Ryan demorou pelo menos meia hora em uma única página. Ele não estava conseguindo se concentrar de nenhuma forma. Achar as palavras em espanhol que eles ainda não conheciam era fácil, o problema estava em saber o que escrever. Em conseguir tirar toda a cena recente com Naomi da mente, inclusive seu jeito de rir. Mesmo com ela ao seu lado praticamente, ele buscava a imagem dela sorrindo, só pra sentir o coração palpitar de novo.
E quando olhava para o lado, lá estava ela, lindamente concentrada no que estava fazendo, como se o mundo tivesse parado, o frio não fosse tão frio, o céu não fosse tão escuro, o tempo não fosse o tempo, e restasse apenas os olhos brilhantes e cabelos esverdeados próximo a ele, com a cabeça baixa e a concentração ao máximo.
— Vai escrever ou não? Não ouço o barulho das teclas.
Ele olhou pra tela e coçou a nuca, levemente constrangido.
— Eu não estou conseguindo. Seu mistério está me matando. Eu não consigo entender porque me odei
— A que devo a honra da ligação de minha estimada filha?Andrew estava com um charuto cubano entre os dedos e uma mulher em seu peito, quando atendeu ao telefone. Ele tinha um quarto ao lado do escritório e requisitar uma funcionária para seus prazeres não era difícil.— Trouxe um colega de classe para fazer um trabalho, pela manhã. Mais graças a tempestade ele não pode ir embora.Andrew sentou na cama e deixou seu charuto na mesa de cabeceira ao lado.— E só agora me fala isso? Você por acaso não trouxe nenhum namoradinho, trouxe? Sabe o erro que isso seria. Eu teria que matá-lo com minhas próprias mãos para mostrar o quanto sua tolice lhe custou.Naomi respirou fundo e sentou na cama. Só de pensar em Steve nas mãos de Andrew seu corpo tremia.— Ele é apenas um colega de trabalho. Está no quarto de hóspedes, pode conferir com seus empregados. A tempestade não permite que nem mesmo Andrew Noah saía de seu glorioso Castelo, por que eu m
Naomi sentou na cama com as pernas de índio e Steve sentou na cadeira do computador, prestando atenção em cada palavra e em como ela explicava pacientemente e detalhadamente cada tema.Ele reparou em como ela tirava o cabelo do rosto para falar, como passava a língua nos lábios depois de falar durante vários minutos sem parar, em como ela piscava várias vezes quando sentia que a empolgação ia tomar conta dela e dominá-la.Para Ryan, aquilo foi como senti-la. Perfurar qualquer centímetro que seja da muralha era uma evolução que ele queria comemorar.Naomi estava se tornando algo especial, não era como correr vários metros em determinados segundos para se sentir realizado com o desafio, ou como aprender uma música nova em um único dia e cantá-la no outro, ela era uma pessoa com sentimentos, para a surpresa de alguns. Mas sentimentos tão profundos e obscuros que o risco para quem deseja mergulhar não pode ser medido. Porém Ryan estava disposto. Havia algo
Ryan ficou parado, sentado na cadeira, sem compreender. Ela parecia ter gostado do toque. Na verdade, podia sentir que ela gostara. Mas quando ele se afastou por alguns segundos, ela se fora. Havia algo de muito errado que ele tinha de descobrir. Só não fazia ideia de como e nem por onde começar.***Naomi se trancou no quarto e soltou a respiração pesada. Seu coração acelerou e parecia querer esmagar seu peito. Suas mãos tremiam assim como suas pernas não a sustentavam mais. Nenhum outro homem a tocara e aquilo era perturbador. Naomi não conhecia aquilo que Ryan tinha feito. A delicadeza do movimento, o toque sútil, os olhos brilhando com a chama do desejo se transformando.Ela tomou um longo banho, onde deixou as águas banharem seu corpo e lavar sua alma com lentidão e profundidade.Naomi não podia ceder. De forma alguma, devia se render ao sentimento que brotava em seu peito. Ela sabia o mal que isso faria na vida de Steve. O perigo q
— Andrew costumava dizer que eu era igual a ela, talvez por isso...Ela disse de repente, se virando lentamente logo após não concluir a frase.Naomi ainda segurava a xícara de chocolate quente com firmeza. As gotas de chuva que molhavam a janela de vidro eram como cada lágrima que ela já derramou.— Talvez por isso o quê?— Bem, meus cabelos eram iguais e os olhos também.— Dona Lucy tinha cabelo verde?Ela balançou a cabeça, com um sorriso contido.— Não seu idiota, era preto. Meu cabelo é preto, só está pintado de verde escuro. Dá pra perceber pela raiz.— Achei que era um novo tom de verde.Falou despreocupado. Os braços cruzados sobre o peito firme.— Você é um idiota mesmo.Desta vez ela sorriu, mas virou o rosto para que ele não visse.Steve tinha certeza que podia ver uma sombra de sorriso curvada em seus lábios, mesmo que ela tentasse esconder.Ela até poderia negar, mas ele estava ciente da
Steve percebeu o olhar de Naomi para a janela e também notou a calmaria que o tempo estava absorvendo. Quase não parecia que chovia com uma intensidade impressionante nas últimas horas.— Parece que não terá de me aturar por muito mais tempo.Ela se virou, com um sorriso contido.— Foram horas interessantes, admito.— Espero que possamos repeti-la sempre.— Receio que não.Ela olhou mais uma vez a janela e soltou um suspiro longo.— Acho melhor ir. Andrew vai chegar logo.— Tem medo que seu pai me encontre aqui?— Tenho, mas não por mim.— É por mim ?Naomi revirou os olhos e voltou-se para a janela. A chuva cada vez menos intensa.— Melhor ir Steve.Ele assentiu, com um leve sorriso no canto dos lábios. Não precisava de resposta, de alguma forma estranha, ela se preocupava com o que aconteceria com ele caso seu pai chegasse. Ele não fazia ideia do que Andrew poderia fazer, mas preferiu n
Naomi encontrou Ella e depois Amy. As três passearam no shopping durante um tempo, depois que viram o tempo fechado, porém sem gotas de chuva molhando a calçada e iluminando as janelas dos prédios, elas resolveram passear pelo parque. Não estava tão deserto e Naomi sabia que o motorista a vigiava de não muito longe.A grama estava bem molhada e havia poças de lama e d'água. Mas ainda sim era melhor do que estar em sua casa. Quando chegasse, Andrew já estaria a sua espera, e queria estar cansada o suficiente para não ter de dar muitas explicações.— Acho que preciso tirar um dia para beber e jogar. Faz tempo, não Naomi?Ella estava observando um carrinho de cachorro quente um pouco distante.— É verdade, faz tempo. Vamos tentar no próximo fim de semana.— No próximo fim de semana? Não está sabendo Naomi?— Sabendo do que Amy?— Do baile de máscaras que Andrew Noah está pretendendo dar, aniversário da empresa. Ele fez o anúncio para um s
Steve tinha conseguido com a ajuda de um velho conhecido, a oportunidade de trabalhar em um grande evento. Claro que servir mesas e convidados não era seu foco naquela noite. Não, ele gostaria de estar perto de Naomi, de conhecê-la socialmente, e de ver de perto sua família.— Tem certeza? Sabe que esse seu plano é doido e arriscado, não sabe?— Vai dar certo. Eu também não consigo definir exatamente o porquê que quero isso, mas tem algo nela que me atrai Mason. Parece imã.— Mexer com uma Noah pode ser perigoso.— Eu gosto do perigo, Mason Thomas.O sorriso de Steve se alargou enquanto olhava para o céu nublado.O dia do baile havia chegado. Ventos fortes deixavam as ruas de Bristol mais vazias, porém sem cair uma gota de água.Naomi não tinha conseguido falar com Ella até então. Sua amiga costumava se isolar quando ficava chateada e se trancava em seu escritório, apenas com o computador, uma garrafa térmica cheia de café
Steve a puxou com delicadeza. Uma mão segurava para o alto e a outra estava em sua cintura. Eles começaram a dançar. Os passos quase sincronizados. A música os envolvendo. Durante o som alegre, hora intenso e hora calmo, ambos circulavam pelo enorme salão.Naomi girou, bateu o corpo contra o dele, os olhos se encontraram. Ela desviava o olhar e novamente eles voltavam para a dança. Tão energética, intensa e apaixonante quanto a música que tocava.Não tinha outra palavra que poderia definir o que ela sentia; Naomi estava voando. Era como se as penas lhe tivessem dado asas poderosas e enfim a liberdade tão sonhada estivesse ao seu alcance. Pela primeira vez em sua vida, seu coração estava leve, florido e reluzia como a luz natural do sol. Ela parecia uma borboleta saindo do casulo.De longe, Andrew tinha uma exótica ruiva em seus braços, mas seu olhar feroz de um falcão estava pousado em Naomi. Ele não reconhecia aquele homem que dançava com ela, e uma veia