O olhar de Matteo se aprofunda com a intensidade de uma tempestade quando nossos olhos se encontram à porta do quarto de Pietro. Uma fração de segundo parece uma eternidade, e meu coração acelera com a antecipação do confronto iminente.— O que está acontecendo aqui, Giovanna? — sua voz corta o silêncio tenso, e minha mente trava em busca de palavras que possam suavizar a situação. — Além de ter que te aguentar, agora terei que me preocupar em trancar todas as portas dessa casa?— Eu… Eu só queria aj…— Quer saber? — Matteo corta as minhas palavras, segurando o meu braço com força. — Eu já estou farto com a porra da sua intromissão! Você realmente está me levando ao meu limite!Enquanto vocifera, Matteo me arrasta até o meu quarto. A raiva se reflete em seus olhos enquanto ele abre a porta com força e me joga na cama.— Enquanto você não conseguir controlar a sua curiosidade, você ficará neste quarto! — ele grita, enquanto anda de um lado para o outro. Matteo para na minha frente. — E
Dois dias se passaram desde aquela noite tumultuada. Ao abrir os olhos, vejo os raios do sol filtrando através das cortinas e iluminando suavemente meu quarto. Mais um dia trancada na minha gaiola dourada. Ao me levantar da cama, solto um longo suspiro e vou em direção ao banheiro. Através do meu reflexo no espelho, as olheiras me lembram das poucas horas de sono durante a noite. Dormir tornou-se algo quase impossível desde aquela noite. Concluo a minha higiene pessoal e busco um pouco de alívio em meu refúgio. Entretanto, após alguns minutos admirando o jardim de rosas vermelhas, o barulho da tranca me traz de volta à realidade.— Bom dia, signora. — Martina me cumprimenta, com um sorriso sem jeito. Ela traz consigo uma bandeja com o meu café da manhã. — Imaginei que já estaria com fome. — Bom dia, Martina. Assim como a minha paz, o apetite parece ter me abandonado. Mas obrigada mesmo assim. Como está Don Pietro?— Parece que apenas você é capaz de compreendê-lo, signora. — ela af
Ignoro momentaneamente a chegada da loira, mantendo meus olhos fixos em meu prato, mas não posso evitar a tensão que parece pairar sobre a mesa. O olhar de Matteo se estreita, revelando um misto de surpresa e irritação ao se virar para a recém-chegada.— Olá, boa noite! Desculpem a demora! — a senhorita diz, com um sorriso caloroso nos lábios. Ao sentar-se, ela me lança um olhar de desdém e sorri para o meu marido. — Matteo, é uma agradável surpresa vê-lo aqui essa noite. — Digo o mesmo, Bianca. Não sabia que costumava acompanhar seu pai em jantares de negócios. — Geralmente não, mas como é um jantar de comemoração pela sociedade entre vocês, ele e Ambra me convidaram para participar. — ela afirma ao me encarar. — Não vai me apresentar a sua esposa?— Claro. Bianca, essa é a Giovanna, minha esposa. Giovanna, essa é a Bianca, filha do Sr. Moretti. — É um prazer conhecer a prometida de Matteo. — Bianca diz, num tom tão simpático quanto o meu sorriso, ao me dar um leve aperto de mãos.
Três dias se passaram desde aquela noite tenebrosa, mas as marcas emocionais persistem como feridas abertas. Estar ao lado de Matteo foi como conhecer o próprio diabo. Uma sentença que eu não tive escolha. Como o final disso já está explícito, dia após dia me entrego de vez à tristeza, esperando ansiosamente pelo dia em que poderei ter paz. Entretanto, enquanto esse momento não chega, sigo vivendo a minha própria realidade.— Boa tarde, signora. — Martina me cumprimenta ao entrar no meu quarto, trazendo consigo uma bandeja com o meu almoço. Ela coloca a pequena refeição em cima da mesinha de cabeceira e me dá um olhar de repreensão. — Signora, o seu café da manhã permanece intacto!— Eu me esqueci de comer, Martina. Me desculpa! — minto ao me sentar na cama. A verdade é que só de olhar para a comida, meu estômago entra em guerra. — Mas, prometo almoçar. — Desculpe a intromissão e o atrevimento, mas você me disse o mesmo ontem, Giovanna! — a governanta exclama, num tom repreensivo, e
“Por Matteo Villani”As palavras de Giovanna, carregadas de resignação e mágoa, ainda ecoavam em meus ouvidos quando seu grito ecoou pelos corredores da mansão. Solto um longo suspiro enquanto vou em direção ao quarto dela, controlando a raiva que surge antes mesmo de compreender a situação.— Giovanna! — exclamo ao dar alguns t***s em seu rosto, no intuito de acordá-la, em vão. Rapidamente, alguns soldados com suas armas em punho se aglomeram ao nosso redor. — Tragam o Dr. Colombo agora! Os homens concordam com a cabeça e saem apressadamente, enquanto eu tomo Giovanna em meus braços. Observo o ambiente ao redor assim que entramos no quarto. Fora o jantar que permanece intacto e a porta do closet entreaberta, tudo permanece exatamente igual.Os minutos parecem se arrastar enquanto permaneço parado em frente à janela. Giovanna permanece inerte, seus olhos fechados como se estivesse em sono profundo. — Don Matteo, vim assim que recebi o chamado. — Dr. Colombo, médico da família há anos
“Por Giovanna Villani”Como uma breve escapada, a sensação de bem-estar me envolveu instantaneamente ao fechar os olhos. Foi como se, por um instante, minha vida retornasse à normalidade, enquanto, em sonhos vívidos, revisitava uma época em que a felicidade era uma constante. Os natais em família, minhas festas de aniversário, e os dias de alegria...No entanto, ao abrir os olhos, deparo-me com a dura realidade que me cerca. Gradualmente, percebo a presença de alguém ao meu lado e ergo a cabeça, encontrando o rosto sério de um senhor alto, magro, usando óculos finos e ostentando um estetoscópio no pescoço.— Sra. Villani, como está se sentindo? — ele indaga ao perceber que estou acordada. — Estou com uma terrível dor de cabeça. Quem é o senhor? — Sou o Dr. Colombo, o médico da família Villani. Pode me contar o que aconteceu? — Dr. Colombo questiona, enquanto revisa alguns dados nos papéis em suas mãos.— Eu... não sei ao certo. — minto, omitindo a última lembrança antes de desmaiar.
Ao despertar, sinto a serenidade da noite, algo que há muito tempo parecia fugir de mim. Pela primeira vez desde que me tornei Giovanna Villani, surpreendentemente, descansei sem ser assombrada por pesadelos ou visões perturbadoras.Os raios suaves de sol filtram pelas cortinas, e enquanto os observo, a ansiedade cresce dentro de mim. Não é pela rotina na mansão, mas pela possibilidade de passar um tempo ao lado da minha família.Após minutos que parecem uma eternidade, enfim termino de me arrumar e desço as escadas, completamente animada. Vou em direção à cozinha para me despedir de Martina antes de ir. Mas ao me ver, a governanta, com as ordens de Matteo e o instinto materno que parece ter criado comigo, me obriga a sentar e tomar o meu café da manhã. — Você está com outra fisionomia, signora! — ela exclama quando termina de me servir o café. — O brilho em seus olhos parece ter iluminado essa cozinha! — Poderei passar alguns dias com a minha família! Estou tão feliz, Martina.— E
Nos últimos quinze dias, imersa nas sessões terapêuticas e envolvida no afeto da minha família, percebi uma transformação sutil, mas significativa, dentro de mim. Uma sensação de leveza, há muito esquecida, como se a Giovanna descontraída de alguns meses atrás estivesse prestes a renascer.Ao despertar na acolhedora cama na casa dos meus pais, algo parece ter se renovado em meu interior. Talvez seja o calor familiar, as risadas sinceras da minha mãe ou mesmo a segurança que este lar proporciona.No entanto, diante da iminente volta à mansão dos Villani, o receio e a apreensão ressurgem para me assombrar. E a possibilidade de que as visões perturbadoras e os pesadelos vívidos, que parecem ter me abandonado desde que cheguei aqui, cria uma sensação de insegurança.Com minhas coisas devidamente organizadas e pronta para retornar à realidade ao lado de Matteo, desço para o café da manhã com meus pais. Ao adentrar a sala de jantar, encontro minha mãe tentando acalmar meu pai, cujo rosto es