Mais um conforto impensável em meu castelo… Aaron suspirou de prazer ao entrar na banheira de água corrente e morna, fornecida pelos aquedutos da cidade.
Sobre o piso de mármore ao lado, criados deixavam potes com sabão e toalhas limpas. Ele pegou um deles e cheirou o conteúdo. Almíscar e mel...Sorriu ao pensar como seus companheiros do exército ririam se o vissem agora. Banhos diários e perfumados não combinavam com sua fama de guerreiro. Porém, decidira não mais voltar ao exército. Tudo o que importava agora era Layla.
– Layla! – Aaron sussurrou o nome, ajoelhado ao lado da cama, no quarto iluminado pela luz do luar que atravessava a janela por onde havia entrado.Abrindo os olhos assustada, ela voltou-se na direção dele.–Aaron! Como têm coragem de entrar em meu quarto?– Precisava lhe falar… E a janela estava aberta.Ela sentou-se e fuzilou-o com o olhar.– Achei que estava distraindo-se com uma daquelas…Erguendo-se do chão, Aaron sentou-se na beirada da cama.– Estava na sala de banhos quando seu irmão entrou – interrompeu-a. – E depois Hiram trouxe as jovens!– E você não protestou? – Ela cruzou os braços e ergueu o queixo com um ar irritado.
No movimentado mercado do centro da cidade, as bancas enfileiravam-se mostrando uma quantidade enorme de livros expostos em seus balcões.Mais uma vez, Aaron acompanhara Layla enquanto ela seguia o médico e sua filha durante a manhã, e agora ambos passeavam pela cidade.– A universidade de Córdoba atrai estudantes de vários reinos – Layla explicava – inclusive cristãos – pontuou. –Além dos estudantes, filósofos, advogados, médicos e sábios de todos os tipos moram aqui. Por causa disto, o comércio de livros prospera.Ela parou diante de uma banca e cumprimentou o vendedor. Um homem de turbante branco e rosto enrugado.– Salaam Aleikum, Sidi Zayn. &n
A luz batendo em suas pálpebras fechadas os acordaram.– Já é manhã! – Layla soergueu o corpo, percebendo que ela e Aaron haviam dormido abraçados um ao outro. Mais uma vez ele invadira seu quarto durante a noite.Aaron levantou a cabeça, pestanejando e olhando para os lados, até lembrar-se de onde estava.– Por Dios! – murmurou, assustado com a possibilidade de descobrirem os dois juntos, e começou a se levantar.No entanto, Layla estava ali, os cabelos revoltos caindo sobre os ombros, os lábios avermelhados entreabertos, e ele não pode se conter.– Gost
Estendendo-se no sopé da serra, as ruínas tornavam o local lúgubre e melancólico, mesmo sob o céu azul e sem nuvens. Ninhos de pássaros encimavam as torres parcialmente caídas e pedras soltas espalhavam-se pelo chão.Yasi parou seu corcel, examinando o campo de relva baixa cercado pelas antigas construções. Duelos eram proibidos na cidade, mas não ali, fora das muralhas que a defendiam.– Hiram, ajude Aaron a se armar – pediu ao pajem.Depois fez um sinal de cabeça para que o mestre de armas e o escudeiro o acompanhassem, e cavalgou em direção à uma das pontas do campo.– Sidi… – O escudeiro aproximou-se e, desmontando, parou em pé ao seu lado. – Ouvi comentários de que Aaron é um dos melhore
De volta à biblioteca no palacete, Ibn Russud havia sido chamado e estava parado em pé ao lado de Yasi, que se sentava com os cotovelos apoiados sobre o tampo da mesa e esfregava as mãos no rosto com um ar desconsolado.–No coração dos homens há um deserto, onde ventos sopram devastando tudo – o médico disse. – Ódio, egoísmo, cobiça… Apenas o amor pode contê-los. O amor é como uma rosa entre as dunas de areia. É um milagre! E não há como se opor a ele, porque quem ama tem a alma tomada por um deus e aceitará até mesmo a morte se for preciso.– Mas e a honra? Família? A fé? – Yasi suspirou, encarando-o, a testa franzida em uma expressão angustiada.– O amor é ma
Algumas milhas além de Córdoba, entre as colinas e prados de grama alta, tendas, fogueiras e uma aglomeração de cavalos e homens armados formavam o acampamento do exército.Os mercenários os haviam acompanhado até perto e depois retornado pela estrada, provavelmente esperando alguns passantes incautos que pudessem assaltar ou molestar.Não eram mais do que bandidos, Aaron pensava, com o cenho cerrado aos vê-los darem às costas e afastarem-se. A antiga fúria ardeu em seu peito, e ele percebeu que já não odiava mais indiscriminadamente como antes. O ódio o iludira e o fizera considerar todos os árabes como inimigos, mas agora sabia ser isso uma mentira. Árabes ou castelhanos, não importava. Homens sem honra de ambos os lados viviam apenas em causa própria em busca de prazer e dinheiro.
Na maior tenda do acampamento, Dom Rodrigo, um homem alto, de barba cerrada, sobrancelhas grossas e expressão séria, sentava-se em uma cadeira, enquanto discutia os assuntos do dia com outros oficiais que o rodeavam.– Imaginei que nunca mais o veria, – ele disse a Aaron, quando este se postou diante dele. – Alguns afirmam que você passou para o lado do inimigo e caminha por Córdoba na companhia deles. Se não o conhecesse bem, diria que nos traiu... – sugeriu.Aaron estreitou os lábios e crispou a mão pousada no punho da espada em um reflexo de raiva.– Apesar de prisioneiro, fui bem recebido por um nobre que segue as antigas regras da cavalaria e hospedou-me com cortesia – retrucou em tom exaltado. – Isto não é traição!Ao notar a indignaç&ati
Os últimos raios de sol escondiam-se no horizonte, colorindo as nuvens de reflexos vermelhos e dourados, quando as muralhas da cidade surgiram no alto da colina.Mesmo durante a guerra, a região ao redor de Córdoba não era despovoada. Comerciantes iam e vinham, camponeses caminhavam pelos campos de volta para suas vilas, e os soldados da cidade espalhavam-se, alguns diante dos portões, outros sobre as muralhas.Ao ver os soldados árabes, Gonzalo puxou a rédeas e susteve seu cavalo.– Daqui em diante a estrada é segura. Prefiro retornar ao acampamento – resolveu-se.– Acompanharei Layla – Aaron avisou-o. – Os soldados me respeitarão ao verem que a escolto.O outro assentiu e virando-se para Layla fez-lhe uma breve reverência em despedida.