“Por Giovanna Carcione” Desde que retornei a Palermo, há alguns dias, minha prima Sofia estava determinada a me mostrar a vida além dos muros do colégio interno, aquela normalidade que a maioria das garotas da minha idade experimenta. Mesmo com a segurança intensificada ao nosso redor, ela conseguiu me levar até uma badalada boate em Cefalù para desfrutarmos de uma noite sem preocupações. No entanto, a sensação de liberdade que eu estava experimentando até pouco tempo, começa a se dissipar, dando lugar a uma inquietação profunda. Já que durante uma briga próxima de onde estávamos, Sofia desapareceu e eu não consigo encontrá-la em lugar algum. Reunindo coragem, decido deixar a boate para iniciar minha busca. Percorro algumas ruas movimentadas, perguntando a estranhos se a viram. Alguns balançam a cabeça negativamente, outros mal parecem prestar atenção. Com o passar do tempo, percebo que estou me distanciando cada vez mais da boate e das áreas movimentadas. Decido me dar por vencida
“Por Matteo Villani”Diante dos meus olhos incrédulos, a porta rangendo anunciou a entrada de alguém no sagrado santuário. Giovanna Carcione, a menina de ouro da Sovranità, filha de um dos maiores inimigos da minha família. Eu sabia que ela havia retornado à casa dos pais recentemente, mas não imaginei que nosso encontro aconteceria tão rapidamente. Não posso deixar de me questionar o motivo de ela estar aqui, mas isso é o que menos importa neste momento. É a minha vez de retribuir o que fizeram à minha família.Ela permaneceu imóvel, ofegante e apreensiva, me observando como se estivesse encarando o próprio demônio. E não posso culpá-la por essa percepção. Ela deveria ter conhecimento dos limites que não deveria ultrapassar, mas já que seu pai não se deu ao trabalho de ensiná-la, não serei eu quem vai permitir que isso passe impune. Afinal, as regras são as regras.— Vamos! — profiro, a impaciência ecoando em minha voz, ainda a segurando pelo braço.Abro as portas da igreja e a cond
“Por Giovanna Carcione” Dois meses se passaram desde aquele dia traumático. Durante semanas, os soldados de todos os clãs que compõem a Sovranità, procuraram pelo meu agressor, baseados nas descrições físicas que forneci. Porém, da mesma forma que aquele homem surgiu, ele desapareceu. Pelo menos fisicamente, pois ele atormenta meus pesadelos desde então. — Você está tão calada. — Sofia comenta, enquanto balança seus pés para fora da janela do meu quarto. — Lá no convento vocês eram obrigadas a fazer voto de silêncio? — Não era convento! — exclamo, revirando os olhos ao me sentar do lado dela. — Era um colégio interno. Só estava relembrando aquela noite… Como tudo pôde dar errado? — É o que eu me pergunto, Gio. Eu já saí tantas vezes escondida e nunca havia dado nada de errado. — ela responde, encarando seus pés. — Talvez se eu não tivesse ficado falando que você precisava ter uma vida normal, ou ficado trancada naquele banheiro… — Não se culpe, Sofi… Só lamento por perder a arma q
"Por Giovanna Carcione"Por mais que eu torcesse para que os dias se arrastassem, parece que até o tempo foi contra mim. O último mês se resumiu à organização da cerimônia, embalar as minhas coisas para mandá-las à minha nova moradia, e aguentar a empolgação das mulheres à minha volta.Qualquer mulher na Itália mataria para estar no meu lugar. Afinal, casar com Don Matteo e se tornar a senhora Villani é o sonho de consumo da maioria. Mas não para mim, que vejo isso como uma prisão disfarçada de conto de fadas. Após o café da manhã, fecho a última mala com um suspiro resignado. Enquanto observo o restante das minhas coisas empacotadas, uma sensação de sufocamento toma conta de mim. Cada peça de roupa, cada lembrança da minha antiga vida, agora parece um elo a mais na corrente que me prende a esse destino que não escolhi.Os meus minutos de paz, sem que eu precisasse me lembrar desse casamento, são interrompidos por duas batidas duras. A porta se abre lentamente, revelando a figura imp
"Por Matteo Villani"A cerimônia termina com um beijo sem vida nos lábios rosados de Giovanna, que força um sorriso quando me afasto. A tristeza em seu olhar desperta um prazer dentro de mim, me deixando completamente satisfeito.Seguro sua mão fria, conduzindo-a para fora da igreja sob os aplausos dos nossos convidados. Sorrio enquanto caminho, cumprimentando-os com um aceno de cabeça.Se não fossem meus planos e os benefícios que esse casamento me trouxe, eu continuaria fugindo desse tipo de compromisso. Esperaria que a mulher que me foi prometida desde a infância completasse seus vinte anos e continuaria aproveitando minha vida de solteiro.No entanto, hoje estou aqui, no auge dos meus trinta e quatro anos, casado com uma mulher que nunca imaginei, sentindo uma enorme felicidade não apenas pela aliança estabelecida entre as máfias, mas também pelo início da minha vingança sem que ninguém desconfie das minhas intenções.Se algo der errado, a minha cabeça será servida em uma bandeja,
"Por Giovanna Villani"Com o coração disparado e a respiração entrecortada, o choque se misturou com o terror que dominou meus pensamentos. A visão daquele homem, o mesmo que tentou abusar de mim meses atrás, fez com que meu mundo se desmoronasse em um instante. A confusão era avassaladora, e a linha entre o real e o imaginário parecia ter se desfeito completamente.Ao olhar ao redor, a segurança reforçada proporcionada pelos soldados da La Tempesta e da Sovranità oferecia um pequeno consolo, mas não o suficiente para acalmar minha mente tumultuada. A dúvida persistia, martelando incessantemente: teria sido apenas uma alucinação? Afinal, era impossível ele ter entrado no casamento sem pertencer a ambas as máfias. A incerteza me envolveu, transformando-se em um aperto sufocante no peito.Então quando percebi, estava ali na praia, com a areia fria e molhada sob mim, e as lágrimas caindo sem controle. Cada soluço era um eco da minha aflição, um grito silencioso que buscava respostas par
"Por Giovanna Villani"Não tenho ideia de quanto tempo levei para recobrar a consciência, mas antes mesmo de abrir os olhos, rezo com todas as minhas forças para que tudo tenha sido apenas um pesadelo. No entanto, o tic-tac insistente em meus ouvidos confirma a dura realidade.Assim que abro os olhos, percebo que continuo deitada em um enorme sofá branco, na mesma sala de estar onde há pouco vi novamente o homem que me levou ao inferno naquela noite.Minha cabeça parece pesar uma tonelada, e me esforço para me erguer. Nesse momento, Martina, a senhora de pele alva e cabelos grisalhos que me recebeu, retorna. Ela me lança um olhar preocupado e se aproxima de mim.— Signora! — ela diz, num tom baixo. — Como se sente?— Como se estivesse num pesadelo. Onde estão… — solto um suspiro, tomando coragem para perguntar sobre o que aconteceu. A senhora percebe minha dificuldade e me lança um olhar compreensivo.— Don Matteo está no escritório, ele me pediu para avisar quando a signora acordasse
O calor matinal inunda a cozinha através das janelas, trazendo consigo uma sensação de normalidade que parece tão distante nesta casa peculiar. Apesar de não me sentir completamente como a senhora da casa, tomo a liberdade de iniciar a busca pelos ingredientes do meu café da manhã.Enquanto corto o pão para preparar uma bruschetta, a curiosidade grita em meus pensamentos, ecoando as palavras de Martina. Seria "ele" o mesmo homem que assombra meus pesadelos noturnos? Aquele que agora se revela como um enigma indecifrável, deixando-me à beira da sanidade?— Mas por que ele estaria aqui? — murmuro, no exato momento em que Martina surge como um fantasma atrás de mim. — Me desculpe a demora, signora. — Ela diz ao parar junto à bancada de mármore, ao meu lado, e acrescenta em um sussurro: — Don Matteo acabou de sair. Por favor, sente-se, irei preparar o seu café da manhã.— Agradeço, Martina. Mas pode continuar cumprindo as ordens de Don Matteo. Eu sei fazer o básico e certamente não vou m