Leonardo
Lá estava eu novamente, sendo torturado mais uma vez pela minha própria mente. Revivendo o pior momento dá minha vida, a morte do meu pai. Em uma sala escura, eu estava preso na cadeira, a única coisa que eu conseguia enxergar. Já não sentia mais meus pulsos de tão apertado que aquela corda estava. Um som já famíliar de tiro ecoou na sala e me preparei para ver o corpo do meu pai cair. Esperei, esperei, esperei e nada.O sonho mudou, e isso era novidade, agora eu estava em um campo cheio de flores de cores vibrantes e abelhas fazendo seu trabalho. Era lindo. Comecei a andar pelo local, mas estava deserto. Andei até que minhas pernas ficaram paralisadas. Olhei pra baixo e vi alguém me abraçando tão aperto e me transmitindo tanto amor. Acho que cheguei a achar que era minha mãe, mas eu não conseguia ver era tudo um borrão.Comecei a ouvir vozes em volta de mim, mas não havia ninguém por perto a não ser por essa pessoa que me abraçava. -Nós deveríamos intervir?-Ou nos preocupar?Eram as vozes dos meus irmãos, e aos poucos retomo a consciência. Estava quentinho, mas teria que levantar pra saber o porquê desses idiotas estarem invadindo meu quarto dessa forma, como nunca fizeram antes. Mas assim que me abri meus olhos, braços pequenos me apertaram como se eu fosse...-MAS O QUE?-Me assustei, assustei meus irmãos e agora de olhos abertos, me lembrei de que tínhamos hóspedes.-M-matheu..., o-o Leo...,frio demais...-A menina em meus braços estava tremendo, coloquei minha mão em sua testa e ela estava queimando em febre.-Ela está com febre.- Analiso as expressões faciais dos meus irmãos.Parecia que essa situação era super normal. Tinha uma estranha deitada na minha cama que eu nem sei o nome, e eu nem dormi com ela pra que essa situação não parecesse tão natural. A menina apertava meu corpo com seus pequenos braços enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo.-Lucca, prepara uma sopa pra ela. Leo, vamos ter dar um banho gelado nela pra ver se abaixa a febre. Pode fazer isso? Eu vou procurar um remédio e...-Matheu não vamos fazer isso!-Exatamente, por que eu tenho que preparar uma sopa pra essa garota?-Lucca cruzou os braços e fechou a cara mostrando sua irritação.-Você dois ficaram malucos? A garota está doente!-Matheu levantou a voz-Ela saiu na chuva porque quis, Mat. Não somos responsáveis por ela. Ele pode ser uma informante de algum inimigo...-Ou está grávida, e vocês não se lembram...-Lucca interrompeu.-Cala a boca, Lucca. Se não vai falar nada de útil, vai preparar a sopa logo.-Matheu rebateu.Eu amo meus irmãos, mas cara, como eles são chatos. Brigam toda hora que as vezes tenho vontade de dar um tiro em cada um deles, mas minha mãe me mataria se eu fizesse isso estão só me resta contar até cem e restaurar a calmaria. Essa garota está deixando todos nós nervosos e ainda não conseguimos respostas para todas as nossas perguntas.-Calem a boca vocês dois! Eu acho que ela está falando alguma coisa.Os dois pararam na hora e chegaram mais perto para conseguirem ouvir o que ela está dizendo. Ela estava acordando? Ela estava tendo um sonho? Meu coração disparou com qualquer uma dessas opções.-Você vai sair outra vez?-Ela sussurou em um tom baixo.-O que...-Lucca começo mas eu o interrompi e o calei - Você prometeu Eric, prometeu que não me deixaria mais sozinha.Isso era interresante.Todos nos mantivemos calados pra escutar o máximo possível, porém, ela não disse mais nada apenas deixou uma uma lágrimas escorrer e cair na minha camisa.Como nunca fiz antes, dei meu braço a torcer e resolvi aceitar que a ideia do Matheu era válida. A garota realmente não parecia bem então dei um voto de confiança e ajudei meu irmão cuidar dela. Lucca por outro lado, não parou de reclamar por um só minuto enquanto cozinhava algo para ajudar a baixar febre daquele pequeno ser, que eu descobri que se chamar Melissa.Ela parecia bem triste e fraca, sempre sussurrando algumas frases sobre esse tal Eric, que pelo visto é idiota que fez essa mulher sofrer e a abandonou. Meu irmão, vulgo Matheu, me contou que ela não se abriu muito enquanto eles jantavam na passada, e que foi nesse momento em que ela começou apresentar sintomas que não foram reparados naquele instante, e que teria nos preparado melhor para esse momento.- Você deve ser o Leonardo, certo?- A voz baixa e feminina me fez desviar atenção do meu livro.-O próprio. - Aproveitei para medir sua temperatura.Seus cabelos cacheados estavam presos em coque alto, que desmancharam assim que ela se sentou na cama. Não podia negar que a menina era bonita, apesar da sua cara cansada e abatida. Uma inocência era transmitida por seus olhos escuros e sem brilho, o que despertou minha curiosidade para descobrir o que esse tal de Eric andou aprontando para deixá-la tão infeliz dessa forma. -Eu gostaria de pedir um favor...se não for abusar muito mais de sua generosidade.-Diga.-Eu preciso ligar pra minha mãe e avisar que estou bem, ela tem um problema no coração e não pode ficar muito nervosa.SuspireiEu espero que essa menina não esteja brincando comigo, e que meu voto de confiança não tenha sido em vão. Me levantei e comecei a caçar meu celular. Ela não tirou os olhos de mim e isso me deixou aflito, não gosto de ser observado dessa forma. Achei meu celular dentro do bolso da calça, a encarei mais uma vez tentando encontrar algum vestígio de sua falsidade, mas não encontrei nada diferente, então só me restou entregar o celular.-Só não demora muito.- Ela assentiu e começou a discar o numero. Matheu chegou logo depois.-O que está acontecendo? Pra quem ela está ligando?- Ele sussurrou perto de mim.-Pra mãe.- Me limitei a dizer e atentos começamos a ouvir a conversa."Eric disse que não sabe o motivo da sua fuga no meio da noite. Eu fiquei louca de preocupação, sua maluca! IRRESPONSÁVEL! Nós acionamos até a policia, e onde você esteve nesses dias sem dinheiro, só com a roupa do corpo?"-Mãe, ele fez de novo...ficou até tarde bebendo e quando eu fui lá ver...ele estava se agarrando com outra.A essa altura, todos nós já estávamos perto dela, até mesmo o Lucca. A coitadinha foi traída, e por isso fugiu no meio da noite? Pode parecer meio invasão de privacidade estarmos todos aqui escutando a conversa dela, mas ela também não afastou nenhum de nós até agora e se permitiu chorar na nossa frente. Ela foi forte esse tempo todo, fiquei realmente comovido.-Por causa da chuva, não vou poder ir embora agora mas encontrei uma família boa que está cuidando de mim, então não se preocupe. Estarei em casa logo. Adeus, mãe! Te amo.Ela me entregou o celular e desabou novamente, Matheu, o melhor pra lidar com esse tipo de sentimento, logo correu para consolá-la. Lucca e eu, não sabíamos o que fazer então só nos restou ficar ali, parados, olhando para os dois abraçados.Melissa-Eu não acredito nisso! Não é possível que eu tenha me casado com uma mula! Porque é isso que você é Melissa, uma mula! Eu passo o dia todo me matando de trabalhar, pra chegar em casa cansado e com fome, pra você me dar isso pra comer? Quantas vezes já não comi isso esse mês? Você não consegue pensar em nada diferente?Meu coração doía a cada palavra. Lágrimas escorriam sem parar enquanto ele cuspia insultos atrás de insultos. Mas talvez ele tenha razão, eu sou realmente burra por continuar com ele depois de todos esse anos de desprezo e agressões psicológicas. A cada dia que passa me sinto mais desgastada, então o que eu faço? Não consigo ir embora...sou fraca demais...o amo demais...mais sei que ele me faz mal.-Eric, o que mais você quer que eu faça? Eu não consigo pensar em receita novas da mesma forma que você, eu...teria que ver com minha mãe...Ele me ignorou...trancou a porta do nosso quarto e me deixou pra dormir no sofá. Estava frio e eu não tinha outra coberta para
Melissa— Então... onde estão os outros?Depois do banho corri para me encontrar com o Lucca na cozinha, que por sinal foi a melhor coisa que eu fiz. Ele também havia ido tomar banho, mas andava pelo cômodo apenas com uma calça moletom cinza que foi o motivo do meu coração acelerado. Uma coisa eu não poderia negar, não importa quão mal eu esteja, esses irmãos nasceram com toda a beleza que um ser humano poderia ter para chegar ao ponto de serem perfeitos.— Não faço ideia, quando eu acordei eles já não estavam mais aqui.— Já parou de chover?— Não, ainda está caindo o dilúvio lá fora.— Não é perigoso pra eles estarem lá fora nessa tempestade?— Sim, mas não há nada que eu possa fazer. Sou apenas o irmão mais novo deles, eles nunca me escutam. — Eu sei bem o que era isso, e parece que Lucca gosta disso tanto quanto eu.— Sabe, eu também sou filha mais nova. Eu tenho dois irmãos mais velhos e sei bem do que está falando.Ele deu uma breve risada, mas logo começou a me dar as instruçõe
LuccaNão sei de qual dos meus irmãos veio a ideia de comprar uma saia para uma mulher como Melissa. O que importa é que o idiota do meu irmão mais velho, o que era para ser o mais inteligente de nós, imaginou e gostou, diga-se de passagem, das coisas que aquela saia mostrou que estava escondendo. Léo, quase me matando de decepção, saiu apressado e se trancou no quarto sem dar chance de Melissa dizer alguma coisa.Ela, por outro lado, se manteve na cozinha e seguiu se desculpando pela bagunça e acrescentou o fato da saia ser muito curta. Enquanto ela e meu irmão limpavam a cozinha eu tentei achar o que meu irmão viu nela para que corresse vergonhosamente para o quarto. Não posso negar que a saia é curta, mas isso é o suficiente para deixar um homem excitado? Melissa tem um cabelo preto e cacheado que bate quase no meio das suas costas, que ela resolveu soltar depois do último banho. Sua pele negra, seus olhos castanhos escuros eram super comuns, então o que ele viu?— Ei
MelissaUma tempestade caía do lado de fora da casa, trovões e raios intensos estampavam o céu daquela noite. Eric não havia chegado do trabalho ainda, e a casa parecia... não sei, talvez uma piscina? Goteiras por todos os lados, vasilhas embaixo de cada uma delas, ou quase, mas não adiantava.Eric apareceu pelo lado de trás da casa todo molhado também, ele trabalhava como motorista de ônibus e usava sua moto para ir e voltar do trabalho. Era um trabalho estressante, mas o salário era aceitável para sustentar uma família de duas pessoas e tinha plano de saúde.Naquele dia, ele chegou revoltado.— Melissa!! Cadê minha janta que ainda não está na mesa??— Eric, que bom que chegou!! As goteiras estão por toda a casa, estou tentando manter tudo seco, mas ainda...Plac!!Minha mão foi direto para o meu rosto onde ele havia batido. Ele me empurrou ao passar por mim me levando ao chão.[...]— Shhh, tá tudo bem agora, pequena — A voz de Léo chegou aos me
Existe um momento da sua vida em que você para pra pensar onde foi que tudo começou a desandar e lentamente seu conto de fada vira um filme de terror. O meu, eu não sei onde foi exatamente, apenas que está em algum lugar desses oito anos de relacionamento.Eu tinha quinze anos e ele, dezesseis. Foi amor a primeira vista. Pelo menos dá minha parte. Ele, um moreno nem tão alto, nem tão baixo que vivia rodeado de amigos e mulheres logo me chamou a atenção.Minha mãe vivia insistindo para que eu saísse mais, paquera-se mais, me arruma-se mais e foi assim que acabei o conhecendo. Ele era um idiota perto dos amigos, viva querendo se amostrar, mas quando estávamos só nós dois ele se mostrava bem legal, me fazia rir, me levava em encontros, e sempre me deixava na porta de casa antes das dez como exigia meu pai. Foram anos difíceis para mim, sai dá casa dos meus pais e fui morar no trabalho onde arrumava e cozinhava para uma família de tamanho médio.Passei a ver meus pais só algumas poucas v
MelissaNão sei por quanto tempo estou correndo, mas a chuva não dá trégua desde o momento em que sai. A chance de eu estar perdida é grande, minhas pernas já estão em nível critico a ponto de parar no meio de uma estrada deserta. E é claro que já bateu o arrependimento, não de te ido embora e sim de não te ido pra casa da minha mãe como ela disse desde o início. Eu estou com fome e com frio, essa estrada não parece ter fim e não vejo nenhum lugar para me abrigar dessa chuva. Meus movimentos estavam cada vez mais difíceis de serem executado . Meu corpo tremia , minha garganta estava seca, minhas roupas que consistem em um pijama surrado, estava colado no meu corpo de tão molhado que se encontrava. Eu já não conseguia mais chorar, tudo que minha mente pensava era em sair dessa situação com vida.Como uma grande azarada que sou e pelo estado deplorável em que me encontro, acabei tropeçando em alguma coisa e fui direto ao chão, caindo no meio da rua. Sem forças nem para xingar, eu tente