“Por Giovanna Villani”Meus últimos dias têm sido relativamente tranquilos. Matteo passa a maior parte do dia fora de casa, o que, para mim, é um alívio. Os pesadelos constantes e a sensação de ser observada por aquele homem em cada canto desta casa já são o suficiente para perturbar minha paz.Desde que encontrei meu sogro, não tive coragem de explorar o restante da casa, pois passei várias horas do dia fazendo-lhe companhia. Ou melhor, permanecendo ao seu lado em silêncio, enquanto observávamos os pássaros voando pelo jardim. Aparentemente, desenvolvemos o hábito de invejar a liberdade deles.— Don Pietro, agora que terminamos nossa comida, vou deixá-lo a sós. — afirmo, após o jantar que ele, surpreendentemente, aceitou sem que eu fingisse indiferença, e com o meu auxílio, ao menos ele se alimentou um pouco melhor.— Obrigado por me fazer companhia, Giovanna. O jantar estava ótimo; agradeço por isso também.— Prometo cozinhar mais vezes, já que gostou do meu tempero. Tenha uma boa n
Dou um pulo quando sinto suas mãos firmes tocarem o meu calcanhar. Em segundos, meu corpo é arrastado para fora do meu esconderijo. Meu coração bate descompassado, e me vejo cara a cara com Matteo, cujo olhar corta a escuridão com uma intensidade inabalável.— Quer que eu te dê um lençol e um travesseiro? — Matteo indaga, impaciente, soltando as minhas pernas. — Devo admitir, mesmo que desmaie tão fácil quanto respira, você é corajosa em me desafiar tanto. — ele afirma ao me levantar. — O que faz aqui? — Eu… eu me perdi! — minto enquanto caminho até a porta. — Depois do jantar, subi distraída e errei o quarto. — Quer mesmo que eu acredite nisso? Se quer mentir, ao menos tente ser convincente em seu tom de voz.— Como sabia que eu estava aqui? — indago, sem esconder minha curiosidade.— Se eu não me atentasse às coisas ao redor, já estaria morto, amore mio. Por falar nisso, deveria evitar usar perfume quando quiser bisbilhotar por aí.Matteo abre um sorriso de lado e se aproxima. Meu
Passaram-se alguns dias desde então. Durante esse tempo, a ausência de encontros com Matteo trouxe uma espécie de "normalidade". Ele segue sua rotina, saindo cedo e retornando tarde. O persistente arrependimento é um lembrete constante de que devo manter distância.Hoje, ao contrário do habitual, não pude admirar o voo dos pássaros. Em vez disso, o clima chuvoso contrastou com a serenidade usual do jardim. Apesar da mudança na minha rotina, a chuva trouxe consigo uma beleza única.Quando meu estômago dói, desço para organizar meu café da manhã. A visão de Martina organizando a cozinha é um alívio, indicando que Don Matteo já saiu de casa.— Bom dia, Martina. — Cumprimento-a calorosamente. Seu sorriso gentil indica que sua presença é, de fato, um ponto de conforto.— Bom dia, signora. Dormiu bem? — ela pergunta, concentrada na organização do armário.— A cada dia meu sono parece se adaptar à nova situação… Ou o meu corpo. — respondo, forçando um sorriso. — Acordei com uma enorme vontad
O olhar de Matteo se aprofunda com a intensidade de uma tempestade quando nossos olhos se encontram à porta do quarto de Pietro. Uma fração de segundo parece uma eternidade, e meu coração acelera com a antecipação do confronto iminente.— O que está acontecendo aqui, Giovanna? — sua voz corta o silêncio tenso, e minha mente trava em busca de palavras que possam suavizar a situação. — Além de ter que te aguentar, agora terei que me preocupar em trancar todas as portas dessa casa?— Eu… Eu só queria aj…— Quer saber? — Matteo corta as minhas palavras, segurando o meu braço com força. — Eu já estou farto com a porra da sua intromissão! Você realmente está me levando ao meu limite!Enquanto vocifera, Matteo me arrasta até o meu quarto. A raiva se reflete em seus olhos enquanto ele abre a porta com força e me joga na cama.— Enquanto você não conseguir controlar a sua curiosidade, você ficará neste quarto! — ele grita, enquanto anda de um lado para o outro. Matteo para na minha frente. — E
Dois dias se passaram desde aquela noite tumultuada. Ao abrir os olhos, vejo os raios do sol filtrando através das cortinas e iluminando suavemente meu quarto. Mais um dia trancada na minha gaiola dourada. Ao me levantar da cama, solto um longo suspiro e vou em direção ao banheiro. Através do meu reflexo no espelho, as olheiras me lembram das poucas horas de sono durante a noite. Dormir tornou-se algo quase impossível desde aquela noite. Concluo a minha higiene pessoal e busco um pouco de alívio em meu refúgio. Entretanto, após alguns minutos admirando o jardim de rosas vermelhas, o barulho da tranca me traz de volta à realidade.— Bom dia, signora. — Martina me cumprimenta, com um sorriso sem jeito. Ela traz consigo uma bandeja com o meu café da manhã. — Imaginei que já estaria com fome. — Bom dia, Martina. Assim como a minha paz, o apetite parece ter me abandonado. Mas obrigada mesmo assim. Como está Don Pietro?— Parece que apenas você é capaz de compreendê-lo, signora. — ela af
Ignoro momentaneamente a chegada da loira, mantendo meus olhos fixos em meu prato, mas não posso evitar a tensão que parece pairar sobre a mesa. O olhar de Matteo se estreita, revelando um misto de surpresa e irritação ao se virar para a recém-chegada.— Olá, boa noite! Desculpem a demora! — a senhorita diz, com um sorriso caloroso nos lábios. Ao sentar-se, ela me lança um olhar de desdém e sorri para o meu marido. — Matteo, é uma agradável surpresa vê-lo aqui essa noite. — Digo o mesmo, Bianca. Não sabia que costumava acompanhar seu pai em jantares de negócios. — Geralmente não, mas como é um jantar de comemoração pela sociedade entre vocês, ele e Ambra me convidaram para participar. — ela afirma ao me encarar. — Não vai me apresentar a sua esposa?— Claro. Bianca, essa é a Giovanna, minha esposa. Giovanna, essa é a Bianca, filha do Sr. Moretti. — É um prazer conhecer a prometida de Matteo. — Bianca diz, num tom tão simpático quanto o meu sorriso, ao me dar um leve aperto de mãos.
Três dias se passaram desde aquela noite tenebrosa, mas as marcas emocionais persistem como feridas abertas. Estar ao lado de Matteo foi como conhecer o próprio diabo. Uma sentença que eu não tive escolha. Como o final disso já está explícito, dia após dia me entrego de vez à tristeza, esperando ansiosamente pelo dia em que poderei ter paz. Entretanto, enquanto esse momento não chega, sigo vivendo a minha própria realidade.— Boa tarde, signora. — Martina me cumprimenta ao entrar no meu quarto, trazendo consigo uma bandeja com o meu almoço. Ela coloca a pequena refeição em cima da mesinha de cabeceira e me dá um olhar de repreensão. — Signora, o seu café da manhã permanece intacto!— Eu me esqueci de comer, Martina. Me desculpa! — minto ao me sentar na cama. A verdade é que só de olhar para a comida, meu estômago entra em guerra. — Mas, prometo almoçar. — Desculpe a intromissão e o atrevimento, mas você me disse o mesmo ontem, Giovanna! — a governanta exclama, num tom repreensivo, e
“Por Matteo Villani”As palavras de Giovanna, carregadas de resignação e mágoa, ainda ecoavam em meus ouvidos quando seu grito ecoou pelos corredores da mansão. Solto um longo suspiro enquanto vou em direção ao quarto dela, controlando a raiva que surge antes mesmo de compreender a situação.— Giovanna! — exclamo ao dar alguns t***s em seu rosto, no intuito de acordá-la, em vão. Rapidamente, alguns soldados com suas armas em punho se aglomeram ao nosso redor. — Tragam o Dr. Colombo agora! Os homens concordam com a cabeça e saem apressadamente, enquanto eu tomo Giovanna em meus braços. Observo o ambiente ao redor assim que entramos no quarto. Fora o jantar que permanece intacto e a porta do closet entreaberta, tudo permanece exatamente igual.Os minutos parecem se arrastar enquanto permaneço parado em frente à janela. Giovanna permanece inerte, seus olhos fechados como se estivesse em sono profundo. — Don Matteo, vim assim que recebi o chamado. — Dr. Colombo, médico da família há anos