Naomi sentou sobre a cama. Os outros papéis estavam impressos, mas Ella deixou todos reunidos ao lado do computador. Ela virou a cadeira para olhar Naomi, que ainda não tinha pego o papel. Depois do que pareceu uma eternidade, ela enfim pegou o documento, respirou fundo e começou a ler.
A essa hora Steve já tinha religado os celulares e voltado a festa. Ele observava a todos, sentindo-se como um pequeno gato em meio aos leões. Bastava olhar para qualquer pessoa ali para saber que não pertencia a este mundo. E não era pelas roupas caras, pelos seguranças em voltas ou as mulheres a seus pés, mas pela falta de alegria, de sinceridade, honestidade estampadas em seus rostos muito bem disfarçados.
A maioria fazia o que fazia por dinheiro, poder, estabilidade social. Nada daquilo o atraía. E ele sabia que a Naomi também não, talvez por isso se apaixonou por ela. Por ela ser diferente deles, mesmo tendo suas semelhanças. Naomi podia ter seu passado sombrio, marcado, fodido, como
Ella levantou gemendo de dor. A cadeira até era confortável, mas a oposição acabou com suas costas. Quando notou Steve e Naomi dormindo de conchinha, procurou abafar seu som e se colocou no modo mudo.Saiu do quarto e respirou fundo.É engraçado como sempre imaginamos uma coisa e no fim, é totalmente diferente.Ontem deveria terminar em mais festa ao descobrir a saída para a obsessividade de Andrew e, de repente, Naomi estava prestes a voar em seu pescoço e arrancar-lhe cada pedaço até não sobrar nada nem pros urubus. Era justificável sua fúria, afinal tratava-se de algo que sua mãe havia deixado. Mas aquele descontrole era inovador para Ella.Em silêncio, ela foi pra cozinha e começou a preparar alguma coisa.Steve se espreguiçou lentamente, e notou um vazio entre seus braços. Ele abriu os olhos e viu Naomi em frente a enorme janela de vidro, observando os ventos soprando as árvores.— Naomi?Ela continuou imóv
— Então minha filha, estão mesmo namorando? É coisa séria? Porque meu Ryan é menino pra casar.Steve arregalou os olhos e começou a tossir o suco de laranja que havia se engasgado.— Steve? Meu Deus, você está bem?Ele deu sinal de positivo e bebeu um copo de água.Eve continuou comendo tranquilamente enquanto o observava se recuperar.Mãe, não precisa de interrogatório ok?— Está tudo bem, até que está sendo divertido.— Viu, ela não se importa.Naomi passou a mão no ombro dele e sorriu, voltando a comer.— Espero que estejam usando camisinha, não quero netos ainda sabe.Foi a vez de Naomi se engasgar com a comida e precisar da ajuda de Steve para não acabar morrendo por sufocamento de bolo de carne.Depois de alguns minutos inquietos na mesa, tudo voltou ao normal.— É melhor não comer e nem beber até ela terminar.Ryan sussurrou, próximo a ela. Naomi apenas assentiu.— Cadê o Robbie, s
Naomi fechou os olhos, e só por um segundo, não quis acreditar que era Andrew quem estava ali. Apenas por um segundo. Porque logo depois, ela jurava que com as mãos livres, poderia estrangulá-lo.— Enlouqueceu? O que pensa que está fazendo Andrew?Ele riu e sentou na cadeira trazida por um de seus homens. Ele cruzou as pernas, ajeitou o paletó em seu corpo e a encarou com um sorriso sublime. Parecia prestes a noticiar que haviam ganhado na loteria.— Eu enlouqueci? Achou que ia namorar escondido e eu jamais iria saber? Oh Naomi, você me subestimou demais.Naomi relaxou a expressão de ódio estampada em seu rosto e engoliu em seco. Ele sabia. Tudo fazia sentido. Andrew não colocaria tanto em risco a menos que perdesse o controle de vez. E agora ele sabia que não tinha nenhum.— O que vai fazer com a gente?Steve perguntou, com uma sobrancelha arqueada e um tom de desafio. A raiva também crescia e ardia em seu peito como em suas veias.Andrew l
— Você não disse que me ama uma última vez.Disse Naomi, sem qualquer esperança no corpo.— Não vamos morrer aqui.— Quero ver quando vai perceber que está errado.Steve estava prestes a falar quando a porta abriu. Andrew entrava com seu sorriso mais caloroso.— Sentiram minha falta?— Desejo imensamente que vá para o inferno quando sua hora chegar.— Oh querida, não seja tão mal educada, eu te ensinei bons modos.Naomi continuou com o olhar repleto de raiva e fúria refletindo em seus olhos.— Eu pensei em torturá-los um pouco, sabe, a título de diversão, mas pra que sujar minhas mãos com isso? Eu posso apenas fazer o que sempre quis e pronto.c— Queria fazer conosco o que mandou fazer com o Adam, não é?Ele respirou fundo e tornou a sentar na cadeira, cruzando as pernas.— O Adam foi um pequeno equívoco, confesso. Exagarei em acabar com a vida do pobre rapaz, afinal, você não aprendeu a lição e se j
Entretanto, naquele instante, isso pouco lhe importava. A única coisa que desejava era ter sua paz e liberdade. E estava tão próxima da mesma que chegava a parecer um sonho.Ela parou ao lado de Natasha, o rosto refletindo a raiva e a dor, os olhos brilhando em sentimentos que se afloravam.— Você sabe o verdadeiro significado desta palavra? Você me destruiu Andrew. Você acabou com a minha alma. Você devia me proteger! Devia me amar, cuidar de mim, como todo pai cuida da sua filha, mas ao invés disso, você me destruiu, me transformou em uma escrava da escuridão. Uma boa parte do que sou hoje devo a você, e não ache que isso é motivo de orgulho, porque não é!Andrew desviou o olhar e respirou fundo.— Eu sei que errei com você. Mas...— Não! Cala essa maldita boca. Não há nada no universo que justifique suas maldades. O que você iria dizer? Que perdeu o controle? Que ficou obcecado? Tudo isso eu já sei. Mas se você saísse todos os dias pra beber, n
Depois daquela conversa, aos poucos, Naomi foi se acostumando, principalmente em chamar Amy de Natasha. Foi um período de muitas adaptações.Pela primeira vez na vida estava livre. Não tinha sua mãe, não tinha Andrew. Por um lado a liberdade era simplesmente a coisa mais fantástica que ela poderia apreciar, mas por vezes, sentia falta de ter algum familiar ao seu lado. Não mudaria nada do que aconteceu com Andrew, mas se pudesse voltar para o tempo de sua mãe, teria pedido pra ela ficar um pouco mais naquele dia, talvez se ela ainda vivesse, muitas coisas seriam diferentes em sua vida.Entretanto, o destino quis assim. Não foi uma escolha que ela fez, e infelizmente precisava lidar com aquilo.Uns dias depois, Naomi soube que Natasha havia decidido continuar em Bristol. Havia encontrado outra coisa que gostava muito de fazer, e também um motivo para ficar.Ella lançou seu primeiro livro algumas semanas depois, Apenas um Sonho.O mesmo havia
12 anos depois...— Mamãe! Tio Robbie me blateu!— É o quê?Naomi viu seu filho, a cópia de Ryan, correndo até ela com o choro preso na garganta, o rostinho vermelho, e seu cabelo castanho encaracolado bagunçado.— Só puxei a orelha dele!Disse Robbie, vindo logo atrás.— O que você fez Thomas Benedict?— Eu faei que Charle é ma!— Tom, eu não disse pra deixar seu primo em paz?Naomi o pegou no colo. Tom escondeu o rosto no pescoço da mãe, ao ouvir a voz impetuosa de seu pai.— Calma amor, eu vou falar com ele. Vai entreter seus amigos.Ela acaricou-lhe o rosto. Steve respirou fundo e assentiu.— Tudo bem, mas vou falar com ele mais tarde.— Entendido. E você Robbie, vamos conversar depois.Naomi não queria estragar a festa do trigésimo oitavo aniversário de seu marido. Então tratou de resolver o problema.Não era de agora que Tom vinha implicando com o f
Naomi Benedict desfilava com sua bota alta acima do joelho e moletom cinza, pelo seu shopping preferido em Bristol, quando de repente esbarrou com um jovem de olhos castanhos, cujo nem o inexplicável universo poderia explicar tamanha beleza.— Esqueceu os óculos de grau em casa, gracinha?Ela fitou-o por longos segundos. Depois piscou rapidamente e deixou que um desdenhoso sorriso formasse em seus lábios.— Eu enxergo tão bem quanto você, usando esses óculos falsos. A Convenção de nerds fica do outro lado da cidade, sabia?— Olha garota, pra sua informação, tem muitas vantagens em ser nerd. E você nem queira imaginar quais são.Um sorriso que deixou Naomi perturbada surgiu nos lábios do jovem de beleza inconfundível. Ele voltou a andar, deixando ela mais intrigada e com cada célula do corpo em alerta.Os olhos cinzas reluziam como a prata, enquanto ela observava ele caminhar. Até mesmo seus ombros eram perfeitamente a