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Capítulo 2: Coincidência ou Destino?

Primeiro ela passou o resto da manhã dançando como louca em seu quarto. Precisava extravazar e tirar toda a tensão acumulada em seu corpo. Depois foi até a academia na mansão e descontou sua raiva descontrolada em um saco de areia. Pouco depois do meio-dia ela saiu e foi até a casa de uma amiga, Amy, que tinha vindo há poucos meses dos Estados Unidos para tentar inovar a carreira de fotógrafa. 

— Muito ocupada senhora Stone?

Ela disse tirando os óculos e com um sorriso zombeteiro. Amy balançou a cabeça e a puxou para dentro de casa. 

— Pra você? Nunca! O que a princesa das corporações Noah deseja em meu humilde lar? 

— Provocar um pouco o senhor Noah e fugir do tédio.

— Seu desejo é uma ordem. 

Elas riram e começaram a conversar sobre trivialidades. Naomi fazia qualquer coisa para fugir de Andrew e sabia que sempre podia contar com Amy. 

Ela permaneceu na casa de Amy por longas horas. Voltou apenas perto da meia-noite. Todos na casa já dormiam tranquilamente. 

No dia seguinte, acordou cedo para tomar café e ir para o curso. Andrew ainda estava sentado à mesa. 

— Onde estava ontem à noite? 

Ela pegou um pedaço de bolo de chocolate e colocou no prato. 

— Na casa de Amy. 

— Até tarde? Por que não ficou em casa como sugeri? 

— Não estava afim. 

Andrew bateu com força na mesa e olhou seriamente para ela. 

— Eu ensinei muitas coisas a você Naomi, mas não a desafiar-me. 

Ela manteve o olhar na mesma altura. Depois pegou a xícara de café e tomou um gole tranquilamente. 

— Ainda tenho direito de ir e vir, não papai? Ou será que estou em cárcere de privado e não sei? 

— Não disse isso, mas... 

— Que bom. Porque seria muito ruim adicionar mais um crime ao seu currículo. 

Ela comeu o bolo em silêncio. Andrew a encarava. Os olhos sombrios e fixos. A boca em uma linha dura. O maxilar trincado. Sua mão em punho sobre a mesa. 

— Naomi, Naomi, minha cara Naomi. Cuidado com o que fala, sim? Lembre-se de que ainda tenho a chave do... 

— Vou para o curso. Não sei que horas volto. Mas não se preocupe, eu aviso ao segurança mais próximo, papai. 

Ela terminou o café rapidamente, pegou a bolsa e saiu. Estava mais do que cansada daquele papo. E não desejava ouvir suas ameaças outra vez. 

Naomi chegou no curso mais cedo naquele dia. Estava ansiosa para o que viria. Gostava de aprender novas coisas, expandir seu horizonte, adquirir conhecimento. Era a única coisa que seu pai não a proibia de fazer. Limitava, claro, mas não proibia totalmente.

Quando a professora entrou na sala, a cumprimentou e conversou por breves segundos. Pouco antes da aula começar de fato, ela ouviu a porta abrir. Alguém atrasado, imaginou.

E para sua surpresa, um jovem insolente sentou bem a sua frente. 

Steve não estava preparado. Mas uma vez atrasou-se porque precisou ajudar sua mãe com seus irmãos gêmeos. E quando enxergou uma cadeira vazia ao entrar, viu quem estava logo atrás. Ele sentiu um estranho acelerar no peito, mas tratou de ignorar. Aquela garota nem iria se lembrar dele. 

Naomi ficou paralisada ao ter a infelicidade, ou felicidade, de ver aquele pequeno homem sentando a sua frente. Havia destino mais filho da mãe do que aquele? 

— Formem duplas ou trios para um trabalho.

A professora anunciou. 

Naomi olhou ao redor e as pessoas já estavam se deslocando com seus colegas. Ela soltou um suspiro pesado. Bem naquele dia a Ella tinha que faltar? 

Steve estava perdido e ainda surpreso com a novidade, e acabou não formando sua dupla. 

— Bem, Naomi e Steve parece que sobraram vocês. Se juntem. Vou ditar o que deve ser feito.

Naomi respirou fundo e começou a escrever o que a professora dizia, enquanto Steve estava virado pra ela, encarando-a com um sorriso zombeteiro.

— O que está olhando? 

Perguntou ela enquanto escrevia.

— Por que acha que estou te olhando?

— Já ouviu falar de visão periférica? É uma coisa incrível.

Ele balançou a cabeça e se virou, tentando resistir a tentação de olhá-la. Mas acabou se virando novamente.

— Você se acha, não? Filha de papai riquinho, imagino? Ou ganhou uma pequena fortuna e nunca nem precisou fazer esforço pra nada? 

Naomi parou de escrever e o fitou. Novamente ele viu os olhos cinzas reluzindo, desta vez ainda mais sombrio e obscuro. Era como se ele visse a própria escuridão a sua frente. 

Um arrepio surgiu por todo seu corpo ao ouvir a palavra "papai". Naomi queria fazer ele engolir cada letra que havia dito. Quem ele pensava que era pra falar da vida dela como se a conhecesse? Nem mesmo os amigos mais íntimos sabia tudo que ela vivera e o que ela escondia de todos. Naomi acordava e usava uma máscara egípcia, que só tirava ao deitar nos lençóis italianos. 

Ela cruzou os braços e aproximou o rosto ao dele. Steve pensou em como seria beijá-la, mas o pensamento lhe escapou quando ela começou a falar.

— Vai para o inferno. Acha que sabe de tudo nerdzinho? Pois eu lhe digo uma coisa: você não sabe de absolutamente nada. Enquanto sua mente ingênua e florida só ver o brilho das cores, durante muito tempo, só presenciei a própria escuridão. Tanto que acabei me tornando parte dela. Então, faz o seu trabalho que eu faço o meu, ok?

Steve não disse nada. Estava perplexo com o que ouvira. E com a intensidade do que vira. 

Naomi sabia que tinha dito um pouco mais do que deveria. Não desejava que as pessoas soubessem de como sua vida era dolorosa e profundamente marcada, mas não dava pra aturar as pessoas falando achando que sabem de tudo, quando na verdade só conhecem e vêem a ponta do iceberg.

A aula seguiu normalmente. O trabalho seria entregue em outra aula.

— Podemos fazer o trabalho na sua casa?

Naomi manteve a serenidade na voz, mesmo que seu coração batesse violentamente contra seu peito.

Steve se virou, mas não a olhou.

— Não é uma boa, meus irmãos podem se agitar com visitas... E minha mãe...

— Na minha casa então. Passa seu endereço e um motorista vai buscá-lo. 

— Tudo bem. 

Steve quis protestar, era uma situação estranha, mas era de certo modo mais confortável. E ele sentia a necessidade de conhecer um pouco mais sobre ela agora que demonstrava tanta hostilidade. 

A aula acabou, Naomi pegou o papel com o endereço e foi pra casa o mais rápido possível.

Havia algo muito estranho habitando seu peito. Ela odiava ter que ficar perto dele, mas não tinha escolha. Felizmente o trabalho não era tão complexo, bastava uma tarde para ser finalizado.

Steve andou de bicicleta o mais rápido que pôde para chegar na lanchonete onde trabalhava. 

Seu amigo Mason já estava lá.

— Está atrasado Steve!

— Cala a boca Mason. Você sabe que às vezes a professora fala mais do que devia.

— Foi mesmo a professora? Não encontrou ninguém interessante na aula como no shopping?

Steve revirou os olhos, vestiu o avental e começou a trabalhar. Minutos mais tarde quando o movimento estava fraco, Mason se aproximou.

— E então? 

Steve fixou seu olhar no lado de fora do local. Por um instante, pensar em Naomi fazia todo seu mundo parar e se congelar na lembrança de seus olhos. Seu sorriso confiante. Sua voz imparcial.  

Mason o cutucou, e ele balançou a cabeça, voltando a realidade.

— Aquela garota do shopping está na minha aula de espanhol.

— O quê? Tá brincando?

— Quem dera fosse. Parece que o destino quis pregar uma peça pra mim.

— Olha, sou madrinha de casamento e ninguém toma meu lugar. 

Steve o olhou e balançou a cabeça. Mason suspirou, imaginando todo o cenário. 

O expediente acabou pouco antes da meia-noite. 

Mason e Steve fecharam o local e só saíram pouco antes do dono, que ainda ficava para finalizar alguns detalhes.

No dia seguinte, o frio estava ainda mais intenso, e a chuva deixava Bristol coberta por nuvens cinzentas e carregadas.

Steve ajudou sua mãe a colocar seus irmãos no ônibus escolar e depois ficou alguns longos minutos tentando arrumar seu cabelo. Steve tinha uma pequena paranóia e cuidado excessivo com o mesmo.

— Não está bom hoje. Uma touca deve resolver. 

Ele colocou uma touca cinza e vestiu um enorme moletom. Pouco depois um carro apareceu buzinando na porta do prédio. Steve pegou sua mochila com o material e saiu do quarto apressado. 

— Estou saindo mãe!

— Steve Ryan! Aonde pensa que vai com essa pressa toda? 

— Fazer um trabalho! 

Gritou já abrindo a porta de casa.

— Se não der notícias eu mando a SWAT atrás de você! 

Ele riu e entrou rapidamente no carro. O motorista já aguardava com a porta aberta e segurando um guarda-chuva.

O homem alto e barbudo seguiu uma rota que ele pouco conhecia.

Steve estava bem agasalhado e coberto, não sentia tanto frio apesar do forte temporal, mas dentro dele parecia que acontecia uma tempestade semelhante. Ele não fazia ideia do que o aguardava e a cada segundo idealizava um cenário diferente. Só que dentro dele aquilo pouco importava, o único interior que ele gostaria de descobrir era o de Naomi.

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