Melissa
-Eu não acredito nisso! Não é possível que eu tenha me casado com uma mula! Porque é isso que você é Melissa, uma mula! Eu passo o dia todo me matando de trabalhar, pra chegar em casa cansado e com fome, pra você me dar isso pra comer? Quantas vezes já não comi isso esse mês? Você não consegue pensar em nada diferente?Meu coração doía a cada palavra. Lágrimas escorriam sem parar enquanto ele cuspia insultos atrás de insultos. Mas talvez ele tenha razão, eu sou realmente burra por continuar com ele depois de todos esse anos de desprezo e agressões psicológicas. A cada dia que passa me sinto mais desgastada, então o que eu faço? Não consigo ir embora...sou fraca demais...o amo demais...mais sei que ele me faz mal.-Eric, o que mais você quer que eu faça? Eu não consigo pensar em receita novas da mesma forma que você, eu...teria que ver com minha mãe...Ele me ignorou...trancou a porta do nosso quarto e me deixou pra dormir no sofá. Estava frio e eu não tinha outra coberta para me aquecer e nem um travesseiro decente além da almofada do sofá. Eu não consegui dormir, eu não conseguia parar de chorar, mas a televisão me fez um pouco de companhia.O quarto passou o dia trancado, mesmo com ele ausente. De noite, implorei pra que ele me deixa-se pegar uma muda de roupa e minha escova de dente, que estava no banheiro do quarto, mas ele me disse que se eu continuasse batendo na porta...ele quebraria meu braço. Não voltei a bater. Na manhã seguinte, acordei disposta a sair dali, era cedo quando fui até a casa da minha mãe perguntar se ela me aceitaria de volta na casa dela e aproveitei para lhe deixar a par de tudo que estava acontecendo, ela super me acolheu e me deu conselhos. Quando voltei, foi um escândalo.A rua inteira ouvi nossa briga, só que novamente eu não sei o porquê, mas desisti de sair de casa e por um ponto final na nossa história. Ele disse que aquela também era minha casa e que eu não iria sair. Tudo voltou a ser como antes e a gente parou de brigar....O sentimento de desespero por estar revivendo todos esses acontecimentos, é horrível. Tudo que eu fiz questão de esquecer voltaram com tudo, me deixando sem chão novamente. Eu chutei, eu gritei, eu chorei, eu implorei que me tirassem dali, eu desejei estar morta.-Melissa! Acorde! Acorde, droga!-Senti meu corpo ser chacalhado, como seu eu fosse uma boneca de pano, mas isso me acordou.-Eu não quero mais ele! Ele é mau, não, ele é cruel. Ele não me ama, ele...ele me traiu várias vezes!-Eu tentava me afastar mas ele insistia em me abraçar, mas uma prova do quão fraca eu sou...deixei que ele me abraça-se.-Sim, ao que parece ele é um idiota sem moral e você é boa de mais pra ele. Agora se acalme, Melissa. Foi apenas um sonho, ou melhor, um pesadelo.-Lucca?-Eu sei, eu sei...você esperava que o Matheu ou o Leonardo estivessem aqui no meu lugar, mas eles tiveram que sair e me deixaram sozinho pra cuidar de você.-Não...você está perfeito...desculpe, eu te arranhei e molhei sua blusa.-Para Melissa, isso não é importante. Você me assustou pra caramba agora a pouco, uns arranhões e uma blusa molhada não são nada perto do que aconteceu aqui. A quanto tempo você tem esse tipo de...sonho? Nessa intensidade?-Foi a primeira vez hoje...acho que estou muito estressada com tudo que vem me acontecendo ultimamente. Mas eu estou bem...sério!-Ele cruzou os braços e me encarou profundamente.Lucca era tão bonito quanto seus irmãos. Seus olhos castanhos claros e sua pele macia, mas muito máscula eram bastante atrativas. Seu cabelo, também castanho claro deixava seu rosto ainda mais jovem e atraente.-O que eu vou te contar agora, não é algo que eu conto pra estranhos ou pra qualquer um, e por mais que você esteja hospedada aqui temporariamente, meus irmãos confiam em você e eu cofio neles por isso vou te dizer uma coisa.Lá está o Lucca que eu conheci, não confia em mim, não gosta de mim, e aposto que ele ainda acha que eu sou interesseira ou que dei o golpe da barriga em um deles. Mas ele mesmo com esse jeito marrento, ignorante e estressado está aqui pronto pra compartilhar comigo algo que poucos sabem, que eu diria que são somente seus irmãos.-Eu gosto de uma garota...mas ela não gosta de mim. Na verdade, ela diz que gosta mas prefere o conforto de uma casa luxuosa com muitos carros, quartos, banheiros e funcionários do que trabalhar ou viver do meu salário. Eu gosto de ficar em casa nas minhas folgas, gosto de deitar no sofá e assistir um filme,fazer pipoca. Já ela prefere festas, restaurantes caros e luxo. Resumindo...não somos compatíveis. Ah, e o mais importante, ela não gosta da minha comida.-Eu sinto muito, Lucca.-Não sinta, te contei tudo isso pra você saber que nem sempre o amor dar certo. Esse Eric te tratou mal, feriu você, te desrespeitou e te humilhou, mas agora acabou e você está livre. O mundo é grande, existe milhões de coisas que você pode fazer, terminar um relacionamento saudável já é difícil, imagino como deve ser mais difícil ainda terminar um tóxico mas você conseguiu. Então não fique remoendo o que já passou, ocupe a cabeça e esqueça o coração, e quanto você menos esperar, já superou e estará pronta para amar outra vez.- E eu achando que o Matheu que era o cara dos conselhos...- Lucca riu e eu me deslumbrei com sua risada que aqueceu meu interior.- E ele é, mas não está no momento, então sobrou pra mim fazer o papel dele. Mas agora chega de papo, vai tomar um banho gelado, porque você ainda está com um pouco de febre e venha me encontrar na cozinha, você vai me ajudar a preparar o almoço.Esse era um lado novo que eu estou descobrindo, Lucca sabia ser legal e se está me chamando para ajudar posso dizer que é um progresso pra ele me aturar, ele ta,bem foi carinhoso mesmo tentando se manter rude, sem sucesso é claro. Ponto pra mim, eu acho.Ainda me sentindo um pouco tonta, fui para o banheiro me livrar daquele suor que grudava no meu corpo e aproveitar a água gelada pra me livrar dessas memórias que eu estou disposta a esquecer. Não quis demorar muito na água e acabar irritando o Lucca e assim destruir o bom humor dele hoje comigo, talvez ele esteja só com pena de mim, mas vou aproveitar pra tentar fazer amizades assim como fiz com os outros irmãos.Melissa— Então... onde estão os outros?Depois do banho corri para me encontrar com o Lucca na cozinha, que por sinal foi a melhor coisa que eu fiz. Ele também havia ido tomar banho, mas andava pelo cômodo apenas com uma calça moletom cinza que foi o motivo do meu coração acelerado. Uma coisa eu não poderia negar, não importa quão mal eu esteja, esses irmãos nasceram com toda a beleza que um ser humano poderia ter para chegar ao ponto de serem perfeitos.— Não faço ideia, quando eu acordei eles já não estavam mais aqui.— Já parou de chover?— Não, ainda está caindo o dilúvio lá fora.— Não é perigoso pra eles estarem lá fora nessa tempestade?— Sim, mas não há nada que eu possa fazer. Sou apenas o irmão mais novo deles, eles nunca me escutam. — Eu sei bem o que era isso, e parece que Lucca gosta disso tanto quanto eu.— Sabe, eu também sou filha mais nova. Eu tenho dois irmãos mais velhos e sei bem do que está falando.Ele deu uma breve risada, mas logo começou a me dar as instruçõe
LuccaNão sei de qual dos meus irmãos veio a ideia de comprar uma saia para uma mulher como Melissa. O que importa é que o idiota do meu irmão mais velho, o que era para ser o mais inteligente de nós, imaginou e gostou, diga-se de passagem, das coisas que aquela saia mostrou que estava escondendo. Léo, quase me matando de decepção, saiu apressado e se trancou no quarto sem dar chance de Melissa dizer alguma coisa.Ela, por outro lado, se manteve na cozinha e seguiu se desculpando pela bagunça e acrescentou o fato da saia ser muito curta. Enquanto ela e meu irmão limpavam a cozinha eu tentei achar o que meu irmão viu nela para que corresse vergonhosamente para o quarto. Não posso negar que a saia é curta, mas isso é o suficiente para deixar um homem excitado? Melissa tem um cabelo preto e cacheado que bate quase no meio das suas costas, que ela resolveu soltar depois do último banho. Sua pele negra, seus olhos castanhos escuros eram super comuns, então o que ele viu?— Ei
MelissaUma tempestade caía do lado de fora da casa, trovões e raios intensos estampavam o céu daquela noite. Eric não havia chegado do trabalho ainda, e a casa parecia... não sei, talvez uma piscina? Goteiras por todos os lados, vasilhas embaixo de cada uma delas, ou quase, mas não adiantava.Eric apareceu pelo lado de trás da casa todo molhado também, ele trabalhava como motorista de ônibus e usava sua moto para ir e voltar do trabalho. Era um trabalho estressante, mas o salário era aceitável para sustentar uma família de duas pessoas e tinha plano de saúde.Naquele dia, ele chegou revoltado.— Melissa!! Cadê minha janta que ainda não está na mesa??— Eric, que bom que chegou!! As goteiras estão por toda a casa, estou tentando manter tudo seco, mas ainda...Plac!!Minha mão foi direto para o meu rosto onde ele havia batido. Ele me empurrou ao passar por mim me levando ao chão.[...]— Shhh, tá tudo bem agora, pequena — A voz de Léo chegou aos me
Existe um momento da sua vida em que você para pra pensar onde foi que tudo começou a desandar e lentamente seu conto de fada vira um filme de terror. O meu, eu não sei onde foi exatamente, apenas que está em algum lugar desses oito anos de relacionamento.Eu tinha quinze anos e ele, dezesseis. Foi amor a primeira vista. Pelo menos dá minha parte. Ele, um moreno nem tão alto, nem tão baixo que vivia rodeado de amigos e mulheres logo me chamou a atenção.Minha mãe vivia insistindo para que eu saísse mais, paquera-se mais, me arruma-se mais e foi assim que acabei o conhecendo. Ele era um idiota perto dos amigos, viva querendo se amostrar, mas quando estávamos só nós dois ele se mostrava bem legal, me fazia rir, me levava em encontros, e sempre me deixava na porta de casa antes das dez como exigia meu pai. Foram anos difíceis para mim, sai dá casa dos meus pais e fui morar no trabalho onde arrumava e cozinhava para uma família de tamanho médio.Passei a ver meus pais só algumas poucas v
MelissaNão sei por quanto tempo estou correndo, mas a chuva não dá trégua desde o momento em que sai. A chance de eu estar perdida é grande, minhas pernas já estão em nível critico a ponto de parar no meio de uma estrada deserta. E é claro que já bateu o arrependimento, não de te ido embora e sim de não te ido pra casa da minha mãe como ela disse desde o início. Eu estou com fome e com frio, essa estrada não parece ter fim e não vejo nenhum lugar para me abrigar dessa chuva. Meus movimentos estavam cada vez mais difíceis de serem executado . Meu corpo tremia , minha garganta estava seca, minhas roupas que consistem em um pijama surrado, estava colado no meu corpo de tão molhado que se encontrava. Eu já não conseguia mais chorar, tudo que minha mente pensava era em sair dessa situação com vida.Como uma grande azarada que sou e pelo estado deplorável em que me encontro, acabei tropeçando em alguma coisa e fui direto ao chão, caindo no meio da rua. Sem forças nem para xingar, eu tente
Leonardo Lá estava eu novamente, sendo torturado mais uma vez pela minha própria mente. Revivendo o pior momento dá minha vida, a morte do meu pai. Em uma sala escura, eu estava preso na cadeira, a única coisa que eu conseguia enxergar. Já não sentia mais meus pulsos de tão apertado que aquela corda estava. Um som já famíliar de tiro ecoou na sala e me preparei para ver o corpo do meu pai cair. Esperei, esperei, esperei e nada.O sonho mudou, e isso era novidade, agora eu estava em um campo cheio de flores de cores vibrantes e abelhas fazendo seu trabalho. Era lindo. Comecei a andar pelo local, mas estava deserto. Andei até que minhas pernas ficaram paralisadas. Olhei pra baixo e vi alguém me abraçando tão aperto e me transmitindo tanto amor. Acho que cheguei a achar que era minha mãe, mas eu não conseguia ver era tudo um borrão.Comecei a ouvir vozes em volta de mim, mas não havia ninguém por perto a não ser por essa pessoa que me abraçava. -Nós deveríamos intervir?-Ou nos preocup