Narrado por Amália
Eu estava apavorada, perdida em meio a uma realidade que eu nunca poderia ter imaginado. Quando aceitei a proposta de Havenna, pensei que seria algo simples, talvez até uma oportunidade de começar de novo. Fui ingênua, cega pela minha falta de experiência no mundo real. Nunca soube o que acontecia nas sombras. E agora, aqui estava eu, presa a um destino que mal compreendia, em um lugar que, claramente, era muito mais do que apenas um clube. Uma casa de prostituição. A pergunta que ecoava na minha mente, insistentemente, era: até onde eu teria que me vender para ter um teto sobre a cabeça? O medo apertava meu peito, e as lágrimas desciam livremente pelo meu rosto, misturando-se com a água quente que escorria sobre mim no chuveiro. Cada gota que caía parecia pesada, como o peso da decisão que havia tomado. Eu mal conseguia pensar direito, o pavor me dominava. Fechei o registro com um movimento rápido, sequei meu corpo com a toalha que encontrei e me enrolei nela antes de sair do banheiro. Caminhei em direção ao quarto, com o coração acelerado, tentando não pensar no que viria depois. Quando abri a porta, dei de cara com Havenna. Ela estava sentada na cama, com um prato de comida nas mãos, me olhando com uma expressão que eu não consegui decifrar de imediato. — Trouxe algo para você comer — disse ela, sua voz calma, quase gentil, como se nada estivesse errado. Eu fiquei parada, ainda processando tudo, sem saber o que dizer ou fazer. As lágrimas ainda ameaçavam cair, mas me esforcei para manter a compostura. — Eu… — comecei a falar, mas minha voz falhou. O medo e a confusão ainda eram fortes demais. Havenna suspirou, parecendo entender o que eu sentia, mas sem a mesma dor. — Eu sei que é difícil, Amália — disse ela, suavemente. — Mas é assim que as coisas são aqui. Você vai se acostumar. — Se acostumar? — minha voz saiu mais alta do que eu esperava. — Você está falando como se isso fosse normal, mas não é! Eu não sei se consigo fazer isso. Havenna me olhou por um momento, seus olhos suavizando como se estivesse pensando na melhor forma de responder. Ela colocou o prato na mesa ao lado da cama e se levantou, aproximando-se de mim. — Amália, eu entendo o que você está sentindo, de verdade. — Ela respirou fundo, sua voz mais baixa, quase como se estivesse confidenciando algo. — Quando cheguei aqui, achei que fosse enlouquecer. A ideia de me vender, de ser usada, parecia insuportável. Mas a verdade é que, nesse mundo, nós temos duas escolhas: ou nos adaptamos, ou somos devoradas. As palavras dela ressoaram em mim. O medo no meu peito se transformava em uma mistura de raiva e impotência. Não havia mais escapatória, não é? — Mas eu não queria isso — murmurei, minha voz agora um sussurro. — Eu só queria um lugar para ficar… Eu não sabia que seria assim. Havenna passou a mão pelos cabelos e suspirou. — Eu sei. Ninguém quer isso. Mas agora você está aqui, e precisa ser forte. Ninguém vai te forçar a fazer algo contra a sua vontade, mas o Velvet Den é… complicado. O Elion, o Don de Londres, ele comanda isso tudo. O jogo é dele, e quem não segue as regras… bem, não dura muito tempo. O nome dele fez meu estômago afundar. Eu já tinha ouvido o nome sussurrado entre as outras meninas enquanto passávamos pelo corredor. Ele não era apenas o dono de tudo isso; ele era o poder encarnado, alguém que todos pareciam temer até respirar perto. — Então, o que você sugere que eu faça? — perguntei, minha voz tremendo. Havenna me encarou com firmeza. — Primeiro, comece comendo alguma coisa. Depois, vista-se e esteja pronta. Você vai se apresentar esta noite. — Se apresentar? — repeti, a ideia fazendo meu coração disparar. A palavra “apresentar” parecia carregar um peso que eu não sabia se conseguiria suportar. — Sim, você vai subir ao palco — explicou Havenna, e seu olhar ficou sério. — Não é apenas uma apresentação. É a sua introdução ao mundo. O Elion estará lá. Ele espera que você faça uma boa impressão. Eu não sabia se estava mais apavorada com a ideia de me expor diante de estranhos ou com a perspectiva de encontrar o Don. O que ele poderia querer de mim? A ansiedade me corroía. — E se eu não quiser? — desafiei, tentando encontrar algum fio de coragem. Havenna hesitou, e pude ver a preocupação em seu olhar. — Amália, você pode não ter outra escolha. Mas o que posso te dizer é que não é o fim. Algumas garotas fazem isso e, com o tempo, conseguem se estabelecer. Elas ganham respeito e até um lugar ao sol. A esperança que se formou em meu coração foi rapidamente ofuscada pela realidade sombria em que me encontrava. — Eu não sei se sou forte o suficiente para isso — murmurei, me sentindo vulnerável. — Às vezes, você não percebe o quão forte realmente é até que seja obrigada a enfrentar suas circunstâncias — respondeu Havenna, sua voz suave, mas firme. — Agora, por favor, coma e se prepare. Você vai superar isso. Enquanto olhava para o prato de comida, pensei em todas as decisões que me levaram até aqui. O medo ainda apertava meu peito, mas, ao mesmo tempo, uma pequena chama de determinação começava a acender. Eu não queria ser uma vítima, não queria me deixar levar. Com um último olhar para Havenna, me aproximei da mesa e comecei a comer, sabendo que a noite ainda guardava muitos desafios. O futuro era incerto, mas uma coisa era clara: eu estava pronta para enfrentar o que quer que viesse a seguir.Narrado por Amália — Como vou me arrumar? Eu não sei nem por onde começar, eu nunca me arrumei na vida, Havenna — falei, com a voz embargada, sentindo o desespero crescer dentro de mim.Havenna me olhou com uma expressão que misturava compaixão e determinação. Ela foi até o armário e tirou um vestido mostarda que parecia brilhar sob a luz fraca do quarto. O decote ia até a barriga, e a peça era elegantemente reveladora.— Você vai se arrumar assim, Amália. É assim que as coisas funcionam aqui — disse ela, com uma firmeza que não deixou espaço para contestação.Senti meu coração disparar ao olhar para o vestido. Era bonito, mas também parecia uma armadilha. O que estava prestes a fazer? Eu queria me esconder, não me expor.— Não consigo — murmurei, afastando o olhar.— Olha, eu sei que você está assustada. E eu não vou mentir, não vai ser fácil. Mas você precisa fazer isso. O Velvet Den não é um lugar para inseguranças. Você precisa mostrar que é forte e que pertence a este lugar. Ago
Narrado por Elion Enquanto aguardava Asael organizar as coisas no palco, fui para a sala privada onde a reunião com os sócios seria realizada. O ambiente era cuidadosamente projetado: luz baixa, sofás de couro e uma mesa central de vidro refletindo o brilho das luzes indiretas. Assim que entrei, todos os homens se levantaram em respeito. Eram figuras importantes, controlavam partes cruciais do tráfico em Londres. Com um aceno de mão, fiz sinal para que se sentassem novamente.— Senhores, estamos todos aqui por um motivo simples — comecei, pegando o copo de whisky que Asael havia preparado para mim. — A cidade está mais vulnerável do que nunca, e precisamos garantir que nossas operações permaneçam intocáveis. O próximo carregamento de armas chega amanhã à noite, e quero que tudo saia perfeito.Ivan, um dos chefes do tráfico de drogas no leste de Londres, foi o primeiro a se pronunciar. Ele tinha a mania irritante de sempre tentar parecer mais astuto do que realmente era.— Não vejo pr
Narrado por Amália Capítulo: O Palco e a DesilusãoNarrado por AmáliaMeu coração pulsava com força, como se quisesse escapar do meu peito. Eu estava em um mundo que não era meu, cercada por sombras e luzes dançantes que pareciam rir da minha inocência. O palco diante de mim era imenso e intimidador, e o som da música envolvia o ambiente como um manto sedutor. Mas, para mim, era apenas um lembrete de tudo o que eu não era.Quando subi, o calor da luz dos refletores me atingiu, fazendo minha pele arrepiar. O olhar de Havenna estava fixo em mim, e suas palavras ecoavam na minha mente. “O palco é seu. Crie uma nova personalidade e assuma o controle.” Como eu poderia ser alguém que não sou? A insegurança me consumia, mas eu precisava agir. Não tinha outra escolha.A música começou, suave e envolvente, e meu corpo hesitou. Eu não sabia como me mover, como encantar como as outras mulheres que haviam subido antes de mim. A presença de Havenna foi substituída por um vazio, e eu me vi sozinha
Narrado por Elion Eu a observei sair do palco, mantendo minha postura calma, mas por dentro, a ansiedade crescia. Alguma coisa sobre aquela garota me intrigava mais do que qualquer uma que eu já tivesse visto antes. Não era apenas sua beleza, mas o contraste entre sua vulnerabilidade e a força que tentava, desesperadamente, manter.Quando a porta da sala se abriu, todos os olhares se voltaram para ela. Ela entrou hesitante, como se cada passo a levasse mais perto do abismo. Sua pele pálida parecia ainda mais clara sob a luz suave, mas o que chamou minha atenção foram as marcas vermelhas no braço dela. Dedos. Marcas de dedos cravadas em sua pele, como cicatrizes temporárias de uma violência que eu não toleraria.A raiva me tomou, queimando por dentro de uma forma que não costumava permitir. Levantei-me tão rápido que os outros na sala ficaram visivelmente desconcertados, mas não me importei. Minha atenção estava toda nela. Cada músculo tenso, cada lágrima que escorria pelo seu rosto,
Narrado por Havenna Diferente de muitas meninas que chegaram aqui, minha história é mais sombria e pesada. A maioria delas chega ao Velvet Den após completar 18 anos, muitas por vontade própria. Mas esse não foi o meu caso.Eu era apenas uma criança e já havia passado pelo inferno nas mãos da minha mãe, viciada.Tive que ver e fazer coisas que nenhuma criança jamais deveria. Meu fim — ou talvez meu começo, dependendo do ponto de vista — foi o Velvet Den, quando minha mãe me vendeu como moeda de troca para pagar seus vícios.Eu tinha apenas 14 anos quando cheguei aqui. Naquela época, as coisas eram bem mais difíceis. O Velvet não era o que é hoje; era comandado por homens que não se importavam nem um pouco com os sentimentos ou vidas das meninas que viviam aqui.Eramos tratadas como objetos de prazer.Minha virgindade foi leiloada para o maior lance, e, se não obedecíamos, as consequências eram severas. Muitas meninas que conheci naquela época já não estão mais vivas para contar suas
Narrado por Amália Eu estava em choque, sem entender o que estava acontecendo diante de mim. As palavras de Elion ecoavam no ambiente, ressoando como um aviso sombrio, uma proteção que eu não havia pedido. Ele se comportava como se fosse meu dono, como se eu pertencesse a ele a vida toda, mas eu mal o conhecia. O eco do disparo reverberou em meus ouvidos, e o pânico tomou conta do meu corpo, fazendo-me sentir como se estivesse afundando em um mar de incertezas.Desejava sair dali correndo, deixar o Velvet Den e nunca mais olhar para trás, mas o medo me paralisou. Era como se uma força invisível tivesse me aprisionado no lugar. Eu me perguntava como tudo poderia ter mudado tão rapidamente. Em uma fração de segundo, a vida que eu conhecia havia sido transformada em um pesadelo.Os rostos ao meu redor eram um borrão, as vozes misturando-se em um turbilhão de confusão. A adrenalina ainda corria em minhas veias, e minha respiração tornava-se cada vez mais irregular. Eu só conseguia pensar
Narrado por Amália Eu saí da sala privativa com o coração apertado, sentindo que algo dentro de mim havia mudado para sempre. Talvez eu não entendesse exatamente o que significava aquele momento, mas uma coisa era clara: eu havia selado meu destino, e não tinha mais volta. Era como se, ao cruzar aquela porta, eu tivesse assinado um contrato invisível com o próprio diabo. Perturbador, sim, mas fugir já não era mais uma opção.Eu só podia seguir em frente, sem olhar para o passado, tentando encontrar um jeito de sobreviver no meio daquele caos que agora era minha vida. O medo ainda pulsava em mim, mas agora parecia misturado com outra coisa—uma força que eu mal conhecia, mas que crescia a cada passo.Os corredores do Velvet Den pareciam mais longos e sufocantes enquanto eu caminhava, tentando processar tudo o que tinha acontecido. Cada olhar que eu recebia das outras meninas era carregado de julgamento e desconfiança, como se, de alguma forma, minha presença ali ameaçasse a frágil estr
Narrado por Havenna A noite no Velvet Den parecia não ter fim. Eu observei o vai e vem de homens poderosos, garotas ansiosas, e a escuridão que permeava cada canto daquele lugar. Não era só o ambiente que estava sufocante; era a tensão, a incerteza. Era como uma corda esticada, pronta para se romper a qualquer momento.Amália passou por mim, perdida em pensamentos, caminhando como se carregasse um peso insuportável nos ombros. Quando nossos olhares se cruzaram, não precisei perguntar para saber que algo estava errado. Era visível no modo como ela evitava olhar para as pessoas, como seus passos eram pesados e sua respiração curta. Eu me aproximei devagar, como quem já conhecia bem aquela sensação.— Você está bem? — perguntei, embora já soubesse a resposta. Aqui, ninguém nunca estava bem. O que quer que tivesse acontecido com ela naquela sala, eu sabia que Elion tinha envolvimento.Ela hesitou, parecia procurar as palavras, mas eu já tinha vivido aquilo tantas vezes que não era difíci