SAMANTHA VASCONSELOS
Na segunda de manhã, acordo no horário de sempre, tomo um banho e vou tomar café. Depois seco meus cabelos, deixando-os bem lisos, preencho minha sobrancelha e passo corretivo, bronzer e finalizo com rímel para deixar meus olhos mais acentuados. Visto uma roupa social, calça e colete de alfaiataria e um mocassim. Me avalio no espelho antes de decidir que estou pronta para o dia, que com certeza será tenso.
Pego minha bolsa, e antes que eu me esqueça, coloco um par de brincos, alguns acessórios dourados e saio para pegar o metrô.
Quando chego no prédio em que trabalho dou uma boa olhada, alto, preto e imponente. Enquanto passo o cartão pela catraca me lembro da primeira vez em que estive aqui, eu sinceramente pensei que fosse vomitar de tanto nervosismo, mas foi tudo bem, todos são muito acolhedores.
Vou direto para os elevadores, faltam 20 minutos para a reunião começar. Quando o elevador chega, entro e pego meu celular para ver se Nat falou alguma coisa.
— Iana? – Não. Pode. Ser. Olho pro lado e me deparo com olhos verdes como jade me encarando.
Meu estomago dá um nó. Olhando ele melhor, percebo que sua barba é meio ruiva.
— Ian? Bom dia – dou uma boa olhada, ele fica ainda melhor de terno.
— Bom dia, quase não te reconheci com o cabelo arrumado.
Hmmm, então ele vai ficar me alfineteando? Os cabelos dele vão um pouco abaixo da orelha, loiro bem escuro com algumas partes ruivas, é estranho e sexy. Meu deus, preciso me controlar.
— Bom te encontrar sem ser praticamente atropelada – devolvo.
Nós dois caímos na risada e o elevador chega no meu andar.
— Bom, eu me despeço aqui, bom vê-lo novamente, Ian – e saio do elevador.
Estou no quinto andar, onde ficam as salas de reunião.
— Eu também estou nesse andar, sala principal?
— Hm, sim! Estou indo para lá agora – assim que digo isso meu celular toca, é minha chefe, Nat. – Preciso atender, siga o corredor à esquerda, a sala fica no final — ele assente e segue seu caminho.
— Oi Nat, já chegou?
— Ai Sam, você me perdoa? — pra ela já começar assim... — Estou parada em um congestionamento e não vou conseguir chegar a tempo, você revisou tudo né? Eu sei que sim. Consegue começar sem mim? – sinto um peso em meu estômago.
— Como assim? Hoje o filho do McDougall vai estar aqui, você não pode fazer isso comigo – ok, eu quero chorar.
— Samantha, eu sou sua chefe e preciso que faça isso, te recompenso com um jantar hoje! Eu sei que você consegue. Beijos Sam, boa sorte – e desliga.
Começo a suar de nervoso, como sempre acontece quando algo sai do meu controle, meu corpo esquenta e começo a ter taquicardia. Merda. Não pode ser, apresentar para o vice-presidente da matriz. Sozinha. Uma coisa é auxiliar em uma coisa ou outra, mas é totalmente diferente fazer tudo sozinha e sem supervisão.
Sem ter o que fazer, respiro fundo várias vezes, embora esteja meio trêmula, sigo para a sala de reuniões com a cabeça a mil, quando entro, vejo que o Diretor Financeiro – que eu nunca me lembro do nome, acho que é Saulo, ele está conversando com Ian, nos fundos da sala. No meio daquela confusão esqueci de perguntar o que ele fazia aqui.
Saulo olha para mim e pergunta:
— Dra. Natália já chegou?
— Bom dia, ela ficou presa no trânsito e não vai conseguir chegar a tempo — todos, incluindo o Ian, olham para mim.
— Você vai substituir ela? — Perguntou Saulo, ou é Paulo?
— Sim, vou começar a apresentação sem ela – digo, tentando ignorar o frio na barriga e conter minha ansiedade.
— Você consegue — diz baixinho a sempre simpática, Dra. Marina, Diretora de marketing.
Olho em volta tentando me situar, parece que todos já estão aqui...
— Bom, Samantha, esse é Ian McDougall, o vice-presidente da Matriz. – Por que eu não pensei nisso? Droga.
Ele sorri para mim de maneira acolhedora. Eu devia ter suspeitado, um desconhecido, simpático e bonito demais para ser qualquer um. Por um minuto, eu não soube dizer se tê-lo conhecido antes era uma coisa boa ou ruim, mas depois da reunião, presumi que sim. Depois daquele sorriso, 50% do meu nervosismo passou, arrumei as coisas para a minha apresentação e simplesmente falei.
Fui jogando informações, explicando gráficos e olhava ocasionalmente para Ian, que tomava notas de tudo que eu dizia, quando percebi, já havia acabado de falar e me sentei ao lado dele — o único vago, e aguardei até que todos os diretores fizessem a parte deles.
Durante a apresentação das finanças, descobri que na verdade o nome do diretor é Paulo.
Por fim, Ian agradeceu a presença de todos e fui a primeira a deixar a sala, peguei o elevador de serviços e parei no 13° andar, onde ficava o setor jurídico, e fui direto para minha sala. É pequena e conta apenas com uma mesa e uma cadeira — eu não recebo ninguém, mas sendo braço direito da Nat, eu ajudo a cuidar do setor inteiro.
Eu não deixo praticamente nada em cima da mesa, apenas o meu planer e um porta canetas, sempre tive toque com organização. Tiro o notebook da bolsa e começo a trabalhar.
O restante do dia foi um borrão, não vi mais o vice-presidente e não pensei muito nisso também, eu terei um dia cheio pela frente. Nat me mandou mensagem avisando que trabalharia de casa hoje e confirmou nosso jantar no lugar de sempre. Quando deu meu horário, fui para o elevador, e como o destino ama rir da minha cara, Ian estava lá, porém estava lendo algo em seu celular, decidi fingir não que não vi ele.
Não sei porque mas subitamente, me sinto envergonhada na presença dele. Possivelmente por tê-lo tratado antes de forma tão irreverente, e agora, sei que ele é o dono da empresa. Um dono mundial, poderoso. Saio rapidamente do elevador, mas dou menos de três passos antes de Ian chamar meu nome – Samantha – dessa vez.
Olho por cima do ombro com um sorrisinho despretensioso.
— Sim? – levantei as sobrancelhas.
— Quer jantar comigo hoje? Ando muito sozinho nessa cidade – ele disse isso de forma bem séria.
— Hm, terei de recusar, eu vou jantar com a Natália, ela me deve uma – sigo para a saída, ele vem atrás de mim.
— Natália Borges? A Diretora do jurídico?
— A própria.
— A sua chefe te deve uma?
— Deve ter notado que ela não apareceu para a apresentação de hoje – digo com sarcasmo e me arrependo da minha língua incontrolável.
— Sim, e não pude deixar de notar sua performance, você leva jeito para falar em público.
Eu quase disse a ele que não, eu não levo jeito para falar em público, e que única coisa que me impediu de desmaiar naquela sala foi o fato de ser ele lá e não o pai dele, a presença dele que me tranquilizou, afinal, eu já o havia conhecido e estava completamente despreparada para falar tudo sozinha. Porém...
— Obrigada, bom, vou in...
ELE ME INTERROMPE.
— Boa noite Samantha, tenha um ótimo jantar. – E sai andando sem olhar para trás.
SAMANTHA VASCONSELOSFico em choque com seu corte, e fico observando suas costas por um tempo – eu não esperava que ele me deixasse falando sozinha, vejo ele pegando o celular para falar com alguém. Sigo meu caminho para casa.O fato dele não ter insistido me fez querer que ele tivesse feito exatamente isso. Okay, talvez tenha me chamado por ser uma pessoa conhecida, e é obvio que ele pode encontrar uma boa companhia em qualquer lugar por aqui, mas mesmo assim... Feriu meu ego.Mas ok.Chegando em casa, não pude deixar de reparar em como a minha quitinete é perfeita para mim, mesmo sendo pequena, eu amo a minha casa. O prédio em que moro não tem elevador, e por muita sorte, eu consegui um apartamento no primeiro andar, n° 113.Entro em casa e me jogo no sofá — a sala de estar conta com um sofá de dois lugares cinza e um raque, que comporta uma tv pequena, o cômodo é pequeno, assim como todos os outros, e é separado da cozinha por um balcão. Não tem mesa exatamente por não ter muito es
IAN MCDOUGALLFiquei decepcionado por Samantha ter me dispensado, estou obcecado com essa menina desde ontem, e quando vi ela na empresa hoje, fiquei apaixonado.Ela fala muito bem, é educada, tem desenvoltura. Fiquei de boca aberta. Quase no mesmo minuto que a dispensei, peguei o celular e liguei para Natália e perguntei se ela queria jantar comigo.Óbvio que ela aceitou, mas não queria deixar a "Sam" na mão mais uma vez, e eu, inocentemente, disse que não me importava com sua presença. Meu Deus, estou me sentindo um adolescente, ainda mais com essa atitude.Depois de resolver o que eu precisava na filial, fui pro hotel, me troquei e desci para a academia, depois tomei um banho e me arrumei para a noite.Cheguei exatamente no horário combinado.Estava conversando sobre qualquer coisa com Natália e magneticamente meu olhar foi atraído para a porta, no exato momento em que Samantha entrou no restaurante.Me assustei com sua aparência no dia em que esbarrei nela, mesmo descabelada e su
SAMANTHA VASCONSELOSMeu Deus, eu estou a fim dele, e claramente, Nat também. O que eu vou fazer? Natália é linda de todas as formas possíveis, loira dos olhos azuis, atlética, parece uma boneca e é minha chefe.Me olho no espelho enquanto lavo as mãos, a maquiagem está intacta, menos o batom que deve ter saído enquanto nós comíamos, reaplico. Gosto do que vejo no espelho.Saio do banheiro e sou envolvida pelo ambiente novamente. Ainda estou estranhando a quantidade de pessoas na balada hoje, eu amo música e adoro me misturar com pessoas, dançar... Resolvo que ao invés de voltar ao camarote, onde os dois estão flertando, e exatamente por saber meu lugar vou para meio da pista dançar um pouco.Começo a ser embalada pela batida da música, e até troco olhares com algumas pessoas, até que sou puxada pelo braço, quando olho, já com cara feia para o lado, vejo é Ian.— O que?! – Grito.— Estava te procurando – e me entrega uma taça.Em seguida me olha de cima a baixo, gosto da forma como me
SAMANTHA VASCONSELOSO dia está particularmente bonito hoje, o céu está azul e com poucas nuvens, o calor está batendo forte, eu amo dias de sol, são dias felizes para mim. Nunca gostei de chuva ou tempo nublado. Minha personalidade geralmente acompanha o clima.Caminho tranquilamente e subo vagarosamente para minha sala, quando abro a porta, vejo duas coisas ao mesmo tempo: um pufe pink, e nele se encontra uma mulher de cabelos longos e pretos, olhos da mesma cor e muito marcantes com um delineado grosso, e um nariz perfeito e bem pequeno.Ela está totalmente esparramada.Até que me vê e levanta em um salto.— Oi, você é a Samantha?— Sim.— A Doutora Natália pediu para eu te esperar aqui.— Ah, tudo bem, espera só um pouquinho – pego o celular para ligar para a Nat. — Como se chama?— Luna – ela sorri.— Luna... Que nome bonito. Combina com você – retribuo o sorriso. – Espera só um pouquinho? Vou ligar para a Doutora Natália, pode ficar à vontade.— Tudo bem, não tenho pressa – e se
SAMANTHA VASCONSELOS Esse vacilo deve ter levado menos de dez segundos, mas vejo que Ian percebeu. E não gostou, aparentemente, esse cara não lida muito bem com rejeição. Abro um sorriso, mas não quero ofendê-lo, vou em direção ao carro e entro do lado do passageiro. Ele liga o carro. Como não diz nada, olho para fora. Eu não sei o que dizer, ele sempre preenche o silêncio entre nós, se bem que só o conheço a o que? Dois ou três dias. Nossa, parece que já nos conhecemos faz tempo. Mas ele realmente quebra o silêncio: — Quando penso que vou conseguir te tirar da cabeça porque vou trabalhar, chegam três diretores para me falar o quão incrível você é, e te indicar para uma vaga na matriz. Vaga na matriz. Na Escócia?! — Na matriz? Na Escócia? – pergunto. Não é possível. Seria bom demais pra ser verdade. — Bom, sim. Especificamente em Edimburgo, na capital. Você precisaria se mudar pra lá para exercer esse cargo. Não posso deixar de sorrir. Eu amo a ideia de morar na Escócia, em
SAMANTHA VASCONSELOS Entro na minha sala e fecho a porta, Nat está no meu lugar e Luna no pufe pink. — Oi Sam, essa é a Luna – trocamos olhares e sorrimos uma para a outra, meu santo bateu com o des... – Bom, vou direto ao assunto, você vai treiná-la para que ela possa assumir o seu lugar. Sinto a cor sumindo do meu rosto. E minha pressão cai levemente. Meu sorriso se desfaz e um nó se forma em meu estomago. O brilho no olhar de Nat me enoja, e fico totalmente sem palavras. — Meu Deus Samantha, calma! – Diz Nat se levantando. — Você vai ser promovida, bom se você quiser e tudo correr como planejado – ela coloca as mãos envolta dos meus ombros. Está explicado o brilho no olhar, mas continuo em choque. Estou sentindo um misto de felicidade, susto e curiosidade. Eu vou ser promovida? Por quê? E para qual cargo? — Pode explicar? – peço. — Claro, bom, no dia em que eu faltei, você apresentou no meu lugar, Ian e os Diretores acharam você muito segura de si e executou o trabal
SAMANTHA VASCONSELOS Dou de ombros.Nós dois rimos.— Fico feliz em termos esclarecido algumas coisas – digo.— Algumas, Samantha? – Faço que sim.Adoro o som do meu nome quando vem de seus lábios. Na verdade, nunca gostei tanto do meu nome. É tão provocativo. Parece um eterno duplo sentido vindo dele.— Há mais a que discutir?Dou de ombros.— Se for por causa do comportamento da Natália ontem, nós nos conhecemos há um tempo, já saímos juntos, mas nunca rolou nada. Eu não lembrava mais disso, e foi bom ele ter dito, eu realmente estava com receio de acontecer alguma coisa e a Nat ficar brava comigo. Ele não tinha motivos para mentir, e senti verdade em suas palavras. Por isso assenti e ficamos conversando por mais algumas horas. Mas estava ficando tarde e eu preciso colocar o sono em dia, então pedi pra ele me levar pra casa.— É aqui — digo, apontando para o meu prédio.— Foi ótimo passar um tempo com você, espero repetir em breve.Sorrio.— Eu também. Obrigada pela carona.Desço
SAMANTHA VASCONSELOS Eu nunca havia ao menos subido até esse andar, mas vi a sala de Ian assim que saí do elevador. O escritório é fechado por portas de vidro com a fachada da McDougall — uma âncora com um M atrás. Pelas portas vejo que não tem ninguém sentado à mesa, e já esperava por isso, visto que no e-mail, fui avisada que seria na sala de reuniões adjacente a sala dele. Abro as portas, atrás da mesa há um painel de madeira com vários livros, no aparador, uma bandeja com bebidas e à baixo, um frigobar. O ambiente transborda masculinidade, e tem o cheiro do perfume de Ian misturado com canela. Do lado direito, a parede é feita de vidro. Ali há um grande tapete cinza e dois pufes – idênticos ao que está em minha sala – só que pretos. À esquerda, há uma porta que dá para a sala de reuniões. Ela é privativa e exclusiva para as reuniões dele. Bato na porta e a abro, Ian está tomando café, vestindo um terno cinza escuro, muito lindo. Às vezes acho que não tem como ele ficar mais