Lucca
Não sei de qual dos meus irmãos veio a ideia de comprar uma saia para uma mulher como Melissa. O que importa é que o idiota do meu irmão mais velho, o que era para ser o mais inteligente de nós, imaginou e gostou, diga-se de passagem, das coisas que aquela saia mostrou que estava escondendo. Léo, quase me matando de decepção, saiu apressado e se trancou no quarto sem dar chance de Melissa dizer alguma coisa.Ela, por outro lado, se manteve na cozinha e seguiu se desculpando pela bagunça e acrescentou o fato da saia ser muito curta. Enquanto ela e meu irmão limpavam a cozinha eu tentei achar o que meu irmão viu nela para que corresse vergonhosamente para o quarto. Não posso negar que a saia é curta, mas isso é o suficiente para deixar um homem excitado? Melissa tem um cabelo preto e cacheado que b**e quase no meio das suas costas, que ela resolveu soltar depois do último banho. Sua pele negra, seus olhos castanhos escuros eram super comuns, então o que ele viu?— Ei, ogro! Dá pra parar de pensar na morte da bezerra, e vir ajudar a limpar aqui logo?— Você está se achando né, Fiona? Mas não é porque meus irmãos estão fazendo todas as suas vontades que você manda em mim! — Ela tentou vir pra cima de mim novamente, mas Matheu foi mais rápido na reação.— Chega vocês dois! Lucca, termina de limpar essa cozinha e você mocinha, vai se sentar no sofá e eu vou medir sua temperatura porque eu não sei se vocês dois lembram, mas a senhorita aqui está d-o-e-n-t-e!Talvez ele não tenha percebido, assim como eu, que a febre dela é emocional e que depois de muita distração ela estava pronta até pra brigar comigo. Ela estava tão forte que se jogou em mim e puxou meu cabelo com uma força totalmente contrária de uma pessoa doente. Lembrando dessa cena agora que já passou, eu começo a rir sozinho. Ela ficou uma fera. Será que Léo iria gostar de ver como ela ficou quando estava furiosa? As bochechas coradas, os olhos brilhando, a respiração ofegante, o nosso perfume transpirando dela... é tenho certeza que sim. Léo poderia gostar ainda mais do que vê-la de saia curta.[...]O almoço acabou sendo uma coisa rápida. Léo saiu do quarto só quando já estava pronto e posto na mesa. Melissa ligou para sua mãe, que acabou pedindo para falar com um de nós, mas resolvemos colocar no viva-voz e assim todos participaram. A senhora foi muito simpática e não perdeu tempo em fazer propaganda da filha ogra. Claro que Léo e Matheu, também encheram ela de elogio.Coitada, ela ficou tão envergonhada que quase desligou o telefone na cara da mãe, mas os patetas dos meus irmãos não deixaram. Foi uma cena ridícula, Léo abraçando ela por trás, tentando segurá-la (e se aproveitando do contato físico) e Matheu que segurava o telefone e pedia por mais podres da garota.E eu? Apenas observei em silêncio.— Vem Lucca, para de ser chato com a menina! Vamos assistir o filme. — Eu já estava começando a ficar irritado com eles. Tudo bem que eles gostem dela, mas eles não respeitam os meus sentimentos contrários.Como Léo resolveu sentar no sofá de um lugar e a ogra sentou bem no meio no sofá com três lugares, só me restou sentar ao lado dela.O filme era chato, e minha atenção estava em Matheu que tentava inútilmente se aconchegar nela.Patético.Quando eu finalmente me canso de ficar vendo meu irmão tentando tocar nela de alguma forma discreta, a luz acaba, um trovão parece ter explodido sob nossas cabeças, a janela abre com muita força e Melissa se j**a em mim e começa a chorar com o rosto enterrado no meu pescoço.Penso em afastá-la e dizer para parar de palhaçada, mas assim que toco nela vejo que não é armação para se jogar em cima de mim. Ela está gelada e tremendo muito. E isso me preocupa muito, assim como aos meus irmãos.— Melissa, o que está acontecendo? — A voz de Léo chegou em meio a escuridão.— Ela está tremendo muito, acho que pode ser uma crise de pânico. Mat, pega vela e me ajuda a chegar no quarto do Léo sem machucá-la, e Léo, busque água pra ela.A partir daí foi uma correria.— Melissa, me escute, está tudo bem. Respire junto comigo agora e tente escutar as batidas do meu coração.Quando Mat voltou com a vela, foi rápido para chegarmos no quarto. Ela conseguiu se acalmar e bebeu toda água do copo que Léo trouxe. Não demorou muito para que ela caísse no sono. E nós, os irmãos ficamos um bom tempo apenas observando ela dormir.— O que vocês acham que pode ter acontecido? — Mat foi o primeiro a falar.— Eu não sei, mas quero conversar com vocês dois na sala agora sobre outra coisa. Vamos.Eles se olharam como se estivessem perguntando: o que será agora? Mas me seguiram até a sala, onde se sentaram no sofá de três lugares e eu fiquei no de apenas um.— Eu vou aproveitar que Melissa está dormindo pra ter essa conversa antes que a situação piore.— O que foi agora, Lucca?— O que foi? Eu vou te dizer o que foi! Você olhando pra bunda dela e depois correndo pro quarto e Matheu, que estava fazendo de tudo pra tocar nela. A garota acabou de sair de um relacionamento abusivo, além do fato que vocês mal a conhecem e já estão atraídos por ela? A garota tem crise de pânico, febre emocional e tudo que vocês fazem é pensar com a cabeça de baixo? Vocês são meus irmãos mais velhos, achei que deveria alertar vocês sobre isso. Melissa está frágil e parece precisar de companhia ou de amigos e no momento ela só tem a nós, então vocês poderiam começar a pensar mais nela e ajudar em vez de piorar?É claro que eu não gosto de bancar o irmão mais velho, mas essa situação já está difícil sem envolver sentimentos. Meus irmãos são bons rapazes, mas trocam de mulher toda noite e nunca ficam com elas mais de uma vez, é minha obrigação alertar da besteira que eles estão fazendo.— Você tem razão, Lucca. Não pensamos em nada disso, pode deixar que iremos nos comportar para deixá-la mais confortável aqui e livre de lembranças ruins. — Matheu foi o primeiro a dizer e eu não tinha motivos para duvidar de que ele fará de tudo e mais um pouco para deixá-la confortável.— Mas e você Lucca, não ficou nem um pouco encantado por ela? Por que a bagunça na cozinha e depois ela se escondendo nos seus braços, não foi um ato de ódio, tanto da sua parte quanto dá dela. — Lá estava o irmão mais velho falando— Eu não a odeio e vocês sabem que já tem alguém que eu gosto.— De novo essa história? Irmão, esquece essa garota, ela não te merece. Vocês não são compatíveis.— A gente não escolhe de quem vai gostar, simplesmente acontece.Como a luz já tinha voltado, aproveitei para apagar as velas e fui para o meu quarto. Ainda estava cedo pra dormir e logo a ogra estaria acordada. Não é que eu esteja fugindo dos meus irmãos, eu estou fugindo dessa conversa. Sei que a intenção deles não é me machucar, mas ainda assim dói pensar nela e na sua rejeição.Talvez eu realmente devesse seguir em frente?MelissaUma tempestade caía do lado de fora da casa, trovões e raios intensos estampavam o céu daquela noite. Eric não havia chegado do trabalho ainda, e a casa parecia... não sei, talvez uma piscina? Goteiras por todos os lados, vasilhas embaixo de cada uma delas, ou quase, mas não adiantava.Eric apareceu pelo lado de trás da casa todo molhado também, ele trabalhava como motorista de ônibus e usava sua moto para ir e voltar do trabalho. Era um trabalho estressante, mas o salário era aceitável para sustentar uma família de duas pessoas e tinha plano de saúde.Naquele dia, ele chegou revoltado.— Melissa!! Cadê minha janta que ainda não está na mesa??— Eric, que bom que chegou!! As goteiras estão por toda a casa, estou tentando manter tudo seco, mas ainda...Plac!!Minha mão foi direto para o meu rosto onde ele havia batido. Ele me empurrou ao passar por mim me levando ao chão.[...]— Shhh, tá tudo bem agora, pequena — A voz de Léo chegou aos me
Existe um momento da sua vida em que você para pra pensar onde foi que tudo começou a desandar e lentamente seu conto de fada vira um filme de terror. O meu, eu não sei onde foi exatamente, apenas que está em algum lugar desses oito anos de relacionamento.Eu tinha quinze anos e ele, dezesseis. Foi amor a primeira vista. Pelo menos dá minha parte. Ele, um moreno nem tão alto, nem tão baixo que vivia rodeado de amigos e mulheres logo me chamou a atenção.Minha mãe vivia insistindo para que eu saísse mais, paquera-se mais, me arruma-se mais e foi assim que acabei o conhecendo. Ele era um idiota perto dos amigos, viva querendo se amostrar, mas quando estávamos só nós dois ele se mostrava bem legal, me fazia rir, me levava em encontros, e sempre me deixava na porta de casa antes das dez como exigia meu pai. Foram anos difíceis para mim, sai dá casa dos meus pais e fui morar no trabalho onde arrumava e cozinhava para uma família de tamanho médio.Passei a ver meus pais só algumas poucas v
MelissaNão sei por quanto tempo estou correndo, mas a chuva não dá trégua desde o momento em que sai. A chance de eu estar perdida é grande, minhas pernas já estão em nível critico a ponto de parar no meio de uma estrada deserta. E é claro que já bateu o arrependimento, não de te ido embora e sim de não te ido pra casa da minha mãe como ela disse desde o início. Eu estou com fome e com frio, essa estrada não parece ter fim e não vejo nenhum lugar para me abrigar dessa chuva. Meus movimentos estavam cada vez mais difíceis de serem executado . Meu corpo tremia , minha garganta estava seca, minhas roupas que consistem em um pijama surrado, estava colado no meu corpo de tão molhado que se encontrava. Eu já não conseguia mais chorar, tudo que minha mente pensava era em sair dessa situação com vida.Como uma grande azarada que sou e pelo estado deplorável em que me encontro, acabei tropeçando em alguma coisa e fui direto ao chão, caindo no meio da rua. Sem forças nem para xingar, eu tente
Leonardo Lá estava eu novamente, sendo torturado mais uma vez pela minha própria mente. Revivendo o pior momento dá minha vida, a morte do meu pai. Em uma sala escura, eu estava preso na cadeira, a única coisa que eu conseguia enxergar. Já não sentia mais meus pulsos de tão apertado que aquela corda estava. Um som já famíliar de tiro ecoou na sala e me preparei para ver o corpo do meu pai cair. Esperei, esperei, esperei e nada.O sonho mudou, e isso era novidade, agora eu estava em um campo cheio de flores de cores vibrantes e abelhas fazendo seu trabalho. Era lindo. Comecei a andar pelo local, mas estava deserto. Andei até que minhas pernas ficaram paralisadas. Olhei pra baixo e vi alguém me abraçando tão aperto e me transmitindo tanto amor. Acho que cheguei a achar que era minha mãe, mas eu não conseguia ver era tudo um borrão.Comecei a ouvir vozes em volta de mim, mas não havia ninguém por perto a não ser por essa pessoa que me abraçava. -Nós deveríamos intervir?-Ou nos preocup
Melissa-Eu não acredito nisso! Não é possível que eu tenha me casado com uma mula! Porque é isso que você é Melissa, uma mula! Eu passo o dia todo me matando de trabalhar, pra chegar em casa cansado e com fome, pra você me dar isso pra comer? Quantas vezes já não comi isso esse mês? Você não consegue pensar em nada diferente?Meu coração doía a cada palavra. Lágrimas escorriam sem parar enquanto ele cuspia insultos atrás de insultos. Mas talvez ele tenha razão, eu sou realmente burra por continuar com ele depois de todos esse anos de desprezo e agressões psicológicas. A cada dia que passa me sinto mais desgastada, então o que eu faço? Não consigo ir embora...sou fraca demais...o amo demais...mais sei que ele me faz mal.-Eric, o que mais você quer que eu faça? Eu não consigo pensar em receita novas da mesma forma que você, eu...teria que ver com minha mãe...Ele me ignorou...trancou a porta do nosso quarto e me deixou pra dormir no sofá. Estava frio e eu não tinha outra coberta para
Melissa— Então... onde estão os outros?Depois do banho corri para me encontrar com o Lucca na cozinha, que por sinal foi a melhor coisa que eu fiz. Ele também havia ido tomar banho, mas andava pelo cômodo apenas com uma calça moletom cinza que foi o motivo do meu coração acelerado. Uma coisa eu não poderia negar, não importa quão mal eu esteja, esses irmãos nasceram com toda a beleza que um ser humano poderia ter para chegar ao ponto de serem perfeitos.— Não faço ideia, quando eu acordei eles já não estavam mais aqui.— Já parou de chover?— Não, ainda está caindo o dilúvio lá fora.— Não é perigoso pra eles estarem lá fora nessa tempestade?— Sim, mas não há nada que eu possa fazer. Sou apenas o irmão mais novo deles, eles nunca me escutam. — Eu sei bem o que era isso, e parece que Lucca gosta disso tanto quanto eu.— Sabe, eu também sou filha mais nova. Eu tenho dois irmãos mais velhos e sei bem do que está falando.Ele deu uma breve risada, mas logo começou a me dar as instruçõe