
Corro para o banheiro e lavo as partes mais importantes, banho agora não é permitido, senão a menina ainda salta no meu pescoço e acaba com a minha amada vida.
Horas depois me vejo frente ao clube cujo o nome conheço bem por ser o único lugar que essa menina comenta com muito entusiasmo, como se fosse o único lugar com festas boas. Na verdade, sei pouco sobre os lugares com festas boas ou até mesmo festas.
— Certeza que vamos ficar por aqui?
— Alana, eu vou encontrar alguém para ficar contigo esta noite, não quero saber se casas no fim-de-semana, tudo o que quero saber é de achar um ficante para hoje, nada mais que um lugar caro e, provavelmente, cheio de gostosos, para arriscar.
Mais uma vez, ela coloca as mãos na cintura antes de lançar o cabelo para trás ao ponto de tocar na minha cara. Jura que senti como se fosse um cubo de gelo a passar muito rápido pela minha bochecha.
— Bora, despedida de solteira — ela soltou um berro e quase saltitou.
No exterior, nenhum barulho podia ser ouvido, apenas breves luzes negras que servem somente para cegar as pessoas, entretanto, no interior, a conversa é completamente diferente. O barulho extremamente alto me dá a vontade de tapar os ouvidos e sõ soltar quando voltasse a sair mas ter a minha mão direita presa a menina baixinha, dificulta as coisas.
Subimos as escadas devagar para evitar qualquer queda uma vez que elas estão cobertas de bebida. Nessa área a música é alta, mas não estridente como na parte de baixo, há mesma aglomeração de pessoas, só que algumas simplesmente não dançam enquanto que o resto se esfrega nas outras pessoas.
— Bora dançar, a inspiração está prestes a tomar conta do meu corpo — apenas rio e a acompanho sem nem comentar. Ela me puxa para o meio da multidão e começamos a seguir o ritmo de Cake by the Ocean.
Depois de muitas músicas e muita dança, sinto os meus pés a implorarem por um lugar para sentar ou se calhar dormir. Festas desse tipo, definitivamente não são para mim. Prefiro passar o dia frente a uma tela branca ou até mesmo com o meu tablet simplesmente a pintar alguma coisa aleatória ou transformar famosos em ilustrações.
— É legal mulheres tão bonitas virem para uma festa para somente observar as outras pessoas a dançarem?
A gravata azul foi definitivamente a primeira coisa que reparei no homem loiro. Completava um look formal de mais para um bar como aquele, em que as pessoas transpiram como loucas e entornam bebidas umas nas outras sem mesmo perceber. Os sapatos brancos, no momento sujos não combinam em nada com o terno azul escuro, mas não é uma combinação péssima.
— Deveria ser igualmente ilegal ter alguém a reparar em cada peça que trago no meu corpo ao invés de simplesmente olhar para a minha cara.
Naquele momento percebi o tanto de tempo que passei a observar todo o look atípico ao local. Até mesmo a gravata com o nome gravado em letras douradas é demais.
— Ah, desculpa — levanto o rosto para finalmente ter os meus olhos cruzados com os olhos âmbar fixados em mim minuciosamente. — Por que olhas para mim assim? Deveria ser ilegal olhar para uma pessoa desse jeito, ainda mais uma pessoa que não conheces.
— Mas posso conhecer agora — ele tira o blazer azul e senta ao meu lado no maior conforto. — E de que jeito eu deveria olhar para uma mulher tão bela? Não deveria ser com admiração?
Ele vira o corpo para olhar para mim e cruza os braços, pressionando o blazer contra o seu peito, porém, sem desfazer a postura de poder que passava por ele a cada segundo. Como é possível uma pessoa passar essa sensação?
— Acredito que quando conhecemos ao alguém devemos no mínimo limitar o jeito que olhamos.
Ajeito a postura e cruzo as pernas mantendo a cabeça erguida. Um sorriso ligeiro e nada amigável surgiu em seus lábios antes de desaparecer completamente.
— Dylan Victory — ele estende a mão para mim e penso duas vezes antes de apertar. — Prazer em te conhecer.
— Alana Onwell — sorriu em meio o aperto de mãos tentando o máximo para manter a postura. — Prazer.
— Vou aqui ser direto — ele pisca algumas vezes antes de puxar o telefone do seu bolso. — Não acho que esse clima de festa seja o melhor para conversar ou mesmo para conhecer alguém que de primeira vi ser uma pessoa incrível, portanto, sugiro que troquemos os números e marquemos alguma coisa para nos conhecermos ainda melhor, o que é que tu achas?
Seria tão mal assim ser infiel horas antes de um casamento que eu nem quero? Seria tão mal assim dar o meu númerouma vez que serei uma mulher casada em pouquissimo tempo? Levanto e procuro Lisha com os olhos e quando a encontro, viro para ele deixando claro a minha resposta.
— Não acho que seja uma boa ideia, foi ótimo te conhecer, entretanto será melhor se ficar tudo no hoje sem uma possibilidade de possíveis encontros para nos conhecermos melhor. Agora, adeus.
Dou as costas no momento que termino a frase e tento chegar até ao lugar em que Lisha dança igual uma desgovernada, mas uma mão forte se prende no meu braço e me vira bruscamente.
— Podes fugir de mim com os motivos que achares bons suficientes para fazer isso, mas acredita — ele sorri de maneira presunçosa e afrouxa o aperto no meu braço. —, estarás comigo um dia, nem mesmo que eu tenha que procurar debaixo de pedras.
Solto o meu braço bruscamente e vou rápido até Lisha para irmos embora. Agarro o braço dela com força e a puxo para fora daquele lugar antes de dar tempo para ela pensar. Em um segundo estavámos no meio da multidão, totalmente sufocadas e agora estamos fora, respirando ar puro na expectativa de que nenhum ser saia da festa para me seguir e encontrar a minha casa.
Só me faltava essa, encontrar um maluco que cisma que vai encontrar-me, não importa o lugar em que eu esteja.
Casamentos deveriam trazer felicidade para todo mundo. A união de duas pessoas que escolheram amar-se para a vida toda deveria ser uma coisa perfeita. A cerimônia entre as cerimônias, em que duas famílias se unem na maior alegria e duas pessoas se unem com o propósito de construir a própria família, com a promessa de que cuidarão sempre um do outro, em que os nossos irmãos estão tão felizes quanto nós estamos. Só que não é exatamente assim. — Se alguma coisa acontecer contigo, por favor, liga para mim, estarei sempre disponível para correr e te tirar dos braços de um idiota que não sabe tratar a minha princesa. Ver as lágrimas descerem pelo rosto de Karina pelo reflexo do espelho, fez fisgadas dominarem todo o meu corpo, como se fosse mais difícil ver ela mal que me casar com um completo estranho. Viro para olhar diretamente para elas. — Não te preocupes, estou bem treinada e qualquer coisa é só vocês me encontrarem em uma delegacia que estarei lá disposta a cumprir uma pena — nós
— Olha só, ele não é esse ogro que eu estava pensar que ele seria, mas não vamos aqui colocar esperanças ainda porque pensei a mesma coisa de um certo ser e olha — Karina chega perto com duas taças de champagne e o sorriso acolhedor que ela sabe dar. — Ele não é gostoso? Olha só para ele e é mais alto que tu, cheira bem, parece educado e simpático, um daqueles cavalheiros que desenhas. — Karina… — O quê? Menti? — Toma o champagne em um gole antes de cruzar os braços e substituir o sorriso acolhedor por um olhar atento. — Ele de facto é muito gostoso e cheira muito bem e parece educado e mais essas coisas que tu disseste, contudo, ele não se encaixa no perfil dos cavalheiros que eu desenho — ela faz cara de desentendida e tira outra taça de champagne da bandeja que passa por nós na mão do garçon. — Os cavalheiros que desenho são realmente as perfeições e ele tem defeitos, os meus cavalheiros não têm defeitos e isso os torna ainda mais perfeitos. Eles são tudo o que as mulheres quere
Como é que ele pode querer passar o resto da vida comigo, ter filhos e um monte de baboseiras e ao mesmo tempo não me tocar? Como assim? Parece até que sou um fantasma aqui, existo mas para conversar sobre coisas super repetitivas como o que foi que eu comi, se comi bem, se passei bem o dia e acabou, cada um no seu canto, ele com o focinho naquele computador, aparentemente mais atraente que eu ou no tablet, e claro, eu com a companhia do kindle que a minha irmã mais velha fez questão de lembrar que uso as vezes. Dois dias aqui. Dois longos dias, sem contar o dia que chegamos porque tivemos uma conversa longa sobre o que gostamos e o que detestamos e quem somos de verdade, mas depois desse dia mais nada. Tudo sumiu, as conversas boas sumiram como se nunca tivessem existido. Como é que isso é possível? A lua de mel não deveria ser a melhor parte de um casamento? — Onde raios aquele ser está? Ninguém, para além de mim, permanece neste apartamento enorme por muito tempo, nem mesmo a pe
Yohan Wreckel Como posso fazer as coisas funcionarem entre nós dois? Ela parece distante, difícil de alcançar. Nenhum de nós casar, mas creio que podemos fazer um esforço para funcionar. Como? — Ah, ela é tão impossível, mas tão linda e espontânea. Como raios posso fazer isso funcionar? De repente, a sala fica quente e passar as mãos pelo meu pescoço ó aumenta o calor e saber que estou há três dias sem conversar devidamente com a minha própria esposa piora as coisas. Ainda mais agora que ela está a todo o momento com aquele livro nas mãos, em todo o lado, quarto, cama, banheiro, chão, sofá, até mesmo por cima dos chinelos que deveriam estar nos pés dela. Ele consegue ser estranha e ao mesmo tempo interessante. A porta abre devagar e a cabeça de sempre aparece para dar mais um dos tantos avisos, sejam reuniões ou até mesmo chamadas. — Uma chamada, senhor — permaneço calada enquanto senhorita Martin mantém os braços a frente do corpo e agarra as mãos segurando o nervosismo. — A sen
Alana Onwell Tudo bem que reclamei por não ter atenção suficiente na lua de mel e que ele precisa, no mínimo, ficar em casa e suportar a cara da mulher, que nas palavras dele, vai gerar os filhos dele, mas não há necessidade nenhuma de deixar as minhas pernas bambas sem nem tocar em mim. — O que é que estás a fazer?Não é usual ele estar em casa a uma hora dessas em plena quinta-feira e ainda mais sem camisa com tudo de fora e perfeitamente definido.Quais são os defeitos desse ser para além de ser um grande sem noção? — A cozinhar — ele responde com a maior calma e lança um daqueles sorrisos maravilhosos que não parou de lançar para mim durante toda a festa do casamento. — Dormiste bem? — Tu sabes cozinhar? E que horas são para estares a cozinhar? Permaneço apoiada no balcão observando os movimentos das suas mãos. O sorriso desaparece aos poucos e dá lugar à uma feição de dúvida. Ele consegue ser ainda mais lindo, como? — Claro que sei cozinhar, morei sozinho por muito tempo, um
— Vamos para o ginásio — Yohan levanta do sofá em que passamos mais de uma hora abraçados assistindo Single´s Inferno, deixando um espaço vazio atrás de mim. Estava tão confortável.— Vais para o ginásio? Pensei que não me deixarias sozinha — desligo o computador e fecho antes de levantar e olhar bem nos olhos dele. Ele não seria capaz de quebrar a promessa que ele acabou de fazer. — Não acredito que era uma promessa de algumas horas somente. — Alana, ouve o que eu disse e vou repetir para ouvires bem, ok? Vamos para o ginásio — ele olha para mim com as mãos na cintura e cara evidente de espanto. — O vamos é para eu e tu, não somente eu porque vamos, na nossa língua, implica a existência de duas ou mais pessoas. Por que estou a ser chamada para ir para o ginásio? Por acaso pedi para isso acontecer? O clima de ginásio me afasta de todas as maneiras possíveis, parece que nem é possível respirar de tanto sufoco por estar no meio de pessoas tão suadas enquanto podia estar na minha casa,
Sinto um peso muito grande na minha cabeça quando detesto uma mulher somente de olhar para ela. É como se estivesse a trair a mim mesma, afinal de contas, mulheres deveriam se apoiar mutuamente ao invés de denegrir a imagem da outra, mesmo que seja apenas na nossa cabeça. No meio do caminho, Yohan foi parado por um casal, que ao que parece não são um casal casal, e estou aqui até agora sem entender porque raios a loirinha tenta, a todo custo, tocar em Yohan, mesmo que ele a tenha afastado várias vezes, nem mesmo um abraço ele deu a ela. Seria péssimo se eu a chamasse a razão e deixasse bem claro que esse homem é minha propriedade? Parece até que estou a me referir a um objeto e não a uma pessoa, mas ao menos ela náo insistiria tanto em tocar nele e sairia da minha frente. — Deviamos é reunir todo mundo da universidade e fazer um jantar, seria bom nos reencontrarmos para conversarmos sobre como vai — o homem engravatado, ao lado da mulher linda e irritante, fala sorrindo de orelha a
Todos os anos que tenho dão a experiência suficiente de saber que a senhora e o senhor Onwell fizeram uma porcaria das grandes. Nunca temos reuniões de família, são raríssimas as vezes em que comemos todos juntos e ainda mais raríssimas as vezes em que eles estão realmente interessados no que temos feito da nossa vida. E vendo a cara das minhas irmãs sei bem que não sou a única a pensar que aquilo é uma grande armadilha. Eles fizeram alguma coisa. — Agora falando sério, vocês já cansaram de tentar nos enrolar e irão, finalmente, falar o que se passa? Karina, a mais velhas das três filhas maravilhosas feitas pelos Onwell, pousa o garfo no prato perto da faca e cruza os braços lançando o olhar intimidador que ela sabe fazer muito bem. Uma característica muito forte nela é justamente essa, a capacidade de intimidar. — Karina, que é isso? Nós apenas queremos saber como vocês estão, afinal de contas nunca nos vemos — minha mãe limpa o canto da boca com o guardanapo exalando a elegância