DEDICATÓRIA:
Para todas as garotas que tiveram uma grande paixão, mas que jamais permitiram que o sentimento pelo outro fosse maior que o amor que sente por si mesma.
Continue perseguindo seus sonhos! Existe um Dom esperando por vocês em algum lugar.
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CAPÍTULO 1
SAMANTHA VASCONSELOS
Hoje é domingo e pra variar, acordei cedo, decidi sair para correr, uma coisa que sempre gostei de fazer, ajuda a reorganizar os pensamentos e me sinto livre. A sensação do vento batendo no rosto, meu corpo em movimento, queimando toda e qualquer caloria – e ansiedade presente em meu corpo, ouvindo música super alta, é tudo pra mim.
Quando estou nesses momentos – descabelada e suada, e claro, focada em não morrer por falta de ar, costumo ficar alheia a todos que passam por mim, estou estragada demais para sequer pensar em cumprimentar alguém conhecido, mas não pude deixar de reparar, embora tarde demais, no homem gigante que estava correndo na minha direção, nós colidimos um contra o outro em um baque surdo, e eu caí com tudo no chão.
Quando o olhei com mais atenção, o ar raleou não apenas pelo impacto, posso garantir. Agradeci silenciosamente por isso, pois tive uma ÓTIMA visão do espécime acima de mim, alto, ombros largos, olhos verdes... Antes que eu pudesse falar – ou pensar em qualquer coisa além de sua beleza excessiva, ele se agachou me estendendo a mão.
— Você se machucou? – tudo que eu conseguia pensar era em como eu nunca tinha visto um homem tão grande e tão gracioso em seus movimentos, uma mão gigante e bonita como aquela... em meio a meu devaneio não respondi nada, embora eu tenha ouvido perfeitamente bem.
Impaciente, ele repetiu a pergunta, e percebo que ele tem um sotaque estranho, me levantei em um salto dispensando sua mão estendida, de repente me sentindo mais estressada do que envergonhada, por que ele não olha por onde anda?
— Olha por onde anda da próxima vez – respondo rispidamente.
Me levanto e sigo correndo. Que homem bonito era aquele? Eu amo homens bonitos. Sério. Está no meu top 1 coisas preferidas no mundo. Sorrio comigo mesma e então reparo que ele está correndo ao meu lado, sinto meu corpo esquentar dos pés à cabeça.
— Não vou perguntar se está bem pois aparentemente está, mas você nem deixou eu me desculpar – dou créditos a ele, que parece genuinamente preocupado.
Dou um sorrisinho debochado para ele:
— Olha, ele tem educação...
— Eu já pedi desculpas e você não aceitou, então quem é a sem educação agora? – seu tom e se olhar são desafiadores.
— Não sou eu quem saio derrubando as pessoas na rua.
— Eu já pedi desculpas
— Sim, eu ouvi – olho para ele. — Desculpas aceitas.
Ele abre um sorriso perfeito e acena com a cabeça.
— Eu sou Ian – diz.
— Muito prazer Ian.
— E seu nome é?
— Por que eu diria meu nome para um desconhecido? – reviro os olhos e acelero o passo, sabendo que ele viria atrás.
Ele veio.
— Eu não diria que somos desconhecidos, já que deu uma boa olhada...
Paro minha corrida para encará-lo, e ele faz o mesmo, percorrendo o olhar por todo o meu corpo, quando fizemos contato visual, sorrimos um para o outro.
— É bom conhecer alguém, estou aqui a trabalho.
— Hmmm, deve ser por isso que não te reconheci, eu costumo reconhecer os rostos que correm aqui de manhã.
— É um hábito seu?
— O melhor deles.
— Parece que agora vou correr todos os dias de manhã.
— Vou ter que começar a ir pra outro lugar agora...
Ele abre outro sorriso de tirar o fôlego, estendo a mão:
— Prazer, Iana.
— O QUE? — Ele franze as sobrancelhas – Sério?
— Sim – respondo mantendo uma expressão neutra. – Algum problema?
— Quais as chances de eu conhecer uma Iana? – ele me encara. — Você está tirando com a minha cara?
— Aham – digo entre as risadas. — Mas agora estamos quites por você ter me derrubado.
— E o seu nome é?
— Samantha.
— Mesmo?
— Desde que eu nasci. – Ele ainda parece desconfiado. – Quer ver meu RG?
— Só o seu telefone já seria bom.
Franzo as sobrancelhas, que abusado!
— Vai sonhando.
Depois daquele encontro embaraçoso — porém divertido, fui para casa e logo esqueci da existência de Ian. Tomei um banho, comi um papaia com aveia e fiz minha rotineira aula de yoga.
Amanhã tenho uma reunião importante, e preciso me concentrar nisso agora. Todo começo de ano é preciso fazer uma reunião com os diretores para sabermos como está tramitando os processos relacionados a empresa, as relações trabalhistas e tudo mais envolvendo a área jurídica, cabendo aos outros diretores demonstrar o mesmo em relação a suas áreas, entre elas finanças, marketing...
Eu trabalho para as Indústrias McDougall, tradicionalmente, o dono da empresa, Antony McDougall, visita uma ou duas de suas filiais espalhadas pelo mundo, para ver como está indo, conhecer seu pessoal, o homem é demais, e eu infelizmente não o conheci ainda.
E eu pensei que essa seria minha chance de pelo menos ver o lendário Antony McDougall, um homem que começou a vida vendendo âncoras, varas de pescar e iscas, e que hoje detém o mercado de produtos de pesca, contando com centenas e talvez milhares de funcionários, com filiais espalhadas pelo mundo inteiro.
Mas ontem, a Nat me informou que quem veio ao Brasil foi seu filho, que assumirá a presidência quando Antony se aposentar.
Antes de começar trabalhar, vou preparar uma xícara de chá, enquanto espero a água ferver, minha mãe entra na cozinha, usando um vestido azul claro de alcinhas, contrastando com minhas roupas de ficar em casa, que se resumem a pijamas – sempre.
Minha mãe está em São Paulo me visitando há uma semana.
— Bom dia, filhotinha – e me dá um abraço bem apertado.
— Tão grudenta – digo.
— Te abraço quando posso, me deixa.
Dou um sorrisinho para ela:
— Bom dia, quer chá? – Ela faz que não e acrescento: — Adorei o vestido.
— Vou fazer aquele meu cafezinho de sempre – ela só toma o café que ela faz.
— Vou trabalhar hoje.
— Toma café comigo antes – olho para o relógio, ainda são dez horas, e ela me direcionou aquele olhar que torna impossível dizer não.
— Tá bom, mas realmente preciso trabalhar depois.
— A Tati está na cidade – Tati é a melhor amiga dela. — Nós vamos àquele museu que você se recusou a ir comigo – me olha de esguelha, como se eu fosse reconsiderar.
— Mãe pelo amor de Deus você sabe que eu odeio essas coisas, ainda mais um museu de arte – resmungo, o que a faz rir.
Observo minha mãe colocar americanos e xícaras no balcão para tomarmos café.
— Sam, Sam, você não muda...
As vezes parece que não dou o valor que Mari Vasconcelos merece, mas eu dou. E reconheço que somos muito diferentes, ela é toda alegre, ama conversar, gosta de tudo colorido, tem o riso fácil. E eu sou o oposto dela e quando digo isso, quero dizer que sou totalmente o oposto, tanto na aparência quanto na personalidade, mas eu a amo muito e sou grata por sempre tê-la por perto me apoiando.
Nos sentamos nos banquinhos do balcão e ela pergunta:
— Você falou com seu pai hoje?
— Ainda não, por quê?
— Só para saber, ele disse que da próxima vez vai vir te ver.
— Espero que cumpra com a palavra dele.
— Samantha...
— O papai nunca vem me visitar, se depender dele eu largo esse emprego e vou morar lá perto de vocês.
— Porque pra ele não faz sentido você trabalhar tão longe de casa por tão pouco, esse valor você ganha trabalhando perto de nós.
Eu sei que para eles não faz o menor sentido eu morar em São Paulo ganhando dois mil e quinhentos reais, o que eu realmente consigo no Paraná, mas eu trabalho em uma transnacional com inúmeras possibilidades, além de morar em uma das maiores capitais do Brasil.
Enxergo isso como um passo para meu futuro, fora das influências dos meus pais, com ninguém opinando em minha vida.
— Mãe – digo pacientemente. — Eu saí de casa e não pretendo voltar, quero ser independente, construir minha própria vida.
— E você tem meu apoio, você sabe disso – assinto de leve me levanto. — Preciso trabalhar mãe, bom passeio, te amo.
— Obrigada, filha.
Quando passo por ela, ganho um beijo no topo da cabeça.
Esperei minha mãe sair e passei o restante do dia trabalhando que foi muito produtivo. Até que uma mãe, bem-humorada demais, chegou cheia de novidades sobre um museu que eu não dou mínima, mas escutei e dei atenção porque era isso que estava escrito no manual...
SAMANTHA VASCONSELOSNa segunda de manhã, acordo no horário de sempre, tomo um banho e vou tomar café. Depois seco meus cabelos, deixando-os bem lisos, preencho minha sobrancelha e passo corretivo, bronzer e finalizo com rímel para deixar meus olhos mais acentuados. Visto uma roupa social, calça e colete de alfaiataria e um mocassim. Me avalio no espelho antes de decidir que estou pronta para o dia, que com certeza será tenso.Pego minha bolsa, e antes que eu me esqueça, coloco um par de brincos, alguns acessórios dourados e saio para pegar o metrô.Quando chego no prédio em que trabalho dou uma boa olhada, alto, preto e imponente. Enquanto passo o cartão pela catraca me lembro da primeira vez em que estive aqui, eu sinceramente pensei que fosse vomitar de tanto nervosismo, mas foi tudo bem, todos são muito acolhedores.Vou direto para os elevadores, faltam 20 minutos para a reunião começar. Quando o elevador chega, entro e pego meu celular para ver se Nat falou alguma coisa.— Iana?
SAMANTHA VASCONSELOSFico em choque com seu corte, e fico observando suas costas por um tempo – eu não esperava que ele me deixasse falando sozinha, vejo ele pegando o celular para falar com alguém. Sigo meu caminho para casa.O fato dele não ter insistido me fez querer que ele tivesse feito exatamente isso. Okay, talvez tenha me chamado por ser uma pessoa conhecida, e é obvio que ele pode encontrar uma boa companhia em qualquer lugar por aqui, mas mesmo assim... Feriu meu ego.Mas ok.Chegando em casa, não pude deixar de reparar em como a minha quitinete é perfeita para mim, mesmo sendo pequena, eu amo a minha casa. O prédio em que moro não tem elevador, e por muita sorte, eu consegui um apartamento no primeiro andar, n° 113.Entro em casa e me jogo no sofá — a sala de estar conta com um sofá de dois lugares cinza e um raque, que comporta uma tv pequena, o cômodo é pequeno, assim como todos os outros, e é separado da cozinha por um balcão. Não tem mesa exatamente por não ter muito es
IAN MCDOUGALLFiquei decepcionado por Samantha ter me dispensado, estou obcecado com essa menina desde ontem, e quando vi ela na empresa hoje, fiquei apaixonado.Ela fala muito bem, é educada, tem desenvoltura. Fiquei de boca aberta. Quase no mesmo minuto que a dispensei, peguei o celular e liguei para Natália e perguntei se ela queria jantar comigo.Óbvio que ela aceitou, mas não queria deixar a "Sam" na mão mais uma vez, e eu, inocentemente, disse que não me importava com sua presença. Meu Deus, estou me sentindo um adolescente, ainda mais com essa atitude.Depois de resolver o que eu precisava na filial, fui pro hotel, me troquei e desci para a academia, depois tomei um banho e me arrumei para a noite.Cheguei exatamente no horário combinado.Estava conversando sobre qualquer coisa com Natália e magneticamente meu olhar foi atraído para a porta, no exato momento em que Samantha entrou no restaurante.Me assustei com sua aparência no dia em que esbarrei nela, mesmo descabelada e su
SAMANTHA VASCONSELOSMeu Deus, eu estou a fim dele, e claramente, Nat também. O que eu vou fazer? Natália é linda de todas as formas possíveis, loira dos olhos azuis, atlética, parece uma boneca e é minha chefe.Me olho no espelho enquanto lavo as mãos, a maquiagem está intacta, menos o batom que deve ter saído enquanto nós comíamos, reaplico. Gosto do que vejo no espelho.Saio do banheiro e sou envolvida pelo ambiente novamente. Ainda estou estranhando a quantidade de pessoas na balada hoje, eu amo música e adoro me misturar com pessoas, dançar... Resolvo que ao invés de voltar ao camarote, onde os dois estão flertando, e exatamente por saber meu lugar vou para meio da pista dançar um pouco.Começo a ser embalada pela batida da música, e até troco olhares com algumas pessoas, até que sou puxada pelo braço, quando olho, já com cara feia para o lado, vejo é Ian.— O que?! – Grito.— Estava te procurando – e me entrega uma taça.Em seguida me olha de cima a baixo, gosto da forma como me
SAMANTHA VASCONSELOSO dia está particularmente bonito hoje, o céu está azul e com poucas nuvens, o calor está batendo forte, eu amo dias de sol, são dias felizes para mim. Nunca gostei de chuva ou tempo nublado. Minha personalidade geralmente acompanha o clima.Caminho tranquilamente e subo vagarosamente para minha sala, quando abro a porta, vejo duas coisas ao mesmo tempo: um pufe pink, e nele se encontra uma mulher de cabelos longos e pretos, olhos da mesma cor e muito marcantes com um delineado grosso, e um nariz perfeito e bem pequeno.Ela está totalmente esparramada.Até que me vê e levanta em um salto.— Oi, você é a Samantha?— Sim.— A Doutora Natália pediu para eu te esperar aqui.— Ah, tudo bem, espera só um pouquinho – pego o celular para ligar para a Nat. — Como se chama?— Luna – ela sorri.— Luna... Que nome bonito. Combina com você – retribuo o sorriso. – Espera só um pouquinho? Vou ligar para a Doutora Natália, pode ficar à vontade.— Tudo bem, não tenho pressa – e se
SAMANTHA VASCONSELOS Esse vacilo deve ter levado menos de dez segundos, mas vejo que Ian percebeu. E não gostou, aparentemente, esse cara não lida muito bem com rejeição. Abro um sorriso, mas não quero ofendê-lo, vou em direção ao carro e entro do lado do passageiro. Ele liga o carro. Como não diz nada, olho para fora. Eu não sei o que dizer, ele sempre preenche o silêncio entre nós, se bem que só o conheço a o que? Dois ou três dias. Nossa, parece que já nos conhecemos faz tempo. Mas ele realmente quebra o silêncio: — Quando penso que vou conseguir te tirar da cabeça porque vou trabalhar, chegam três diretores para me falar o quão incrível você é, e te indicar para uma vaga na matriz. Vaga na matriz. Na Escócia?! — Na matriz? Na Escócia? – pergunto. Não é possível. Seria bom demais pra ser verdade. — Bom, sim. Especificamente em Edimburgo, na capital. Você precisaria se mudar pra lá para exercer esse cargo. Não posso deixar de sorrir. Eu amo a ideia de morar na Escócia, em
SAMANTHA VASCONSELOS Entro na minha sala e fecho a porta, Nat está no meu lugar e Luna no pufe pink. — Oi Sam, essa é a Luna – trocamos olhares e sorrimos uma para a outra, meu santo bateu com o des... – Bom, vou direto ao assunto, você vai treiná-la para que ela possa assumir o seu lugar. Sinto a cor sumindo do meu rosto. E minha pressão cai levemente. Meu sorriso se desfaz e um nó se forma em meu estomago. O brilho no olhar de Nat me enoja, e fico totalmente sem palavras. — Meu Deus Samantha, calma! – Diz Nat se levantando. — Você vai ser promovida, bom se você quiser e tudo correr como planejado – ela coloca as mãos envolta dos meus ombros. Está explicado o brilho no olhar, mas continuo em choque. Estou sentindo um misto de felicidade, susto e curiosidade. Eu vou ser promovida? Por quê? E para qual cargo? — Pode explicar? – peço. — Claro, bom, no dia em que eu faltei, você apresentou no meu lugar, Ian e os Diretores acharam você muito segura de si e executou o trabal
SAMANTHA VASCONSELOS Dou de ombros.Nós dois rimos.— Fico feliz em termos esclarecido algumas coisas – digo.— Algumas, Samantha? – Faço que sim.Adoro o som do meu nome quando vem de seus lábios. Na verdade, nunca gostei tanto do meu nome. É tão provocativo. Parece um eterno duplo sentido vindo dele.— Há mais a que discutir?Dou de ombros.— Se for por causa do comportamento da Natália ontem, nós nos conhecemos há um tempo, já saímos juntos, mas nunca rolou nada. Eu não lembrava mais disso, e foi bom ele ter dito, eu realmente estava com receio de acontecer alguma coisa e a Nat ficar brava comigo. Ele não tinha motivos para mentir, e senti verdade em suas palavras. Por isso assenti e ficamos conversando por mais algumas horas. Mas estava ficando tarde e eu preciso colocar o sono em dia, então pedi pra ele me levar pra casa.— É aqui — digo, apontando para o meu prédio.— Foi ótimo passar um tempo com você, espero repetir em breve.Sorrio.— Eu também. Obrigada pela carona.Desço