4- A ex-namorada

Adrian

Ainda bem que estava sentado, pois teria desabado no chão após a notícia. Meus joelhos perderam a força, minha boca se abriu e meus olhos se arregalaram.

— Como? - Ela riu como se eu tivesse contado a maior piada do mundo.

— Quer mesmo que eu te conte como? Eu tenho uma sugestão muito melhor, que tal relembrarmos o momento em que ele foi feito? - Ela fala e espalma a mão na barriga levemente elevada. Seria possível?

— Mas não temos nada há três meses, quase quatro! - exclamo - Como o filho pode ser meu?

Ela abre a bolsa, coloca alguns papéis sobre a mesa e se senta na cadeira do visitante.

— Aí está o laudo da ultrassonografia, o exame de sangue, e o que mais você quiser como prova estou disposta a fazer - ela muda seu tom de voz, agora falando sério, como poucas vezes a ouvi falar. - Nosso filho tem exatamente o tempo gestacional da nossa última relação, não estive com outro homem que não fosse você. Posso ser o que você quiser, mas não sou uma puta. Logo depois do fim do nosso relacionamento, fui para Paris e Londres, passar uns dias na casa de parentes que eu tenho lá, você sabe. E qual foi minha surpresa quando os primeiros sintomas começaram a surgir? A mesma ou até pior que a sua. Tomei coragem pra voltar e te contar, e aqui estou. Eu tenho direitos, você tem direitos e ele tem direitos. - Conclui espalmando a mão novamente.

Observo os documentos. Ela se levanta e vai pegar a cachorrinha que ainda passeia pela sala despreocupadamente.

— O que você quer? - pergunto após analisar os papéis e constatar que ela tem razão.

— Que você dê toda assistência a mim e ao nosso filho. Começando por um apartamento próximo ao centro comercial, não quero precisar me deslocar quilômetros até a clínica ou até o shopping.

— Vou pedir o exame de DNA.

— Até agora, meu bem. Não sei se já pode fazer, mas se puder, estou disposta. - Ela encara as unhas perfeitas e torce o nariz - Estas unhas estão um horror. Venho te visitar em breve, meu bombom, agora vou fazer as unhas.

Andando calmamente, ela abre a porta da sala e me deixa totalmente embasbacado.

Encaro a porta branca fechada e um peso enorme se instala sobre meus ombros, eu não precisava de mais um motivo pra me preocupar. Não precisava de algo a mais para pensar. Com tanto desvio de verba acontecendo misteriosamente, ainda preciso dar assistência a mãe do meu filho e ao meu filho quando ele nascer.

Passo os dedos por debaixo dos óculos, apertando minhas vistas que pesam com a exaustão. Escuto a porta se abrir.

— É verdade? - ouço a voz da minha mãe. Não queria encará-la agora, continuo apertando os olhos.

— Puta merda, mano, não sei se te dou os parabéns ou os pêsames. - Meu irmão fala. Pronto, agora tá formado. A tropa tá quase toda aqui, só falta surgir Ariane, minha irmã gêmea, aqui na sala do nada. Como às vezes costuma aparecer, farejando treta.

— Quem morreu? - gemo, pois é inacreditável.

Solto o ar pesado antes de encarar minha família inteira na minha frente.

— Eu vou morrer em breve.

Sem entender nada, Ariane encara a todos nós esperando resposta.

— O que a lambisgoia da Mirela estava fazendo aqui?

— Veio trazer a coroa de flores - falo com desgosto e minha irmã olha em volta da sala, provavelmente sem entender a piada sobre mim mesmo.

Acabo resumindo para ela o meu dia de merda e o golpe de misericórdia da Mirela.

— Grávida! - ela fala alto. - Mas é esperta, mesmo. Sempre disse isso a você, aquela lá nunca teve cara de boba. Nem de fútil e burra, ela usa aquela máscara pra enganar os trouxas iguais a você.

— Nossa, muito brigado por chutar o morto - reclamo.

Ela vem na minha direção e me abraça.

— Ah, irmãozinho, eu sei que é muita coisa pra você, mas quantas vezes te avisei, não foi? Pelo menos sobre ela. Mas esse babado da empresa, isso é coisa bem grande.

— Tenho um plano para tentar descobrir alguma coisa sobre isso. Tudo o que pude fazer daqui de dentro eu fiz, agora preciso buscar outras fontes. Aqui não tem nada, a pessoa que fez isso é muito competente.

— E o que vai fazer? - Ela se senta na cadeira para ouvir meu plano, minha mãe se acomoda atrás dela e meu irmão apoia o quadril na minha mesa e cruza os braços.

Conto tudo o que tenho planejado.

— Parece um bom plano - ela fala - sabe que pode contar comigo, não é.

— Eu sei que posso contar com todos vocês - falo encarando a minha família que está toda na minha frente.

Depois da morte de meu pai, parece que nos unimos ainda mais. Jairo que não trabalhava na empresa, veio para cá para ajudar a dar continuidade ao projeto do papai, só Ariane que decidiu continuar sua carreira de designer que por sinal estava indo muito bem.

— Mas é verdade, mesmo? - meu irmão ainda questiona.

— Sabia que você era lerdo, mas nem tanto - fala Ariane para Jairo.

— Cala a boca, fedelha.

— Fedelho é tu. Eu sou mais velha que você, e mais nova que Adrian só três minutos.

— Parem já! - minha mãe chama a atenção deles - Caramba! Parece que tem três anos de idade!

Os dois bufam.

— Para esclarecer, sim, é verdade. Mirela disse que vou ser pai, tudo indica que é verdade, mas vou pedir o DNA pra confirmar. E agora, por favor, preciso começar a trabalhar em cima da minha viagem em poucos dias. Tenho que deixar tudo aqui em ordem, e não é com vocês no meu ouvido que vou conseguir.

Eles entendem a mensagem e deixam minha sala. Ariane me dá um beijinho na bochecha antes de segui-los.

Não é pouco o que preciso organizar.

Passo o resto do dia no escritório, mas ainda tenho muita coisa pelos próximos dias. Quando finalmente dá a hora do fim do expediente, Antonela se despede e eu fico ainda por mais meia hora, antes de desligar o computador e sair da minha sala.

Os corredores da empresa já estão vazios. Desço pelo elevador até o estacionamento e pego meu carro, havia poucos carros em sua vaga, a maioria já foi embora.

Quando meu carro se aproxima da saída do prédio, vejo uma comoção grande do lado de fora e não faço a menor ideia do que pode ser. Saio devagar, mas as pessoas começam a cercar meu carro.

“Que diabos está acontecendo?”

A jornalista ruiva da Maior TV da cidade, vem na direção do meu carro. Ela trabalha naqueles programas de fofoca e já deve estar sabendo sobre a gravidez de Mirela, se bobear, foi ela que chamou a imprensa para me pressionar. E a jornalista já não gosta, né. Jade me persegue há alguns anos, sempre que surge qualquer historinha sobre a minha vida ela vem me cercar, nem sei porque não a esperava no dia de hoje.

Abro a janela, pronto para confirmar a suspeita de que serei pai, mas não é isso que ela pergunta e seu real motivo por estar aqui no dia de hoje é uma surpresa para mim.

— Senhor Adrian Brandão, é verdade que sua empresa está sofrendo rombos misteriosos e que o senhor vai embarcar no próximo cruzeiro apenas para investigar possíveis fraudes?

Ela estende o microfone na minha frente e eu não sei o que responder, afinal, como ela soube de tudo isso?

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