Naomi ansiava pela chegada do motorista. Odiava estar daquele jeito, sentindo-se como uma adolescente idiota a espera do grande amor.
Seu quarto havia sido todo arrumado e o material para o trabalho providenciado.
Ela sabia que tinha de manter distância de Steve. A professora mencionara seu nome e não foi difícil encontrar mais informações sobre ele, não com o sistema que tinha. Não havia muitas coisas, apenas que ele trabalhava em uma lanchonete, pagava o curso com o trabalho e ajudava sua mãe a criar os irmãos gêmeos de 12 anos, e o irmão mais velho tinha conseguido uma bolsa para estudar em Londres e passava maior parte do ano lá.
Com certeza era mais do que ele sequer poderia saber sobre ela. Claro que se fizesse o mesmo iria descobrir que ela era filha de um dos homens mais importantes e influentes do mundo, não apenas da Inglaterra.
A Noah Empreendimento tinha um número de filiais maior do que ela poderia contar, e não era novidade que ele investia em praticamente tudo e lucrava mais do que poderia gastar com mulheres e bebidas. Mas isso também vinha de suas ações ilegais, aquela que apenas sua família e talvez algumas organizações secretas soubessem.
De qualquer modo, o acesso a vida de sua família era mais fácil do que a pesquisa dela. Mas havia segredos obscuros que quase ninguém sabia, exceto os envolvidos. E isso precisava continuar um segredo.
Ela respirou fundo, esfregou as mãos e ficou andando pelo tapete persa.
O nervosismo não é comum em Naomi, por isso ela estava ainda mais intrigada e confusa com o que estava acontecendo em seu corpo.
Entretanto, tinha que se lembrar de suas regras. Mais ninguém além dela precisava se machucar por causa do puta do destino escolhido para ela.
A empregada informou que o carro havia chegado. Ela respirou fundo, reformulou em sua mente mil e uma vezes que era apenas um trabalho e não revelaria nada que todos já não soubessem.
Naomi desceu as escadas lentamente. Vestia um enorme moletom preto e uma calça jeans, o cabelo estava solto e com um gorro verde cobrindo boa parte da cabeça.
O som da chuva estava mais forte e ela tivera certeza que ouviu o barulho de um relâmpago cortando o céu fortemente quando abriu a porta.
Steve estava parado observando a enorme varanda, com bancos e poltronas, de braços cruzados, com um leve tremor percorrendo seu corpo.
— Quer entrar ou vai ficar namorando a varanda?
Ele se virou para ela e sorriu. Aquele sorriso confiante que ele dava era de derreter mesmo na chuva.
— É bonita. Só faltou algumas flores.
— Sou alérgica. Entra.
Ela deu espaço e ele entrou. Ao fechar a porta, quase todo o frio que estava do lado de fora parecia ter desaparecido. A casa era bem aquecida e com uma enorme sala. A escada que dava acesso aos quartos ficava logo ao lado da porta.
— Me acompanhe. Com sorte terminamos isso em duas horas.
— Está doida para se livrar de mim, não?
— Você nem imagina o quanto.
Ele a seguiu até o quarto.
Com o tempo, Naomi aprendera a controlar qualquer sinal de nervosismo. Antes ela se encantava e deixava transparecer seu interesse, mas depois que percebeu que não poderia ter alguém em sua vida enquanto não fosse livre de verdade, começou a se controlar e aos 23 anos era especialista em esconder sentimentos.
Steve ficou com a boca entreaberta enquanto subia as escadas. A mansão tinha cores escuras, sombrias. Não havia nada feminino ou com luz naquele lugar.
O quarto de Naomi era com paredes verdes escuras. A sombra que ela carregava parecia ter coberto tudo em volta dela.
— Parece que a escuridão te segue.
— Verde é uma ótima cor.
— É, quanto mais escuro melhor.
— Estamos aqui para fazer um trabalho, e não discutir meu gosto pessoal.
— Você não me deixa esquecer isso.
Ela sentou na cadeira em frente ao computador. Respirou fundo e abriu o word. Se concentrar nunca foi tão difícil.
— E então, pensou em algo para começar?
Ele sentou na cama, logo ao lado da mesa do computador.
— Que tal uma história de um garoto que esbarra em uma garota na rua, e depois eles se encontram na escola, ela o maltrata e ele começa a querer saber mais sobre ela. De repente ambos se veem apaixonados e presos em um jogo sombrio e cheio de mistério.
Naomi o encarou por alguns segundos e gargalhou.
Steve ficou impassível, com um sorriso confiante no rosto.
— Não pode negar que é uma história intrigante. E vai ficar mais caliente¹ em espanhol.
Naomi parou de gargalhar e o fitou por longos segundos. Ouvi-lo falar em espanhol parecia ter incendiado uma parte interna de seu corpo.
Ela respirou fundo e voltou a olhar para a tela do computador.
— Muito bem, eu fico com a primeira parte, depois você continua.
— Não vai ser difícil, temos ótimos exemplos.
— Exceto do final. Que é apenas a sua imaginação.
— Será mesmo?
Naomi balançou a cabeça e começou a história. Ela escolheu alguns nomes e foi montando tudo aos poucos.
— Tem talento.
— Fica calado.
Steve sorriu a observando. Ele fez anotações sobre o que estava acontecendo e algumas características dos personagens. Com pouco mais de 30 páginas, Naomi parou de escrever e suspirou.
— Uau. Nessa história parece que a Melissa é uma pessoa boa, educada, carinhosa. Diferente da minha inspiração.
— Pouco importa sua inspiração, e sim ganhar os pontos.
— Vai ficar na defensiva pra sempre?
— Não, só enquanto estiver aqui.
Steve cruzou os braços e enrijeceu o maxilar. Estava ficando impossível abrir uma brecha pra conhece-la. Naomi tinha um muro inquebrável em volta dela.
Ah, mas ele iria atravessar, perfurar, pular aquele muro de qualquer forma.
Por que? Ele não sabia. Mas Steve adorava um desafio. E Naomi era o maior até então.
— Qual seu nome?
— Naomi.
— Naomi de que?
— Naomi Benedict. Deseja saber o número do meu telefone e qual o tipo de shampoo que uso também?
— Na verdade eu gostaria de obter o número.
Naomi revirou os olhos e levantou, dando lugar para Steve continuar a história.
Ela sentou na cama e começou a ler as anotações.
Tinha algo estranho, que não parecia ter a ver com a história.
"Ela mexe no cabelo quando está pensando e morde o lábio quando fica tensa"
— Que porra é essa Steve?
— O quê?
Ele olhou pra ela e viu suas anotações na mão dela. Steve engoliu em seco e pegou o pequeno caderno.
Naomi não sabia o que deveria pensar daquilo. Era estranho e ao mesmo tempo fofo... Ninguém havia a observado dessa forma e muito menos ter feito notas sobre isso. Será que ela deveria fazê-lo engolir o papel? O pensamento quase a fez rir por dentro e ao mesmo tempo considerar a hipótese.
— Não era pra você ler isso.
— Estava me observando? Era pra você estar anotando sobre a história e não sobre mim! O que tem na cabeça?
— Você.
Ela mexeu os lábios, procurando o que falar, mas não encontrou palavras. As pessoas costumavam não ser tão sinceras.
Steve abaixou a cabeça e sorriu. Olhou pra tela do computador e voltou sua atenção para os olhos cinzas. Ela ainda estava em silêncio.
— Consegui deixar Naomi Benedict sem palavras?
Ela continuou encarando-o, depois deixou o bloquinho ao lado e cruzou os braços.
— Não é o primeiro que ouço falar bobagens. Melhor se concentrar no trabalho.
Naomi saiu da cama, Steve levantou e segurou seu pulso delicadamente. Ela olhou para a mão dele e recuou de imediato. A única pessoa que havia tocado nela a machucara mais do que qualquer coisa no mundo.
— Não me toca.
Ela o fuzilou com o olhar e foi até o banheiro no quarto.
Steve ficou com a testa franzida, confusão lhe dominando. Ele olhou para suas mãos e balançou a cabeça. Por que ela parecia ter tanta repulsa dele? Era como se ele fosse algo ruim demais para ela.
Naomi sentou no vaso e respirou fundo. Passou a mão nos cabelos e lavou o rosto.
Seu coração acelerava dentro do peito. Naomi ficou mais fria do que o normal. Ela se olhou no espelho. Encarando seu reflexo.
Aquele simples toque a machucava internamente de uma forma que ninguém compreenderia. E ela odiava-se por isso. Por saber que jamais poderia ter uma vida normal. Com um homem de verdade ao seu lado. Com o mundo para ser explorado. Um futuro lhe esperando. O futuro que certamente sua mãe sonhava para ela. Desejava que vivesse algo diferente da realidade atual. Mas infelizmente o destino parecia ter seus próprios planos.
Naomi saiu do banheiro pouco depois. Ela ainda estava assustada, mas não era bom demonstrar todo aquele medo. Não o conhecia e não sabia do que ele era capaz de fazer. E infelizmente Naomi tinha uma reputação a zelar e sentimentos para proteger.
— Pode responder uma pergunta? Apenas uma e eu fico calado o resto do trabalho.
— Perguntar você pode, se eu irei responder é outra questão.
— Você tem nojo de mim? Por eu não ser da sua classe?
Naomi o encarou. Ele não estava brincando. Seu maxilar estava tenso e o olhar duro indicava.
Ela então riu e balançou a cabeça. De onde ele tinha tirado essa ideia?
— Está mesmo me perguntando isso?
— É o que está parecendo. Eu sei que não tivemos um primeiro encontro agradável, mas eu gosto de recomeços. E eu achei que ao menos poderíamos nos conhecer. Ou ser bons colegas, nada mais.
— Isso não tem nada a ver de onde você vem, o que você faz, como você é, Steve Ryan. Tem a ver comigo, e você só precisa saber disso.
Ela foi até a cama e começou a fazer novas anotações.
Steve franziu a testa e sentou na cadeira. Ele encarou a tela do computador por longos segundos. Depois se virou para ela.
— Como sabe meu segundo nome?
— Internet.
— Minha vida não está tão disponível assim.
— Eu tenho programas diferentes, senhor Ryan. Agora termine o trabalho, ok? Tenho certeza de que não quer chegar atrasado no seu emprego, como sempre.
Ele semicerrou os olhos e bufou, se afundando na cadeira e começando a escrever.
¹ Quente
Se alguma tradução sair errada em algum momento peço desculpas e coloco a culpa no google tradutor.
Ryan demorou pelo menos meia hora em uma única página. Ele não estava conseguindo se concentrar de nenhuma forma. Achar as palavras em espanhol que eles ainda não conheciam era fácil, o problema estava em saber o que escrever. Em conseguir tirar toda a cena recente com Naomi da mente, inclusive seu jeito de rir. Mesmo com ela ao seu lado praticamente, ele buscava a imagem dela sorrindo, só pra sentir o coração palpitar de novo.E quando olhava para o lado, lá estava ela, lindamente concentrada no que estava fazendo, como se o mundo tivesse parado, o frio não fosse tão frio, o céu não fosse tão escuro, o tempo não fosse o tempo, e restasse apenas os olhos brilhantes e cabelos esverdeados próximo a ele, com a cabeça baixa e a concentração ao máximo.— Vai escrever ou não? Não ouço o barulho das teclas.Ele olhou pra tela e coçou a nuca, levemente constrangido.— Eu não estou conseguindo. Seu mistério está me matando. Eu não consigo entender porque me odei
Ryan demorou pelo menos meia hora em uma única página. Ele não estava conseguindo se concentrar de nenhuma forma. Achar as palavras em espanhol que eles ainda não conheciam era fácil, o problema estava em saber o que escrever. Em conseguir tirar toda a cena recente com Naomi da mente, inclusive seu jeito de rir. Mesmo com ela ao seu lado praticamente, ele buscava a imagem dela sorrindo, só pra sentir o coração palpitar de novo.E quando olhava para o lado, lá estava ela, lindamente concentrada no que estava fazendo, como se o mundo tivesse parado, o frio não fosse tão frio, o céu não fosse tão escuro, o tempo não fosse o tempo, e restasse apenas os olhos brilhantes e cabelos esverdeados próximo a ele, com a cabeça baixa e a concentração ao máximo.— Vai escrever ou não? Não ouço o barulho das teclas.Ele olhou pra tela e coçou a nuca, levemente constrangido.— Eu não estou conseguindo. Seu mistério está me matando. Eu não consigo entender porque me odei
— A que devo a honra da ligação de minha estimada filha?Andrew estava com um charuto cubano entre os dedos e uma mulher em seu peito, quando atendeu ao telefone. Ele tinha um quarto ao lado do escritório e requisitar uma funcionária para seus prazeres não era difícil.— Trouxe um colega de classe para fazer um trabalho, pela manhã. Mais graças a tempestade ele não pode ir embora.Andrew sentou na cama e deixou seu charuto na mesa de cabeceira ao lado.— E só agora me fala isso? Você por acaso não trouxe nenhum namoradinho, trouxe? Sabe o erro que isso seria. Eu teria que matá-lo com minhas próprias mãos para mostrar o quanto sua tolice lhe custou.Naomi respirou fundo e sentou na cama. Só de pensar em Steve nas mãos de Andrew seu corpo tremia.— Ele é apenas um colega de trabalho. Está no quarto de hóspedes, pode conferir com seus empregados. A tempestade não permite que nem mesmo Andrew Noah saía de seu glorioso Castelo, por que eu m
Naomi sentou na cama com as pernas de índio e Steve sentou na cadeira do computador, prestando atenção em cada palavra e em como ela explicava pacientemente e detalhadamente cada tema.Ele reparou em como ela tirava o cabelo do rosto para falar, como passava a língua nos lábios depois de falar durante vários minutos sem parar, em como ela piscava várias vezes quando sentia que a empolgação ia tomar conta dela e dominá-la.Para Ryan, aquilo foi como senti-la. Perfurar qualquer centímetro que seja da muralha era uma evolução que ele queria comemorar.Naomi estava se tornando algo especial, não era como correr vários metros em determinados segundos para se sentir realizado com o desafio, ou como aprender uma música nova em um único dia e cantá-la no outro, ela era uma pessoa com sentimentos, para a surpresa de alguns. Mas sentimentos tão profundos e obscuros que o risco para quem deseja mergulhar não pode ser medido. Porém Ryan estava disposto. Havia algo
Ryan ficou parado, sentado na cadeira, sem compreender. Ela parecia ter gostado do toque. Na verdade, podia sentir que ela gostara. Mas quando ele se afastou por alguns segundos, ela se fora. Havia algo de muito errado que ele tinha de descobrir. Só não fazia ideia de como e nem por onde começar.***Naomi se trancou no quarto e soltou a respiração pesada. Seu coração acelerou e parecia querer esmagar seu peito. Suas mãos tremiam assim como suas pernas não a sustentavam mais. Nenhum outro homem a tocara e aquilo era perturbador. Naomi não conhecia aquilo que Ryan tinha feito. A delicadeza do movimento, o toque sútil, os olhos brilhando com a chama do desejo se transformando.Ela tomou um longo banho, onde deixou as águas banharem seu corpo e lavar sua alma com lentidão e profundidade.Naomi não podia ceder. De forma alguma, devia se render ao sentimento que brotava em seu peito. Ela sabia o mal que isso faria na vida de Steve. O perigo q
— Andrew costumava dizer que eu era igual a ela, talvez por isso...Ela disse de repente, se virando lentamente logo após não concluir a frase.Naomi ainda segurava a xícara de chocolate quente com firmeza. As gotas de chuva que molhavam a janela de vidro eram como cada lágrima que ela já derramou.— Talvez por isso o quê?— Bem, meus cabelos eram iguais e os olhos também.— Dona Lucy tinha cabelo verde?Ela balançou a cabeça, com um sorriso contido.— Não seu idiota, era preto. Meu cabelo é preto, só está pintado de verde escuro. Dá pra perceber pela raiz.— Achei que era um novo tom de verde.Falou despreocupado. Os braços cruzados sobre o peito firme.— Você é um idiota mesmo.Desta vez ela sorriu, mas virou o rosto para que ele não visse.Steve tinha certeza que podia ver uma sombra de sorriso curvada em seus lábios, mesmo que ela tentasse esconder.Ela até poderia negar, mas ele estava ciente da
Steve percebeu o olhar de Naomi para a janela e também notou a calmaria que o tempo estava absorvendo. Quase não parecia que chovia com uma intensidade impressionante nas últimas horas.— Parece que não terá de me aturar por muito mais tempo.Ela se virou, com um sorriso contido.— Foram horas interessantes, admito.— Espero que possamos repeti-la sempre.— Receio que não.Ela olhou mais uma vez a janela e soltou um suspiro longo.— Acho melhor ir. Andrew vai chegar logo.— Tem medo que seu pai me encontre aqui?— Tenho, mas não por mim.— É por mim ?Naomi revirou os olhos e voltou-se para a janela. A chuva cada vez menos intensa.— Melhor ir Steve.Ele assentiu, com um leve sorriso no canto dos lábios. Não precisava de resposta, de alguma forma estranha, ela se preocupava com o que aconteceria com ele caso seu pai chegasse. Ele não fazia ideia do que Andrew poderia fazer, mas preferiu n
Naomi encontrou Ella e depois Amy. As três passearam no shopping durante um tempo, depois que viram o tempo fechado, porém sem gotas de chuva molhando a calçada e iluminando as janelas dos prédios, elas resolveram passear pelo parque. Não estava tão deserto e Naomi sabia que o motorista a vigiava de não muito longe.A grama estava bem molhada e havia poças de lama e d'água. Mas ainda sim era melhor do que estar em sua casa. Quando chegasse, Andrew já estaria a sua espera, e queria estar cansada o suficiente para não ter de dar muitas explicações.— Acho que preciso tirar um dia para beber e jogar. Faz tempo, não Naomi?Ella estava observando um carrinho de cachorro quente um pouco distante.— É verdade, faz tempo. Vamos tentar no próximo fim de semana.— No próximo fim de semana? Não está sabendo Naomi?— Sabendo do que Amy?— Do baile de máscaras que Andrew Noah está pretendendo dar, aniversário da empresa. Ele fez o anúncio para um s