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O Encontro no Santuário

“Por Matteo Villani”

Diante dos meus olhos incrédulos, a porta rangendo anunciou a entrada de alguém no sagrado santuário. Giovanna Carcione, a menina de ouro da Sovranità, filha de um dos maiores inimigos da minha família.

Eu sabia que ela havia retornado à casa dos pais recentemente, mas não imaginei que nosso encontro aconteceria tão rapidamente. Não posso deixar de me questionar o motivo de ela estar aqui, mas isso é o que menos importa neste momento. É a minha vez de retribuir o que fizeram à minha família.

Ela permaneceu imóvel, ofegante e apreensiva, me observando como se estivesse encarando o próprio demônio. E não posso culpá-la por essa percepção. Ela deveria ter conhecimento dos limites que não deveria ultrapassar, mas já que seu pai não se deu ao trabalho de ensiná-la, não serei eu quem vai permitir que isso passe impune. Afinal, as regras são as regras.

— Vamos! — profiro, a impaciência ecoando em minha voz, ainda a segurando pelo braço.

Abro as portas da igreja e a conduzo para fora, controlando a vontade de lançá-la escada abaixo. Tenho todo o tempo do mundo para planejar uma punição à altura de sua audácia.

Vejo meu carro estacionado na rua, ocupado por dois dos meus soldados aguardando minhas ordens. Forço Giovanna até o veículo.

— Juro, se não fosse um assunto de urgência, já teria resolvido isso com um tiro na cabeça de vocês! — esbravejo, enquanto um deles salta para abrir a porta. — Onde vocês estavam para não perceber a entrada dela?

— Desculpe, Don Matteo. Pensamos desejar privaci…

— Privacidade? Isso será discutido depois! — rosno. Firmo meu aperto no braço de Giovanna, que solta um gemido abafado. — Entre no carro!

— Não! Por favor… — Ela implora com a voz trêmula. — Só quero ir para casa!

— Não teste a porra da minha paciência! — ameaço, pressionando o cano da arma contra sua nuca. — Entre, ou acabo com você aqui mesmo!

Ela suspira e me encara em silêncio, antes de baixar os olhos. Seu olhar amedrontado não me comove, pois conheço bem esse tipo de fingimento. Reviro os olhos e a empurro para dentro do carro, entrando logo depois.

— Para onde devemos ir, Don Matteo? — o motorista pergunta, olhando pelo retrovisor.

— Para o porão. — respondo, desviando o olhar para a mulher ao meu lado, encolhida no banco, completamente tomada pelo pânico. Sorrio maliciosamente, quase capaz de sentir o aroma do medo que desperta meu lado carrasco.

Mesmo com os fios castanhos desgrenhados, a maquiagem borrada e os olhos verdes, que exibem uma mistura de sombras e desespero, seria insensato não notar sua beleza.

A princesinha da Sovranità é o tipo de mulher que atrai a atenção de qualquer homem. No entanto, além de não ser da minha natureza impor a alguém ir para a cama comigo, hoje não estou disposto a pensar com a cabeça de baixo.

— Vamos nos divertir bastante. — murmuro, deslizando minha mão sobre o joelho dela. Sinto seus músculos se contraírem, então arrasto levemente meus dedos para cima. — Prometo cuidar muito bem de você… Ou talvez não.

— Por fav… — ela começa a dizer, mas sua voz enfraquece e a mão, que há poucos segundos tentava conter a minha, se afrouxa.

— Mas que inferno! — exclamo, ao vê-la desacordada. No entanto, ao dar dois t***s no rosto dela, na tentativa de acordá-la, percebo um pequeno corte em sua boca e uma mancha roxa em seu pescoço. — Que porra você está fazendo aqui e por que está assim? — murmuro, aplicando outro tapa.

Soco o estofamento do assento e bufo de frustração. Eu deveria levá-la e puni-la por invadir meu território, e ela teria sorte se saísse viva daqui. Me xingo mentalmente antes de finalmente desistir.

— Está tudo bem, Don? — um dos meus soldados pergunta, quando mando parar o carro.

— Ela desmaiou. A princesinha não é tão forte quanto imaginei. Chame os outros. Não acredito no que vou dizer, mas vou devolvê-la.

Em poucos minutos, três carros com alguns soldados se juntam a nós e partimos em direção a Palermo. Durante o trajeto, sem ter ideia do que me aguarda, sinto a obrigação de entrar em contato com aqueles que colaboram com ambos os lados, para explicar antecipadamente o que ocorreu.

Paolo, um dos meus associados, se prontifica a intervir, mas, apesar dos riscos, insisto em fazer a entrega pessoalmente. Talvez demonstrar um certo altruísmo com a situação possa, de certa forma, benéfico para os negócios.

Após um banho de sangue entre as máfias alguns anos atrás, foi estabelecido um acordo para manter uma trégua. Nós não interferimos em seus negócios, e eles fazem o mesmo conosco. O mesmo se aplica aos territórios que dominamos. No entanto, parece que a princesinha se esqueceu desse acordo.

Os primeiros raios de sol cruzam as nuvens quando adentramos no território da Sovrànita. Olho para o lado e vejo que Giovanna enfim acordou, e agora está encarando a paisagem lá fora. Ela suspira, provavelmente ao perceber onde estamos, e me encara imediatamente.

— Estamos em Palermo… — Giovanna sussurra, com um brilho de esperança no olhar. — Você se arrependeu?

— Não faço parte do grupo que se arrepende, ragazzina. A sorte apenas sorriu para você hoje.

Ao adentrarmos nas terras da família Carcione, somos recebidos por um verdadeiro exército. Entre os homens armados, surge Don Philippo, cercado de soldados, aproximando-se lentamente assim que deixo o carro.

— Espero que tenha um motivo que justifique o risco de vida, Don Matteo. — ele diz, com um sorriso irônico se formando a poucos passos de mim. — Seria uma lástima morrer sem desfrutar de sua nova posição, tudo por seu atrevimento de estar aqui.

— Ah, Don Philippo… Vim apenas retribuir a visita. Trouxe pessoalmente algo de grande valor para o senhor, e é assim que sou recebido? — replico, no mesmo tom irônico. Levanto o dedo, indicando a um dos meus soldados que retire Giovanna do carro.

Don Philippo observa atentamente a movimentação atrás de mim, enquanto permaneço com o olhar focado nele. Ao avistar sua filha, que caminha de cabeça baixa usando meu terno em seus ombros, seu sorriso sarcástico se desfaz rapidamente, dando lugar a um olhar de apreensão e ameaça, simultaneamente.

Faço um gesto para impedir Giovanna de continuar andando, segurando-a pelo braço e a trazendo ao meu lado. Não demora para que eu ouça o clique das armas sendo engatilhadas e veja os canos apontados em minha direção. Meus homens reagem da mesma forma.

— Mas isso é inadmissível… — ele interrompe suas palavras, empunhando sua arma em minha direção. — O que a minha filha está fazendo com você?

— Encontrei esse ratinho indefeso passeando por onde não deveria, Don Philippo. Confesso que fiquei tão surpreso quanto o senhor está agora. Esta mocinha teve sorte, pois tenho certeza de que ela compreende as consequências de invadir território inimigo.

Apesar das armas apontadas, avanço em sua direção, ainda segurando Giovanna pelo braço. Quando finalmente a solto, ainda de cabeça baixa, seus braços delicados envolvem rapidamente a cintura do homem, que a abraça ao ouvir seus soluços contidos.

— O que aconteceu, Giovanna? — ele pergunta, os olhos firmes em mim. — O que este homem fez com você?

— Nada, papai. — ela responde, a voz trêmula. — Ele não me machucou, apenas me trouxe até aqui. Por favor, só quero voltar para casa!

— Aléssio, — o Don comanda, indicando para um dos seus homens —, leve-a até o carro! E você, Don Matteo — ele diz, quando Giovanna se afasta de nós —, pretende que eu acredite nisso?

— Ouviu o que ela disse. Que tipo de louco seria se a machucasse e a trouxesse até aqui pessoalmente? — indago, irônico. — Não tenho interesse em iniciar outro banho de sangue desnecessário, Don Philippo. Mas na próxima vez, a paciência terá limites.

— Você é audacioso, ragazzo! Deveria se comportar, afinal, está bem longe de casa!

— Estou aqui em paz, Don. Mas se continuar com ameaças, terei que responder à altura, e suspeito que nenhum de nós deseja tingir este solo de vermelho. — desafio, mantendo o olhar firme. — Agora que a encomenda foi entregue, posso ir? Ou o senhor gostaria de me servir um café enquanto continuamos nossa conversa?

— Pode ir, Don Matteo. — O homem diz, mantendo a postura severa, mas sinalizando para que seus homens abaixem as armas. Faço o mesmo. — Mas teremos uma conversa com a minha filha. E se souber que a tocou, a morte será um destino ameno para você!

— Converse com ela, Don Philippo. E se ela me acusar, estarei aguardando ansiosamente. — respondo, dando alguns passos para trás, jamais dando as costas a meu inimigo. — Tenham um ótimo dia, senhores!

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