Geovana
Abri os olhos e em seguida uma sensação estranha me abateu, não soube descrevê-la. A luz entrava forte pela janela e eu pisquei, estranhando a forte luz que adentrava meu quarto, já que normalmente desperto quando a luz ainda está fraca e suave. Uma urgência me toma ao lembrar o que isso pode significar.
Pulo da cama e vou até a mesinha pegar meu celular para verificar as horas, mas percebo que ele descarregou durante a noite.
— Merda!
Xingo ao constatar que estou atrasada e nem sei o quanto. Cheguei meio chapada em casa e fui deitar me esquecendo de colocar o celular para despertar. Hoje não é um bom dia para chegar atrasada, já que eu teria que informar ao meu chefe que vou tirar nove dias de férias, dez na verdade, pois tem a viagem para São Paulo um dia antes da saída do cruzeiro. Trabalhando há cinco anos na empresa sem nunca tirar férias, é mais que o meu direito tirar esses dez dias. Mas o atraso o deixará irritado, o que poderá dificultar as coisas para mim.
Ligo a TV e coloco no canal de notícias que tem a hora na tela o dia inteiro e então eu levo um susto. Nove horas da manhã. Eu levanto as seis, saio de casa seis e meia e chego no escritório sete e meia para abri-lo as oito com tudo bem organizado. A mesa do chefe e seus associados, a minha própria mesa e a agenda. Sempre cheguei nestes últimos cinco anos exatamente meia hora antes de meu expediente começar. E agora estou uma hora atrasada, sem contar o tempo de percurso até lá, nem se eu chamasse o carro de aplicativo teria como compensar meu atraso.
— Merda dupla.
Coloco meu telefone para carregar enquanto vou me arrumar, e faço isso em tempo record. Em dez minutos, saio de casa com meu telefone a dez por cento e empurrando meio dúzia de biscoitos goela abaixo. Vou andando rapidamente até o posto de saúde da minha rua, vou tentar pegar um atestado médico.
Ligo para o escritório e o Dr. Carlos, muito bravo, atende ao telefone que eu deveria atender.
— Ah, Dr Carlos, precisava mesmo falar com o senhor.
Falo torcendo o nariz e o dedo. Só falta ter tido muita sorte em um dia e o resto de meus dias de puro azar.
— Geovana? Por que não chegou ainda?
— Liguei por isso, Dr. Carlos, estou muito doente hoje, acordei com dor de cabeça e febre e estou na fila do posto. - Até fingi uma tosse meio desengonçada, só não sei se é o suficiente para enganar ao advogado.
— Não vem trabalhar, hoje? - Cachorro, nem pergunta se eu estou bem ou se preciso de alguma coisa, já pergunta se vou faltar.
— Eu vou, é claro, assim que for medicada seguirei para o trabalho, mas a fila está tão grande...
Olhei a fila de espera e vi que aquela fila já esteve muito maior em outros dias.
— Chegue após o horário de almoço e com um comprovante de comparecimento, junto com uma receita médica.
— Tudo bem, Dr. Carlos, pode deixar.
Ele desligou em seguida sem nem mesmo falar um mísero “tchau” ou um “Tenha um bom dia” ou somente um “melhoras”. Falta de educação vemos aqui. Suspiro com o pensamento e dou o primeiro passo na fila de atendimento.
Depois de fazer a minha ficha, ainda fiquei esperando para ser atendida. Ao chegar no médico falei de dor no corpo e dor de cabeça, fiz um pequeno teatro, não sei se convenceu, pois ao pedir a declaração ele só ajeitou os óculos me encarando e preencheu o papel, junto com o pedido para que eu tomasse um determinado medicamento na enfermaria. Não tinha receita, apenas um pedido de retorno caso os sintomas continuassem.
Caminhei vagarosamente, fingindo dor, para a enfermaria, a procura de uma abertura qualquer e finalmente eu vejo uma. Entro e vejo que estou em um lugar cheio de vassouras e pilhas de roupas de cama emboladas, devem estar sujas, caixas amassadas, rodos, esfregões... ando rapidamente até ver uma luz ao final do corredor e sinto um grande alívio ao chegar no final dele, encontrando a saída.
Pena que ela dava para a lavanderia.
— Leva isso lá pra cima - só ouvi as palavras da mulher ao depositar uma pilha de lençóis em meus braços. Imediatamente pensei: mas e a luz que vi? Ao girar o pescoço, vi uma grade janela por onde entrava uma abundante quantidade de luz do Sol. Explicado.
— Mas eu...
— Não te ensinaram o serviço, ainda? São uns incompetentes mesmo, avisaram que teria funcionário novo, mas não falaram nada sobre ensinar o serviço - me interrompeu a mulher em seu monólogo e tudo o que eu queria era sair dali.
Olhei para mim mesma, e só então me dei conta que vestia um conjunto azul, o mesmo tom da roupa dos funcionários do posto. “Droga!” Por isso a pequena senhora me confundiu.
— Venha, eu vou te mostrar o serviço - falou ela já agarrando meu braço e me arrastando dali, um desespero me bateu. Olhei o relógio na parede, porque meu celular já morreu e eu não tenho um de pulso, aliás, preciso comprar. Observação anotada mentalmente com sucesso. Já são onze da manhã, ainda vou pegar um ônibus até o trabalho, almoçar e então chegar no escritório. Preciso sair daqui imediatamente.
— Não, não! Pode deixar que eu encontro o lugar.
— Tem certeza? - seus olhinhos miúdos brilham em esperança.
— Claro, eu posso encontrar o lugar, não se preocupe.
Ela sorriu voltando para seus afazeres.
Joguei os lençóis em cima das caixas no caminho e atravessei a saída por onde havia entrado, me lembrei de fingir dor novamente, vai que o médico está me observando.
Reduzi o passo, fiz careta e alisei a bunda. Deu tempo de tomar uma injeção, né, acho que que sim. Atravesso a porta e vou para o ponto de ônibus, logo vem o coletivo e finalmente me parece que tive um pouco de sorte. Pego o ônibus vazio devido ao horário, nuca que eu ia trabalhar sentada. Sempre fazia o percurso de pé, salvo quando dava sorte de parar perto de alguém que saltava em um ponto até no máximo a metade do caminho. Porque depois disso, nem faz muita diferença.
Assim que relaxo no banco, me dou conta de que o papel não está na minha mão. Um frio percorre meu corpo. Não posso ter perdido tanto tempo a toa. Abro a bolsa e verifico dentro dela, vendo que não há nada ali. Bato com a mão na testa, me lembrando que possivelmente deixei os papéis junto com as lençóis sobre a caixa.
— Puta merda, que azar do cão, definitivamente hoje não é meu dia.
Fico pensando no que falar para o Dr. Carlos, ele vai acreditar em mim. Ao chegar, almoço e subo para o escritório
Explico a ele que acabei perdendo os papéis no ônibus, mas que ele pode pedir as câmeras do postinho que verá a minha imagem lá. Mas é óbvio que não fará isso. E já que estava enfrentando a fera, aproveitei e soltei o que precisava de uma vez.
— Tem mais uma coisa, Dr. Carlos. - Ele apoia os cotovelos sobre a mesa e me encara com aquele bigode branco enorme que mais uma parece uma mariposa gigante. - Eu ganhei o sorteio do cruzeiro, vou precisar ficar dez dias fora.
Peguei a revista em minha bolsa e coloquei sobre a mesa. Ele piscou muitas vezes, muitas vezes mesmo.
— Pode conferir o número da revista no site, se quiser.
— Dez dias?
— Senhor, eu trabalho há cinco anos no seu escritório. Nunca tirei férias, nunca cheguei atrasada, somente hoje. Sempre fiz o meu melhor para a sua empresa, só estou pedindo dez dias que é o que preciso para usufruir do meu prêmio.
Ele pega a revista, abre na parte da promoção e faz as mesmas observações que meu namorado havia feito. Confirmo tudo, o local, os dias, o fato de ser tudo pago.
Ele j**a a revista na minha frente e fala:
— Vai ter que escolher: o prêmio ou o seu trabalho.
AdrianAinda bem que estava sentado, pois teria desabado no chão após a notícia. Meus joelhos perderam a força, minha boca se abriu e meus olhos se arregalaram.— Como? - Ela riu como se eu tivesse contado a maior piada do mundo.— Quer mesmo que eu te conte como? Eu tenho uma sugestão muito melhor, que tal relembrarmos o momento em que ele foi feito? - Ela fala e espalma a mão na barriga levemente elevada. Seria possível?— Mas não temos nada há três meses, quase quatro! - exclamo - Como o filho pode ser meu?Ela abre a bolsa, coloca alguns papéis sobre a mesa e se senta na cadeira do visitante.— Aí está o laudo da ultrassonografia, o exame de sangue, e o que mais você quiser como prova estou disposta a fazer - ela muda seu tom de voz, agora falando sério, como poucas vezes a ouvi falar. - Nosso filho tem exatamente o tempo gestacional da nossa última relação, não estive com outro homem que não fosse você. Posso ser o que você quiser, mas não sou uma puta. Logo depois do fim do noss
Geovana— O quê? - questiono ao meu chefe totalmente incrédula de suas palavras - Eu nunca tirei férias, nunca!— Mas nunca foi obrigada. - Ele se recosta em sua cadeira e cruza os braços, seu sorriso me irrita e fez um ódio descomunal ferver em meu sangue. - Posso desenterrar todas as folhas que você assinou ao longo dos anos. Vá atrás de seus direitos. - Seu sorriso expandiu ainda mais, e eu quase explodi.— Se acha que vou abrir mão do meu prêmio por causa desse emprego de merda, está muito enganado.— Que bom que o classifica como um emprego de merda, pois estou promovendo em seu lugar a Paulinha que acabou de assumir o seu posto.Precisei muito me controlar para não voar no pescoço do homem a minha frente.— Quer dizer que promoveu uma recém chegada a um cargo melhor, mas não me promoveu em todo esse tempo?Ele só estalou a língua, mostrando que não tinha interesse em dar prosseguimento a conversa.— Afinal, vai querer seu emprego de merda ou sua viagem de nove dias e se tornar m
Adrian — Tem nada acontecendo - respondo tentando levantar o vidro do carro para despistar, mas Jade empurra o microfone para dentro do veículo. — Nossa fonte garantiu que havia rombos misteriosos, como o senhor explica isso? — Sua fonte está enganada. Agora, me dê licença, por favor. Começo a avançar com o carro lentamente, tentando fazer as pessoas se afastarem. — O senhor vai mesmo embarcar em seu cruzeiro para investigação? — Não tem o que ser investigado, querida. Por favor, me dê licença. Ela ainda tentou insistir, mas me desviei de toda forma possível, e consegui fechar o vidro e sair com o carro. Balancei os ombros e a cabeça, afastando a tensão que se formava. Meu telefone tocou e era minha mãe, mas não queria falar com ninguém, precisava colocar minha cabeça no lugar e decidir o que eu faria agora. Afinal, meu plano foi descoberto, e de alguma forma a informação que deveria ser sigilosa escapou. Ao chegar em meu apartamento, retiro a camisa e o sapato e vou para a m
Geovana“Meu Deus, eu vou me perder aí dentro.”É a primeira coisa que passa pela minha cabeça quando vejo o enorme navio na minha frente. Muitas pessoas estão a minha volta e eu sinto uma sensação muito estranha, estou sozinha, mas é como se não estivesse. Sinto como se alguém fosse chegar do meu lado a qualquer momento e falar: “Ah, que bom que você está aqui, estava te procurando.”Mas é claro que isso não acontece.Finalmente somos autorizados a embarcar e eu arrasto as minhas malas, na verdade, as malas de minha amiga Nataly. Pego meu bilhete e verifico o meu quarto “34B” sou orientada pela moça gentil que recebia a todos que entravam na grande embarcação.Suspiro ao ver a porta do meu quarto. Até o dia anterior eu tinha dúvidas se viria, por isso acabei não confirmando a viagem. Nataly praticamente arrumou minhas malas a força, pois eu repetia veementemente que não embarcaria sozinha.— Antes eu não tivesse dado o nome do Willian, aí eu poderia te levar. - reclamei com ela, desa
Adrian O problema de nascer em uma família de boa condição financeira é que você não aprende a fazer serviços braçais desde cedo, e agora o fato de ter passado o dia carregando caixas e sacos pesados durante todo o dia está cobrando o seu preço. Desde que me viram na adega e me pediram que pegasse um saco de batatas que meu dia não parou, sempre que entregava um, recebia o pedido para outra coisa. E agora estou morto de cansaço, preciso investigar, foi pra isso que me infiltrei nesse navio sem nem mesmo informar a minha mãe, e tudo o que consegui hoje foi descobrir as garrafas de vinho superfaturadas e tirar foto delas. Mas no momento, tudo o que eu quero é um bom banho e depois arrumar um meio de ter comida. Não me misturei aos outros funcionários para o jantar, já que tinha medo que me descobrissem em meio a conversa descontraída. Durante o trabalho, ninguém olha muito na cara um do outro, mas quando se para para comer e beber, a coisa muda de figura. Entrei no quarto e notei qu
Geovana “Minha santa das solteiras, me segura” Foi o que pensei quando a boca do boy supergato selou a minha. Deveria me afastar, me fazer de difícil, mas não consegui nem pensar naquele momento, reagir então, impossível. Acabei aceitando o seu beijo gostoso e o aprofundando. Minhas mãos percorreram o peito musculoso e liso dele e senti algo em mim se animar, mas um beijo com um desconhecido é uma coisa, algo a mais não faz meu tipo, eu não sou assim, apesar que esse homem é uma tentação. Encerro o beijo com um selinho e aguardo a reação dele. Seus olhos escuros me encaram, seus lábios grossos estão entreabertos, posso jurar que ele queria mais daquele beijo. — Tem certeza que dividirmos o quarto pode ser uma boa ideia? - questiona e eu sei que seus pensamentos tomaram o mesmo rumo que o meu. Se em nosso primeiro encontro já nos beijamos, como seria os próximos dias? Me levanto e me afasto dele para ficarmos em uma distância segura para podermos conversar, pois a atração que se
Adrian— Filho da mãe - resmungo sem olhar para onde ele está, só o escuto.— Adrian, Adrian... ele está indo - Geovana fala alarmada.— O quê?— Ele está indo... - fala me arrastando, mas quando vou protestar dizendo que ele iria me notar, percebo que ele já está longe e que se quisermos ouvir mais alguma coisa teremos que andar logo. - Vamos perdê-lo de vista... - ela apressa o passo e me arrasta com ela.O diretor do cruzeiro guarda o telefone no bolso e continua andando, o seguimos.— Droga, ele guardou o telefone - Geovana parece mais empolgada com a investigação do que eu. Com certeza em seu lugar iria estar na piscina assistindo ao show.— Vai pro show, Geovana, aproveita seu passeio.— Mas eu prometi te ajudar - reclama encarando meus olhos, putz, como a garota é bonita.— Já me ajudou...— Nem vem tentar me dispensar, vamos seguir o canalha, se começamos vamos terminar - fala decidida e nem me dá tempo de resposta, volta a me arrastar pelos corredores do navio e quando perceb
Geovana“É hoje, meu pai, é hoje!”Sinto a mão de Adrian segurar em meu traseiro com força. Não reajo contra sua ação, na verdade eu gostei bastante da pegada dele. O beijo voraz que ele iniciou, logo já havia virado um incêndio e em um ataque súbito de consciência, ele se lembra que estamos no meio da piscina, cercados de gente e em meio a um show.Enquanto estávamos na piscina, senti a mão dele percorrer meu corpo, segurar nas minhas nádegas com firmeza e não era só a sua pegada que estava firme. Quando ele me puxou mais para si, senti o volume em sua bermuda e a dureza. Confesso que se não estivesse encharcada da piscina, teria me molhado toda naquele momento.— Vamos para o quarto?Questionou ele e eu sabia que era uma espécie de permissão. Se eu dissesse que sim, estaria aceitando momentos maravilhosos e deliciosos com ele e eu não sou louca de negar algo assim com um homem tão lindo. Mesmo sendo algo que eu não costumava fazer. Há uma primeira vez para tudo e eu vim a esse cruze