SAMANTHA VASCONSELOS
Meu Deus, eu estou a fim dele, e claramente, Nat também. O que eu vou fazer? Natália é linda de todas as formas possíveis, loira dos olhos azuis, atlética, parece uma boneca e é minha chefe.
Me olho no espelho enquanto lavo as mãos, a maquiagem está intacta, menos o batom que deve ter saído enquanto nós comíamos, reaplico. Gosto do que vejo no espelho.
Saio do banheiro e sou envolvida pelo ambiente novamente. Ainda estou estranhando a quantidade de pessoas na balada hoje, eu amo música e adoro me misturar com pessoas, dançar... Resolvo que ao invés de voltar ao camarote, onde os dois estão flertando, e exatamente por saber meu lugar vou para meio da pista dançar um pouco.
Começo a ser embalada pela batida da música, e até troco olhares com algumas pessoas, até que sou puxada pelo braço, quando olho, já com cara feia para o lado, vejo é Ian.
— O que?! – Grito.
— Estava te procurando – e me entrega uma taça.
Em seguida me olha de cima a baixo, gosto da forma como me olha e continuo me mexendo, em seguida dou um gole no drink que ele trouxe para mim. É gin, ele acertou em cheio.
Então começamos a dançar juntos, e sorrimos muito um pro outro, é evidente que temos química e quero desesperadamente beijar ele. Mas não sei se estou vendo coisas quando penso que talvez ele queira o mesmo.
Meu olhar desce para sua boca e a minha seca. Ao invés de tomar um gole da bebida, lambo o lábio inferior.
Que desperta um olhar quase predatório em Ian.
— Porra, Samantha – diz, a voz rouca.
Encaro aqueles olhos verdes, ele envolve minha cintura, e não desviamos o olhar em momento algum, então ele me beija. Devagar, experimentando, como se tivéssemos todo o tempo do mundo.
Fico na ponta dos pés para ter um melhor acesso a ele, e enlaço seu pescoço com o braço livre, mesmo de salto ele ainda é bem maior... Me perco enquanto nos beijamos, até que um pensamento me ocorre:
— Cadê a Natália?
— Não sei, eu vim atrás de você – seus olhos estão nebulosos, os lábios inchados.
— Por quê?
— Como assim por quê? Eu vim nesse jantar por sua causa.
Ao ouvir isso, meu coração acelera – mais.
— Você vai me arranjar problemas com a Nat...
— Vamos sair daqui então?
Por que não? Olho em seus olhos e falo:
— Vamos.
Ele pega minha mão e com a outra, pega o drink, que abandona em uma mesa qualquer. Saímos noite a fora, e mal senti frio, apenas percebi que estava com frio quando entrei no carro, que está quente. Ele não solta minha mão por nada, e fazemos o trajeto em silêncio, há uma ansiedade mal contida de ambas as partes.
Chegamos ao quarto de hotel dele, e assim que fecha a porta, ele me encosta contra a ela e cola o corpo ao meu, sou envolvida por seu cheiro, que me deixa inebriada, ele segura meu rosto e acaricia meu lábio interior. Em seguida dá uma mordida ali.
Minhas pernas fraquejam.
E então, me beija, é como se estivesse com fome – não há outro modo de definir isso, suas mãos viajam por todo meu corpo, não deixando parte alguma para a imaginação. Ele me pega no colo e meu vestido sobe quando passo as pernas ao redor dele, passo a mão por seus cabelos que são muito macios, não sei como chegamos aqui, mas ele me j**a na cama.
Começo a desabotoar sua camisa. Quando me livro dela, passo a mão pelo seu corpo, o tanquinho dele é divino, esculpido. Ele passa do meu pescoço e desce até o decote e desce por todo o meu corpo, beijando e cariciando, quando chega à minha intimidade, perco a razão.
Quando acordo, estou em uma cama mega bagunçada – que não á a minha, olho em volta e vejo Ian deitado, a visão de suas costas nuas quase me faz salivar, a noite de ontem foi demais.
Mas já acabou, saio da cama em silêncio, não existe a menor possibilidade dele acordar e eu ainda estar aqui. Pego minhas coisas e saio do quarto na ponta dos pés. Na sala visto minha roupa e chamo um Uber.
Droga, eu nunca fiz isso!
Assim que chego em casa, fico aliviada que minha mãe foi embora ontem, vou direto pro banho, não vou chegar meio-dia só porque estava na farra, é só dormir mais cedo que recupero esse sono, e provavelmente a Natália só vai chegar as 14h tem de haver um responsável pelo setor presente.
Acabo de comer minha banana com aveia e escovo os dentes, coloco um terninho preto e uma blusa com gola laço, scarpin e voilà, prontíssima.
Pego minha necessaire de maquiagem e taco na bolsa, ainda estou com a pulseira de ontem e os brincos estão na minha bolsinha de balada, pego um qualquer em meu porta-joias e vou pro trabalho.
Engraçado. Estou feliz, faz tempo que eu não fico com ninguém. E minha felicidade não se resume a ter dormido com Ian, me sinto mais livre. Faz sentido?
Foi bom para mim fazer algo diferente, já faz dois anos que estou aqui e nada mudou para mim, não saio para conhecer gente nova, e mal fiz amizade no trabalho. E do nada, Ian aparece e cria uma reviravolta.
Não espero que isso seja algo a mais do que é, de forma alguma, ele é filho do dono da McDougall, vai herdar tudo isso. Não entendo o interesse dele em mim, e não vou questionar.
Imagino que nem vá querer olhar em minha cara hoje, e vai ser ótimo não estragar minha relação com a Nat, não posso perder esse emprego.
Dessa vez não dou de cara com Ian no elevador, perto da uma da tarde saio para almoçar no restaurante vegano que tem aqui perto. Assim que entro no estabelecimento sou invadida pelo cheiro delicioso de comida, eu amo comer.
Encho meu prato com as mais variadas coisas, porém, metade do prato consiste em brócolis, preciso de proteína. A outra metade se subdividiu entre tomatinhos, azeitona, arroz integral com um pouquinho de feijão, e salada de grão de bico que eu enchi de limão.
Sol se aproxima da mesa e diz:
— Uma água com gás, senhorita?
— Claro senhora, se não for muito incômodo – digo seriamente.
Tento manter a expressão séria, mas logo estamos rindo,
— Bom te ver Sam, como você está hoje? Parece bem.
— E estou mesmo, e você, tudo certo?
— Tudo em paz, graças a Deus, vou trazer a sua água e deixar você comer, imagino que deva estar com fome – e se retira.
Realmente estou com fome, então, ataco esse prato divino, brócolis é literalmente minha comida favorita no mundo todo.
Fico feliz só por estar comendo.
Solange traz minha água, mas está muito atarefada e não ficou para conversarmos mais. E tudo bem porque já preciso voltar para a empresa.
SAMANTHA VASCONSELOSO dia está particularmente bonito hoje, o céu está azul e com poucas nuvens, o calor está batendo forte, eu amo dias de sol, são dias felizes para mim. Nunca gostei de chuva ou tempo nublado. Minha personalidade geralmente acompanha o clima.Caminho tranquilamente e subo vagarosamente para minha sala, quando abro a porta, vejo duas coisas ao mesmo tempo: um pufe pink, e nele se encontra uma mulher de cabelos longos e pretos, olhos da mesma cor e muito marcantes com um delineado grosso, e um nariz perfeito e bem pequeno.Ela está totalmente esparramada.Até que me vê e levanta em um salto.— Oi, você é a Samantha?— Sim.— A Doutora Natália pediu para eu te esperar aqui.— Ah, tudo bem, espera só um pouquinho – pego o celular para ligar para a Nat. — Como se chama?— Luna – ela sorri.— Luna... Que nome bonito. Combina com você – retribuo o sorriso. – Espera só um pouquinho? Vou ligar para a Doutora Natália, pode ficar à vontade.— Tudo bem, não tenho pressa – e se
SAMANTHA VASCONSELOS Esse vacilo deve ter levado menos de dez segundos, mas vejo que Ian percebeu. E não gostou, aparentemente, esse cara não lida muito bem com rejeição. Abro um sorriso, mas não quero ofendê-lo, vou em direção ao carro e entro do lado do passageiro. Ele liga o carro. Como não diz nada, olho para fora. Eu não sei o que dizer, ele sempre preenche o silêncio entre nós, se bem que só o conheço a o que? Dois ou três dias. Nossa, parece que já nos conhecemos faz tempo. Mas ele realmente quebra o silêncio: — Quando penso que vou conseguir te tirar da cabeça porque vou trabalhar, chegam três diretores para me falar o quão incrível você é, e te indicar para uma vaga na matriz. Vaga na matriz. Na Escócia?! — Na matriz? Na Escócia? – pergunto. Não é possível. Seria bom demais pra ser verdade. — Bom, sim. Especificamente em Edimburgo, na capital. Você precisaria se mudar pra lá para exercer esse cargo. Não posso deixar de sorrir. Eu amo a ideia de morar na Escócia, em
SAMANTHA VASCONSELOS Entro na minha sala e fecho a porta, Nat está no meu lugar e Luna no pufe pink. — Oi Sam, essa é a Luna – trocamos olhares e sorrimos uma para a outra, meu santo bateu com o des... – Bom, vou direto ao assunto, você vai treiná-la para que ela possa assumir o seu lugar. Sinto a cor sumindo do meu rosto. E minha pressão cai levemente. Meu sorriso se desfaz e um nó se forma em meu estomago. O brilho no olhar de Nat me enoja, e fico totalmente sem palavras. — Meu Deus Samantha, calma! – Diz Nat se levantando. — Você vai ser promovida, bom se você quiser e tudo correr como planejado – ela coloca as mãos envolta dos meus ombros. Está explicado o brilho no olhar, mas continuo em choque. Estou sentindo um misto de felicidade, susto e curiosidade. Eu vou ser promovida? Por quê? E para qual cargo? — Pode explicar? – peço. — Claro, bom, no dia em que eu faltei, você apresentou no meu lugar, Ian e os Diretores acharam você muito segura de si e executou o trabal
SAMANTHA VASCONSELOS Dou de ombros.Nós dois rimos.— Fico feliz em termos esclarecido algumas coisas – digo.— Algumas, Samantha? – Faço que sim.Adoro o som do meu nome quando vem de seus lábios. Na verdade, nunca gostei tanto do meu nome. É tão provocativo. Parece um eterno duplo sentido vindo dele.— Há mais a que discutir?Dou de ombros.— Se for por causa do comportamento da Natália ontem, nós nos conhecemos há um tempo, já saímos juntos, mas nunca rolou nada. Eu não lembrava mais disso, e foi bom ele ter dito, eu realmente estava com receio de acontecer alguma coisa e a Nat ficar brava comigo. Ele não tinha motivos para mentir, e senti verdade em suas palavras. Por isso assenti e ficamos conversando por mais algumas horas. Mas estava ficando tarde e eu preciso colocar o sono em dia, então pedi pra ele me levar pra casa.— É aqui — digo, apontando para o meu prédio.— Foi ótimo passar um tempo com você, espero repetir em breve.Sorrio.— Eu também. Obrigada pela carona.Desço
SAMANTHA VASCONSELOS Eu nunca havia ao menos subido até esse andar, mas vi a sala de Ian assim que saí do elevador. O escritório é fechado por portas de vidro com a fachada da McDougall — uma âncora com um M atrás. Pelas portas vejo que não tem ninguém sentado à mesa, e já esperava por isso, visto que no e-mail, fui avisada que seria na sala de reuniões adjacente a sala dele. Abro as portas, atrás da mesa há um painel de madeira com vários livros, no aparador, uma bandeja com bebidas e à baixo, um frigobar. O ambiente transborda masculinidade, e tem o cheiro do perfume de Ian misturado com canela. Do lado direito, a parede é feita de vidro. Ali há um grande tapete cinza e dois pufes – idênticos ao que está em minha sala – só que pretos. À esquerda, há uma porta que dá para a sala de reuniões. Ela é privativa e exclusiva para as reuniões dele. Bato na porta e a abro, Ian está tomando café, vestindo um terno cinza escuro, muito lindo. Às vezes acho que não tem como ele ficar mais
SAMANTHA VASCONSELOS Meu corpo esquenta da cabeça aos pés. Mas antes que eu possa responder: — Na verdade, ela disse sim – ele pisca para ela. – Perguntei por educação, sabe como é, seguindo o protocolo. Ela acha graça. Por fim andamos sorrindo e conversando até o restaurante de sempre, já que os dois disseram que queriam ver, nas palavras da Luna: “qual a minha”. Ninguém desmente a história do namoro. — Qual a sua pira em não comer carne? – Luna pergunta enquanto nos servimos. – Sua família é vegana? Ela não está sendo babaca como a maioria das pessoas são no geral, só está curiosa. — Não, na verdade a minha família é a típica família brasileira, churrasco todo final de semana. — Assim que é bom! – ela exclama, animada. Ian contém o sorriso. Acho muito bonitinha a forma como ele evita me contrariar. Mas finjo olhar para Luna com raiva. E falho miseravelmente. Quem eu quero enganar? É uma missão impossível se irritar com ela. — Mas e aí, por que parou? – Ian pergunta. N
SAMANTHA VASCONSELOS Não vi o Ian no trabalho, e acho que talvez isso seja o que contribuiu pro mal humor que foi se instalando em mim durante o dia. Odeio que um homem seja capaz de definir meu estado de espírito. E toda aquela independência que venho almejando? Mas tudo bem. Não posso mandar no meu coração idiota, que murchou quando percebeu que não veria ele. Nem as piadinhas e brincadeiras de Luna conseguiram fazer com que eu ficasse de boa. Por fim ela desistiu e eu me concentrei no trabalho. Quando cheguei em casa, ainda eram cinco horas, então me arrumo para uma corrida, não corro desde aquele dia que Ian esbarrou em mim. Quem sabe isso ajuda a melhorar meu humor. Acontece que Ian foi tão constante esses dias que sem ele, tudo fica estranho, e eu senti falta, mesmo que doa em mim admitir isso. Corro por uma hora inteira e só para quando praticamente não tenho fluxos de pensamentos. Sério, a atividade física faz milagres. Assim que entro em casa, vou direto pro banho, um
SAMANTHA VASCONSELOS Meu estomago dá voltas e mais voltas. — Nem o meu – respondo. — Está dizendo que também sentiu minha falta? — Estou dizendo que meu dia não ia ficar completo até que te visse – ele levanta uma sobrancelha. – Tá bom, sim, eu senti sua falta. Ele se levanta. — Me desculpe – diz. — Pelo quê? – sussurro. De repente, o ar está ficando escasso. Ian não responde. — O que está fazendo? – pergunto enquanto ele dá a volta no balcão. — Indo até você, lentamente. — Por que? – sussurro, ele estende o braço e me puxa pela cintura. — Para não te assustar – ele responde contra a minha boca, e em seguida, cola a dele na minha. Ele me encosta no balcão e deposita beijos por toda a extensão do meu pescoço, rosto e boca. Quando se afasta – a contragosto, estamos ofegantes, sem tirar as mãos da minha cintura, me encara com olhos intensos e cálidos – que com certeza, devem ser um espelho dos meus. Tiro minha mão de dentro de sua camisa. Eu nem tinha percebido que esta