Narrado por Elion
Venho de uma linhagem de homens fortes, uma linhagem de Dons que governou Londres com passos firmes e punhos de ferro. Meu pai, meu avô, e antes deles, todos os homens da nossa família mantiveram o poder em mãos, não apenas pela força, mas pela astúcia. Para nós, governar Londres não era apenas uma questão de vontade, era um dever herdado. A passagem para me tornar o Don não foi fácil. Desde jovem, fui submetido a treinamentos intensos, tanto físicos quanto mentais. Meu pai sempre dizia: “Elion, o poder não está apenas nas suas mãos, mas na sua mente. Quem controla o medo controla o mundo.” E eu aprendi, talvez mais rápido do que ele esperava. Cada golpe que recebia nos treinamentos, cada lição dura que me ensinavam, moldava quem eu me tornaria. Não apenas um líder, mas o Don de Londres. As regras do submundo eram claras: força sem controle é ruína. O verdadeiro poder não está no uso da violência, mas na habilidade de dominar cada situação, de estar três passos à frente de qualquer adversário. A cada dia que passava, eu observava meu pai fazer exatamente isso — transformar o caos em ordem com uma simples palavra, um olhar calculado, ou uma jogada brilhante nos bastidores. Quando meu tempo chegou, eu já estava pronto. O trono de Londres não foi dado a mim de bom grado; eu o conquistei. As ruas me testaram, meus inimigos tentaram me derrubar, mas nenhum deles entendeu que eu havia nascido para isso. Eu havia sido forjado no fogo das expectativas, na pressão de uma linhagem que não aceita fracassos. Hoje, eu sou o último herdeiro dessa dinastia. O peso da responsabilidade está sobre meus ombros, mas não me incomoda. Pelo contrário, me fortalece. Cada decisão que tomo, cada movimento que faço, mantém vivo o legado de minha família. O sangue dos Halloway corre em minhas veias, e com ele, a força de gerações. Agora, é minha vez de manter Londres sob controle. As ruas me pertencem, assim como pertenciam a meu pai. Eu sou o Don, e enquanto estiver de pé, nenhum homem, por mais ousado que seja, tomará este trono de mim. Fazia tempo que eu não tinha um momento de lazer. Aliás, a verdade é que eu nunca tive, não desde que assumi o controle. Cada hora do meu dia era consumida por negócios, alianças e uma interminável necessidade de manter Londres sob meu controle. Hoje, no entanto, não seria diferente. Havia uma reunião importante com meus sócios no tráfico de armas e drogas, um encontro que poderia determinar o rumo da cidade nas próximas semanas. Para mim, isso era rotina. Para Londres, era uma sentença. O encontro estava marcado no Velvet Den, o clube de Asael, meu braço direito na máfia. Asael era eficiente, frio, e sabia exatamente como administrar as operações por baixo dos panos. O Velvet era o nosso ponto neutro, um local onde os homens mais perigosos da cidade podiam relaxar e se esquecer das ruas sangrentas por algumas horas. Não era só um clube de luxo, era um centro de poder disfarçado em luzes vermelhas e música alta. Enquanto me preparava, meus pensamentos voltaram à reunião. Cargas de armas estavam a caminho, e com elas, a oportunidade de expandir nosso domínio. O controle das drogas já estava nas minhas mãos, mas armas… Armas eram o verdadeiro poder. Elas destruíam não apenas corpos, mas também consciências. Elas quebravam o espírito das pessoas, deixavam cicatrizes que o tempo não apagava. Eu sempre gostei de observar. As pessoas revelam muito mais sobre si mesmas quando acham que não estão sendo vistas. E, no Velvet Den, todos acham que estão protegidos pela penumbra, pelo som abafado da música e pelas máscaras que vestem quando entram aqui. Mas comigo, ninguém está a salvo das luzes. Eu vejo tudo. Enquanto desço as escadas privativas para a sala principal, sinto o ar mudar. O ambiente ao meu redor se molda à minha presença, como sempre. Os olhares se voltam, alguns de soslaio, outros diretos. Respeito. Medo. É assim que se governa uma cidade como Londres. Não com a força bruta, mas com o medo silencioso, sutil. Eu não preciso gritar. Um gesto meu é suficiente para mover montanhas ou destruir reinos. Hoje, mais do que nunca, eu precisava garantir que tudo saísse como o planejado. O Velvet Den seria o palco de mais uma jogada de poder, e eu estaria no centro dela, como sempre. Quando entrei no clube, as luzes vermelhas e o cheiro forte de bebida me envolveram. O ambiente era uma mistura de luxúria e perigo, exatamente como deveria ser. Asael me aguardava na entrada, com aquele sorriso de quem sabia que os negócios estavam para prosperar. — Tudo pronto? — perguntei, sem perder tempo. — Sempre — ele respondeu, seu olhar calculador acompanhando o meu. Ele sabia o peso daquela noite. Sabia que, ali, entre danças e sussurros, decidiríamos o futuro da cidade. Asael sempre foi um homem leal, forte, confiável. Nos conhecemos desde pequenos e entramos juntos no treinamento da máfia. Ele me olha com um sorriso travesso, e eu o encaro com desconfiança. — Fale logo o que tem a dizer. Sei que não aguenta esperar para falar — digo, já impaciente. — Temos uma atração nova na casa, chegou hoje, uma garota nova, Amália é o nome dela. Nunca vi uma mulher como ela; sua beleza vai atrair todos os olhares — disse ele, e algo chamou minha atenção. Isso me intrigou por um momento, mas logo deixei de lado. Novas garotas entram aqui o tempo todo. Algumas sobem rapidamente, outras desaparecem com a mesma facilidade. Não é isso que me interessa. Mas há algo na forma como Asael descreve essa garota que desperta minha curiosidade. Não é comum ele se preocupar em mencionar nomes. Ele sabe que minha atenção é preciosa e que não perco tempo com trivialidades. — Quero vê-la no palco esta noite — digo, quase sem emoção.Narrado por Amália Eu estava apavorada, perdida em meio a uma realidade que eu nunca poderia ter imaginado. Quando aceitei a proposta de Havenna, pensei que seria algo simples, talvez até uma oportunidade de começar de novo. Fui ingênua, cega pela minha falta de experiência no mundo real. Nunca soube o que acontecia nas sombras. E agora, aqui estava eu, presa a um destino que mal compreendia, em um lugar que, claramente, era muito mais do que apenas um clube. Uma casa de prostituição. A pergunta que ecoava na minha mente, insistentemente, era: até onde eu teria que me vender para ter um teto sobre a cabeça? O medo apertava meu peito, e as lágrimas desciam livremente pelo meu rosto, misturando-se com a água quente que escorria sobre mim no chuveiro. Cada gota que caía parecia pesada, como o peso da decisão que havia tomado. Eu mal conseguia pensar direito, o pavor me dominava. Fechei o registro com um movimento rápido, sequei meu corpo com a toalha que encontrei e me enrolei nela
Narrado por Amália — Como vou me arrumar? Eu não sei nem por onde começar, eu nunca me arrumei na vida, Havenna — falei, com a voz embargada, sentindo o desespero crescer dentro de mim.Havenna me olhou com uma expressão que misturava compaixão e determinação. Ela foi até o armário e tirou um vestido mostarda que parecia brilhar sob a luz fraca do quarto. O decote ia até a barriga, e a peça era elegantemente reveladora.— Você vai se arrumar assim, Amália. É assim que as coisas funcionam aqui — disse ela, com uma firmeza que não deixou espaço para contestação.Senti meu coração disparar ao olhar para o vestido. Era bonito, mas também parecia uma armadilha. O que estava prestes a fazer? Eu queria me esconder, não me expor.— Não consigo — murmurei, afastando o olhar.— Olha, eu sei que você está assustada. E eu não vou mentir, não vai ser fácil. Mas você precisa fazer isso. O Velvet Den não é um lugar para inseguranças. Você precisa mostrar que é forte e que pertence a este lugar. Ago
Narrado por Elion Enquanto aguardava Asael organizar as coisas no palco, fui para a sala privada onde a reunião com os sócios seria realizada. O ambiente era cuidadosamente projetado: luz baixa, sofás de couro e uma mesa central de vidro refletindo o brilho das luzes indiretas. Assim que entrei, todos os homens se levantaram em respeito. Eram figuras importantes, controlavam partes cruciais do tráfico em Londres. Com um aceno de mão, fiz sinal para que se sentassem novamente.— Senhores, estamos todos aqui por um motivo simples — comecei, pegando o copo de whisky que Asael havia preparado para mim. — A cidade está mais vulnerável do que nunca, e precisamos garantir que nossas operações permaneçam intocáveis. O próximo carregamento de armas chega amanhã à noite, e quero que tudo saia perfeito.Ivan, um dos chefes do tráfico de drogas no leste de Londres, foi o primeiro a se pronunciar. Ele tinha a mania irritante de sempre tentar parecer mais astuto do que realmente era.— Não vejo pr
Narrado por Amália Capítulo: O Palco e a DesilusãoNarrado por AmáliaMeu coração pulsava com força, como se quisesse escapar do meu peito. Eu estava em um mundo que não era meu, cercada por sombras e luzes dançantes que pareciam rir da minha inocência. O palco diante de mim era imenso e intimidador, e o som da música envolvia o ambiente como um manto sedutor. Mas, para mim, era apenas um lembrete de tudo o que eu não era.Quando subi, o calor da luz dos refletores me atingiu, fazendo minha pele arrepiar. O olhar de Havenna estava fixo em mim, e suas palavras ecoavam na minha mente. “O palco é seu. Crie uma nova personalidade e assuma o controle.” Como eu poderia ser alguém que não sou? A insegurança me consumia, mas eu precisava agir. Não tinha outra escolha.A música começou, suave e envolvente, e meu corpo hesitou. Eu não sabia como me mover, como encantar como as outras mulheres que haviam subido antes de mim. A presença de Havenna foi substituída por um vazio, e eu me vi sozinha
Narrado por Elion Eu a observei sair do palco, mantendo minha postura calma, mas por dentro, a ansiedade crescia. Alguma coisa sobre aquela garota me intrigava mais do que qualquer uma que eu já tivesse visto antes. Não era apenas sua beleza, mas o contraste entre sua vulnerabilidade e a força que tentava, desesperadamente, manter.Quando a porta da sala se abriu, todos os olhares se voltaram para ela. Ela entrou hesitante, como se cada passo a levasse mais perto do abismo. Sua pele pálida parecia ainda mais clara sob a luz suave, mas o que chamou minha atenção foram as marcas vermelhas no braço dela. Dedos. Marcas de dedos cravadas em sua pele, como cicatrizes temporárias de uma violência que eu não toleraria.A raiva me tomou, queimando por dentro de uma forma que não costumava permitir. Levantei-me tão rápido que os outros na sala ficaram visivelmente desconcertados, mas não me importei. Minha atenção estava toda nela. Cada músculo tenso, cada lágrima que escorria pelo seu rosto,
Narrado por Havenna Diferente de muitas meninas que chegaram aqui, minha história é mais sombria e pesada. A maioria delas chega ao Velvet Den após completar 18 anos, muitas por vontade própria. Mas esse não foi o meu caso.Eu era apenas uma criança e já havia passado pelo inferno nas mãos da minha mãe, viciada.Tive que ver e fazer coisas que nenhuma criança jamais deveria. Meu fim — ou talvez meu começo, dependendo do ponto de vista — foi o Velvet Den, quando minha mãe me vendeu como moeda de troca para pagar seus vícios.Eu tinha apenas 14 anos quando cheguei aqui. Naquela época, as coisas eram bem mais difíceis. O Velvet não era o que é hoje; era comandado por homens que não se importavam nem um pouco com os sentimentos ou vidas das meninas que viviam aqui.Eramos tratadas como objetos de prazer.Minha virgindade foi leiloada para o maior lance, e, se não obedecíamos, as consequências eram severas. Muitas meninas que conheci naquela época já não estão mais vivas para contar suas
Narrado por Amália Eu estava em choque, sem entender o que estava acontecendo diante de mim. As palavras de Elion ecoavam no ambiente, ressoando como um aviso sombrio, uma proteção que eu não havia pedido. Ele se comportava como se fosse meu dono, como se eu pertencesse a ele a vida toda, mas eu mal o conhecia. O eco do disparo reverberou em meus ouvidos, e o pânico tomou conta do meu corpo, fazendo-me sentir como se estivesse afundando em um mar de incertezas.Desejava sair dali correndo, deixar o Velvet Den e nunca mais olhar para trás, mas o medo me paralisou. Era como se uma força invisível tivesse me aprisionado no lugar. Eu me perguntava como tudo poderia ter mudado tão rapidamente. Em uma fração de segundo, a vida que eu conhecia havia sido transformada em um pesadelo.Os rostos ao meu redor eram um borrão, as vozes misturando-se em um turbilhão de confusão. A adrenalina ainda corria em minhas veias, e minha respiração tornava-se cada vez mais irregular. Eu só conseguia pensar
Narrado por Amália Eu saí da sala privativa com o coração apertado, sentindo que algo dentro de mim havia mudado para sempre. Talvez eu não entendesse exatamente o que significava aquele momento, mas uma coisa era clara: eu havia selado meu destino, e não tinha mais volta. Era como se, ao cruzar aquela porta, eu tivesse assinado um contrato invisível com o próprio diabo. Perturbador, sim, mas fugir já não era mais uma opção.Eu só podia seguir em frente, sem olhar para o passado, tentando encontrar um jeito de sobreviver no meio daquele caos que agora era minha vida. O medo ainda pulsava em mim, mas agora parecia misturado com outra coisa—uma força que eu mal conhecia, mas que crescia a cada passo.Os corredores do Velvet Den pareciam mais longos e sufocantes enquanto eu caminhava, tentando processar tudo o que tinha acontecido. Cada olhar que eu recebia das outras meninas era carregado de julgamento e desconfiança, como se, de alguma forma, minha presença ali ameaçasse a frágil estr