Ele estava escrevendo, as mãos dele são brancas, os dedos finos e compridos, uma letra impecável, fiquei pensando, se ele fosse mais gentil, talvez fosse casado ou teria alguma namorada.

— Ok! Pode sair — ele disse sem me olhar.

Voltei cuidar dos meus afazeres, pensei que seria mais grosso comigo, até que não foi, tenho mil coisas para fazer e sempre tem alguém me chamando, ligando ou pedindo algo, se continuar assim eu não vou conseguir trabalhar.

— Bom dia Bianca tudo bem? — seu Alfredo cumprimentou. — Você está pálida vai comer alguma coisa.

— Bom dia seu Alfredo tudo bem? — saudei.

— Ótimo! — ele respondeu piscando para mim.

— Eu já vou tomar café, tive que fazer uns relatórios que o seu Alexandre me pediu ontem e eu não consegui terminar — falei com os braços cruzados em cima da mesa.

— Ele sempre faz isso com você, acredito que faz de propósito — alertou seu Alfredo.

— Não tem problema seu Alfredo, estou aqui para isso mesmo — falei. — E como está Dona Bárbara?

— Está bem graças a Deus — ele respondeu pegando um café para nós dois.

— Obrigada. — agradeci. — Mande um abraço a ela.

— Bom dia pai, temos um problema. — Alexandre saiu da sala dele e nos interrompeu.

— Bom dia Alexandre, qual o problema? — seu Alfredo perguntou puxando uma cadeira ao meu lado para ouvir.

“Eles discutindo isso aqui na minha mesa não vai dar certo.” Pensei.

— Estava tudo agendado para dar início ao controle de estoque na semana que vem, mas o responsável por isso nos abandonou hoje — Alexandre explicou.

— Não tem nenhum funcionário que saiba fazer isso? — seu Alfredo perguntou, batendo irritantemente uma caneta na minha mesa.

— Ninguém foi treinado para isso, se colocasse outra pessoa com certeza ficaria um mês para fazer a contagem e nós não temos um mês — Alexandre respondeu sem desviar o olhar do pai.

— Você sabe que eu sou turista aqui no Porto, raramente apareço por aqui, mas você quer uma opinião minha? — seu Alfredo perguntou soltando a caneta e cruzando os braços.

— Eu quero, estou de mãos atadas — Alexandre falou, colocando as mãos nos bolsos da calça social perfeitamente bem passada.

— A Bianca é extremamente competente, faça você e ela — ele sugeriu.

Eu fui do céu ao inferno em segundos, que merda o seu Alfredo me colocou, o Alexandre me fitou imediatamente com a sugestão do pai.

— Bianca você pode dar uma força para o Alexandre nessa tarefa? — seu Alfredo perguntou, não me deixando alternativas.

Puxei o ar para dentro do peito, querendo negar o pedido do seu Alfredo, mas sou incapaz de fazer isso com ele.

— Pode contar comigo seu Alfredo — respondi e corri os olhos no Alexandre que estava me fitando com a pior cara que ele poderia ter.

— Muito obrigado minha querida — ele respondeu carinhosamente e foi para a loja.

Olhei para o Alexandre na sequência e ele só fez um gesto com a cabeça, ele deve estar duvidando que somos capazes.

— Segunda-feira às sete sairemos daqui Bianca! — ele falou e foi para sua sala.

Terei que preparar meu psicológico para aguentar esse homem estressado o tempo todo. Vou tomar meu café rapidinho e voltar aos meus afazeres antes que eu escute merda do todo-poderoso de novo.

Essa contagem de mercadoria vai nos fazer passar alguns dias muito perto um do outro, meu amor e meu ódio se encontram quando estou perto dele, mas vale a pena o risco, só para sentir seu cheiro. Depois do café voltei ao trabalho, com meu cérebro processando a informação de que terei que ficar muito mais perto dele do que já fico, isso pode ser trágico para mim, ou pode ser incrível, a primeira opção é a mais provável.

De: Bianca

Para: Jéssica

Jéssica, me chama quando puder.

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De: Jéssica

Para: Bianca

Oi! Bianca, você me mandando mensagem em horário de trabalho, aconteceu algo? Não é extremamente proibido trocar mensagens?

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De: Bianca

Para: Jéssica

Você pode pagar um boleto para mim? Está no meu quarto, quando eu chegar acerto com você, esqueci de trazer para fazer isso por aqui e não vou chegar com tempo, o Alexandre também não gosta que os funcionários saem para resolver assuntos pessoais, apesar que eu iria no almoço, mas esqueci mesmo de trazer.

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De: Jéssica

Para: Bianca

Pago sim, mas você não mandou mensagem só por isso não né? Aconteceu alguma coisa?

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De: Bianca

Para: Jéssica

Aconteceu, estou puta de ódio.

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De: Jéssica

Para: Bianca

Calma amiga. O que houve?

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De: Bianca

Para: Jéssica

Na mesma proporção que eu amo o Alexandre eu também odeio ele.

Segunda-feira vou fazer contagem de estoque com o Alexandre e vamos passar a semana fazendo isso em todas as lojas, trabalhar do lado dele, e não poder tocá-lo é de foder né? Amo tanto esse homem que me dói olhar para ele todos os dias e não poder tocá-lo, deixei de seguir minha carreira para ficar perto dele, mas não tenho retorno nenhum isso é foda.

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De: Jéssica

Para: Bianca

Porque você não fala para ele o que você sente Bianca? Assim acaba de vez com esse sofrimento, ou você vai ser ignorada e segue sua vida ou você vai ser amada e feliz com a declaração.

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De: Bianca

Para: Jéssica

Não posso, ele jamais me olharia e todos iriam confundir meu amor por interesse, então prefiro não mostrar meu sentimento, prefiro sofrer do que ser mal interpretada por todos.

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De: Bianca

Para: Jéssica

Mas minha vontade é de fazer loucuras de amor com ele, todos os meus sonhos sexuais são com ele, meus desejos mais secretos são com ele, vou ficando assim, olhando ele todos os dias é melhor que não poder nem ao menos vê-lo.

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De: Jéssica

Para: Bianca

Você decide o que é melhor para você amiga, mas eu já teria falado há muito tempo, mas você tem meu apoio em qualquer decisão que você tomar.

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De: Bianca

Para: Jéssica

Vou deixar por conta do destino, o que tiver que ser será.

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De: Jéssica

Para: Bianca

Cuidado para não sofrer.

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De: Bianca

Para: Jéssica

Já estou sofrendo Jessica. Estou há três anos trabalhando com ele e há três anos estou sem sexo, sem beijar na boca, porque não tenho coragem de ficar com ninguém amando ele.

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De: Jéssica

Para: Bianca

Eu queria amar alguém nessa proporção, te admiro por isso.