Adrian
Meus cotovelos estão sobre a mesa, a cabeça pende sendo firmada por minhas mãos. Esfrego meus cabelos crespos e curtos com os dedos em sinal de nervosismo.
— O que diabos está acontecendo nessa empresa?
Resmungo comigo mesmo.
Recosto-me na cadeira, encarando os papéis a minha frente. A pilha que se forma ao lado de contas que não batem, faturas com supervalores.
— Quem fez isso? - questiono para mim mesmo, mas o ar frio do ar condicionado altíssimo da minha sala não irá me responder. Pego o telefone para falar com a secretária.
— Antonela, marque uma reunião com toda a liderança, por favor. Pra hoje em uma hora.
Dou a ordem e me recosto novamente, ainda encarando os papéis. Fiz e refiz as contas várias vezes e nada de chegar a uma conclusão diferente de que há um rombo na empresa. Um rombo de milhões em poucos meses. Se continuar assim, a empresa vai precisar pedir falência porque não teremos condições nem de abrir as portas.
Retiro meus óculos de grau e coloco sobre a mesa, pendo a cabeça para trás com as mãos no rosto e então ouço alguém bater na porta.
— Entra - ordeno ao me recompor, mas é minha mãe. A mulher que ergueu esta empresa ao lado do meu pai.
— Fui avisada da reunião, ainda aquele problema do rombo?
Ela se senta na cadeira acolchoada na minha frente e cruza as pernas, seu olhar preocupado me alerta que as coisas estão piores do que ela deixa transparecer.
— Pior - revelo.
— Pior? Como pode ser pior?
— Outro rombo, dessa vez ainda maior. Já contabiliza um milhão e meio em quatro meses, e não tem indícios de quem fez isso.
— Já tentou ver quem está emitindo as notas? - ela me questiona, mas foi a primeira coisa que fiz, é claro. Peguei as copias e joguei para que ela as visse.
— Ao que parece a senhora ou eu fizemos todas as aquisições superfaturadas, e não há nem indícios do produto e nem da empresa que vendeu os produtos. - Peguei outro bolo de notas - Estas são as notas das bebibas compradas para os cruzeiros, as bebidas existem, cada garrafa está confirmada, porém o valor...
Minha mãe arregala os olhos escuros por trás de seus óculos de grau, todos na minha família usam óculos, deve ser genético.
— Meu Deus, uma garrafa de vinho, que nem é dos considerados caros, 200 mil reias?
— Um vinho que custa em torno de 32 mil, o que já é considerado caro pra muitos. E se a senhora olhar um por um, vai ver que existem superfaturamentos em coisas menores... discorri para minha mãe todos os rombos que encontrei e isso tomou nossa hora restante.
Levantamos e fomos até a sala de reuniões, ali eu sabia que teria que repetir e demonstrar aos presentes tudo o que já havia demonstrado a minha mãe.
Minha mãe se senta na cadeira a minha direita e quando meu irmão, Jairo, chega, ele se senta a minha esquerda. Meu pai faleceu há alguns anos e a empresa ficou sob a minha responsabilidade desde então.
Chegam os demais diretores e suas assistentes e então temos início a nossa chata e longa reunião.
Demonstrar a todos eles aquele rombo não foi nada confortável, até porque existia um ponto desconfortável nisso tudo. Todas as notas estavam emitidas em meu nome, como se eu tivesse feito as compras. Meu irmão e minha mãe sabiam que isso era um golpe, o verdadeiro culpado estava escondido sob alguma gravata por aí e eu estava sendo colocado como escudo, escondendo-o, mas foi possível ver o olhar de desconfiança em alguns diretores.
A facada que senti entrar em meu peito doeu na minha alma, ao ver a desconfiança no olhar deles. Mas então eu tive uma ideia. Ao terminar a reunião, dispensei a todos, menos minha mãe e meu irmão.
— Vocês viram o que eu vi, não é? - questionei só pra ter certeza de que eu não tinha alucinado.
— Aqueles imbecis só estão preocupados com o próprio bolso, meu irmão. Culpar você é mais fácil do que encontrar o verdadeiro culpado - Jairo me apoia, eu sei que se trata exatamente disso.
— Você teve alguma ideia, não é? Não nos pediria pra ficar se não tivesse tido alguma. - Dona Solange me conhece muito bem.
— É, eu tive. Nosso maior rombo até agora foi em um dos nossos cruzeiros, temos um para acontecer agora em menos de uma semana. Vou embarcar nele sem aviso prévio. Vou em todos os estabelecimentos, funcionário por funcionário, batendo todas as informações, algo me diz que vou encontrar alguma coisa lá.
Minha mãe balança a cabeça concordando.
— Tem certeza que pode encontrar alguma coisa lá? - meu irmão pergunta, parece meio incomodado só não sei o motivo.
— Eu já procurei aqui e não achei nada.
— Já cercou os caras do setor financeiro da empresa?
— Pra todos os efeitos eu fiz a compra, ou minha mãe. Eles nunca questionariam algo assinado por um de nós dois, seja lá quem for que fez isso, pensou em tudo.
— Então os caras do setor financeiro não sabem de nada?
— Se sabem, ninguém disse.
Jairo bufou desanimado.
— Sabe o que estou vendo, irmão? O esforço de anos do papai e da mamãe indo pro ralo. - comenta ele desanimado.
— Por que acha que eu vou embarcar naquele cruzeiro sem avisar a ninguém? Se isso continuar assim, em pouco tempo teremos que fechar as portas, uma das maiores empresas do país fechando as portas por causa de desvio de verba bem de baixo do nariz, e ainda vão me culpar por isso.
Tanto minha mãe quanto meu irmão exalam um ar pesado dos pulmões, carregado de puro desânimo. Sou o primeiro a deixar a sala de reuniões, em silêncio, e sou seguido pelos outros. Sem uma despedida, cada um segue para sua devida sala, cumprir seus afazeres e eu vou tentar me distrair com os meus, tentar desviar a atenção disso.
Cumprimento Antonela ao passar por ela e vou na direção de minha sala, mas antes que eu abra a porta ela vem correndo na minha direção, seus saltos rangendo sobre o piso liso, os cabelos curtos e cacheados balançando com urgência de chegar até mim antes que eu abra a porta, isso não é um bom sinal.
— Senhor, Brandão. A senhora Mirela disse que tinha que falar com o senhor e entrou na sua sala sem autorização, eu disse que ela não podia entrar, senhor, mas ela não me ouviu e saiu entrando. Não pude fazer nada.
Respiro fundo, como se toda desgraça fosse pouca, ainda tem isso.
— Não se preocupe, Antonela, eu atendo a senhora Mirela. Da próxima vez eu tranco a porta.
Ela sorri aliviada e se afasta. Já houve o tempo que eu precisava fazer isso, trancar a porta para que Mirela não invadisse minha sala. Abro a porta e dou de cara com ela sentada na minha cadeira, pernas cruzadas, usando um terninho rosa claro e uma nova cachorrinha em seu colo. Essa eu ainda não tinha visto.
— Quais ventos tenebrosos de inverno a trazem aqui, Mirela? - questiono-a tentando afastar a irritação e colocando um ar divertido na face, algo que eu sei que a irrita.
— Por que fala assim comigo, meu bombom? - Ela se levanta, coloca a cachorrinha no chão e vem na minha direção.
— Não sou seu bombom já tem tempo.
— Três meses - estalou a língua - Provou da carne branca e não gostou?
— Já tá falando besteira. - Me direciono para a minha cadeira e ainda bem que me sento antes de ouvir o que a motivou a vir ao meu escritório.
— Vim para marcarmos nosso casamento, baby, estou grávida.
GeovanaAbri os olhos e em seguida uma sensação estranha me abateu, não soube descrevê-la. A luz entrava forte pela janela e eu pisquei, estranhando a forte luz que adentrava meu quarto, já que normalmente desperto quando a luz ainda está fraca e suave. Uma urgência me toma ao lembrar o que isso pode significar.Pulo da cama e vou até a mesinha pegar meu celular para verificar as horas, mas percebo que ele descarregou durante a noite.— Merda!Xingo ao constatar que estou atrasada e nem sei o quanto. Cheguei meio chapada em casa e fui deitar me esquecendo de colocar o celular para despertar. Hoje não é um bom dia para chegar atrasada, já que eu teria que informar ao meu chefe que vou tirar nove dias de férias, dez na verdade, pois tem a viagem para São Paulo um dia antes da saída do cruzeiro. Trabalhando há cinco anos na empresa sem nunca tirar férias, é mais que o meu direito tirar esses dez dias. Mas o atraso o deixará irritado, o que poderá dificultar as coisas para mim.Ligo a TV
AdrianAinda bem que estava sentado, pois teria desabado no chão após a notícia. Meus joelhos perderam a força, minha boca se abriu e meus olhos se arregalaram.— Como? - Ela riu como se eu tivesse contado a maior piada do mundo.— Quer mesmo que eu te conte como? Eu tenho uma sugestão muito melhor, que tal relembrarmos o momento em que ele foi feito? - Ela fala e espalma a mão na barriga levemente elevada. Seria possível?— Mas não temos nada há três meses, quase quatro! - exclamo - Como o filho pode ser meu?Ela abre a bolsa, coloca alguns papéis sobre a mesa e se senta na cadeira do visitante.— Aí está o laudo da ultrassonografia, o exame de sangue, e o que mais você quiser como prova estou disposta a fazer - ela muda seu tom de voz, agora falando sério, como poucas vezes a ouvi falar. - Nosso filho tem exatamente o tempo gestacional da nossa última relação, não estive com outro homem que não fosse você. Posso ser o que você quiser, mas não sou uma puta. Logo depois do fim do noss
Geovana— O quê? - questiono ao meu chefe totalmente incrédula de suas palavras - Eu nunca tirei férias, nunca!— Mas nunca foi obrigada. - Ele se recosta em sua cadeira e cruza os braços, seu sorriso me irrita e fez um ódio descomunal ferver em meu sangue. - Posso desenterrar todas as folhas que você assinou ao longo dos anos. Vá atrás de seus direitos. - Seu sorriso expandiu ainda mais, e eu quase explodi.— Se acha que vou abrir mão do meu prêmio por causa desse emprego de merda, está muito enganado.— Que bom que o classifica como um emprego de merda, pois estou promovendo em seu lugar a Paulinha que acabou de assumir o seu posto.Precisei muito me controlar para não voar no pescoço do homem a minha frente.— Quer dizer que promoveu uma recém chegada a um cargo melhor, mas não me promoveu em todo esse tempo?Ele só estalou a língua, mostrando que não tinha interesse em dar prosseguimento a conversa.— Afinal, vai querer seu emprego de merda ou sua viagem de nove dias e se tornar m
Adrian — Tem nada acontecendo - respondo tentando levantar o vidro do carro para despistar, mas Jade empurra o microfone para dentro do veículo. — Nossa fonte garantiu que havia rombos misteriosos, como o senhor explica isso? — Sua fonte está enganada. Agora, me dê licença, por favor. Começo a avançar com o carro lentamente, tentando fazer as pessoas se afastarem. — O senhor vai mesmo embarcar em seu cruzeiro para investigação? — Não tem o que ser investigado, querida. Por favor, me dê licença. Ela ainda tentou insistir, mas me desviei de toda forma possível, e consegui fechar o vidro e sair com o carro. Balancei os ombros e a cabeça, afastando a tensão que se formava. Meu telefone tocou e era minha mãe, mas não queria falar com ninguém, precisava colocar minha cabeça no lugar e decidir o que eu faria agora. Afinal, meu plano foi descoberto, e de alguma forma a informação que deveria ser sigilosa escapou. Ao chegar em meu apartamento, retiro a camisa e o sapato e vou para a m
Geovana“Meu Deus, eu vou me perder aí dentro.”É a primeira coisa que passa pela minha cabeça quando vejo o enorme navio na minha frente. Muitas pessoas estão a minha volta e eu sinto uma sensação muito estranha, estou sozinha, mas é como se não estivesse. Sinto como se alguém fosse chegar do meu lado a qualquer momento e falar: “Ah, que bom que você está aqui, estava te procurando.”Mas é claro que isso não acontece.Finalmente somos autorizados a embarcar e eu arrasto as minhas malas, na verdade, as malas de minha amiga Nataly. Pego meu bilhete e verifico o meu quarto “34B” sou orientada pela moça gentil que recebia a todos que entravam na grande embarcação.Suspiro ao ver a porta do meu quarto. Até o dia anterior eu tinha dúvidas se viria, por isso acabei não confirmando a viagem. Nataly praticamente arrumou minhas malas a força, pois eu repetia veementemente que não embarcaria sozinha.— Antes eu não tivesse dado o nome do Willian, aí eu poderia te levar. - reclamei com ela, desa
Adrian O problema de nascer em uma família de boa condição financeira é que você não aprende a fazer serviços braçais desde cedo, e agora o fato de ter passado o dia carregando caixas e sacos pesados durante todo o dia está cobrando o seu preço. Desde que me viram na adega e me pediram que pegasse um saco de batatas que meu dia não parou, sempre que entregava um, recebia o pedido para outra coisa. E agora estou morto de cansaço, preciso investigar, foi pra isso que me infiltrei nesse navio sem nem mesmo informar a minha mãe, e tudo o que consegui hoje foi descobrir as garrafas de vinho superfaturadas e tirar foto delas. Mas no momento, tudo o que eu quero é um bom banho e depois arrumar um meio de ter comida. Não me misturei aos outros funcionários para o jantar, já que tinha medo que me descobrissem em meio a conversa descontraída. Durante o trabalho, ninguém olha muito na cara um do outro, mas quando se para para comer e beber, a coisa muda de figura. Entrei no quarto e notei qu
Geovana “Minha santa das solteiras, me segura” Foi o que pensei quando a boca do boy supergato selou a minha. Deveria me afastar, me fazer de difícil, mas não consegui nem pensar naquele momento, reagir então, impossível. Acabei aceitando o seu beijo gostoso e o aprofundando. Minhas mãos percorreram o peito musculoso e liso dele e senti algo em mim se animar, mas um beijo com um desconhecido é uma coisa, algo a mais não faz meu tipo, eu não sou assim, apesar que esse homem é uma tentação. Encerro o beijo com um selinho e aguardo a reação dele. Seus olhos escuros me encaram, seus lábios grossos estão entreabertos, posso jurar que ele queria mais daquele beijo. — Tem certeza que dividirmos o quarto pode ser uma boa ideia? - questiona e eu sei que seus pensamentos tomaram o mesmo rumo que o meu. Se em nosso primeiro encontro já nos beijamos, como seria os próximos dias? Me levanto e me afasto dele para ficarmos em uma distância segura para podermos conversar, pois a atração que se
Adrian— Filho da mãe - resmungo sem olhar para onde ele está, só o escuto.— Adrian, Adrian... ele está indo - Geovana fala alarmada.— O quê?— Ele está indo... - fala me arrastando, mas quando vou protestar dizendo que ele iria me notar, percebo que ele já está longe e que se quisermos ouvir mais alguma coisa teremos que andar logo. - Vamos perdê-lo de vista... - ela apressa o passo e me arrasta com ela.O diretor do cruzeiro guarda o telefone no bolso e continua andando, o seguimos.— Droga, ele guardou o telefone - Geovana parece mais empolgada com a investigação do que eu. Com certeza em seu lugar iria estar na piscina assistindo ao show.— Vai pro show, Geovana, aproveita seu passeio.— Mas eu prometi te ajudar - reclama encarando meus olhos, putz, como a garota é bonita.— Já me ajudou...— Nem vem tentar me dispensar, vamos seguir o canalha, se começamos vamos terminar - fala decidida e nem me dá tempo de resposta, volta a me arrastar pelos corredores do navio e quando perceb