Debruço sobre as minhas pernas, sem me importar se toda essa maquiagem vai borrar o meu vestido, e choro alto, desesperada, pois não sei o que está acontecendo. O meu peito dói como há muito tempo não doía.
Após longos minutos chorando, a imagem do meu pai erguendo o meu queixo aparece na minha mente, como se fosse um filme. As suas palavras me fazem levantar.— (Lembrança) Eu te ensinei a ser forte, não deixe ninguém molhar esses lindos olhos de novo. Vou estar com você, não importa como, mas sempre que precisar, estarei ao seu lado.Sentindo aquele vento fresco secar as minhas lágrimas, e em meio a esse pesadelo, acabo sorrindo. Isso sempre acontece. Falo que o vento é meu melhor amigo, pois só ele me faz sentir um pouco mais tranquila. Pensando no meu pai, em tudo que passei, decido que não vale a pena chorar. Ele não se importou com o seu próprio filho, e isso eu não vou perdoar. E se depender de mim, ele nunca terá contato com meu bebê.Passo a mão no meu rosto, limpando um pouco a maquiagem borrada, o meu cabelo que estava preso com uma coroa a tiro bagunçando o meu penteado, caminhando em passos curtos, chego na frente da igreja. Ao abrir a porta as pessoas levantam, a música toca, exatamente como pedi, a nossa música no piano, as flores vermelha e branca, o tapete dourado, tudo como eu sonhei.Os convidados assustados com a minha aparência, ando devagar olhando cada rosto de surpresa e pena. As minhas amigas correm para me abraçar, mas eu continuo andando em direção ao altar, me perguntando quando é que essa igreja se tornou tão grande assim. Um filme passa na minha cabeça, de todas as vezes que ensaiei para esse momento, para o momento de me tornar a mulher do homem que eu amo.Subo os 4 degraus até o padre, dou um sorriso sem graça e pego o microfone, respiro fundo, tentando controlar a minha voz, pois se eu fraquejar vou aumentar a minha humilhação, e esse desgosto a meu pai, eu não darei.— Boa tarde! Gente, nossa...— Falo olhando em volta.— Estão todos aqui, todas as pessoas que amamos. Parece que o noivo não vem, não é? — Forço um sorriso, vejo o meu sogro sentando nervoso, sendo consolado por minha sogra, que também não estava acreditando.— Quero pedir perdão por fazer vocês esperarem tanto tempo, perdão pelas pessoas que vireram de tão longe para presenciar o meu fracassado casamento. Agradecer por vocês terem vindo, quem ia imaginar que o noivo ia me abandonar, não é mesmo? O casamento não aconteceu, mas a festa vai, coloquem um sorriso no rosto, pois ninguém morreu aqui. Eu vou ficar bem, não se preocupem. Quero convidar vocês para a festa. Tem muita comida boa, escolhida com muito carinho para vocês, comam, bebam, se divirtam. Vou só trocar de roupa e vou ao encontro de vocês. — Conforme vou falando, começo a me sentir sufocada, as lágrimas ardiam nos meus olhos, tudo que eu queria era abrir um buraco e enterrar minha cabeça nele, de tanta vergonha que estou.— Esse moleque, o que o filho de vocês está pensando? Como pode humilhar a minha filha desse jeito? Para que esperar a hora do casamento para fazer isso? — minha mãe diz olhando para Genilson e Katrina, os pais de Zaian.— Chega, mãe, por favor. Isso não é hora nem lugar. Ninguém tem culpa! Vamos para a festa, pessoal. Drica, Samy e Emy, acompanhem eles, por favor. É logo ali do outro lado da rua...O salão de festas eu comprei com meu pai quando eu ainda tinha 13 anos. Sempre me interessei pelos negócios da família. Ele reformou e deixou como eu falei que imaginaria o local. Meu pai sempre gostou de desenhar vestidos para casamento e festas, mas nunca quis montar uma empresa para esse fim. Eu dei a ideia e minha irmã me apoiou. Ela fica com a parte da decoração e eu com os desenhos, a maioria é inspirado nos que ele fazia. Muitas noivas gostam de algo exclusivo para esse momento e assim fazemos.— Vamos, gente. Ouçam a Livy. Não queremos ninguém triste, vão todos para fora dessa igreja — minha amiga Drica fala, praticamente expulsando os convidados da igreja.— Isso, vamos beber, comer. O bolo está uma delícia. Foi minha irmã mesmo quem fez, então já devem imaginar como está perfeito e delicioso — Samantha tenta amenizar as caras de pena das pessoas.— Amiga... — Emily se aproxima e me dá um abraço.— Eu estou bem. Só preciso de uns minutos sozinha. Logo venho me juntar a vocês, prometo.Nesse instante, meus olhos cruzam com os de Pablo.— Livy, desculpa. Eu juro que não sabia. Percebi que tinha algo estranho, mas pensei que fosse só o nervosismo pelo casamento.— Eu sei. Obrigada por ficar. Vão indo, só vou trocar de vestido.Saio porta fora, entro no carro e acelero. Vou para um dos meus refúgios, no único lugar em que sinto meu pai tão vivo comigo: na praia atrás da nossa casa.Essa praia tem lembranças, muitas risadas, muitas alegrias que eu e minha irmã passamos com ele. Paro, olhando para o horizonte, lembrando de como eu era feliz e não sabia. De como a minha única preocupação era com a roupa que ia vestir, de como ia ganhar do meu pai no xadrez e das histórias que ele ia me contar, algumas ele nem lia, de tanto eu pedir a mesma.Daria tudo para voltar e poder dizer apenas uma última vez o quanto eu era feliz, o quanto eu amava o meu pai. E hoje estou aqui, pensando em como dizer para minha filha ou filho que serei apenas eu nas horas em que as coisas apertarem.— É bebê, parece que seremos só nós dois. —Falo, passando a mão na minha barriga.— Oi!— Estava distraída com os meus pensamentos quando me assusto com a voz do Pablo vindo atrás de mim, me viro e sem precisar falar nada ele me abraça forte.— Como saube que estaria aqui?— Olívia, sei mais coisas sobre você do que você imagina. Posso te fazer companhia?— Claro! Obrigada por ter vindo. — Falo, me separando dele.— Você sempre aparece nas horas certas, não queria ficar sozinha.— Vou estar ao seu lado, até quando você quiser que eu esteja, talvez até quando não quizer. — Pablo vira para frente para o mar, ficando ao meu lado. Sentamos na areia, sentindo a maré molhar nossos pés.Após alguns minutos na praia, Pablo e eu entramos no carro e fomos para a festa. Troquei de roupa e vesti um vestido simples. Todos sabiam que eu estava forçando uma felicidade que já não sentia mais.No fim da festa quis ficar sozinha, tranquei-me no apartamento que foi escolhido por nós dois. Cada móvel, cada foto, tudo estava como sonhávamos, daí nesse momento que caiu a fica, ele me abandonou no altar, não se importou comigo, não se importou com o nosso filho.Ainda não consigo entender o porquê dele ter me deixado. Sei que algo aconteceu, eu o conheço. Zaian nunca me machucaria assim, ele não conseguia encarar meus olhos e isso ele nunca fez por mais difícil que tenha sido a situação.Com os dias passando não consegui me levantar, fiquei isolada do mundo, me lamentando todos os dias. Olhava minha barriga crescendo, meu filho se mexendo, e eu chorava cada vez mais. Minhas amigas e Pablo me dão todo apoio necessário, só que eu não fazia força para sair daquela depressão que me afund
Estou na frente do computador mais uma vez, pensando em buscar informações sobre o Zaian. Nunca mais ouvi falar nele. Será que ele se formou? Será que tem alguém na sua vida? O que aconteceu de tão grave que ele me deixou no dia que nós planejamos? Fico me torturando, querendo respostas.Todo ano, desde o nascimento do meu filho Samuel, eu faço um vídeo com cada momento importante: seus aniversários, seus primeiros passos, suas primeiras palavras.Sempre que penso no Zaian, fico mal, pois ele perdeu o amor maior, o amor mais puro que ele poderia encontrar: o amor do nosso filho. Deixo sempre esses vídeos salvos em um pen-drive, caso algum dia eu o veja e ele queira saber do nosso filho, ver os momentos que ele perdeu. Sim, estou sendo contraditória. Disse que ele não iria saber do Samuel, mas meu filho insiste tanto em saber quem é seu pai, o porquê de não morarmos com ele. Eu não consigo responder e acabo chorando, pois nem eu sei a resposta.Fecho o notebook e me concentro no meu de
Fico encarando ele por alguns segundos, até que Drica finge uma tosse. Depois disso começamos a conversar sobre coisas aleatórias. Me despeço e entro no meu carro. Passo para comprar um brinquedo para o meu filho. No caminho para casa, fico pensando em como o olhar do Pablo é intenso. Me sinto estranha perto dele, mas é um estranho bom. Nem com Zaian me sentia assim. Ele consegue fazer o meu rosto corar só com o seu olhar. Eu sei que ele quer muito mais do que amizade. Ele deixa claro nas suas atitudes. Teve um tempo em que ele até tentou se afastar. Foi quando ele tentou ficar com a última namorada. Isso faz uns 3 anos. Mas acabamos não conseguindo ficar longe um do outro. Depois disso, não tem um dia em que não nos falamos, apesar de saber do seu interesse em mim, nossa amizade é linda, ele me protege, me ouve e secou e ainda seca todas as minhas lágrimas.Chego em casa e vejo o meu príncipe sentado na porta me esperando, como ele faz todos os dias.— Mamãe.— ele grita e fica pulan
Samuel era homem de sucesso no auge dos seus 35 anos, um belo empresário que, por onde passa, não deixa de ser notado. Como diz aquele ditado, há pessoas que tudo que tocam vira ouro, e com ele não é diferente. Seus projetos sempre foram muito bem recebidos no mercado. Com uma rede de roupas de grife, ele levava seus desenhos e projetos já prontos para os melhores estilistas do país.Ele era casado com a única mulher que foi capaz de despertar o amor naquele homem. Apesar de se envolver com muitas mulheres, nenhuma delas foi capaz de ir além da cama com ele.Cecília e Samuel se conheceram na faculdade, ficaram algumas vezes, se formaram e cada um seguiu seu caminho. Acontece que Samuel nunca esqueceu o que sentiu perto dela. Por mêses procurou notícias por amigos em comum, mas nunca soube do seu paradeiro. Até que, numa bela tarde, reencontrou-a em uma das suas lojas, provando alguns vestidos. Desde então, aqueles olhos verdes se cruzaram com os dela, e estão juntos há 5 anos. Cecília
Daquele dia em diante, não havia mais tristezas no olhar de Cecília. Sua vida parecia ser um conto de fadas. A cada semana que passava, a felicidade reinava na casa daquele casal.Samuel era completamente apaixonado pela família. Com a fortuna garantida, ele afastou-se dos negócios e dedicou-se a ver o crescimento de sua amada filha. Cada aprendizado das meninas era motivo de comemoração, principalmente da caçula. Os primeiros passos de Olívia foram uma festa entre eles. A primeira palavra balbuciada fez aquele homem com a postura toda poderosa desmoronar. Sua primeira palavra foi "papai". A primeira foto em cima do cavalo, a linha na agulha que a pequena tentou colocar, pois ela via seu pai criando vestidos feitos por suas mãos e começou a se interessar.Dia após dia, Olívia ocupava um espaço na vida dele que ninguém mais poderia ocupar.No aniversário de 7 anos da pequena Olívia, não poderia faltar uma grande festa para comemorar.Seu vestido da Bella foi feito pelas mãos de Samuel.
Samuel entra no quarto depois de muito tempo chorando. Olivia estava deitada, um tanto preocupada, pois fazia algum tempo que seu pai não vinha vê-la, e sentir a presença dele transmitia calma.Samuel vê sua menina ali, deitada numa cama fria, ligada a vários aparelhos. Ele senta na poltrona e Olivia vira a cabeça para que seus olhos encontrem os dele.— Pai, que bom que voltou. Estou com tanto medo. — Olivia tenta falar pausadamente. Sua respiração está cada vez mais lenta.— Meu amor, não tenha medo. Estou aqui com você, só para você. — Mesmo querendo demonstrar força, as lágrimas que ele tanto segurou para não derramar na sua frente foram em vão. Elas caíam uma atrás da outra. Ele aperta a mão da sua menina, levando-a para um leve beijo, e treme ao sentir o quanto está gelada. — Está com frio, minha vida?— Não sei, papai. Eu já não sinto mais nada.Nesse momento, Samuel chorou feito uma criança, abraçado em sua filha. Cecília tenta de todo jeito acalmar o seu marido, mas é inútil.
Olho para minha mãe emocionada, nunca tinha ouvido essa versão da minha infância, tudo que meu pai fez, com tantos detalhes, foi forte demais. Tudo que meu pai fez por mim, foi me proteger, me amar como nunca imaginei um amor, assim. Meu pai me deu a vida e eu vou honrar ela.Olho para minha mãe que chora de soluçar, igual uma criança.— Obrigada, mãe, por ter me contado. Um dia minha amiga me disse que eu não havia sido uma criança desejada. Mas ouvindo a senhora contar os detalhes de tudo que ele fez por mim e pela Samantha, não tem como acreditar no que Raquel falava.— Minha menina, você era a garotinha mais amada do mundo, então não deixe que ninguém te diga ao contrário. Agora vai, pois quero te ver bem gata.Vou para o meu quarto tomo um banho e começo a me arrumar, escovo os meus cabelos, encontro um vestido preto que imita o couro, um pouco mais justo do que costumo usar. Faz tanto tempo que não saio sem ser para trabalhar, que nem sei mais como me vestir para uma balada.Dou
Raquel e eu nos conhecemos desde que eu tinha 11 anos. Nos tornamos amigas e chegamos a fazer o primeiro estágio da faculdade juntas. Creio que ela tenha hoje 30 anos. Sempre a levava em casa, mas com o tempo perdemos o contato.— Está acompanhada? — ela pergunta olhando em volta para ver se estou com alguém.— Estou com os meus amigos, mas eles estão um pouco ocupados lá em cima.— Nossa, você não mudou nada, continua de vela!— Ela fala rindo.— Fiquei sabendo que você abriu uma empresa aqui, é verdade?— Sim, faz 3 anos. Desde então, moro aqui. — Nossa, você está linda. Nem parece que teve filho. Até que está bonita ainda.— Ela diz e não sei por que, senti um pouco de sarcasmo.— A maternidade é muito mais do que o corpo. Eu poderia estar pesando 30 quilos a mais e continuaria ser a mesma. — Respondo tentando não demonstrar a minha frustração.Odeio essa expressão, como se depois que nos tornamos mães, ficássemos acabadas. Lógico que o nosso corpo muda, é uma vida que carregamos por