Narrado por Havenna
Todas que chegaram até aqui tiveram uma razão. A vida nos jogou para cá, mas nem é tão ruim assim, pelo menos na maior parte do tempo. Enquanto seguimos as regras, por mais severas que sejam, estamos bem. Essa é a única forma de sobrevivermos nesse lugar. Talvez eu tenha cometido um erro ao colocar The Velvet Den no caminho de Amália. Mas, querendo ou não, quanto mais meninas chamamos, maior é o nosso salário. E a beleza dela, querendo ou não, certamente chamará a atenção. Eu sabia que sua aparência distinta, aquela alvura quase etérea, a tornaria um alvo para os homens que frequentavam aquele lugar. É claro que eu não disse a verdade por trás de toda a história. The Velvet Den é uma casa de strippers onde homens de terno mandam e desmandam. É um ambiente onde as ilusões podem se desvanecer rapidamente. Aqui, as regras não são apenas severas, mas também são jogadas ao vento quando o dinheiro está em jogo. Se um homem te quer, você pode rapidamente passar de escrava a esposa, mas poucas meninas realmente têm a chance de se tornar esposa de algum deles. E então há Elion Halloway, o homem mais cobiçado de todos. Ele é o Don de Londres, e sua presença no Velvet Den é rara, mas quando ele aparece, é como se um furacão entrasse no lugar. As meninas saem até na mão para ter uma noite com ele. O desejo por seu afeto é palpável, e muitas acreditam que uma noite ao seu lado pode mudar suas vidas para sempre. Mas, por outro lado, a realidade é que a maioria delas acaba apenas se tornando mais uma entre as muitas que passaram por aqui. Eu não queria que Amália tivesse essa visão, mas era importante que ela estivesse preparada para a verdade. Era melhor que ela soubesse que o que parecia ser uma oportunidade poderia se transformar em uma armadilha. — Olha, Amália — comecei, tentando escolher as palavras com cuidado enquanto caminhávamos. — Me desculpa por te arrastar até aqui, mas você precisa entender uma coisa: não deveria confiar na primeira pessoa que aparece na sua frente. Aqui, a gente tem que ser esperta. O mundo pode ser cruel, e as pessoas que você vai encontrar nem sempre terão boas intenções. Essa foi a sua primeira lição. — Eu não estou entendendo — disse Amália, seus olhos cheios de confusão e preocupação. Suspirei, parando por um momento para encará-la. — O que eu quero dizer é que, nesse lugar, tudo tem um preço. Ninguém oferece ajuda de graça. Eu não estou aqui para te assustar, mas você precisa estar ciente de que as coisas não são tão simples quanto parecem. O Velvet Den é um lugar perigoso, e eu não fui totalmente honesta com você sobre o que acontece aqui. Ela ficou em silêncio, processando minhas palavras. — Mas por que me trouxe aqui, então? — ela perguntou, a voz baixa e carregada de medo. — Porque eu vi em você algo que vi em mim quando cheguei aqui — respondi, com um misto de tristeza e sinceridade. — Desespero, necessidade… a vontade de encontrar um lugar no mundo, mesmo que seja o mais imperfeito possível. Eu sei que não é o que você esperava, mas pelo menos aqui, você pode sobreviver. Amália me olhou, e eu percebi que ela estava lutando contra as lágrimas, a incerteza esmagando qualquer esperança que ainda pudesse restar. — Eu não sei o que fazer, Havenna. Eu não tenho ninguém. — Sua voz falhou, o peso de suas palavras ecoando no pequeno espaço entre nós. — Eu sei — respondi, tentando mostrar compreensão. — E é por isso que eu estou aqui. Eu não posso mudar o que acontece nesse lugar, mas posso te ajudar a passar por isso. A decisão é sua, mas esteja preparada para enfrentar o que vier. Entrei no edifício e puxei-a comigo, percebendo que os olhares das outras meninas estavam atraídos por ela. Não era surpresa; Amália tinha uma beleza única que não passava despercebida, e isso poderia ser tanto uma bênção quanto uma maldição neste lugar. No meio do corredor, encontramos Asael, o braço direito de Elion e dono do Velvet Den. Ele se destacava na multidão, sua presença imponente capturando a atenção de todos ao redor. — O que temos aqui? — ele perguntou, sua voz profunda e cheia de curiosidade, enquanto seus olhos avaliavam Amália. Havia um brilho de interesse em seu olhar, e eu sabia que isso poderia significar problemas. — Essa é Amália. Eu a trouxe para trabalhar e morar aqui, o que acha? — perguntei, tentando controlar o nervosismo. — Ela é linda, uma beleza única — ele respondeu, o olhar fixo nela de uma forma que me deixou desconfortável. — Como ela é nova, pode começar por baixo — sugeri, tentando proteger Amália de entrar rápido demais nesse mundo. — Não — Asael disse, sua voz firme. — Uma beleza dessas tem que ser exibida. Hoje, pessoas importantes virão junto com Elion. Arrume-a e quero ela no palco, ao seu lado. Amália arregalou os olhos, tentando entender o que acabara de ser decidido sobre o destino dela. O pânico em seu rosto era evidente, e eu não a culpava. Essa decisão de Asael estava sendo feita sem nenhum respeito pelo que ela estava sentindo. — Asael, ela acabou de chegar — insisti, tentando argumentar. — Não acha que é cedo demais para colocá-la no palco? Ela ainda nem sabe como as coisas funcionam por aqui. Ele me lançou um olhar severo, o tipo de olhar que dizia que não estava disposto a discutir. — Você sabe como as coisas funcionam aqui, Havenna. Ela não tem tempo para aprender devagar. O Velvet Den não espera por ninguém. Agora faça o que estou dizendo. — Sua voz soou final, sem espaço para mais conversa. Suspirei, sabendo que qualquer resistência só pioraria a situação. Amália olhou para mim, esperando alguma explicação, mas o que eu podia dizer? Asael era o dono desse mundo, e recusar suas ordens não era uma opção. — Vamos — murmurei para Amália, puxando-a gentilmente em direção ao camarim. — Vou te ajudar a se preparar. Enquanto caminhávamos, eu sentia o peso de sua confusão e medo. Eu queria protegê-la, mas aqui, proteção era uma palavra frágil. Talvez essa noite fosse um teste, e ela precisaria de toda a força possível para enfrentá-lo.Narrado por Elion Venho de uma linhagem de homens fortes, uma linhagem de Dons que governou Londres com passos firmes e punhos de ferro. Meu pai, meu avô, e antes deles, todos os homens da nossa família mantiveram o poder em mãos, não apenas pela força, mas pela astúcia. Para nós, governar Londres não era apenas uma questão de vontade, era um dever herdado.A passagem para me tornar o Don não foi fácil. Desde jovem, fui submetido a treinamentos intensos, tanto físicos quanto mentais. Meu pai sempre dizia: “Elion, o poder não está apenas nas suas mãos, mas na sua mente. Quem controla o medo controla o mundo.” E eu aprendi, talvez mais rápido do que ele esperava. Cada golpe que recebia nos treinamentos, cada lição dura que me ensinavam, moldava quem eu me tornaria. Não apenas um líder, mas o Don de Londres.As regras do submundo eram claras: força sem controle é ruína. O verdadeiro poder não está no uso da violência, mas na habilidade de dominar cada situação, de estar três passos à fr
Narrado por Amália Eu estava apavorada, perdida em meio a uma realidade que eu nunca poderia ter imaginado. Quando aceitei a proposta de Havenna, pensei que seria algo simples, talvez até uma oportunidade de começar de novo. Fui ingênua, cega pela minha falta de experiência no mundo real. Nunca soube o que acontecia nas sombras. E agora, aqui estava eu, presa a um destino que mal compreendia, em um lugar que, claramente, era muito mais do que apenas um clube. Uma casa de prostituição. A pergunta que ecoava na minha mente, insistentemente, era: até onde eu teria que me vender para ter um teto sobre a cabeça? O medo apertava meu peito, e as lágrimas desciam livremente pelo meu rosto, misturando-se com a água quente que escorria sobre mim no chuveiro. Cada gota que caía parecia pesada, como o peso da decisão que havia tomado. Eu mal conseguia pensar direito, o pavor me dominava. Fechei o registro com um movimento rápido, sequei meu corpo com a toalha que encontrei e me enrolei nela
Narrado por Amália — Como vou me arrumar? Eu não sei nem por onde começar, eu nunca me arrumei na vida, Havenna — falei, com a voz embargada, sentindo o desespero crescer dentro de mim.Havenna me olhou com uma expressão que misturava compaixão e determinação. Ela foi até o armário e tirou um vestido mostarda que parecia brilhar sob a luz fraca do quarto. O decote ia até a barriga, e a peça era elegantemente reveladora.— Você vai se arrumar assim, Amália. É assim que as coisas funcionam aqui — disse ela, com uma firmeza que não deixou espaço para contestação.Senti meu coração disparar ao olhar para o vestido. Era bonito, mas também parecia uma armadilha. O que estava prestes a fazer? Eu queria me esconder, não me expor.— Não consigo — murmurei, afastando o olhar.— Olha, eu sei que você está assustada. E eu não vou mentir, não vai ser fácil. Mas você precisa fazer isso. O Velvet Den não é um lugar para inseguranças. Você precisa mostrar que é forte e que pertence a este lugar. Ago
Narrado por Elion Enquanto aguardava Asael organizar as coisas no palco, fui para a sala privada onde a reunião com os sócios seria realizada. O ambiente era cuidadosamente projetado: luz baixa, sofás de couro e uma mesa central de vidro refletindo o brilho das luzes indiretas. Assim que entrei, todos os homens se levantaram em respeito. Eram figuras importantes, controlavam partes cruciais do tráfico em Londres. Com um aceno de mão, fiz sinal para que se sentassem novamente.— Senhores, estamos todos aqui por um motivo simples — comecei, pegando o copo de whisky que Asael havia preparado para mim. — A cidade está mais vulnerável do que nunca, e precisamos garantir que nossas operações permaneçam intocáveis. O próximo carregamento de armas chega amanhã à noite, e quero que tudo saia perfeito.Ivan, um dos chefes do tráfico de drogas no leste de Londres, foi o primeiro a se pronunciar. Ele tinha a mania irritante de sempre tentar parecer mais astuto do que realmente era.— Não vejo pr
Narrado por Amália Capítulo: O Palco e a DesilusãoNarrado por AmáliaMeu coração pulsava com força, como se quisesse escapar do meu peito. Eu estava em um mundo que não era meu, cercada por sombras e luzes dançantes que pareciam rir da minha inocência. O palco diante de mim era imenso e intimidador, e o som da música envolvia o ambiente como um manto sedutor. Mas, para mim, era apenas um lembrete de tudo o que eu não era.Quando subi, o calor da luz dos refletores me atingiu, fazendo minha pele arrepiar. O olhar de Havenna estava fixo em mim, e suas palavras ecoavam na minha mente. “O palco é seu. Crie uma nova personalidade e assuma o controle.” Como eu poderia ser alguém que não sou? A insegurança me consumia, mas eu precisava agir. Não tinha outra escolha.A música começou, suave e envolvente, e meu corpo hesitou. Eu não sabia como me mover, como encantar como as outras mulheres que haviam subido antes de mim. A presença de Havenna foi substituída por um vazio, e eu me vi sozinha
Narrado por Elion Eu a observei sair do palco, mantendo minha postura calma, mas por dentro, a ansiedade crescia. Alguma coisa sobre aquela garota me intrigava mais do que qualquer uma que eu já tivesse visto antes. Não era apenas sua beleza, mas o contraste entre sua vulnerabilidade e a força que tentava, desesperadamente, manter.Quando a porta da sala se abriu, todos os olhares se voltaram para ela. Ela entrou hesitante, como se cada passo a levasse mais perto do abismo. Sua pele pálida parecia ainda mais clara sob a luz suave, mas o que chamou minha atenção foram as marcas vermelhas no braço dela. Dedos. Marcas de dedos cravadas em sua pele, como cicatrizes temporárias de uma violência que eu não toleraria.A raiva me tomou, queimando por dentro de uma forma que não costumava permitir. Levantei-me tão rápido que os outros na sala ficaram visivelmente desconcertados, mas não me importei. Minha atenção estava toda nela. Cada músculo tenso, cada lágrima que escorria pelo seu rosto,
Narrado por Havenna Diferente de muitas meninas que chegaram aqui, minha história é mais sombria e pesada. A maioria delas chega ao Velvet Den após completar 18 anos, muitas por vontade própria. Mas esse não foi o meu caso.Eu era apenas uma criança e já havia passado pelo inferno nas mãos da minha mãe, viciada.Tive que ver e fazer coisas que nenhuma criança jamais deveria. Meu fim — ou talvez meu começo, dependendo do ponto de vista — foi o Velvet Den, quando minha mãe me vendeu como moeda de troca para pagar seus vícios.Eu tinha apenas 14 anos quando cheguei aqui. Naquela época, as coisas eram bem mais difíceis. O Velvet não era o que é hoje; era comandado por homens que não se importavam nem um pouco com os sentimentos ou vidas das meninas que viviam aqui.Eramos tratadas como objetos de prazer.Minha virgindade foi leiloada para o maior lance, e, se não obedecíamos, as consequências eram severas. Muitas meninas que conheci naquela época já não estão mais vivas para contar suas
Narrado por Amália Eu estava em choque, sem entender o que estava acontecendo diante de mim. As palavras de Elion ecoavam no ambiente, ressoando como um aviso sombrio, uma proteção que eu não havia pedido. Ele se comportava como se fosse meu dono, como se eu pertencesse a ele a vida toda, mas eu mal o conhecia. O eco do disparo reverberou em meus ouvidos, e o pânico tomou conta do meu corpo, fazendo-me sentir como se estivesse afundando em um mar de incertezas.Desejava sair dali correndo, deixar o Velvet Den e nunca mais olhar para trás, mas o medo me paralisou. Era como se uma força invisível tivesse me aprisionado no lugar. Eu me perguntava como tudo poderia ter mudado tão rapidamente. Em uma fração de segundo, a vida que eu conhecia havia sido transformada em um pesadelo.Os rostos ao meu redor eram um borrão, as vozes misturando-se em um turbilhão de confusão. A adrenalina ainda corria em minhas veias, e minha respiração tornava-se cada vez mais irregular. Eu só conseguia pensar