Layla não conseguia mais evitar Aaron. Desde que Yasi o liberara, o cavaleiro parecia estar em todos os lugares - no jardim, na biblioteca e nas refeições que faziam juntos.
E o que mais a irritava era o fato de que ele parecia ter-se esquecido dos beijos trocados entre eles e a tratava com uma cortesia educada, porém distante. O que era o certo a fazer, pois aqueles beijos haviam sido um completo engano.
Ainda assim, a indiferença dele a aborrecia. Principalmente quando Aaron sorria de maneira sedutora para as criadas, traidoras que haviam deixado de considerá-lo um inimigo e tinham começado a idolatrá-lo.
Em pé na biblioteca da casa, Aaron examinava os livros na estante, enquanto o médico, sentado em uma poltrona próxima, terminava de tomar o suco de maçã trazido por um criado. O frescor da sala e o silêncio contrastavam com o forte calor e o barulho das ruas movimentadas, pelas quais haviam andado durante a manhã.– Cansou-se? – Ibn Russud por fim quebrou o silêncio.Aaron negou.– Ainda não conseguiria lutar, mas consigo caminhar perfeitamente. O perfume das flores do final de verão os alcançava e uma brisa fresca fazia as folhagens do jardim farfalharem com um barulho suave.O olhar de Layla deteve-se em Aaron, absorvendo cada detalhe. Por que o maldito tentador tinha que ser tão bonito?, perguntou-se mais uma vez, escondendo um suspiro.O sol atravessava os galhos e iluminava parte do rosto dele, mesclando-se às sombras das folhagens acima. Ela amava aqueles traços e as chamas que ardiam nos olhos azuis. Desejava seus braços a envolvê-la novamente, os lábios deles juntos, sussurrando palavras de amor. Era com isso que sonhava por dias e noites sem fim. Contudo, parte dela tinha medo, alertando-a das consequências. Inúmeras lendas corriam pela região sobre casais que se apaixonavam, e todas terminavam em tragédia.– Sabe por que Layla é Amor
Mais um conforto impensável em meu castelo… Aaron suspirou de prazer ao entrar na banheira de água corrente e morna, fornecida pelos aquedutos da cidade. Sobre o piso de mármore ao lado, criados deixavam potes com sabão e toalhas limpas. Ele pegou um deles e cheirou o conteúdo. Almíscar e mel... Sorriu ao pensar como seus companheiros do exército ririam se o vissem agora. Banhos diários e perfumados não combinavam com sua fama de guerreiro. Porém, decidira não mais voltar ao exército. Tudo o que importava agora era Layla. – Layla! – Aaron sussurrou o nome, ajoelhado ao lado da cama, no quarto iluminado pela luz do luar que atravessava a janela por onde havia entrado.Abrindo os olhos assustada, ela voltou-se na direção dele.–Aaron! Como têm coragem de entrar em meu quarto?– Precisava lhe falar… E a janela estava aberta.Ela sentou-se e fuzilou-o com o olhar.– Achei que estava distraindo-se com uma daquelas…Erguendo-se do chão, Aaron sentou-se na beirada da cama.– Estava na sala de banhos quando seu irmão entrou – interrompeu-a. – E depois Hiram trouxe as jovens!– E você não protestou? – Ela cruzou os braços e ergueu o queixo com um ar irritado.Segredos
No movimentado mercado do centro da cidade, as bancas enfileiravam-se mostrando uma quantidade enorme de livros expostos em seus balcões.Mais uma vez, Aaron acompanhara Layla enquanto ela seguia o médico e sua filha durante a manhã, e agora ambos passeavam pela cidade.– A universidade de Córdoba atrai estudantes de vários reinos – Layla explicava – inclusive cristãos – pontuou. –Além dos estudantes, filósofos, advogados, médicos e sábios de todos os tipos moram aqui. Por causa disto, o comércio de livros prospera.Ela parou diante de uma banca e cumprimentou o vendedor. Um homem de turbante branco e rosto enrugado.– Salaam Aleikum, Sidi Zayn. &n
A luz batendo em suas pálpebras fechadas os acordaram.– Já é manhã! – Layla soergueu o corpo, percebendo que ela e Aaron haviam dormido abraçados um ao outro. Mais uma vez ele invadira seu quarto durante a noite.Aaron levantou a cabeça, pestanejando e olhando para os lados, até lembrar-se de onde estava.– Por Dios! – murmurou, assustado com a possibilidade de descobrirem os dois juntos, e começou a se levantar.No entanto, Layla estava ali, os cabelos revoltos caindo sobre os ombros, os lábios avermelhados entreabertos, e ele não pode se conter.– Gost
Estendendo-se no sopé da serra, as ruínas tornavam o local lúgubre e melancólico, mesmo sob o céu azul e sem nuvens. Ninhos de pássaros encimavam as torres parcialmente caídas e pedras soltas espalhavam-se pelo chão.Yasi parou seu corcel, examinando o campo de relva baixa cercado pelas antigas construções. Duelos eram proibidos na cidade, mas não ali, fora das muralhas que a defendiam.– Hiram, ajude Aaron a se armar – pediu ao pajem.Depois fez um sinal de cabeça para que o mestre de armas e o escudeiro o acompanhassem, e cavalgou em direção à uma das pontas do campo.– Sidi… – O escudeiro aproximou-se e, desmontando, parou em pé ao seu lado. – Ouvi comentários de que Aaron é um dos melhore
De volta à biblioteca no palacete, Ibn Russud havia sido chamado e estava parado em pé ao lado de Yasi, que se sentava com os cotovelos apoiados sobre o tampo da mesa e esfregava as mãos no rosto com um ar desconsolado.–No coração dos homens há um deserto, onde ventos sopram devastando tudo – o médico disse. – Ódio, egoísmo, cobiça… Apenas o amor pode contê-los. O amor é como uma rosa entre as dunas de areia. É um milagre! E não há como se opor a ele, porque quem ama tem a alma tomada por um deus e aceitará até mesmo a morte se for preciso.– Mas e a honra? Família? A fé? – Yasi suspirou, encarando-o, a testa franzida em uma expressão angustiada.– O amor é ma