12 anos depois...
Encostei na cadeira do meu escritório e respirei fundo. Já eram quase oito da noite, havia acabado de chegar de mais uma das sessões de tortura.
Alguns homens haviam roubado uma grande carga necessária de nós e após muito esforço, conseguimos recuperar. Drogas, o maior número de drogas que já havíamos transportado.
Vários homens mortos, diversos feridos e seis capangas pegos. Nenhum deles ligava para as suas vidas o suficiente para saber quem havia feito isso. Mas eu havia descoberto...
Depois de resolvermos os assuntos, alguns pauzinhos foram mexidos e finalmente, tínhamos chegado ao maior juiz do país. Bóris Semyonova.
Ele apanhou, mas não abriu o bico. Já sabíamos para quem ele trabalhava, não era necessário toda essa tortura, mas eu queria poder ouví-lo gritar e implorar por sua vida.
Eu estava me tornando um maldito bastardo como Vladimir, mas ainda era o de menos.
Meu celular tocou sobre a mesa e eu o peguei desinteressado. Atendi e o levei ao ouvido rapidamente.
- Oi, Nikolai. - Era Mikhail. - Meu pai quer que você venha em casa. Agora.
Ele parecia nervoso.
- Você aprontou, Mikhail? - Perguntei, pegando o blazer das costas do sofá e saindo da sala.
- Por favor, só vem. - Ele disse preocupado. - Não quero que ele desconte na mamãe.
- Chego em meia hora. - Desliguei e devolvi o celular ao bolso.
- Para onde vai, menino? - Victória, a governanta da casa me perguntou.
Era uma mulher de cinquenta e poucos anos, gentil e muito simpática. Eu a amava, me fazia lembrar a minha mãe.
A contratei pouco depois de sair da casa dos meus pais, aos dezoito. Tentei arrastar os meus irmãos mais novos, e por súplicas da minha mãe, acabei deixando-os lá, mas não totalmente.
Dmitry havia ido embora e agora, era meu consigliere, ou melhor, seria... assim que o velho, finalmente, morresse.
- Parece que o Mikhail se colocou em problemas, estou tentando ajudar. - Avisei. - Não sei que horas volto, beijos.
Bati a porta atrás de mim e corri para o carro. Dei partida poucos segundos depois e acelerei o máximo que eu pude.
O trajeto até a casa dos meus pais parecia mais longo hoje.
Deixei o carro na frente da casa e sai, indo até a porta rapidamente. Quase pude ouvir os berros do meu pai, mas estava tudo estranhamente silencioso.
Franzi a testa. Mikhail estava nervoso.
Bati na porta e ela foi atendida alguns minutos depois. Minha mãe me deu um sorriso nervoso e passou a mão no vestido.
- Nikolai. - Disse aliviada. - Como está, meu filho?
- Bem, mãe. - A abracei. Sentia falta do seu abraço todos os dias. - que aconteceu com Mikhail?
- O seu irmão é um inconsequente. - Ela pos a mão na testa. - Vou deixar que seu pai explique, não quero que ele se estresse mais.
- Ele não iria encostar em você, não mais. - Eu disse sério. - Eu quebraria as duas mãos daquele filho da puta.
- Não fale assim do seu pai. - Repreendeu e olhou para os lados.
- Ele não é meu pai. - Cruzei os dedos na frente do corpo. - Podemos ir agora? Estou curioso.
Minha mãe assentiu nervosa e passou a mão nos cabelos. Seja lá o que estivesse acontecendo, era ruim.
Ao chegar na sala, franzi a testa e curvei os lábios. O Don da máfia colombiana, Maximiliano, estava sentado ali, junto da sua filha e esposa. Aaliyah e Celeste.
O clima parecia estar tenso, mesmo que os mais velhos estivessem sorrindo e bebendo copos de whisky.
Dmitry estava sentado ao lado de Mikhail, que parecia nervoso e apertava seus dedos das mãos com força. Corri os olhos pela sala rapidamente e suspirei.
- Que porra está acontecendo dessa vez? - Perguntei, cortando o clima e chamando toda a atenção para mim.
- Nikolai.. - Meu pai disse calmo e deu uma última golada, antes de deixar seu copo de lado. - Onde está a sua educação?
- Vamos logo, Vladimir. - Revirei os olhos. - Que merda Mikhail fez e porque me chamaram?
- Vamos deixar que ele mesmo responda, já que é homem. - Vladimir cruzou as pernas e o encarou.
Mikhail limpou a garganta algumas vezes e finalmente me encarou, parecia com medo da minha reação. Ele abriu a boca algumas vezes para falar, mas desistiu.
- Aaliyah está grávida. - Disse por fim.
- E o que você tem haver com isso, Mikhail? - Cruzei os braços.
- O filho é meu. - Ele disse e desviou o olhar.
E então, eu senti como se o mundo estivesse caindo na minhas costas novamente. Esse era um problema que eu não podia resolver.
Mikhail podia ter criado uma guerra, ou ele seria obrigado a se casar. Por Deus, ele só tem quinze anos.
- Levante-se. - Mandei. Mikhail se levantou e encarou o chão. - Mikhail, olhe para mim, porra.
Ele me encarou, seus olhos estavam cheios pelas lágrimas. Eu sabia que ele queria chorar, era o mais sensível dos três.
- Dimitry, venha também. - E então, eu comecei a subir para o andar de cima.
Ao entrar no quarto de Mikhail, esperei que eles entrassem e tranquei a porta.
Mikhail se sentou na cama e encarou o chão. Dimitry respirou fundo e passou a mão no rosto nervosamente, enquanto manti os olhos fixos nele.
- Por Deus, Mikhail.. - Começou. - Como fez essa merda? Como engravidou essa garota?
- Você está preso a ela, pelo resto da sua vida. - Completei, exasperado.
- Eu sei, e eu.. - Ele disse com a voz embargada.
- Não adianta chorar agora, porra. - Gritei. - Você terá que virar a porra de um homem, Mikhail, terá de crescer, sustentar uma família.. ou você acha que aquela garota vai comer e beber sozinha? - dei uma pequena pausa antes de continuar. - Você não queria e eu te protegi até onde deu, Mikhail, mas esse erro foi feio e agora, você vai ter que entrar nos negócios da família.
- Mas.. mas.. - Ele tentou argumentar.
- Você tem que engolir o choro e virar o maior filho da puta possível, Mikhail, ou eles vão te destruir.. como o seu pai tentou fazer com o Nikolai. - Dimitry apontou para mim. - Ele protegeu a gente, ele apanhou por nós dois e você, o único que tinha chances, jogou tudo no lixo.
- Me desculpa. - Ele fungou.
- Não posso, não consigo.. - Dimitry sussurrou. - eu queria ter tido uma chance, Mikhail, eu queria ter feito faculdade, eu queria ter salvado uma vida.. mas eu sou só uma maquina que tira elas.
- Entrar na máfia não deve ser tão ruim. - Mikhail se encolheu.
- É horrível, Mikhail, é devastador. - me sentei ao seu lado e encarei a porta. A porta que tranquei tantas vezes. - isso te mata todos os dias, a sensação é sufocante. Hoje eu matei um homem, sabia? - Encarei seu rosto e ele negou. - E ele tinha filhos, ele tinha uma família e eu o matei, enquanto ele implorava pela vida. E sabe o que foi pior, Mikhail?
- Não. - Ele murmurou.
- Eu gostei, isso foi o pior.. - Eu encarei meus pés. - Eu estou me transformando nele e não quero isso para você, mas essa é a vida que você vai viver a partir de hoje, ou você caça, ou você será caçado e não é bom ser pego.
Eram aproximadamente nove da noite. Segurei a mochila com um pouco de força e olhei para os lados.As ruas movimentadas do Brooklyn pareciam vazias agora, eu podia sentir o vento gelado batendo contra o meu corpo.O crime estava terrível, então, orando para todas as entidades presentes no mundo, corri pelas ruas.- Ei, mocinha. - Ouvi a voz grossa de um homem e me apressei ainda mais.- Pare ai, docinho. - Ele riu perverso.O medo me invadiu, um calafrio percorreu toda a minha espinha, enquanto eu corria pelas ruas. Meu Deus, me ajuda!Olhando para frente, conseguia ouvir os passos do homem se aproximando. Senti a minha mochilas ser puxada para trás junto com o meu corpo e gritei alto.Suas mãos foram para o meu rabo de cavalo, que ele puxou com força.- Socorro, por favor. - Berrei.- Solta a garota. - Uma voz grave ecoou pela rua.Me debati mais um pouco nos braços do homem e o empurrei. Um disparo foi ouvido, então o peso do homem caiu sobre mim, antes de ser jogado ao chão, com os
A reunião do conselho era comum, Vladimir costumava chegar raivoso em casa depois delas, e como sempre, descontava em mim e em minha mãe.A questão, era que eu estava participando dessa vez, junto com Dimitry. Engoli o seco e encarei os demais, esperando que seu discurso fosse iniciado.- Bom, vamos começar. - Ivan Nikolaev, o consigliere se pronunciou.- Sejam bem vindos a mais uma reunião do conselho, hoje, viemos decidir o futuro da máfia. - Serguei se levantou e abotoou seu blazer.- Como sabemos, o herdeiro, Nikolai Pavlov, têm o direito de receber o império do pai assim que ele morrer, sejam quais forem as circunstâncias. - Ele explicou. - E assim, sucessivamente, se Nikolai morrer, um dos filhos vai herdar, e é por isso, Nikolai, que você precisa se casar..- Eu preciso me casar? - Levantei minha sobrancelha.- Exatamente. - Anton Morozov, capi disse.- E o mais indicado é que se case com uma das filhas dos homens da máfia. - Está foi a vez de Maksim Gorky.- E, me corrijam se
— Pode confiar em mim. — Sussurrei.Ela assentiu e se encolheu um pouco. Tirei o blazer e coloquei sobre o ombro dela.— Vamos, eu vou tirar você daqui. Agora. — ela segurou meu braço e pude sentir o seu corpo tremer um pouco.Saímos da sala a passos vagorosos, ela olhou para os lados, como se tivesse medo do que pudesse encontrar. Peguei o celular do meu bolso e caminhei com ela até a escada.— Suba! — Mandei.Ela me encarou por alguns segundos, antes de começar a subir devagar e com cuidado. Parecia estar fraca."Onde está?" — Dmitry"Na mansão, pegue o meu carro, Lindsay e me espere na saída. Chego em cinco minutos.",A casa estava bastante silenciosa, se passavam das onze da noite. Me perguntei porque essas reuniões ocorriam tão tarde. Ignorando todo o resto, puxei a garota por todo o jardim, até o extenso corredor que eu havia atravessado antes.Ela se parecia com um gatinho assustado, com as suas unhas grudadas no meu braço e seu corpo tremendo, enquanto ela me encarava, confusa
Acordei cedo, e me sentei na cama. Era confortável, muito mais do que a minha. O quarto era espaçoso e bem iluminado. A vista da piscina era esplêndida, era como se eu estivesse acordado de um sonho.Eu não sabia ao certo o que tinha me feito parar aqui, apenas as vagas coisas que Iuri havia me contado. Eu tinha uma ficha, ele era obcecado por mim.Meu pai, um homem de aproximadamente cinquenta anos, devia uma grande quantia de dinheiro a máfia russa - o que me leva a questão, como ele chegou tão longe? - e acabou me entregando como moeda de troca, até que conseguisse todo o dinheiro para pagar.Mas, mesmo que a dívida fosse quitada, eu sabia que jamais voltaria, eu provavelmente, morreria antes.Nikolai, o homem que havia me reenvidicado - por assim dizer - era muito bonito. Lindsay havia me dito que ele tinha vinte e oito anos e era o herdeiro dos Pavlov, estava sendo treinado para ser como o pai, Vladimir.Ele era o homem de mais cedo, aquele que disse que logo Nikolai enjoaria de
Ava estava nervosa, eu podia sentir. Desde o primeiro momento que nós nos encontramos.Durante a noite, sonhei com Ava. Ela estava linda em um vestido azul rodado, correndo pelo jardim da minha casa, enquanto ria. Lindy estava lá também, dizendo que havia avisado.Após acordar, pensei nas milhares de possibilidade e cheguei a conclusão de que eu deveria me casar com Ava. Além de deixar meu pai irritado, não teria ao meu lado as filhas dos mafiosos – mulheres, que em sua grande maioria, são criadas para servir e, algumas vezes, matar seus maridos. – e salvaria ambas – lindy e Ava – de futuros incertos e dolorosos. Eu podia nunca ama-la, mas jamais a trataria como Vladimir, o meu pai, tratava a minha mãe.Todo esse pensamento me levou a Vladimir, a vários anos atrás, quando eu o chamei de pai pela última vez. Era estranho pensar que nunca tive uma figura paterna, e que ao invés de ingressar na faculdade, matei o meu primeiro homem com dezenove anos.Ava estava sentada na minha frente, s
Desci do meu carro, sentindo o cheiro do sangue misturado com o meu perfume. Eu precisava de um banho.— Lavem meu carro, tem sangue dentro. — Avisei, entregando a chave para Lev. — Tome cuidado com ele, Lev, sabe que é o meu xodó.— Relaxa, Nikolai. — Ele sorriu e pegou as chaves. — Eu vou cuidar dele, pode ficar tranquilo.— Como estão sua esposa e sua filha? — Perguntei, enquanto colocava as mãos no bolso.— Ótimas. — Ele sorriu. — Um dia trago a Kiara para que você possa conhecer.— Eu adoraria. — sorri. — agora, preciso mesmo entrar, tirar essa roupa com sangue e tomar um banho.Lev assentiu e entrou no carro, virei e entrei na casa.Ava e Lindy estavam sentadas sobre o sofá, enquanto assistiam a um filme qualquer. A sala estava escura, e pude ouvir as suas vozes enquanto tentava fechar a porta sem fazer barulho algum.Andei vagarosamente até as escadas e comecei a subir os degraus lentamente. Não queria responder a nenhuma pergunta.— Achou mesmo que a gente não veria você? — Li
As batidas frenéticas na porta do meu quarto me acordaram e só então, percebi que havia caído no sono. Passei a mão no rosto e me sentei.- Quem é? - Resmunguei.- Lindsay, venha rápido. - Ela disse alto, enquanto esmurrava a minha porta. - Por Deus, venha logo, preciso de ajuda.Me levantei em um pulo e peguei a arma dentro da primeira gaveta da mesa de cabeceira. Escondi nas costas e andei vagarosamente até a porta. Podiam estar fazendo Lindy de escudo ou algo do tipo.Destranquei e abri lentamente encontrando uma cabeleira loira e agitada. Seu rosto estava vermelho e sua respiração acelerada. Não demorou muito para que gritos fossem ouvidos do andar debaixo.- Você é uma cadela, eu vou acabar com você. - O forte sotaque russo de Brenda denunciava tudo.Suspirei frustrado e andei rapidamente até o topo das escadas. Brenda estava sendo segurada por um segurança, enquanto Ava se mantinha encolhida no sofá. Seus cabelos estavam embaraçados e seus braços vermelhos.- Que porra está acon
Nikolai.Lindsay analisava meus dedos cortados cuidadosamente, enquanto tagarelava sobre algo desinteressante.Me sentia no automático, eu só queria sumir. Eu queria que ela sumisse, eu queria gritar para que ele calasse a porra da boca, mas era Lindy. Ela havia me salvado tantas vezes.- Onde ela está? - Perguntei, cortando o assunto.- No quarto.. - Ela deu uma pausa e me encarou. - Com medo.- Droga. - Murmurei quando o remédio foi espirrado na minha palma.- Isso é tudo culpa sua, não deveria sair quebrando vasos por aí. - Ela reclamou e eu revirei os olhos.- Eu sou bem crescido para receber lições de moral, não acha, Lindsay? - Puxei a minha mão com força, irritado. - Eu sei o que faço e como faço na porra da minha casa.- Se eu estou falando é para o seu bem. - Ela disse grossa, seus olhos azuis encarando os meus. - Você é um imbecil, Nikolai.Lindsay se virou e começou a subir as escadas, me deixando sozinho na sala. Terminei de enfaixar a minha mão e guardei a caixa na cozinh