Namorados por acidente
Namorados por acidente
Por: Vanessa Sueroz
Cap 1. O anúncio

Mariana

Estou em casa, cuidadosamente me arrumando para a tão esperada noite das garotas. O brilho da expectativa ilumina o meu rosto, afinal, amanhã é o aniversário de Júlia, minha amiga inseparável desde os tempos da faculdade. E como ela decidiu comemorar jantando em um restaurante chique ao lado de seu namorado, que em breve será seu noivo, nós decidimos antecipar a celebração e aproveitar o momento juntas.

Samuel, o adorável namorado de Júlia, pediu minha ajuda, bem como a da minha melhor amiga de longa data, Sofia, para escolher o anel de noivado perfeito. Essa tarefa nos envolve há mais de um mês, e mal podemos conter a ansiedade em receber a ligação de Júlia com a emocionante notícia de que ela está noiva.

Enquanto passo o batom vermelho intenso, dando um toque final à minha maquiagem cuidadosamente elaborada, abro o aplicativo de carona. Optei por não dirigir até o bar, já que planejo desfrutar de algumas bebidas — talvez até um pouco além do razoável — e não quero ter que me preocupar em deixar meu carro do outro lado da cidade.

Com o último retoque na maquiagem, ouço a buzina do carro do motorista da carona. Não perco tempo e imediatamente ligo para Sofia, informando-a de que estou a caminho. A antecipação cresce à medida que me aproximo desse encontro especial, repleto de risadas, conversas profundas e alegria compartilhada. Estou pronta para uma noite memorável ao lado das minhas amigas, enquanto nos dirigimos rumo ao bar, ansiosas para celebrar o aniversário de Júlia e, quem sabe, presenciar o início de uma nova etapa em sua vida.

Assim que desci do carro Sofia já estava em frente ao bar.

Sofia é uma mulher com uma beleza única onde sua pele exibia um tom rico e radiante, acentuando sua herança negra com orgulho. Seu rosto era adornado por traços suaves e marcantes, com lábios cheios e um sorriso contagiante. Mas é seu cabelo que capturava a atenção de todos, pelo menos todos que eu já conheci. Uma impressionante coroa de cachos exuberantes, volumosos e gloriosamente naturais. Seus cabelos afro dançavam com vida própria, irradiando uma aura de liberdade e autenticidade. Cada fio era um lembrete da sua ancestralidade e da sua conexão com a história e a cultura negra.

— Júlia ainda não chegou? — Perguntei assim que a abracei.

—  Não, ainda não. Mas tenho certeza de que ela não vai se atrasar muito. Deve estar terminando de se arrumar e provavelmente já está a caminho — Respondeu com confiança.

Sofia e eu encontramos um cantinho aconchegante no bar, onde poderíamos conversar e aproveitar a noite.

Enquanto nos acomodávamos em nossos assentos, pude sentir a energia contagiante que envolvia o local. Risos e vozes animadas ecoavam ao nosso redor, uma mistura harmoniosa de amigos reunidos para celebrar e desconectar-se das preocupações cotidianas.

— Sofia, você sempre arrasa com sua elegância. Seus cachos estão impecáveis e com um brilho perfeito. — Comentei com a minha amiga que sorriu agradecida.

— E você como sempre um arraso. Pronta para dar uns beijos hoje? — Ela brincou me fazendo rir.

Eu não sou muito de sair beijando por aí como Sofia gosta de fazer. Isso de achar alguém em um bar e beijar assim do nada, não é meu estilo. Eu me apego fácil demais.

O momento foi interrompido pelo som de uma notificação em nossos celulares. Era uma mensagem de Júlia, anunciando que ela havia chegado ao bar e estava a caminho de nosso encontro.

Não demorou muito para que nossa amiga nos encontrasse. Agora, o trio inseparável estava completo, e a energia contagiante que emanava de nós era palpável.

Decidimos que não era hora de parabenizar Júlia de imediato. Queríamos fazer um brinde especial para celebrar seu aniversário em grande estilo. Pedimos uma garrafa de vinho, escolhendo um rótulo requintado para acompanhar a noite de comemoração.

Tentei não pensar nas calorias daquilo. Eu iria malhar amanhã com toda certeza.

Enquanto esperávamos o vinho chegar, a conversa fluiu livremente, como se estivéssemos voltando no tempo para relembrar as aventuras. 

Rimos de histórias engraçadas, revivemos momentos marcantes e compartilhamos segredos que guardávamos há anos.

Sofia, com seu sorriso brilhante, olhou para Júlia e disse: 

— Lembra daquela vez em que tentamos fazer um bolo e acabamos fazendo uma verdadeira bagunça na cozinha? Foi hilário!

— Ah, sim! Eu nunca vou esquecer aquela explosão de farinha e manteiga por todos os lados. Nossas habilidades culinárias definitivamente não eram as melhores naquela época! — Júlia respondeu rindo e balançando a cabeça.

— E o dia em que decidimos fazer um acampamento improvisado no quintal? Ficamos acordadas a noite toda, contando histórias de terror e rindo até as lágrimas! — Lembrei já rindo da lembrança.

 — E quando ouvimos aquele barulho assustador no meio da noite e nos abraçamos com medo? — Sofia completou a história com entusiasmo.  —  Descobrimos mais tarde que era só o gato do vizinho passeando pelo jardim!

As risadas continuavam a ecoar enquanto aproveitamos a noite bebendo e dançando.

Assim que a meia noite foi virando madrugada, já estávamos um pouco alegres do vinho e já tínhamos rido tanto como todos os outros dias que nos encontramos, o que infelizmente não tem acontecido com frequência por causa do trabalho. 

Brindamos ao aniversário de Júlia felizes, mais vezes do que passo contar nos dedos. Sofia em seguida arrumou um rapaz para dançar e claro, dar uns beijos. Júlia aproveitou para me contar sobre como ela achava que Samuel iria a pedir em casamento no dia seguinte.

—  Mariana, você não faz ideia de como estou me sentindo hoje. Já fiz as contas e percebi que todas as datas comemorativas do ano já passaram, tirando o Natal, é claro, e essa é a única chance de Samuel fazer o pedido. — Ela não estava errada, afinal eu mesma achava que seria no dia seguinte.

— Natal não é uma data legal para um pedido de casamento. — Brinquei meio bêbada a fazendo rir.

 — Eu o peguei olhando alianças na internet há meses, e estou esperando pacientemente, mas confesso que a ansiedade está começando a me consumir. — Ela parecia sonhadora. 

E mal sabe que eu também estava ansiosa para isso. Já tínhamos comprado as alianças com o Samuel faz meses e nada ainda. Qualquer ligação dela eu já pensava que era a grande notícia.

Olhei para Júlia com um misto de emoção e curiosidade. Sabia o quanto aquele momento significava para ela, e me senti honrada por poder compartilhar esses momentos tão íntimos.

— Tenho certeza de que Samuel está apenas esperando o momento perfeito para surpreendê-la. Ele deve estar planejando algo realmente especial e romântico. 

Enquanto eu tentava acalmar suas preocupações, Sofia voltou da pista de dança com um sorriso travesso no rosto. Ela percebeu a tensão no ar e se juntou à conversa.

— Ah, Júlia, não fique tão ansiosa! Tenho certeza de que Samuel está apenas esperando o momento perfeito para fazer o pedido. Homens podem ser um pouco lentos para essas coisas, mas quando acontecer, será incrível. 

Ela assentiu rindo. Acho que o álcool já estava fazendo efeito nela também.

— Nós realmente tomamos tudo isso de vinho? — Perguntei olhando as quatro garrafas do vinho na mesa já vazias.

— E nem bêbeda estamos. — Completou Sofia voltando para a mesa rindo como a bêbada que estava.

— Fale por você. Acho que amanhã eu vou ter ressaca. — Reclamei fazendo Júlia rir novamente.

Definitivamente ela estava bêbeda. 

Júlia, com um sorriso malicioso, olhou para mim e disse: 

— Ah, Mariana, você é sempre tão responsável. Talvez seja hora de se soltar um pouco. Há quanto tempo você não beija alguém?

— É verdade, Mariana. Já faz um ano desde o seu último beijo! Você está solteira há tanto tempo, precisa se divertir mais! — Sofia, se juntando à provocação.

Eu revirei os olhos, mas não pude evitar um sorriso. Elas sempre gostavam de me lembrar da minha vida amorosa ou da falta dela.

— Vocês duas sabem que relacionamentos dão muito trabalho. Estou muito bem sozinha e não sinto falta de toda a complicação que vem junto com o romance. — Respondi, tentando desviar o assunto.

— Mariana, você não sabe o que está perdendo. O amor pode ser maravilhoso. — Respondeu Júlia dramática. 

Quando ele não te quebra inteira, claro que pode!

— Sua mãe não vive te arrumando encontros todas as vezes que você vai visitá-la? — Perguntou Sofia me dando até um arrepio.

Hoje eu moro em São Paulo por causa do trabalho, mas minha mãe ainda mora em Monte Verde, em Minas Gerais.

— Nem me fale. — Respondi não querendo lembrar disso. — Minha mãe acha que vou ficar para titia senão fizer alguma coisa logo.

— Então, até sua mãe acha que você está muito sozinha. — Comentou Júlia me provocando.

— Na verdade minha mãe quer netos. Dar uns beijos em um bar não vai resolver meus problemas com ela.

— E se inscrevermos você em um desses sites de relacionamentos? — Júlia comentou empolgada, quase pulando na cadeira.

Eu ri obviamente. Ela estava muito bêbada.

— Não quero namorado, compromissos ou qualquer coisa assim. — As lembrei mais uma vez.

— Poderia ser algo só para a sua mãe não te perturbar mais e você dar uns beijos. — Se animou Sofia.

— Meninas, eu estou bem. Não quero homem no momento.

As duas riram descrentes. Júlia namora desde o primeiro ano da faculdade com Samuel, então não sabe o que é ser solteira e Sofia ama ter vários primeiros encontros, ela diz que a experiência de conhecer alguém novo, o primeiro beijo e tudo mais são maravilhosos para desperdiçar assim.

Júlia e Sofia trocaram olhares cúmplices antes de Sofia tomar a palavra novamente:

— Mariana, eu entendo que você não queira um relacionamento sério, mas e se fizermos algo apenas por diversão? Sabe, um anúncio engraçado, sem compromisso, apenas para tirar uma foto e mostrar para a sua mãe que você está namorando.

— Eu não quero namorar, Lene.

— Mas você não precisa. —  Ela se apressou a dizer. —  Só vai a um encontro, que a pessoa já sabe que não vai rolar nada. Tira algumas fotos com o dito cujo e manda para a sua mãe falando que está perdidamente apaixonada. — Olhei para ela como se fosse maluca.

 — Claro, sem fotos constrangedoras. Mas prometo que vamos encontrar algo divertido e inusitado para o anúncio. — Completou Júlia, pelo visto, adorando a ideia doida.

— Isso nunca daria certo. Um cara decente nunca aceitaria algo do tipo. — Afirmei confiante.

— Claro que aceitaria. — Sofia me desafiou com os braços cruzados no peito e a sobrancelha esquerda levantada.

— Aposto que consigamos algo em tempo recorde. — Completou Júlia empolgada.

— Não quero um anúncio meu, com minha foto e informações por aí na internet. Todos veriam.

Vi a expressão das duas murchar por alguns instantes, mas a mente de Sofia foi mais rápida:

— Podemos colocar no prédio que você trabalha. O prédio tem tantas empresas, que vai ser impossível não acharmos alguém.

— E não precisamos colocar seu nome ou foto. Assim ninguém vai saber que é você. — Júlia completou animada. — Seria impossível saberem que é você.

Onde fui arrumar amigas assim?

Elas estavam realmente empolgadas com isso.

— Eu ainda acho impossível vocês acharem alguém. Principalmente sem foto. — Tentei tirar aquilo da cabeça delas, mesmo sabendo que era impossível.

— Ótimo! Então você não vai se importar que coloquemos o anúncio, já que nunca acharíamos ninguém. — Júlia estava rápida demais para a minha mente cheia de álcool.

— Até depois do almoço, nem um minuto a mais. — Falei derrotada apontando o dedo para as duas me levarem a sério. — Mas vou querer as duas por um mês todos os dias na academia comigo caso isso se prove um fracasso. — Elas detestam ir para a academia.

— Até as duas da tarde. É pegar ou largar. — Sofia sugeriu.

— Se ganharmos você sai com o cara sem reclamar e tenta fazer tudo ser ótimo. — Júlia completou. — Se você ganhar e não acharmos ninguém, ficamos na academia com você por três meses.

— Eu topo! — Falei na mesma hora. Impossível elas acharem alguém.

— Mas nós escrevemos o anúncio. Você não pode interferir. — Sofia foi rápida e dei de ombros.

Vou ter companhia na academia pelos próximos meses! Maravilha!

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo