Narrado por Amália
Antes mesmo que eu pudesse lhe responder, ela acrescentou: — Sei que não é a melhor proposta de todas, mas é bem melhor do que não ter um teto sob a sua cabeça durante as noites de Londres. E por mais que eu não quisesse admitir, ela estava certa. O frio que começava a se instalar na cidade me lembrava de como era perigoso estar sozinha nas ruas à noite. Parei para pensar. O orfanato já não era mais uma opção. O vazio em meu estômago, a insegurança no meu coração, tudo isso pesava sobre mim como uma âncora. Por mais indecente que sua proposta fosse, eu não tinha escolha. Não havia um lugar seguro para ir, ninguém que pudesse me ajudar. Aceitar essa oferta poderia ser uma forma de escapar desse desespero. — Está bem — finalmente disse, a voz baixa, mas decidida. — Eu aceito. Um misto de alívio e ansiedade tomou conta de mim. Ao mesmo tempo em que me sentia como se estivesse me entregando a um destino incerto, também sentia a esperança de que, talvez, essa fosse a minha chance de mudar algo na minha vida. A vida no orfanato havia sido marcada por dor e solidão, e eu estava disposta a fazer o que fosse preciso para encontrar um novo caminho, mesmo que isso significasse atravessar um território desconhecido e perigoso. — Aliás, meu nome é Havenna — ela disse, sorridente, como se a apresentação fosse um passo importante nessa troca de palavras. — Qual é o seu? Eu hesitei por um momento, pensando se deveria compartilhar meu nome. Amália. Um nome que sempre carreguei, mas que parecia tão insignificante diante da nova vida que eu estava prestes a começar. — Amália — respondi, forçando um sorriso que não alcançou meus olhos. — Amália! Que nome lindo! — Havenna exclamou, como se fosse a coisa mais preciosa que ela já tinha ouvido. — Então, Amália, você está pronta para dar esse passo? Senti um frio na barriga. Pronta? Nunca me senti realmente pronta para nada, mas, naquele momento, a necessidade de um futuro melhor superava o medo do desconhecido. — Estou pronta — respondi, embora as palavras saíssem mais como uma afirmação que uma certeza. Havenna sorriu, como se soubesse que eu estava apenas começando a entender o que significava tomar essa decisão. — Ótimo! Vamos, então. Não quero que você passe mais tempo aqui, nesse lugar. A noite em Londres pode ser traiçoeira, e o que precisamos é de um abrigo antes que as coisas fiquem piores. Ela me guiou para longe do ponto de ônibus, e eu a segui, cada passo pesado com uma mistura de ansiedade e expectativa. O mundo parecia girar em torno de mim, e a cada instante, a realidade do que estava fazendo se tornava mais clara. Eu estava deixando para trás tudo o que conhecia, mesmo que isso significasse um novo começo. Havenna me levou por ruas iluminadas, onde as luzes dos postes brilhavam como estrelas perdidas na escuridão. O cheiro de comida de rua e o barulho da vida noturna preenchiam o ar. Eu a observava, notando como ela se movia com confiança, como se soubesse exatamente para onde estava indo. — O lugar onde vamos é seguro — disse ela, percebendo minha hesitação. — É um espaço onde outras meninas como você estão, e todas têm suas próprias histórias. — E você? Qual é a sua história? — perguntei, buscando uma conexão com ela, algo que pudesse me fazer sentir menos sozinha. Havenna olhou para mim com um brilho nos olhos. — Ah, isso é uma longa história, mas, basicamente, eu também procurei um novo começo. E, assim como você, um dia eu precisei de um abrigo. Às vezes, a vida nos leva a lugares inesperados, mas sempre podemos encontrar uma maneira de nos reerguer. Suas palavras eram reconfortantes, mas também me deixavam intrigada. O que teria acontecido com ela? Quais foram os desafios que a levaram até ali? No entanto, eu sabia que essas perguntas poderiam esperar. O que importava agora era o caminho à frente, o novo lar que me aguardava. Aos poucos, comecei a notar a movimentação de carros luxuosos e homens de terno que entravam no local. As portas grandes e vermelhas se destacavam, atraindo a atenção de quem passava. Era um contraste gritante com a minha realidade anterior, e, à medida que nos aproximávamos, meu coração parecia querer sair pela boca. O medo me dominava. Havenna me puxou pela mão, levando-me para a parte de trás do edifício. Cada passo se tornava mais difícil, e eu lutava contra a dúvida que se estabelecia em minha mente. Será que havia feito a escolha certa? Provavelmente não, mas agora não havia como voltar atrás. O passado já havia sido deixado para trás, e a única direção que eu tinha era para frente. — Não se preocupe, Amália — disse Havenna, percebendo minha apreensão. — Este lugar pode parecer intimidador, mas você vai se acostumar. Lembre-se de que todas nós estamos aqui por um motivo. Eu queria acreditar nela, queria ter a coragem de ver a luz no fim do túnel, mas a incerteza me consumia. Ao entrar pela porta dos fundos, fui recebida por um ambiente que estava longe de ser acolhedor. A música alta, as risadas e a iluminação suave criavam uma atmosfera de festa, mas o ar estava pesado com um tipo diferente de expectativa.Narrado por Havenna Todas que chegaram até aqui tiveram uma razão. A vida nos jogou para cá, mas nem é tão ruim assim, pelo menos na maior parte do tempo. Enquanto seguimos as regras, por mais severas que sejam, estamos bem. Essa é a única forma de sobrevivermos nesse lugar.Talvez eu tenha cometido um erro ao colocar The Velvet Den no caminho de Amália. Mas, querendo ou não, quanto mais meninas chamamos, maior é o nosso salário. E a beleza dela, querendo ou não, certamente chamará a atenção. Eu sabia que sua aparência distinta, aquela alvura quase etérea, a tornaria um alvo para os homens que frequentavam aquele lugar.É claro que eu não disse a verdade por trás de toda a história. The Velvet Den é uma casa de strippers onde homens de terno mandam e desmandam. É um ambiente onde as ilusões podem se desvanecer rapidamente. Aqui, as regras não são apenas severas, mas também são jogadas ao vento quando o dinheiro está em jogo. Se um homem te quer, você pode rapidamente passar de escrav
Narrado por Elion Venho de uma linhagem de homens fortes, uma linhagem de Dons que governou Londres com passos firmes e punhos de ferro. Meu pai, meu avô, e antes deles, todos os homens da nossa família mantiveram o poder em mãos, não apenas pela força, mas pela astúcia. Para nós, governar Londres não era apenas uma questão de vontade, era um dever herdado.A passagem para me tornar o Don não foi fácil. Desde jovem, fui submetido a treinamentos intensos, tanto físicos quanto mentais. Meu pai sempre dizia: “Elion, o poder não está apenas nas suas mãos, mas na sua mente. Quem controla o medo controla o mundo.” E eu aprendi, talvez mais rápido do que ele esperava. Cada golpe que recebia nos treinamentos, cada lição dura que me ensinavam, moldava quem eu me tornaria. Não apenas um líder, mas o Don de Londres.As regras do submundo eram claras: força sem controle é ruína. O verdadeiro poder não está no uso da violência, mas na habilidade de dominar cada situação, de estar três passos à fr
Narrado por Amália Eu estava apavorada, perdida em meio a uma realidade que eu nunca poderia ter imaginado. Quando aceitei a proposta de Havenna, pensei que seria algo simples, talvez até uma oportunidade de começar de novo. Fui ingênua, cega pela minha falta de experiência no mundo real. Nunca soube o que acontecia nas sombras. E agora, aqui estava eu, presa a um destino que mal compreendia, em um lugar que, claramente, era muito mais do que apenas um clube. Uma casa de prostituição. A pergunta que ecoava na minha mente, insistentemente, era: até onde eu teria que me vender para ter um teto sobre a cabeça? O medo apertava meu peito, e as lágrimas desciam livremente pelo meu rosto, misturando-se com a água quente que escorria sobre mim no chuveiro. Cada gota que caía parecia pesada, como o peso da decisão que havia tomado. Eu mal conseguia pensar direito, o pavor me dominava. Fechei o registro com um movimento rápido, sequei meu corpo com a toalha que encontrei e me enrolei nela
Narrado por Amália — Como vou me arrumar? Eu não sei nem por onde começar, eu nunca me arrumei na vida, Havenna — falei, com a voz embargada, sentindo o desespero crescer dentro de mim.Havenna me olhou com uma expressão que misturava compaixão e determinação. Ela foi até o armário e tirou um vestido mostarda que parecia brilhar sob a luz fraca do quarto. O decote ia até a barriga, e a peça era elegantemente reveladora.— Você vai se arrumar assim, Amália. É assim que as coisas funcionam aqui — disse ela, com uma firmeza que não deixou espaço para contestação.Senti meu coração disparar ao olhar para o vestido. Era bonito, mas também parecia uma armadilha. O que estava prestes a fazer? Eu queria me esconder, não me expor.— Não consigo — murmurei, afastando o olhar.— Olha, eu sei que você está assustada. E eu não vou mentir, não vai ser fácil. Mas você precisa fazer isso. O Velvet Den não é um lugar para inseguranças. Você precisa mostrar que é forte e que pertence a este lugar. Ago
Narrado por Elion Enquanto aguardava Asael organizar as coisas no palco, fui para a sala privada onde a reunião com os sócios seria realizada. O ambiente era cuidadosamente projetado: luz baixa, sofás de couro e uma mesa central de vidro refletindo o brilho das luzes indiretas. Assim que entrei, todos os homens se levantaram em respeito. Eram figuras importantes, controlavam partes cruciais do tráfico em Londres. Com um aceno de mão, fiz sinal para que se sentassem novamente.— Senhores, estamos todos aqui por um motivo simples — comecei, pegando o copo de whisky que Asael havia preparado para mim. — A cidade está mais vulnerável do que nunca, e precisamos garantir que nossas operações permaneçam intocáveis. O próximo carregamento de armas chega amanhã à noite, e quero que tudo saia perfeito.Ivan, um dos chefes do tráfico de drogas no leste de Londres, foi o primeiro a se pronunciar. Ele tinha a mania irritante de sempre tentar parecer mais astuto do que realmente era.— Não vejo pr
Narrado por Amália Capítulo: O Palco e a DesilusãoNarrado por AmáliaMeu coração pulsava com força, como se quisesse escapar do meu peito. Eu estava em um mundo que não era meu, cercada por sombras e luzes dançantes que pareciam rir da minha inocência. O palco diante de mim era imenso e intimidador, e o som da música envolvia o ambiente como um manto sedutor. Mas, para mim, era apenas um lembrete de tudo o que eu não era.Quando subi, o calor da luz dos refletores me atingiu, fazendo minha pele arrepiar. O olhar de Havenna estava fixo em mim, e suas palavras ecoavam na minha mente. “O palco é seu. Crie uma nova personalidade e assuma o controle.” Como eu poderia ser alguém que não sou? A insegurança me consumia, mas eu precisava agir. Não tinha outra escolha.A música começou, suave e envolvente, e meu corpo hesitou. Eu não sabia como me mover, como encantar como as outras mulheres que haviam subido antes de mim. A presença de Havenna foi substituída por um vazio, e eu me vi sozinha
Narrado por Elion Eu a observei sair do palco, mantendo minha postura calma, mas por dentro, a ansiedade crescia. Alguma coisa sobre aquela garota me intrigava mais do que qualquer uma que eu já tivesse visto antes. Não era apenas sua beleza, mas o contraste entre sua vulnerabilidade e a força que tentava, desesperadamente, manter.Quando a porta da sala se abriu, todos os olhares se voltaram para ela. Ela entrou hesitante, como se cada passo a levasse mais perto do abismo. Sua pele pálida parecia ainda mais clara sob a luz suave, mas o que chamou minha atenção foram as marcas vermelhas no braço dela. Dedos. Marcas de dedos cravadas em sua pele, como cicatrizes temporárias de uma violência que eu não toleraria.A raiva me tomou, queimando por dentro de uma forma que não costumava permitir. Levantei-me tão rápido que os outros na sala ficaram visivelmente desconcertados, mas não me importei. Minha atenção estava toda nela. Cada músculo tenso, cada lágrima que escorria pelo seu rosto,
Narrado por Havenna Diferente de muitas meninas que chegaram aqui, minha história é mais sombria e pesada. A maioria delas chega ao Velvet Den após completar 18 anos, muitas por vontade própria. Mas esse não foi o meu caso.Eu era apenas uma criança e já havia passado pelo inferno nas mãos da minha mãe, viciada.Tive que ver e fazer coisas que nenhuma criança jamais deveria. Meu fim — ou talvez meu começo, dependendo do ponto de vista — foi o Velvet Den, quando minha mãe me vendeu como moeda de troca para pagar seus vícios.Eu tinha apenas 14 anos quando cheguei aqui. Naquela época, as coisas eram bem mais difíceis. O Velvet não era o que é hoje; era comandado por homens que não se importavam nem um pouco com os sentimentos ou vidas das meninas que viviam aqui.Eramos tratadas como objetos de prazer.Minha virgindade foi leiloada para o maior lance, e, se não obedecíamos, as consequências eram severas. Muitas meninas que conheci naquela época já não estão mais vivas para contar suas