Melissa
— Então... onde estão os outros?Depois do banho corri para me encontrar com o Lucca na cozinha, que por sinal foi a melhor coisa que eu fiz. Ele também havia ido tomar banho, mas andava pelo cômodo apenas com uma calça moletom cinza que foi o motivo do meu coração acelerado. Uma coisa eu não poderia negar, não importa quão mal eu esteja, esses irmãos nasceram com toda a beleza que um ser humano poderia ter para chegar ao ponto de serem perfeitos.— Não faço ideia, quando eu acordei eles já não estavam mais aqui.— Já parou de chover?— Não, ainda está caindo o dilúvio lá fora.— Não é perigoso pra eles estarem lá fora nessa tempestade?— Sim, mas não há nada que eu possa fazer. Sou apenas o irmão mais novo deles, eles nunca me escutam. — Eu sei bem o que era isso, e parece que Lucca gosta disso tanto quanto eu.— Sabe, eu também sou filha mais nova. Eu tenho dois irmãos mais velhos e sei bem do que está falando.Ele deu uma breve risada, mas logo começou a me dar as instruções do que era pra fazer dando um fim naquela conversa, mas eu ainda não estava disposta a parar de conversar com ele então resolvi puxar um outro assunto.— Sabe... e essa menina pelo qual está apaixonado? — Ele parou de cortar os legumes e me encarou com a sobrancelha arqueada. — O que te faz gostar dela? Por que pelo que você me contou, deu pra ver que vocês não tem muitas coisas em comum.— Ela é bonita.— E...— Isso é o suficiente!— Você está me dizendo que gosta de uma garota só porque ela é bonita? Lucca, eu sou bonita, isso quer dizer que você vai gostar de mim só por isso? Que absurdo!— Esse tal de Eric andou te iludindo, garota? Não, já sei! Sua mãe. Só mães mentem assim de forma tão descarada para inflar o ego dos filhos.— Está me chamando de feia? — Ele só podia estar de brincadeira com minha cara! Que homem abusado.— Não fui claro o suficiente, princesa...Fiona? — Ele passou por todos os limites.Em cima da pia, havia um saco aberto de farinha e por mais que fosse clichê, achei melhor do que partir pra briga física. Enchi minha mão com aquele pó branco e sem dar tempo para ele desviar, taquei bem na sua cara. Ele ficou em choque, abriu a boca incrédulo com minha atitude. Não aguentei e comecei a rir da sua cara de idiota com farinha no rosto. Ri tanto que nem percebi que ele planejava fazer o mesmo comigo e quando notei meu rosto também estava coberto de farinha me impossibilitando de respirar.— ISSO AGORA É GUERRA!Eu fui rápido e peguei um ovo cru e quebrei na sua cabeça, não tive tempo para pensar e acabou espirrando em mim, mas ele não deixou barato e veio com o vinagre bem em cima da minha cabeça.— IDIOTA, ISSO ARDE NO OLHO! — Eu consegui gritar antes que algum produto caísse na minha boca. Revoltada, pulei em cima dele e comecei a puxar seu cabelo. Nós gritamos juntos, mas por motivos diferentes. Até que ele perdeu o equilíbrio e caiu de costa no chão e comigo por cima.Um minuto de silêncio.Depois explosões de risos. Rimos, rimos e rimos mais um pouco. Minha barriga já estava dolorida, mas eu não conseguia parar. Minha testa estava grudada no peito dele enquanto ele ainda segurava meu cabelo. E só depois de alguns minutos naquela posição que paramos de rir, ofegantes.— Pelo visto já fizeram amizade.Levantei a cabeça e vi Leonardo e Matheu nos encarando com uma cara não muito boa e sacolas nas mãos. Lucca me empurrou e rapidamente já estava em pé, eu o observei incrédula e só depois de um longo suspiro me levantei também. Olhei ao redor e a cozinha estava uma bagunça, tudo sujo, incluindo nós.— Não tem amizade nenhuma aqui, essa louca que jogou farinha em mim só porque não aguentou umas verdades. — LOUCA?— Você me chamou de feia seu idiota, isso não é coisa que se diga para uma dama.— Dama? Você se jogou no meu colo e puxou meu cabelo, uma dama não faria uma coisa dessas, só uma o-g-r-a! — Ele cruzou os braços e olhou para outro lado. E eu? Estava quase me jogando em cima dele de novo, mas agora pra arrancar os dentes.— Olha, me desculpem por isso, a culpa é toda minha. Eu vou me limpar e já volto pra limpar essa bagunça. — Eu ia sair, mas me lembrei de um detalhe. — Matheu, me desculpe pelas suas roupas.E corri de volta para o quarto.Que descarado. Ridículo. Como ele ousa? Abri a porta do banheiro do quarto do Matheu e fui deixando a roupa suja pelo caminho. Aquele idiota ira me pagar por esse insulto, pode apostar que vai. Tomei meu banho rápido pensando na bagunça que teria que arrumar e tudo culpa daquele idiota do Lucca, mas tudo bem, ele não perde por esperar. Quando sai do banheiro enrolada na toalha sem saber o que vestir, já que havia sujado a única roupa que eu poderia usar naquele momento, vi que havia um conjunto de roupa em cima da cama, roupa pequena demais para os irmãos e...saia?Vesti aquela roupa que deduzi que fosse pra mim, e fui direto para a cozinha onde o ogro idiota e Matheu estavam limpando. Eu não havia dito que limparia quando saísse? O idiota limpando me parece justo, mas o coitadinho do Matheu? Ele não tem nada a haver com isso.— Matheu, o que você está fazendo? Eu falei que limparia tudo, não é justo que você limpe! O idiota do seu irmão sim, mas você não. — Me agachei para poder ajudá-lo.— Não babe nessa ogra, irmão. Todas as outras são muito melhores. — Eu levantei o olhar rápido, saindo do chão para o ogro e do ogro para Léo, que estava atrás de mim. Ele estava corando. Analisei minha situação e eu estava praticamente de quatro. De saia. Com a...Meus Deus, que gafe!LuccaNão sei de qual dos meus irmãos veio a ideia de comprar uma saia para uma mulher como Melissa. O que importa é que o idiota do meu irmão mais velho, o que era para ser o mais inteligente de nós, imaginou e gostou, diga-se de passagem, das coisas que aquela saia mostrou que estava escondendo. Léo, quase me matando de decepção, saiu apressado e se trancou no quarto sem dar chance de Melissa dizer alguma coisa.Ela, por outro lado, se manteve na cozinha e seguiu se desculpando pela bagunça e acrescentou o fato da saia ser muito curta. Enquanto ela e meu irmão limpavam a cozinha eu tentei achar o que meu irmão viu nela para que corresse vergonhosamente para o quarto. Não posso negar que a saia é curta, mas isso é o suficiente para deixar um homem excitado? Melissa tem um cabelo preto e cacheado que bate quase no meio das suas costas, que ela resolveu soltar depois do último banho. Sua pele negra, seus olhos castanhos escuros eram super comuns, então o que ele viu?— Ei
MelissaUma tempestade caía do lado de fora da casa, trovões e raios intensos estampavam o céu daquela noite. Eric não havia chegado do trabalho ainda, e a casa parecia... não sei, talvez uma piscina? Goteiras por todos os lados, vasilhas embaixo de cada uma delas, ou quase, mas não adiantava.Eric apareceu pelo lado de trás da casa todo molhado também, ele trabalhava como motorista de ônibus e usava sua moto para ir e voltar do trabalho. Era um trabalho estressante, mas o salário era aceitável para sustentar uma família de duas pessoas e tinha plano de saúde.Naquele dia, ele chegou revoltado.— Melissa!! Cadê minha janta que ainda não está na mesa??— Eric, que bom que chegou!! As goteiras estão por toda a casa, estou tentando manter tudo seco, mas ainda...Plac!!Minha mão foi direto para o meu rosto onde ele havia batido. Ele me empurrou ao passar por mim me levando ao chão.[...]— Shhh, tá tudo bem agora, pequena — A voz de Léo chegou aos me
Existe um momento da sua vida em que você para pra pensar onde foi que tudo começou a desandar e lentamente seu conto de fada vira um filme de terror. O meu, eu não sei onde foi exatamente, apenas que está em algum lugar desses oito anos de relacionamento.Eu tinha quinze anos e ele, dezesseis. Foi amor a primeira vista. Pelo menos dá minha parte. Ele, um moreno nem tão alto, nem tão baixo que vivia rodeado de amigos e mulheres logo me chamou a atenção.Minha mãe vivia insistindo para que eu saísse mais, paquera-se mais, me arruma-se mais e foi assim que acabei o conhecendo. Ele era um idiota perto dos amigos, viva querendo se amostrar, mas quando estávamos só nós dois ele se mostrava bem legal, me fazia rir, me levava em encontros, e sempre me deixava na porta de casa antes das dez como exigia meu pai. Foram anos difíceis para mim, sai dá casa dos meus pais e fui morar no trabalho onde arrumava e cozinhava para uma família de tamanho médio.Passei a ver meus pais só algumas poucas v
MelissaNão sei por quanto tempo estou correndo, mas a chuva não dá trégua desde o momento em que sai. A chance de eu estar perdida é grande, minhas pernas já estão em nível critico a ponto de parar no meio de uma estrada deserta. E é claro que já bateu o arrependimento, não de te ido embora e sim de não te ido pra casa da minha mãe como ela disse desde o início. Eu estou com fome e com frio, essa estrada não parece ter fim e não vejo nenhum lugar para me abrigar dessa chuva. Meus movimentos estavam cada vez mais difíceis de serem executado . Meu corpo tremia , minha garganta estava seca, minhas roupas que consistem em um pijama surrado, estava colado no meu corpo de tão molhado que se encontrava. Eu já não conseguia mais chorar, tudo que minha mente pensava era em sair dessa situação com vida.Como uma grande azarada que sou e pelo estado deplorável em que me encontro, acabei tropeçando em alguma coisa e fui direto ao chão, caindo no meio da rua. Sem forças nem para xingar, eu tente
Leonardo Lá estava eu novamente, sendo torturado mais uma vez pela minha própria mente. Revivendo o pior momento dá minha vida, a morte do meu pai. Em uma sala escura, eu estava preso na cadeira, a única coisa que eu conseguia enxergar. Já não sentia mais meus pulsos de tão apertado que aquela corda estava. Um som já famíliar de tiro ecoou na sala e me preparei para ver o corpo do meu pai cair. Esperei, esperei, esperei e nada.O sonho mudou, e isso era novidade, agora eu estava em um campo cheio de flores de cores vibrantes e abelhas fazendo seu trabalho. Era lindo. Comecei a andar pelo local, mas estava deserto. Andei até que minhas pernas ficaram paralisadas. Olhei pra baixo e vi alguém me abraçando tão aperto e me transmitindo tanto amor. Acho que cheguei a achar que era minha mãe, mas eu não conseguia ver era tudo um borrão.Comecei a ouvir vozes em volta de mim, mas não havia ninguém por perto a não ser por essa pessoa que me abraçava. -Nós deveríamos intervir?-Ou nos preocup
Melissa-Eu não acredito nisso! Não é possível que eu tenha me casado com uma mula! Porque é isso que você é Melissa, uma mula! Eu passo o dia todo me matando de trabalhar, pra chegar em casa cansado e com fome, pra você me dar isso pra comer? Quantas vezes já não comi isso esse mês? Você não consegue pensar em nada diferente?Meu coração doía a cada palavra. Lágrimas escorriam sem parar enquanto ele cuspia insultos atrás de insultos. Mas talvez ele tenha razão, eu sou realmente burra por continuar com ele depois de todos esse anos de desprezo e agressões psicológicas. A cada dia que passa me sinto mais desgastada, então o que eu faço? Não consigo ir embora...sou fraca demais...o amo demais...mais sei que ele me faz mal.-Eric, o que mais você quer que eu faça? Eu não consigo pensar em receita novas da mesma forma que você, eu...teria que ver com minha mãe...Ele me ignorou...trancou a porta do nosso quarto e me deixou pra dormir no sofá. Estava frio e eu não tinha outra coberta para