Capítulo 1 - O acordo

NEFERTARI AMBROGETTI

Seguro com as mãos trêmulas de raiva os papeis que mudam drasticamente meu futuro, estou possessa de puro ódio, como ele pode fazer isso comigo? Ah babbo, como pode fazer isso comigo? Eu o amo, mas isso! Isso foi demais. Foi o estopim, me sinto... traída, decepcionada. O Apolo fala mais algumas coisas, entretanto não dou a mínima, ele foi nem teve a decência de me dizer o que tinha feito enquanto estava vivo.

-Quanto tempo faz que você sabe disso?- pergunto ficando de pé e balanço a m*****a folha, todos estão em silêncio agora.- Não me diga que todos já sabiam há muito tempo?

-Sim sabíamos.- Hades é o primeiro a falar, sua voz é calma. E calmaria agora só me dá mais raiva.

-Quanto tempo?- questiono e o Apolo intervém.

-Isso não tem relevância.- diz passando a mão no cabelo.

-Óbvio que tem, vamos diga.

-Já faz um tempo, mas isso não é relevante.- responde Hades e abre um pacotinho de amendoim.

-Eu vou matar vocês! .- digo e ele coloca um amendoim na boca, e isso só estimula minha raiva.

- Sorella, sei que é horrível tudo isso... bem imagino, mas de nada vai adiantar querer matar um de nós.- é a vez do Ramsés falar.

-Você sabe muito bem que nosso babbo que dava as ordens, e naquela época ele fez o que era preciso, nossos casamentos sempre serão um acordo, negócios...- completa Hades com um olhar distante.

-Entenda sorella, você está prometida a ele desde que estava no ventre de nossa mamma, e esse acordo não pode ser desfeito. - diz Apolo parecendo chateado, mas sua chateação não se compara à minha raiva.

-Ele ao menos deveria ter me contado.- desabafo me sentando novamente.- Estou cansada dessa merda.- digo respirando frustrada.-Se eu pudesse...

-Cuidado com o que vai dizer - me interrompe Hades ficando de pé.- As decisões que tomamos no passado não podem ser desfeitas, o que nos resta é encarar nossa realidade.- diz firme

-Acredite sorella, não ficamos felizes com esse acordo.- diz Ramsés.

-Eu sei que a situação não é fácil, mas essa é a realidade que vivemos.- fala Apolo e suspira. Respiro fundo tentando segurar as rédeas da situação. E de certa forma o Hades está certo, eu quis isso, e sacrifícios são necessários, não posso me enganar, sabia muito bem onde estava entrando, e todos me alertaram.

-Quando irei conhecê-lo?- questiono mais calma.

-Por enquanto não vai.- responde e se senta ao meu lado.

-Não estou entendendo mais nada. Seja claro Apolo.

-Eu ainda não falei com ele, o avô dele Nyrat Özçivit que entrou em contato, foi ele quem assinou o acordo com nosso babbo. Ele ligou para nos relembrar, para avisar que não esqueceu do que foi assinado anos atrás.

-Parece até que a história está se repetindo.- comenta Ramsés.

-A diferença é que com o Apolo e Jasmim houve amor, se apaixonaram como dois pombinhos melosos.- digo revirando os olhos.

-Quem garante que isso não acontecerá com vocês?- questiona Apolo com a sobrancelha erguida.

-Eu garanto.- digo e bebo o resto do uísque em uma golada só.

-Senti firmeza, mas por via das dúvidas poderia repetir isso daqui a um ano? Ou pode ser antes, depende dos sentimentos não é.- diz irônico, é irritante que nem nessas horas o Ramsés deixe suas piadas de lado.

-Cala a boca! Eu por acaso pareço estar me divertindo com a situação atual?.- indago e ele para de ri. - Quero ver quando for na sua vez garanhão.

-Eles não estipularam uma data de vinda ou...- Apolo deixa no ar, mas completo.

-Do casamento. Cazzo, eu não acredito que esta merda está acontecendo comigo.- digo e vejo minha mão direita tremer de raiva, apenas pego a garrafa de uísque e com raiva a arremesso na parede.

-Pelo menos ela jogou na parede, temia que pudesse fazer isso em um de nós. - diz Ramsés baixo, mas ainda ouço perfeitamente. Stronzo. (idiota)

***

KHALIL IVANKOV ÖZÇIVIT

Suspiro e deixo meu copo de uísque de lado, olho mais uma vez para seu rosto imundo, me levanto e caminho até ele, levanto seu rosto. É um desgraçado.

-Mais uma chance.

-P-por f-favor.- diz Somer como um belo de um covarde.

-Foda-se.- digo pegando um alicate, suas mãos já estão posta sob uma mesinha.- Johan, segure firme a mão dele.- peço e assim ele faz.

-Não, não.- chora.

- Vai me dizer?.- pergunto, hoje estou bonzinho, ele balança a cabeça negativamente.- Então não me peça pra parar.- respondo por fim e pego seu dedo mindinho da mão esquerda, coloco dentro do alicate e olho para seu rosto ele está de olhos fechados à espera da dor, sorriu e aperto o alicate e ouço no exato momento que o osso se quebra e o dedo caí sobre a mesa, o seu sangue jorra e ele grita enquanto olha para o dedo que outrora estava em sua mão.-Agora vamos para o dedão.- pego o dedo e ele tenta puxar a mão, pego minha adaga pequena e finco em sua coxa direita, ele grita.-fique quieto e não puxe a mão! Ou eu arranco mais do que um dedo.- aponto para seu amiguinho de baixo.-Sua masculinidade ficaria afeta não? .- sorriu e ouço meu celular tocar, coloco o alicate na mesa e pego meu celular. Mine.

CHAMADA INICIADA:

Amor?

Querida, eu estou um pouco ocupado. - respondo e limpo o suor da testa com uma toalha de rosto.

Poxa Khalil, você se esqueceu do nosso jantar? Como pode dizer que me ama se me trata assim? - faço um gesto com a mão avisando ao soldado que sairei da sala. Saiu da sala e vou até o corredor.

E quem disse que eu esqueci? Mine, pare de duvidar dos meus sentimentos!

Então porque não está a caminho daqui?

Por que precisei dar uma pausa, tive um trabalho de última hora, sabe como são essas coisas.

Está bem, Sr. Mafioso. Mas vai demorar muito?

Não, já estou terminando aqui, e Mine?

Sim?

Eu jamais te daria um bolo.

Acho bom! Te amo.

Até logo.

CHAMADA FINALIZADA

Suspiro, não quero nem imaginar qual será a reação da Mine ao saber sobre "meu casamento" já faz três dias desde que meu avô me informou que chegou a hora. Merda. Há anos que tento convencê-lo a desistir disso. Não tem lógica alguma. Eu nem sequer sei o nome dessa mulher, não sei nada sobre ela. Apenas que sua família se chama Ambrogetti, e que eles possuem uma fama muito boa na máfia. Confesso já ter tentado obter informações sobre eles, entretanto não são do meu meio além de serem discretos.

Sei que os casamentos na máfia geralmente seguem esse padrão, mas poderiam abrir uma exceção, eles são cientes que já possuo uma companheira, uma mulher que quero ao meu lado, mas eles a desprezam, não a acham digna. Sem contar que meu avô acredita fielmente que meu destino está ligado com essa Ambrogetti, devido a cigana que leu alguma baboseira em uma carta. Como um mafioso se deixa enganar tão facilmente? Eu não compreendo. Eu sinceramente gostaria de encontrar essa cigana e esgana-la, mas até onde sei a desgraçada sumiu do mapa. M*****a seja.

****

Meses depois:

NEFERTARI AMBROGETTI

Desço do carro e saiu a procura da mamma, desde que aconteceu a parceria dos Pierre com este instituto/orfanato ela vive aqui, afirmando que neste lugar ela se sente bem. Aqui o que não faltam são bambini (crianças), dá até um nervoso, piccoli (pequenos) seres correndo de um lado a outro, parece que a qualquer momento vão cair, e aí começa o chororô sem fim. -Posso ajudá-la? - uma mulher se aproxima, está vestida toda de branco, parecendo uma enfermeira.

- Só estou esperando a Atena Pierre.

- A Sra. Pierre está conversando com a diretora, não deve demorar, gostaria de entrar?

- Não é necessário, ficarei olhando o orfanato de fora mesmo.

-Claro, fique a vontade, qualquer coisa, estou com as crianças ali. - diz apontando para o pátio.

- Grazie.

Ando um pouco,e definitivamente aqui tem muitos bambini, sem contar com os de colo. É um grande espaço também, bastante lugar com grama, bastante árvores. Vejo um banco embaixo de uma árvore e me parece um bom lugar para esperar a Sra. Atena. Me sento no banco e relaxo, suspiro. Um momento de paz. Fecho os olhos e aproveito, mas minha paz não dura muito, ouço um barulho, abro os olhos e fico com o corpo em alerta, olho para o lado e vejo um bambino com muletas se sentando ao meu lado. Porquê justo ao meu lado? Reviro os olhos, talvez se eu ficar calada a criaturinha não puxe assunto.

-Espero que não se importe, sempre me sento aqui.- diz com aquela voz fininha de criança. Tudo nelas são frágeis.

-Pode ficar. - volto a fechar meus olhos.

-Sou o Formiga. - faço uma careta.

-Que diabos de nome é esse? - questiono olhando pra ele que apenas dá de ombros.

-Não gosto do meu nome, e estou esperando ser adotado para que realmente eu tenha um nome.

- Boa sorte, ragazzo (garoto)

-Você veio adotar?

-Claro que não. Que dizer... não. - eu não sei como agir com uma criança dessa idade, chuto que ele deve ter uns 6 ou 7 anos, não sei.

-Então o que veio fazer aqui? Veio dar aulas?

-Você é curioso, ragazzo. Estou esperando minha mamma.

-Gosto de conversar. - isso eu percebi, comento mentalmente.

-Sei. Porque não vai brincar com as outras crianças? - ele levanta as muletas.

-Essas duas aqui não deixam, acabo atrapalhando eles. - diz olhando para as crianças brincando, com um olhar triste.

-E desde quando só tem essas brincadeiras de correr?

-Eles acham chato brincar de cartas ou dominó. Até brincam, mas cansam rápido.

- Que merda ragazzo.

-Isso é feio, a tia disse que não devemos falar assim. - mas olha só, sendo recriminada por um tampinha, hoje não deve ser meu dia.

-Você tá me repreendendo bambino? Olha teu tamanho.

- Tamanho não quer dizer nada, mas gostaria de fazer um pedido.- diz sendo petulante.

-Que pedido?

-Bem... você conhece alguém que está querendo um figlio? Eu juro que sou bonzinho, não dou trabalho, consigo até lavar minha cabeça sozinho.- diz e sinto uma dificuldade de engolir, o que eu digo?

-Er... se eu souber de alguém, eu digo sobre você, está bem?

-Você jura?- pergunta e quero apenas correr daqui. - Eu juro que sou obediente, olhe eu mesmo coloquei minha camiseta hoje de manhã, a calça também apesar que me enrolei um pouco. - diz com um olhar triste. - Mas eu vou aprender direitinho, eu juro.

- Ar... claro, eu juro. - respondo e ele sorri e faz uma coisa que me pega totalmente de surpresa, ele solta as muletas e me abraça, fico sem reação.

-Obrigado.

-Por nada, agora chega de abraço. - digo e sorrio nervosa.

-Não gosta de abraços?

- Se puder evitá-los, eu evito.

-A senhora é engraçada tia.

-Tia? - o encaro.

-Posso chamá-la assim? Eu não sei seu nome.

-Nefertari, me chamo Nefertari.

-Que nome bonito, Tia Nefertari. - acabo sorrindo. - A senhora tem apelido? - diz e fico pensativa. Apelido? Seguro o riso quando lembro do que o Renée me chamava. Diaba, ou era demônia? Acho que dá no mesmo.

- Não, não tenho.

-Posso colocar um se quiser. - fala como quem não quer nada, mas só pela carinha é nítido que ele quer muito me por um apelido.

- Tá bem, do que vai me chamar?

-Tata!

- Tata? Que horror. - digo e ele faz uma cara triste e fica pensativo, céus, será que feri os sentimentos desse bambino?

-Tari! Tia Tari? - diz animado, me olhando com expectativa. Acho que se eu disser que odiei essa criança irá chorar

- Eu amei? Que dizer, é ótimo. Eu gostei. - ele sorri abertamente.

-A senhora vai ficar vindo com frequência aqui?

- Deus me livre.- ele arregala os olhos, e aí percebo que não pensei, eu disse, o que está acontecendo comigo hoje?. - Estou brincando, eu sou muito ocupada, então possivelmente não.

- Ah, que pena, eu gostei da senhora. - diz sorrindo. Acho que sem querer fiz amizade com esse bambino, e eu não sei se isso é bom.

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