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Cap 03. Meu fracassado casamento.

Debruço sobre as minhas pernas, sem me importar se toda essa maquiagem vai borrar o meu vestido, e choro alto, desesperada, pois não sei o que está acontecendo. O meu peito dói como há muito tempo não doía.

Após longos minutos chorando, a imagem do meu pai erguendo o meu queixo aparece na minha mente, como se fosse um filme. As suas palavras me fazem levantar.

— (Lembrança) Eu te ensinei a ser forte, não deixe ninguém molhar esses lindos olhos de novo. Vou estar com você, não importa como, mas sempre que precisar, estarei ao seu lado.

Sentindo aquele vento fresco secar as minhas lágrimas, e em meio a esse pesadelo, acabo sorrindo. Isso sempre acontece. Falo que o vento é meu melhor amigo, pois só ele me faz sentir um pouco mais tranquila. Pensando no meu pai, em tudo que passei, decido que não vale a pena chorar. Ele não se importou com o seu próprio filho, e isso eu não vou perdoar. E se depender de mim, ele nunca terá contato com meu bebê.

Passo a mão no meu rosto, limpando um pouco a maquiagem borrada, o meu cabelo que estava preso com uma coroa a tiro bagunçando o meu penteado, caminhando em passos curtos, chego na frente da igreja. Ao abrir a porta as pessoas levantam, a música toca, exatamente como pedi, a nossa música no piano, as flores vermelha e branca, o tapete dourado, tudo como eu sonhei.

Os convidados assustados com a minha aparência, ando devagar olhando cada rosto de surpresa e pena. As minhas amigas correm para me abraçar, mas eu continuo andando em direção ao altar, me perguntando quando é que essa igreja se tornou tão grande assim. Um filme passa na minha cabeça, de todas as vezes que ensaiei para esse momento, para o momento de me tornar a mulher do homem que eu amo.

Subo os 4 degraus até o padre, dou um sorriso sem graça e pego o microfone, respiro fundo, tentando controlar a minha voz, pois se eu fraquejar vou aumentar a minha humilhação, e esse desgosto a meu pai, eu não darei.

— Boa tarde! Gente, nossa...— Falo olhando em volta.— Estão todos aqui, todas as pessoas que amamos. Parece que o noivo não vem, não é? — Forço um sorriso, vejo o meu sogro sentando nervoso, sendo consolado por minha sogra, que também não estava acreditando.— Quero pedir perdão por fazer vocês esperarem tanto tempo, perdão pelas pessoas que vireram de tão longe para presenciar o meu fracassado casamento. Agradecer por vocês terem vindo, quem ia imaginar que o noivo ia me abandonar, não é mesmo? O casamento não aconteceu, mas a festa vai, coloquem um sorriso no rosto, pois ninguém morreu aqui. Eu vou ficar bem, não se preocupem. Quero convidar vocês para a festa. Tem muita comida boa, escolhida com muito carinho para vocês, comam, bebam, se divirtam. Vou só trocar de roupa e vou ao encontro de vocês. — Conforme vou falando, começo a me sentir sufocada, as lágrimas ardiam nos meus olhos, tudo que eu queria era abrir um buraco e enterrar minha cabeça nele, de tanta vergonha que estou.

— Esse moleque, o que o filho de vocês está pensando? Como pode humilhar a minha filha desse jeito? Para que esperar a hora do casamento para fazer isso? — minha mãe diz olhando para Genilson e Katrina, os pais de Zaian.

— Chega, mãe, por favor. Isso não é hora nem lugar. Ninguém tem culpa! Vamos para a festa, pessoal. Drica, Samy e Emy, acompanhem eles, por favor. É logo ali do outro lado da rua...

O salão de festas eu comprei com meu pai quando eu ainda tinha 13 anos. Sempre me interessei pelos negócios da família. Ele reformou e deixou como eu falei que imaginaria o local. Meu pai sempre gostou de desenhar vestidos para casamento e festas, mas nunca quis montar uma empresa para esse fim. Eu dei a ideia e minha irmã me apoiou. Ela fica com a parte da decoração e eu com os desenhos, a maioria é inspirado nos que ele fazia. Muitas noivas gostam de algo exclusivo para esse momento e assim fazemos.

— Vamos, gente. Ouçam a Livy. Não queremos ninguém triste, vão todos para fora dessa igreja — minha amiga Drica fala, praticamente expulsando os convidados da igreja.

— Isso, vamos beber, comer. O bolo está uma delícia. Foi minha irmã mesmo quem fez, então já devem imaginar como está perfeito e delicioso — Samantha tenta amenizar as caras de pena das pessoas.

— Amiga... — Emily se aproxima e me dá um abraço.

— Eu estou bem. Só preciso de uns minutos sozinha. Logo venho me juntar a vocês, prometo.

Nesse instante, meus olhos cruzam com os de Pablo.

— Livy, desculpa. Eu juro que não sabia. Percebi que tinha algo estranho, mas pensei que fosse só o nervosismo pelo casamento.

— Eu sei. Obrigada por ficar. Vão indo, só vou trocar de vestido.

Saio porta fora, entro no carro e acelero. Vou para um dos meus refúgios, no único lugar em que sinto meu pai tão vivo comigo: na praia atrás da nossa casa.

Essa praia tem lembranças, muitas risadas, muitas alegrias que eu e minha irmã passamos com ele. Paro, olhando para o horizonte, lembrando de como eu era feliz e não sabia. De como a minha única preocupação era com a roupa que ia vestir, de como ia ganhar do meu pai no xadrez e das histórias que ele ia me contar, algumas ele nem lia, de tanto eu pedir a mesma.

Daria tudo para voltar e poder dizer apenas uma última vez o quanto eu era feliz, o quanto eu amava o meu pai. E hoje estou aqui, pensando em como dizer para minha filha ou filho que serei apenas eu nas horas em que as coisas apertarem.

— É bebê, parece que seremos só nós dois. —Falo, passando a mão na minha barriga.

— Oi!— Estava distraída com os meus pensamentos quando me assusto com a voz do Pablo vindo atrás de mim, me viro e sem precisar falar nada ele me abraça forte.

— Como saube que estaria aqui?

— Olívia, sei mais coisas sobre você do que você imagina. Posso te fazer companhia?

— Claro! Obrigada por ter vindo. — Falo, me separando dele.— Você sempre aparece nas horas certas, não queria ficar sozinha.

— Vou estar ao seu lado, até quando você quiser que eu esteja, talvez até quando não quizer. — Pablo vira para frente para o mar, ficando ao meu lado. Sentamos na areia, sentindo a maré molhar nossos pés.

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