Nasce Um Amor
Nasce Um Amor
Por: Ninha Cardoso
Prólogo

Parte 1...

O céu cinzento mostra que a chuva não vai parar tão cedo. Ao longe um clarão é visto, seguido de um trovão que chega até a incomodar os ouvidos de Mike Reeves, que dirige com cuidado entre as ruas, observando as casas que passam, todas fechadas.

A chuva forte cai na cidade por três dias seguidos e todo mundo procura abrigo em suas casas. O trânsito fica lento e mais perigoso, pedindo mais atenção.

Mike estica a cabeça pelo vidro da janela, olhando a casa de seus pais lá fora, quase sem coragem de sair do carro. Tinha esquecido de pegar um guarda-chuva e um casaco. Agora se arrependia.

Suspirou balançando a cabeça, se maldizendo por ser tão esquecido consigo mesmo. Abriu a porta e assim que seu pé tocou o chão, sentiu um arrepio de frio com o vento forte que soprou para dentro.

Saiu de vez e puxou a gola da camisa para cima, olhando as árvores que balançavam de um lado para outro com a lufada de vento. Se encolheu e deu passos largos na direção da casa. Abriu o portão pequeno de ferro decorado e deu uma corridinha até os degraus.

Pisou no primeiro degrau já com a barra da calça encharcada. Cerrou os dentes e estremeceu. Nessa época do ano Spring Sun ficava a maior parte do tempo debaixo de nuvens cinza, escondendo o sol que ele adorava.

Quando bateu na porta seu rosto estava frio e molhado. O cabelo preto estava empapado e ele tentava aquecer o corpo se movimentando balançando de um lado para outro.

A porta se abriu e sua mãe arregalou os olhos ao vê-lo assim. Depois fez uma cara que ele conhecia há anos. A mesma de quando ele era pequeno e fazia algo errado. De crítica materna.

— Mike... O que é isso, menino?

Ele sorriu. Tinha trinta e um anos e a mãe insistia em chamá-lo de menino. Deu um pulinho e fez um som de frio, se balançando de novo. Ela ficou de lado para ele entrar.

— Meu filho, você está todo molhado - fechou a porta — E porque não entrou logo?

— Esqueci de pegar a chave.

Ele seguiu direto para a cozinha procurando se aquecer, pois sabia que a mãe deveria estar com o fogão aceso. E acertou.

Parou em frente do fogão e tirou a panela de cima, esticando as mãos por cima do fogo para esquentar os dedos finos.

— Meu filho, você vai ficar doente - ela vai até ele e fica ao lado, cruzando os braços — Você não perde a cabeça por estar grudada ao pescoço - disse ironicamente.

Mike sorriu. Sua mãe é daquelas que paparicam os filhos em qualquer época. Mesmo hoje que são todos adultos, ainda assim ela os trata como se fossem pequenos.

Para ele sua mãe continuava tão linda como a via quando era só um menino. Agora seu cabelo era mais curto, ia até os ombros apenas e algumas mechas mais claras começavam a se mostrar. Charlotte Reeves estava agora com cinquenta e sete anos, mas para ele mantinha a juventude de sempre, com seu sorriso largo e seu modo carinhoso de ser.

— Eu estava com fome, mãe - ele justificou.

— Mas poderia ter vestido pelo menos um casaco.

Ela andou até a lavanderia, ao lado da cozinha e voltou com uma toalha rosa felpuda.

— Aqui, se enxugue - esticou a toalha — Está limpa e cheirosa.

Ele pegou a toalha e esfregou no rosto, sentindo o cheirinho bom do amaciante de rosas que ela mais gostava de usar. Depois passou no cabelo, diminuindo um pouco o frio que chegara em seu corpo.

Charlotte recolocou a panela em cima do fogo e abriu o armário, pegando os pratos para arrumar a mesa. Mike sentiu o cheiro bom da comida caseira de sua mãe, que sempre o fazia comer mais do que queria.

— Você está muito magro, Mike. Não tem comida na sua casa?

Ele deu uma risadinha. Lá vinha ela de novo. Na verdade até tinha, mas ele ficava tão concentrado em outras coisas que muitas vezes acabava esquecendo mesmo de preparar algo para comer.

— Não sou magro, mãe. Esse sempre foi o meu corpo.

— Vá tirar essa camisa molhada antes que pegue um resfriado - abanou a mão — Humpf... Onde já se viu... Um homem adulto que esquece de comer - arrumou os talheres ao lado do prato.

— Onde está o pai?

— Hum - ela torceu a boca em reprovação — Deve estar quase chegando. Teimoso como ele - balançou a cabeça — Dois dias reclamando de dores nas costas e sai com esse tempo.

— Mas onde foi?

— Até o rancho, ajudar com algo que quebrou - abanou o pano de cozinha para o alto — Não sei o que é, nem perguntei. Sair com esse tempo. Vocês nunca me ouvem.

Mike sorri. A mãe continua a querer que seu velho pai fique parado em casa, como se isso fosse possível.

Aldo Reeves era um homem alto, magro, de sessenta e dois anos, mas que tinha energia de um rapaz de sua idade. Era difícil que ficasse parado muito tempo em casa. Mesmo aposentado, ele continuava muito ativo.

— Vai, vai logo - abanava com força o pano — Pegue algo para vestir e deixe que essa roupa seque enquanto comemos.

Mike sai da cozinha e vai para seu antigo quarto, que dividia com os irmãos quando ainda moravam na casa dos pais. Parecia que eles ainda faziam parte da casa, embora já estivessem todos morando em suas próprias casas há um bom tempo.

Mas isso não era novidade para ele. Abriu o grande e velho guarda-roupas, agora amarelado pelo tempo. Ainda havia ali muita coisa que era dele e de seus irmãos. Charlotte fazia questão que deixassem algo, já que sempre estavam por lá vez ou outra.

Agora foi providencial isso. Trocou de roupa e se livrou do frio, pegando um velho casaco que estava pendurado. Aproveitou e usou o secador de cabelo no banheiro da mãe. Quando desceu de volta ela estava terminando.

Era engraçado como gostava de estar ali naquela cozinha. Uma reforma havia sido feita há alguns anos e já não era mais a mesma cozinha que ele crescera, mas ainda mantinha o mesmo calor humano de antes, quando ele e o resto da família ficavam conversando sem parar em volta da mesa grande.

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