Capítulo 3

Melissa

-Eu não acredito nisso! Não é possível que eu tenha me casado com uma mula! Porque é isso que você é Melissa, uma mula! Eu passo o dia todo me matando de trabalhar, pra chegar em casa cansado e com fome, pra você me dar isso pra comer? Quantas vezes já não comi isso esse mês? Você não consegue pensar em nada diferente?

Meu coração doía a cada palavra. Lágrimas escorriam sem parar enquanto ele cuspia insultos atrás de insultos. Mas talvez ele tenha razão, eu sou realmente burra por continuar com ele depois de todos esse anos de desprezo e agressões psicológicas. A cada dia que passa me sinto mais desgastada, então o que eu faço? Não consigo ir embora...sou fraca demais...o amo demais...mais sei que ele me faz mal.

-Eric, o que mais você quer que eu faça? Eu não consigo pensar em receita novas da mesma forma que você, eu...teria que ver com minha mãe...

Ele me ignorou...trancou a porta do nosso quarto e me deixou pra dormir no sofá. Estava frio e eu não tinha outra coberta para me aquecer e nem um travesseiro decente além da almofada do sofá. Eu não consegui dormir, eu não conseguia parar de chorar, mas a televisão me fez um pouco de companhia.

O quarto passou o dia trancado, mesmo com ele ausente. De noite, implorei pra que ele me deixa-se pegar uma muda de roupa e minha escova de dente, que estava no banheiro do quarto, mas ele me disse que se eu continuasse batendo na porta...ele quebraria meu braço. Não voltei a bater. Na manhã seguinte, acordei disposta a sair dali, era cedo quando fui até a casa da minha mãe perguntar se ela me aceitaria de volta na casa dela e aproveitei para lhe deixar a par de tudo que estava acontecendo, ela super me acolheu e me deu conselhos. 

Quando voltei, foi um escândalo.

A rua inteira ouvi nossa briga, só que novamente eu não sei o porquê, mas desisti de sair de casa e por um ponto final na nossa história. Ele disse que aquela também era minha casa e que eu não iria sair. Tudo voltou a ser como antes e a gente parou de brigar.

...

O sentimento de desespero por estar revivendo todos esses acontecimentos, é horrível. Tudo que eu fiz questão de esquecer voltaram com tudo, me deixando sem chão novamente. Eu chutei, eu gritei, eu chorei, eu implorei que me tirassem dali, eu desejei estar morta.

-Melissa! Acorde! Acorde, droga!-Senti meu corpo ser chacalhado, como seu eu fosse uma boneca de pano, mas isso me acordou.

-Eu não quero mais ele! Ele é mau, não, ele é cruel. Ele não me ama, ele...ele me traiu várias vezes!-Eu tentava me afastar mas ele insistia em me abraçar, mas uma prova do quão fraca eu sou...deixei que ele me abraça-se.

-Sim, ao que parece ele é um idiota sem moral e você é boa de mais pra ele. Agora se acalme, Melissa. Foi apenas um sonho, ou melhor, um pesadelo.

-Lucca?

-Eu sei, eu sei...você esperava que o Matheu ou o Leonardo estivessem aqui no meu lugar, mas eles tiveram que sair e me deixaram sozinho pra cuidar de você.

-Não...você está perfeito...desculpe, eu te arranhei e molhei sua blusa.

-Para Melissa, isso não é importante. Você me assustou pra caramba agora a pouco, uns arranhões e uma blusa molhada não são nada perto do que aconteceu aqui. A quanto tempo você tem esse tipo de...sonho? Nessa intensidade?

-Foi a primeira vez hoje...acho que estou muito estressada com tudo que vem me acontecendo ultimamente. Mas eu estou bem...sério!-Ele cruzou os braços e me encarou profundamente.

Lucca era tão bonito quanto seus irmãos. Seus olhos castanhos claros e sua pele macia, mas muito máscula eram bastante atrativas. Seu cabelo, também castanho claro deixava seu rosto ainda mais jovem e atraente.

-O que eu vou te contar agora, não é algo que eu conto pra estranhos ou pra qualquer um, e por mais que você esteja hospedada aqui temporariamente, meus irmãos confiam em você e eu cofio neles por isso vou te dizer uma coisa.

Lá está o Lucca que eu conheci, não confia em mim, não gosta de mim, e aposto que ele ainda acha que eu sou interesseira ou que dei o golpe da barriga em um deles. Mas ele mesmo com esse jeito marrento, ignorante e estressado está aqui pronto pra compartilhar comigo algo que poucos sabem, que eu diria que são somente seus irmãos.

-Eu gosto de uma garota...mas ela não gosta de mim. Na verdade, ela diz que gosta mas prefere o conforto de uma casa luxuosa com muitos carros, quartos, banheiros e funcionários do que trabalhar ou viver do meu salário. Eu gosto de ficar em casa nas minhas folgas, gosto de deitar no sofá e assistir um filme,fazer pipoca. Já ela prefere festas, restaurantes caros e luxo. Resumindo...não somos compatíveis. Ah, e o mais importante, ela não gosta da minha comida.

-Eu sinto muito, Lucca.

-Não sinta, te contei tudo isso pra você saber que nem sempre o amor dar certo. Esse Eric te tratou mal, feriu você, te desrespeitou e te humilhou, mas agora acabou e você está livre. O mundo é grande, existe milhões de coisas que você pode fazer, terminar um relacionamento saudável já é difícil, imagino como deve ser mais difícil ainda terminar um tóxico mas você conseguiu. Então não fique remoendo o que já passou, ocupe a cabeça e esqueça o coração, e quanto você menos esperar, já superou e estará pronta para amar outra vez.

- E eu achando que o Matheu que era o cara dos conselhos...- Lucca riu e eu me deslumbrei com sua risada que aqueceu meu interior.

- E ele é, mas não está no momento, então sobrou pra mim fazer o papel dele. Mas agora chega de papo, vai tomar um banho gelado, porque você ainda está com um pouco de febre e venha me encontrar na cozinha, você vai me ajudar a preparar o almoço.

Esse era um lado novo que eu estou descobrindo, Lucca sabia ser legal e se está me chamando para ajudar posso dizer que é um progresso pra ele me aturar, ele ta,bem foi carinhoso mesmo tentando se manter rude, sem sucesso é claro. Ponto pra mim, eu acho.

Ainda me sentindo um pouco tonta, fui para o banheiro me livrar daquele suor que grudava no meu corpo e aproveitar a água gelada pra me livrar dessas memórias que eu estou disposta a esquecer. Não quis demorar muito na água e acabar irritando o Lucca e assim destruir o bom humor dele hoje comigo, talvez ele esteja só com pena de mim, mas vou aproveitar pra tentar fazer amizades assim como fiz com os outros irmãos. 

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