Geovana
Minhas mãos suavam, os joelhos tremiam, o suor descia como bica pelo meio de minhas costas, meus olhos arregalados e a tensão não permitia que o ar passasse por meus pulmões.
Nataly e eu estávamos em frente a TV aguardando o resultado do sorteio. Era praticamente impossível ganhar, literalmente uma chance em um milhão. A maior revista de turismo do país oferecia um número em cada unidade vendida de sua revista. A belezinha nunca vendeu tanto. Sempre que eu ia até a banca de jornal a revista já havia esgotado, isso mesmo, nada de unidade baixada ou comprada pela internet, só valia revista física.
Quantas pessoas compraram várias unidades? Pois é, eu comprei só uma. A revista não é baratinha, não, e eu sou recepcionista de um escritório de advocacia, ou seja, ganho pouco. E pra completar, o bilhete te dava direito a tudo pago pra você e seu acompanhante durante todo o cruzeiro. É muita sorte ou não é?
Minhas mãos começaram a pingar de nervoso.
— Cacete, esse sorteio que não começa - Nataly está tão aflita quanto eu. Nossa diferença é que sempre sofri calada, suo frio, me dá tremedeira, dor de barriga... mas não fico falando. E ela é meu completo oposto.
— Ai, tá dando dor de barriga.
— Segura aí, mulher - cruzo as pernas pra tentar fazer a cólica que tomou meu intestino passar, mas de nada adianta.
— Não vou aguentar, Naty.
— Segura esse orifício, mulher, já deve entrar a qualquer momento.
A sala escura só está sendo iluminada pela luz azulada da TV. O sofá branco e aconchegante da casa da Naty acomoda muito bem nós duas, mas eu rebolo sentada no lugar, como se algo me incomodasse, e me incomoda mesmo: a dor na barriga.
— Não vai dar, Naty, está ficando insuportável. - Me levanto na mesma hora e jogo a minha revista no colo dela, a coitada totalmente amarrotada de tanto que eu espremo-a de um lado a outro. - Se falar meu número, me avisa.
Só tenho tempo de correr para o banheiro e me sentar na privada. Sinto o alívio na minha barriga no mesmo momento que escuto o grito da Naty, vindo da sala não muito distante.
— É isso, cacete, sorte do caralho! - Escuto-a gritar e festejar na sala e eu tenho vontade levantar para agarra-la e parabeniza-la, mas a barriga não está permitindo que eu me levante ainda. Tenho certeza que a sortuda foi ela.
Quando tento me levantar do sanitário, Naty invade o cômodo pequeno e se arrepende no mesmo segundo, retornando para fora do cômodo e gritando do lado de fora.
— Sua cagona, nos dois sentidos, não acredito que você comprou só uma revista e foi seu número que saiu.
— O quê? - grito totalmente incrédula - Tá de sacanagem com a minha cara, né.
— É claro que não, acha que ia brincar com isso? Aliás, você tem que ligar em meia hora ou vão realizar outro sorteio. E se fizerem outro o seu está cancelado.
Arregalo os olhos, não posso perder a chance única da minha vida.
Me levanto e me arrumo rapidamente e deixo o banheiro da minha amiga.
— Apertou o botãozinho do aromatizante, amor? - debocha ela. O nervoso era tanto que estava me esquecendo, então voltei e acionei o botãozinho.
Corri para a minha bolsa e peguei o meu telefone, fico ainda mais nervosa porque a porcaria do número só dá ocupado. Não credito que vou perder meu bilhete por causa de um telefone ocupado? Ligo insistentemente até que cinco minutos depois sou atendida. Parece rápido, mas esses cinco minutos pareciam cinco horas.
A atendente justifica que a linha ficou congestionada de pessoas contestando o resultado e por isso a demora para ser atendida. Passo todos os meus dados e os dados do meu acompanhante: Willian Gomes.
Agora a ansiedade me toma, preciso falar com Willian, preciso contar a ele que teremos nossa Lua de Mel antecipada. Namoramos há três anos e esse é nosso presente de casamento antecipado. A nossa merecida lua de mel que não teríamos como pagar.
— Muito sortuda, cara. Uma revista só, tu merecia muito. Deus olhou de lá de cima e viu alguma coisa em você, minha amiga.
— Se eu não tivesse o Will eu te levaria, você sabe, né?
Abraço-a na porta de sua casa, já me despedindo dela.
— Eu sei, mas não se preocupe com isso, não. Sorte é sorte, e ela é sua. Você mereceu. Vai contar pro seu amado.
Com um sorriso me despeço de Nataly e pego meu telefone, ligando para o meu namorado. Ele demora a atender, mas na segunda tentativa ele atende no primeiro toque.
— Fala gostosa, tava ocupado.
— Vem me encontrar no nosso barzinho de sempre.
— Agora? Tô ocupado, gata.
— O que você está fazendo de tão importante em um domingo a noite?
— Eu sou autônomo, né, gostosa. Tenho que adiantar as coisas pra amanhã.
Suspiro fundo, mas eu não ia ceder.
— Ganhei o sorteio.
— Que sorteio?
— Aquele da revista de turismo que dava um bilhete com direito a acompanhante com tudo pago no cruzeiro mais chique do Brasil.
— Tá de sacanagem?
— Não tô, pergunta pra Naty. E se você não vier me encontrar, vou levar a Naty no seu lugar.
— Ah, não, pô. Eu sou seu gato, vai levar amiga pra cruzeiro nada.
— Então vem pro nosso barzinho e não posso esperar muito, não. - Exijo e desligo no segundo seguinte.
Caminho para o barzinho combinado, me acomodo e peço uma cerveja. Em menos de dez minutos Will chega.
Seu perfume me embriaga, os cabelos encaracolados úmidos de um banho recente. A camisa azul clara semiaberta, mostrando o peito moreno sem pelo algum.
— Oi, meu amor - fala ele e se inclina para me beijar de se sentar. - Fala que foi só uma piada pra me tirar de casa, não vou ficar chateado.
— Não é piada. - Jogo a revista na frente dele - Confere o número sorteado no site da revista.
— É sério então?
— Super sério.
— Caraca! - Ele abre na parte que explica sobre o sorteio, vê as fotos do cruzeiro - Buenos Aires?
— E Montevidéu - Bebo minha cerveja.
— Nove dias?
— E oito noites.
Ele continua lendo as informações.
— Tudo pago, tipo, tudo mesmo?
— Tudo - pego a revista de sua mão. - Embarque e desembarque em Santos.
— Em São paulo, mas como nós vamos pra lá? Tenho dinheiro, não, gata.
— Nem eu, gato. Vai pedir sua cerveja, não?
Ele ergue a mão pedindo uma garrafa ao garçom.
— Então como vamos?
— Um carro de aplicativo vai vir nos buscar e nos trazer, tudo pago, lembra?
Seu sorriso se amplia.
— Caraca, aí, sortuda mesmo.
— Nunca tive sorte na vida, Will, acho que alguém lá em cima teve pena de mim e resolveu me dar uma trégua.
— Nunca imaginei tirar férias em um lugar como esse?
— Nem eu, Will, nunca nem tirei férias! Desde que comecei a trabalhar no escritório do Doutor Carlos. Sempre aceitei trocar as férias.
— Mais que merecido, então.
Ele pega sua cerveja e vira direto da garrafa na boca. Bebe direto do gargalo como ele sempre faz.
— Sem contar que é nossa Lua de mel antecipada, né.
Ele para de engolir a cerveja e me encara, engole e finalmente fala.
— Lua de Mel?
— Três anos de namoro, Will, tá na hora de casar, né.
Ele volta a beber, dessa vez um grande gole.
— Claro, gata, tá na hora, mesmo.
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Olá, lindas leitoras!
Você gosta de histórias de CEO's? Então ja salva na sua biblioteca o livro Uma noite com o CEO da autora L.S. santos. Boa leitura.
AdrianMeus cotovelos estão sobre a mesa, a cabeça pende sendo firmada por minhas mãos. Esfrego meus cabelos crespos e curtos com os dedos em sinal de nervosismo.— O que diabos está acontecendo nessa empresa?Resmungo comigo mesmo.Recosto-me na cadeira, encarando os papéis a minha frente. A pilha que se forma ao lado de contas que não batem, faturas com supervalores.— Quem fez isso? - questiono para mim mesmo, mas o ar frio do ar condicionado altíssimo da minha sala não irá me responder. Pego o telefone para falar com a secretária.— Antonela, marque uma reunião com toda a liderança, por favor. Pra hoje em uma hora.Dou a ordem e me recosto novamente, ainda encarando os papéis. Fiz e refiz as contas várias vezes e nada de chegar a uma conclusão diferente de que há um rombo na empresa. Um rombo de milhões em poucos meses. Se continuar assim, a empresa vai precisar pedir falência porque não teremos condições nem de abrir as portas.Retiro meus óculos de grau e coloco sobre a mesa, pe
GeovanaAbri os olhos e em seguida uma sensação estranha me abateu, não soube descrevê-la. A luz entrava forte pela janela e eu pisquei, estranhando a forte luz que adentrava meu quarto, já que normalmente desperto quando a luz ainda está fraca e suave. Uma urgência me toma ao lembrar o que isso pode significar.Pulo da cama e vou até a mesinha pegar meu celular para verificar as horas, mas percebo que ele descarregou durante a noite.— Merda!Xingo ao constatar que estou atrasada e nem sei o quanto. Cheguei meio chapada em casa e fui deitar me esquecendo de colocar o celular para despertar. Hoje não é um bom dia para chegar atrasada, já que eu teria que informar ao meu chefe que vou tirar nove dias de férias, dez na verdade, pois tem a viagem para São Paulo um dia antes da saída do cruzeiro. Trabalhando há cinco anos na empresa sem nunca tirar férias, é mais que o meu direito tirar esses dez dias. Mas o atraso o deixará irritado, o que poderá dificultar as coisas para mim.Ligo a TV
AdrianAinda bem que estava sentado, pois teria desabado no chão após a notícia. Meus joelhos perderam a força, minha boca se abriu e meus olhos se arregalaram.— Como? - Ela riu como se eu tivesse contado a maior piada do mundo.— Quer mesmo que eu te conte como? Eu tenho uma sugestão muito melhor, que tal relembrarmos o momento em que ele foi feito? - Ela fala e espalma a mão na barriga levemente elevada. Seria possível?— Mas não temos nada há três meses, quase quatro! - exclamo - Como o filho pode ser meu?Ela abre a bolsa, coloca alguns papéis sobre a mesa e se senta na cadeira do visitante.— Aí está o laudo da ultrassonografia, o exame de sangue, e o que mais você quiser como prova estou disposta a fazer - ela muda seu tom de voz, agora falando sério, como poucas vezes a ouvi falar. - Nosso filho tem exatamente o tempo gestacional da nossa última relação, não estive com outro homem que não fosse você. Posso ser o que você quiser, mas não sou uma puta. Logo depois do fim do noss
Geovana— O quê? - questiono ao meu chefe totalmente incrédula de suas palavras - Eu nunca tirei férias, nunca!— Mas nunca foi obrigada. - Ele se recosta em sua cadeira e cruza os braços, seu sorriso me irrita e fez um ódio descomunal ferver em meu sangue. - Posso desenterrar todas as folhas que você assinou ao longo dos anos. Vá atrás de seus direitos. - Seu sorriso expandiu ainda mais, e eu quase explodi.— Se acha que vou abrir mão do meu prêmio por causa desse emprego de merda, está muito enganado.— Que bom que o classifica como um emprego de merda, pois estou promovendo em seu lugar a Paulinha que acabou de assumir o seu posto.Precisei muito me controlar para não voar no pescoço do homem a minha frente.— Quer dizer que promoveu uma recém chegada a um cargo melhor, mas não me promoveu em todo esse tempo?Ele só estalou a língua, mostrando que não tinha interesse em dar prosseguimento a conversa.— Afinal, vai querer seu emprego de merda ou sua viagem de nove dias e se tornar m
Adrian — Tem nada acontecendo - respondo tentando levantar o vidro do carro para despistar, mas Jade empurra o microfone para dentro do veículo. — Nossa fonte garantiu que havia rombos misteriosos, como o senhor explica isso? — Sua fonte está enganada. Agora, me dê licença, por favor. Começo a avançar com o carro lentamente, tentando fazer as pessoas se afastarem. — O senhor vai mesmo embarcar em seu cruzeiro para investigação? — Não tem o que ser investigado, querida. Por favor, me dê licença. Ela ainda tentou insistir, mas me desviei de toda forma possível, e consegui fechar o vidro e sair com o carro. Balancei os ombros e a cabeça, afastando a tensão que se formava. Meu telefone tocou e era minha mãe, mas não queria falar com ninguém, precisava colocar minha cabeça no lugar e decidir o que eu faria agora. Afinal, meu plano foi descoberto, e de alguma forma a informação que deveria ser sigilosa escapou. Ao chegar em meu apartamento, retiro a camisa e o sapato e vou para a m
Geovana“Meu Deus, eu vou me perder aí dentro.”É a primeira coisa que passa pela minha cabeça quando vejo o enorme navio na minha frente. Muitas pessoas estão a minha volta e eu sinto uma sensação muito estranha, estou sozinha, mas é como se não estivesse. Sinto como se alguém fosse chegar do meu lado a qualquer momento e falar: “Ah, que bom que você está aqui, estava te procurando.”Mas é claro que isso não acontece.Finalmente somos autorizados a embarcar e eu arrasto as minhas malas, na verdade, as malas de minha amiga Nataly. Pego meu bilhete e verifico o meu quarto “34B” sou orientada pela moça gentil que recebia a todos que entravam na grande embarcação.Suspiro ao ver a porta do meu quarto. Até o dia anterior eu tinha dúvidas se viria, por isso acabei não confirmando a viagem. Nataly praticamente arrumou minhas malas a força, pois eu repetia veementemente que não embarcaria sozinha.— Antes eu não tivesse dado o nome do Willian, aí eu poderia te levar. - reclamei com ela, desa
Adrian O problema de nascer em uma família de boa condição financeira é que você não aprende a fazer serviços braçais desde cedo, e agora o fato de ter passado o dia carregando caixas e sacos pesados durante todo o dia está cobrando o seu preço. Desde que me viram na adega e me pediram que pegasse um saco de batatas que meu dia não parou, sempre que entregava um, recebia o pedido para outra coisa. E agora estou morto de cansaço, preciso investigar, foi pra isso que me infiltrei nesse navio sem nem mesmo informar a minha mãe, e tudo o que consegui hoje foi descobrir as garrafas de vinho superfaturadas e tirar foto delas. Mas no momento, tudo o que eu quero é um bom banho e depois arrumar um meio de ter comida. Não me misturei aos outros funcionários para o jantar, já que tinha medo que me descobrissem em meio a conversa descontraída. Durante o trabalho, ninguém olha muito na cara um do outro, mas quando se para para comer e beber, a coisa muda de figura. Entrei no quarto e notei qu
Geovana “Minha santa das solteiras, me segura” Foi o que pensei quando a boca do boy supergato selou a minha. Deveria me afastar, me fazer de difícil, mas não consegui nem pensar naquele momento, reagir então, impossível. Acabei aceitando o seu beijo gostoso e o aprofundando. Minhas mãos percorreram o peito musculoso e liso dele e senti algo em mim se animar, mas um beijo com um desconhecido é uma coisa, algo a mais não faz meu tipo, eu não sou assim, apesar que esse homem é uma tentação. Encerro o beijo com um selinho e aguardo a reação dele. Seus olhos escuros me encaram, seus lábios grossos estão entreabertos, posso jurar que ele queria mais daquele beijo. — Tem certeza que dividirmos o quarto pode ser uma boa ideia? - questiona e eu sei que seus pensamentos tomaram o mesmo rumo que o meu. Se em nosso primeiro encontro já nos beijamos, como seria os próximos dias? Me levanto e me afasto dele para ficarmos em uma distância segura para podermos conversar, pois a atração que se