Steve percebeu o olhar de Naomi para a janela e também notou a calmaria que o tempo estava absorvendo. Quase não parecia que chovia com uma intensidade impressionante nas últimas horas.
— Parece que não terá de me aturar por muito mais tempo.
Ela se virou, com um sorriso contido.
— Foram horas interessantes, admito.
— Espero que possamos repeti-la sempre.
— Receio que não.
Ela olhou mais uma vez a janela e soltou um suspiro longo.
— Acho melhor ir. Andrew vai chegar logo.
— Tem medo que seu pai me encontre aqui?
— Tenho, mas não por mim.
— É por mim ?
Naomi revirou os olhos e voltou-se para a janela. A chuva cada vez menos intensa.
— Melhor ir Steve.
Ele assentiu, com um leve sorriso no canto dos lábios. Não precisava de resposta, de alguma forma estranha, ela se preocupava com o que aconteceria com ele caso seu pai chegasse. Ele não fazia ideia do que Andrew poderia fazer, mas preferiu n
Naomi encontrou Ella e depois Amy. As três passearam no shopping durante um tempo, depois que viram o tempo fechado, porém sem gotas de chuva molhando a calçada e iluminando as janelas dos prédios, elas resolveram passear pelo parque. Não estava tão deserto e Naomi sabia que o motorista a vigiava de não muito longe.A grama estava bem molhada e havia poças de lama e d'água. Mas ainda sim era melhor do que estar em sua casa. Quando chegasse, Andrew já estaria a sua espera, e queria estar cansada o suficiente para não ter de dar muitas explicações.— Acho que preciso tirar um dia para beber e jogar. Faz tempo, não Naomi?Ella estava observando um carrinho de cachorro quente um pouco distante.— É verdade, faz tempo. Vamos tentar no próximo fim de semana.— No próximo fim de semana? Não está sabendo Naomi?— Sabendo do que Amy?— Do baile de máscaras que Andrew Noah está pretendendo dar, aniversário da empresa. Ele fez o anúncio para um s
Steve tinha conseguido com a ajuda de um velho conhecido, a oportunidade de trabalhar em um grande evento. Claro que servir mesas e convidados não era seu foco naquela noite. Não, ele gostaria de estar perto de Naomi, de conhecê-la socialmente, e de ver de perto sua família.— Tem certeza? Sabe que esse seu plano é doido e arriscado, não sabe?— Vai dar certo. Eu também não consigo definir exatamente o porquê que quero isso, mas tem algo nela que me atrai Mason. Parece imã.— Mexer com uma Noah pode ser perigoso.— Eu gosto do perigo, Mason Thomas.O sorriso de Steve se alargou enquanto olhava para o céu nublado.O dia do baile havia chegado. Ventos fortes deixavam as ruas de Bristol mais vazias, porém sem cair uma gota de água.Naomi não tinha conseguido falar com Ella até então. Sua amiga costumava se isolar quando ficava chateada e se trancava em seu escritório, apenas com o computador, uma garrafa térmica cheia de café
Steve a puxou com delicadeza. Uma mão segurava para o alto e a outra estava em sua cintura. Eles começaram a dançar. Os passos quase sincronizados. A música os envolvendo. Durante o som alegre, hora intenso e hora calmo, ambos circulavam pelo enorme salão.Naomi girou, bateu o corpo contra o dele, os olhos se encontraram. Ela desviava o olhar e novamente eles voltavam para a dança. Tão energética, intensa e apaixonante quanto a música que tocava.Não tinha outra palavra que poderia definir o que ela sentia; Naomi estava voando. Era como se as penas lhe tivessem dado asas poderosas e enfim a liberdade tão sonhada estivesse ao seu alcance. Pela primeira vez em sua vida, seu coração estava leve, florido e reluzia como a luz natural do sol. Ela parecia uma borboleta saindo do casulo.De longe, Andrew tinha uma exótica ruiva em seus braços, mas seu olhar feroz de um falcão estava pousado em Naomi. Ele não reconhecia aquele homem que dançava com ela, e uma veia
Steve revelou a Mason tudo que aconteceu na festa, do breve instante que Naomi esteve em seus braços e o quanto fora incrivelmente mágico e inesquecível.— Por que não tascou um beijo? Daqueles de cinema? Você é lerdo em Ryan! Puta merda.— Você enlouqueceu? O pai dela nos viu dançando e quase nos matou, imagina se eu a beijasse?— Você não sabia disso na hora.— Ah Mason, calado.Ele empurrou o amigo no sofá, enquanto jogavam video-game.Naomi estava com os olhos focados na tevê, com um cobertor em volta de seu corpo e Amy, que nem esperou o filme terminar, dormindo no sofá ao lado. Apesar disso, sua mente mergulhava nas últimas horas. Ela ficara tão leve e contente de verdade pela primeira vez em muito tempo. Mas não se deu conta no enorme risco que correu, e que expôs Steve. Ele não podia se machucar. Ela jamais se perdoaria se permitisse que isso acontecesse. A culpa iria corruí-la eternamente.Por isso, enquanto olhava para as
Steve saiu do curso e pedalou furioso, sem usar uguarda-chuva. Como pode ser tão idiota? Achar que Naomi Noah, uma mulher tão poderosa e da alta classe iria se interessar por ele? Que iria construir qualquer tipo de relacionamento? Ele devia ter aprendido que aquele sentimento só servia para decepcionar. Nos fazer acreditar que existe felicidade eterna, amor eterno, almas gêmeas. Tudo uma grande bobagem.Ele parou em um parque e foi caminhar pela grama. Tinha de trabalhar, mas não estava com cabeça pra isso.Por que diabos foi permitir que se apaixonasse? Por que? Conhecia o perigo de viver um sentimento como este. Tinha sido destruído uma vez e deveria ter continuado usando isso como exemplo. Mas permitiu. E agora precisaria lidar com a rejeição. Desde o início ele resistiu as recusas dela, tentou não desistir. Sabia que há algo que Naomi esconde, algo intenso e perigoso, mas não iria continuar lutando, ou tentando descobrir a verdade.Estava farto de
Andrew observava as gotas de chuva molhando sua enorme janela de vidro, com uma caneta entre os lábios e a mente vagando no corpo feminino da mulher vestida de Mulher Maravilha. Ele tinha de dar um jeito de descobrir quem ela era.Ele chamou sua secretária pelo telefone.— Quero que descubra quem é a mulher que estava vestida de Mulher Maravilha e me traga tudo que puder sobre ela.— Sim senhor.A jovem saiu, deixando Andrew novamente com seus pensamentos. Aquelas curvas intensas, a expressão desafiadora, o olhar de quem não o temia, o deixara fascinado. Não havia nada que tivesse conseguido fazer direito desde que a conheceu.Ele já tinha transado com inúmeras loiras de olhos azuis, mas nenhuma era tão intensa e desafiadora como ela.Sua secretária entrou após bater na porta, com duas pastas em mãos.— Senhor? Temos duas mulheres com esta fantasia. Trouxe fotos e informações, talvez possa reconhecê-la.— Ok, pode
Andrew estava furioso e com dor, mas por enquanto não iria fazer nada. Naomi estava com um ódio mortal e ele sabia que ela era tão perigosa quanto ele, quando não estava sentindo medo pelas suas ameaças.Naomi pediu que o motorista desse voltas pela cidade. Ela chorava e soluçava no banco de trás, sem conseguir parar. Como Andrew fora capaz de tamanha crueldade? Por que tanta obsessão? Ela achava que tinha diminuído, ou ao menos não chegaria a um nível tão alto.Ele estava sendo não apenas irracional, mas agindo de maneira alucinada. Tudo tinha de ser a sua maneira e Naomi estava exausta desta situação. Já tinha perdido as contas de quantas vezes pensara em suicídio e não entendia porque suas tentativas nunca foram bem sucedidas, já que o destino gostava de fodê-la a qualquer jeito, por que não deixá-la morrer de uma vez?Em outra época ela também se apaixonou, mas o perdeu. Ela tinha um melhor amigo, que também se foi. Ela tinha uma vida, que agora estava ca
Andrew observava Amy conversar e rir abertamente, enquanto quase todos da festa haviam ido embora. Ela e um rapaz saíram acompanhados, rindo alegremente. Ele a seguiu. Não estava gostando nem um pouco.Ela e o rapaz andavam até um carro. Ele continuava seguindo, quase que silenciosamente. De repente, ele sentiu o celular vibrar no bolso. Ao pegar, viu que Amy parou ao lado do carro e conversava com o jovem.Ele atendeu, virando de lado para eles. Qualquer coisa que estivesse pensando naquele momento desapareceu com a notícia. Ele respirou fundo, mantendo o auto controle, depois se dirigiu a Amy.— Oi.Ela o olhou, um pouco assustada.— Ah, oi. O que faz aqui?— Naomi sofreu um acidente. Achei que deveria saber.— Naomi?Perguntou o rapaz ao lado, os olhos castanhos brilharam.— Sim, minha filha.— O que aconteceu? Onde ela está?Amy se aproximou, preocupada.— No hospital. Estou